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Outro ponto destacado com bastante freqüência relaciona-se à eficácia das medidas de discriminação positiva na promoção do avanço sócio-econômico dos seus beneficiários. Em um país com mais de meio século de vigência das políticas de reserva é de se esperar que já possam se tornar visíveis os resultados da redistribuição de oportunidades entre os menos afortunados. Alega-se, por exemplo, que as medidas de ação afirmativa adotadas pelo governo não produziram uma mudança radical no quadro de desigualdade da Índia e que as diferenças entre os grupos não apenas estão ligadas à má distribuição de recursos humanos e econômicos entre eles, mas também a fatores estruturais que permaneceram praticamente inalterados ao longo dos anos (KIJIMA, 2006). Pesquisas indicam, por exemplo, que as disparidades no padrão de vida das tribos estão associadas a fortes diferenças geográficas e infra-estruturais e, por esse motivo, produzir políticas públicas que visam a diminuir estas diferenças geográficas pode ser uma forma eficiente de reduzir a pobreza na Índia (KIJIMA, 2006). Além disso, investigar em profundidade as causas da diferença no retorno de investimentos na educação entre estes grupos também pode trazer interessantes sugestões de políticas. Por fim, estimular o mercado de trabalho e aumentar o capital humano e econômico das SCs, STs e OBCs são medidas cruciais para reduzir a desigualdade na Índia.

Autores sustentam que as reservas não foram capazes de beneficiar aqueles setores mais desprivilegiados da sociedade, uma vez que sua falta de qualificação os torna inelegíveis para as reservas (NESIAH, 1999; BAINS, 1994). A ação afirmativa deveria, portanto, ser reformulada de modo a atingir as áreas rurais. Isto porque reservas de vagas no setor público pouco fazem diferença para trabalhadores rurais sem terra, artesãos desempregados, aldeões empobrecidos, moradores das favelas urbanas etc (BAINS, 1994). Há uma percepção bastante difundida no meio acadêmico de que a ação afirmativa não vai

solucionar todos os problemas das comunidades e promover sua emancipação. Apenas mudanças mais profundas, especialmente a reforma agrária, podem contribuir com mais força para isto, pois a maioria dos Intocáveis vive na área rural e depende de grandes proprietários e agiotas para sobreviver. Nenhum partido de expressão, no entanto, parece disposto a lutar por isso, quadro que só pode mudar com a crescente influência dos grupos desprivilegiados na política (MALLICK, 1997).

Alguns autores marxistas argumentam ainda que as políticas de reserva representam concessões irrisórias de um governo dominado por uma aliança entre a burguesia e a classe proprietária de terras aos setores desprivilegiados da sociedade com o objetivo de distraí-las e fazer com que não almejem mudanças mais profundas na estrutura das relações de propriedade e no sistema de castas. Nesse contexto, a manutenção das antigas formas de propriedade da terra e a concessão de benefícios aos setores mais ricos e educados das SCs, STs e OBCs mantém as divisões hierárquicas de castas intocadas e dificulta a formação de um proletariado solidário. Segundo eles, a intelligentsia dessas comunidades rapidamente aceitou e se satisfez com a democracia burguesa e os direitos fundamentais, atacando a ideologia e a superestrutura das relações de propriedade existentes, sem, contudo, chegar ao cerne da questão, que é a economia e as relações de produção (RANADIVE, 2002).

The reality is that the poison of caste division has deeply infected its victims – the masses and the lower order who further are divided into several castes and subcastes. Each recognizes the injustice done to it but is not ready to remedy the injustice done to others by its own superior status (RANADIVE, 2002: 147).

No caso do sistema de reservas eleitorais para membros das SCs e STs, dados estatísticos dão suporte à tese de que sem estas políticas a presença de membros destes grupos nas legislaturas estaria severamente prejudicada, pois em situações em que não houve reservas, o número de integrantes das SCs e STs escolhidos tendeu a ser menor do que sua proporção na população (MCMILLAN, 2005). No estado de Himachal Pradesh, por exemplo, membros das Scheduled Castes que concorreram nas eleições gerais até hoje não foram capazes de conquistar assentos no Lok Sabha ou no Vidhan Sabha, fato que é possivelmente responsável pelo amplo apoio das SCs à continuidade das reservas eleitorais (JASWAL, 2000).

Supõe-se que amplo apoio que as reservas para estes grupos vem recebendo dos partidos políticos está associado, além do medo de perderem o apoio de uma parcela significativa da população indiana caso se declarassem desfavoráveis a estas políticas, com uma razão estratégica importante. O esquema de reservas eleitorais faz hoje com que os partidos possam pôr os candidatos destes grupos em disputa uns com os outros em vez de colocar em questão sua própria ideologia e representatividade em relação a estes grupos. Pela mesma razão, as reservas eleitorais têm sido atacadas por partidos políticos identificados com a causa das SCs, STs e OBCs (MCMILLAN, 2005).

The rejection of electoral reservation has been a persistent, although not universal, feature of the movements based on Scheduled Caste mobilization. Although his attitude changed according to the political circumstances, Ambedkar was generally hostile to the idea of electoral reservation. Whilst, during the Constituent Assembly, he was willing to accept it as the minimal protection that the Scheduled Castes were liable to gain, he soon returned to his earlier stance of opposition to the use of reservation (MCMILLAN, 2005: 324).

Em defesa das políticas de reserva, com freqüência evoca-se a experiência bem- sucedida de alguns estados do Sul como Kerala e afirma-se que medidas de proteção legal e esquemas de promoção do bem-estar social como as ações afirmativas não substituem a necessidade da luta por transformações sociais de amplo escopo e que são, nesse sentido, medidas com potencial transformador limitado, mas ainda assim importante (SHAH, 2002). Um dos resultados positivos destas políticas é permitir que a mobilidade sócio-econômica de alguns indivíduos tenha um efeito multiplicador, uma vez que se estima que de cada beneficiário dependam entre seis e sete de seus familiares (JOGDAND, 2007). Outro efeito das políticas de ação afirmativa na Índia é permitir a entrada de parias e membros de castas baixas nas classes médias, o que tem feito com que elas não apenas cresçam, mas também tenham suas características e composição alteradas (SHETH, 2002).