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Considerações Metodológicas

3 Entrevista de autoconfrontação cruzada

Gerar um espaço de reflexão sobre a realização do debate que permitisse:

- A prática das competências argumentativas - Evidenciar a o conhecimento sobre o MDC consolidado pelos professores

Procedimentos de Análise de Dados

A análise de dados realizada visou explicitar as mudanças nas competências argumentativas dos professores, assim como no conhecimento construído sobre o MDC. Para tal fim, realizamos uma análise em duas etapas: um primeiro momento de microanálise dos episódios argumentativos identificados na primeira sessão de formação e nas entrevistas de autoconfrontação e um segundo momento de macroanálise no qual se tentou integrar os resultados provenientes das microanálises, caso a caso, a fim de identificar eventuais mudanças ocorridas nas competências argumentativas nos professores, assim como nos conhecimentos consolidados sobre o MDC, a partir da participação da proposta de formação.

Para realizar a microanálise adotamos uma estratégia por unidades. Segundo Vigotski (1934/2000), a análise por unidades consiste em fazer um recorte do fenômeno psicológico sob investigação procurando conservar todas as propriedades fundamentais que caracterizam o fenômeno no seu conjunto. Neste caso, a análise do discurso argumentativo foi orientada pelo referencial metodológico proposto por Leitão (2000, 2008), especificamente pela unidade triádica de movimentos discursivos que compõem uma argumentação: a) um argumento composto pelo ponto de vista e sua justificativa (podendo um dos elementos permanecer implícito); