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Considerações Metodológicas

3. Debate Realiza-se o Debate

- Reflexão sobre a experiência - Esclarecimento de dúvidas sobre o MDC

Praticar as competências Avaliar a experiência

Proposta de Formação

A intervenção foi organizada em sessões de formação sobre o MDC e entrevistas de autoconfrontação simples e uma entrevista de autoconfrontação cruzada no fim da intervenção. As sessões de formação ocorreram de forma paralela à aplicação do MDC nas salas de aula dos respectivos professores. Por sua vez, as entrevistas de autoconfrontação foram realizadas uma vez o Debate foi implementado nas salas de aula dos três professores participantes. A seguir cada cenário de formação é explicado em detalhe.

Figura 4. Cenários da proposta de formação.

Sessões de formação

Uma parte significativa da dinâmica das sessões da intervenção adotou um método tutorado (Spinillo & Lautert, 2006) no qual a pesquisadora em campo realizou uma instrução explícita sobre os aspectos relacionados com a argumentação, com o MDC e seus usos em cenários educacionais. A medida que os professores participantes começaram a planejar e realizar atividades relativas ao MDC nas suas salas de aula, nas sessões de formação também se realizavam discussões sobre os planejamentos e a experiência de aplicação.

Considera-se aqui, tal como proposto por Vieira (2004), que atividades de discussão teórica, de planejamento e de discussão das aulas realizadas podem constituir cenários para o desenvolvimento das competências argumentativas dos professores na medida em que as discussões da equipe têm um importante potencial para veicular diferentes perspectivas

sobre conceitos relativos à argumentação, relativos ao trabalho em sala de aula, assim como confrontos entre o que foi planejado e o que foi possível realizar.

Os aspectos definitórios e funcionais do MDC foram trabalhados segundo a sequência desenvolvida para a adaptação do MDC em cenários de formação de professores que foi explicada previamente. A primeira sessão de formação foi uma implementação do minicurso, outras sessões de formação foram destinadas a aprofundar os temas do MDC trabalhados globalmente na sessão de formação 1.

Sessão de formação 1. A primeira sessão de formação consistiu na aplicação da estrutura do minicurso. Participaram três professores e cada um desempenhou a função de uma das bancadas. O tema do debate foi: É possível trabalhar com argumentação da sala

de aula da escola pública brasileira? Com este tema procurava-se promover uma reflexão

sobre o sentido e possibilidades de trabalhar com argumentação em sala de aula que constituísse um ponto de partida para articular os conceitos e procedimentos trabalhados ao longo da formação.

Adicional à primeira sessão de formação, foram realizadas sete sessões que abordaram os seguintes temas: o MDC no ensino de conteúdos curriculares; a debatibilidade dos temas e proposição de Debate, produção e avaliação de argumentos: opinião versus opinião fundamentada, tipos de informação e critérios de qualidade –aceitabilidade, relevância e suficiência-. Tanto as sessões de formação quanto as aulas dos professores destinadas à implementação do MDC foram videografadas.

Entrevistas de autoconfrontação

A última parte da proposta de formação incluiu a realização de entrevistas de autoconfrontação simples e uma cruzada. Formuladas na área de estudo conhecida como Clínica da Atividade, ditas entrevistas constituem uma estratégia de pesquisa e intervenção que permite analisar a atividade de forma a transformar situações de trabalho sobre as quais existe uma demanda de mudança por parte de um coletivo de trabalhadores (Clot, 2010).

A Clínica da Atividade desloca a atenção de um estudo do trabalho baseado na definição objetiva de tarefas e objetivos a serem atingidos, para uma forma de estudo que dê conta do papel do indivíduo e da especificidade das situações nas que realiza as tarefas (Clot, 2006). Nesta abordagem da atividade três categorias teóricas são importantes: a tarefa, que recolhe os aspectos normativos de uma atividade, aquilo que é prescrito ou o que deve ser feito; a atividade real, que dá conta de como a tarefa é efetivamente realizada e que nunca coincidirá com a tarefa prescrita em virtude dos esforços do trabalhador por se apropriar do

labor que lhe corresponde realizar; e, finalmente, o real da atividade que recolhe a atividade mais as atividades suspensas e contrariadas, isto é: o que não se fez e que podia ter sido feito.

Em termos gerais, esta estratégia tenta transformar o fenômeno de intervenção pela mediação de outro, usa-se o registro em vídeo de forma a sistematizar a atividade para torná- la acessível a novos discursos: o discurso do trabalhador sobre sua própria atividade e o discurso de um colega, representante do coletivo de profissionais (Clot, 2010)

Descrição do método:

Uma característica importante das intervenções feitas pela Clínica da Atividade é a existência de uma demanda de mudança de parte de um coletivo de trabalhadores. A partir daí começa começam as três fases que compõem a estratégia de intervenção (Clot, 2010)

Fase 1. Compõe-se um coletivo de trabalhadores que, de forma voluntária, integre uma

equipe junto com os investigadores para observar as situações de trabalho e selecionar a sequência de atividade comum ao coletivo que será gravada.

Fase 2. a) realiza-se a gravação em vídeo de alguns minutos da sequência de atividade

elegida para constituir os registros a serem apresentados para posterior análise; b) realiza-se uma confrontação de um profissional com o vídeo em presença do pesquisador (autoconfrontação simples); c) realiza-se a confrontação do mesmo profissional com a mesma gravação, dessa vez, na presença do pesquisador e de um colega que também se confrontou com as sequências da sua própria atividade (autoconfrontação cruzada).

Fase 3. De retorno ao coletivo envolvido na atividade das análises

Para esta pesquisa, elegeu-se o uso das entrevistas de autoconfrontação por considerar que o seu arranjo, a volta sobre a atividade para fazer dela objeto do próprio pensamento e o diálogo com outro sobre a própria atividade, traz consigo um importante potencial para o desenvolvimento das competências argumentativas e do pensamento reflexivo dos professores.

É importante assinalar que o uso que feito das entrevistas de autoconfrontação nesta pesquisa guarda distância com o uso padrão. Pois no caso da Clínica da Atividade, quem é confrontado com sua atividade tem o status de especialista. Cada trabalhador seleciona os aspectos da sua atividade que considera importantes de serem discutidos tanto por ele mesmo quanto pelo coletivo de profissionais. Enquanto que o pesquisador representa um observador não necessariamente competente no campo de trabalho objeto de estudo e intervenção.

No caso desta pesquisa, ao adoptar uma estratégia tutorada para promover a mudança, o pesquisador assume um papel de formador de forma tal que se gera uma relação assimétrica

na qual o pesquisador assiste, propõe e encaminha as atividades a serem realizadas (Spinillo, 1999). De modo que, no que refere ao MDC, era a pesquisadora em campo quem tinha o status de especialista enquanto os professores assumiam um posicionamento de aprendizes de um modelo que pretendiam conjugar com suas competências profissionais de ensino.

Operacionalmente, para a realização das entrevistas de autoconfrontação simples, esta característica da situação de intervenção foi evidente na decisão de ser a pesquisadora quem selecionou os trechos das atividades dos professores que considerou representativos das características importantes do MDC. Também na decisão de manter a posição de análise no professor tentando não fazer perguntas e retornado as perguntas que lhe fossem dirigidas.

Entrevistas de autoconfrontação simples. Foram realizadas três entrevistas de

autoconfrontação simples com cada um dos professores. Como insumos da entrevista de autoconfrontação serviram os registros videográficos das reuniões de formação e das aulas nas que os professores realizaram diferentes atividades conducentes à realização do Debate. Esses registros videográficos foram pre-analisados a fim de selecionar trechos onde os professores apresentavam o debate e seus elementos estruturais, assim como também trechos com atividades que funcionaram bem nas turmas de um dos professores para poder ser, eventualmente, socializadas com os outros.

As entrevistas foram realizadas na escola depois do terminado o ano letivo. No início da entrevista foi solicitado para os professores assistirem diferentes trechos das suas atividades com os meninos e comentarem o que acharem pertinente a respeito. No fim da entrevista foi solicitado que selecionarem aqueles trechos que gostariam de discutir com os seus colegas na entrevista conjunta. Cada sessão foi videografada para construir o protocolo da entrevista de autoconfrontação cruzada, isto é, para registrar as cenas que o professor selecionou e os comentários que estas provocaram, de forma a trazer estes comentários, caso fosse necessário na entrevista coletiva.

Entrevista de autoconfrontação cruzada. No uso padrão da metodologia de entrevistas

de autoconfrontação cruzada participam dois trabalhadores, a ideia é estudar a atividade com um representante do coletivo para assim gerar discussões em torno às particularidades da execução da tarefa por cada trabalhador. Visto que a equipe estava conformada por três professores optou-se por fazer uma entrevista só considerando que este procedimento poderia contribuir à consolidação da apropriação do MDC na medida em que os professores poderiam discutir diferentes aspectos das três formas em que cada professor implementou o MDC.

Nesta fase foram apresentados os trechos de atividade selecionados por cada professor nas entrevistas de autoconfrontação simples, o protocolo com os comentários que acompanharam a visualização dos trechos resultou de especial ajuda, visto que entre uma e outra fase transcorreu o período de férias dos professores (aproximadamente um mês e meio). Desta forma, no momento em que o professor apresentava o vídeo, eu aguardava os seus comentários e se era o caso comentava o comentário inicial que a sequência da atividade tinha gerado.

A formação foi realizada, primordialmente, ao longo do segundo período do ano 2013, especificamente entre setembro e dezembro. Foram realizadas sete sessões de formação, o número de acompanhamentos em sala de aula teve uma variação entre três e nove acompanhamentos por professor. A entrevista de autoconfrontação cruzada só foi realizada no mês de fevereiro de 2014. A variação no número de acompanhamentos, e o número de reuniões, dependeram da realização de outras atividades da escola tais como provas nacionais, férias culturais ou esportivas, assim como de condições do contexto mais amplo tais como greves, condições climáticas e condições de prestação de serviços públicos para a escola.

Tabela 3

Uso das entrevistas de autoconfrontação na intervenção

Fase Atividade Objetivo 1 Registro videográfico das

atividades relativas ao MDC.

Registrar a atividade para selecionar cenas que: - Suscitassem reflexão sobre o MDC em diferentes fases (Planejamento, Preparo, Implementação) - Representassem funcionamentos característicos, estratégias bem-sucedidas, funcionamentos afastados do modelo.

2 Entrevistas de autoconfrontação

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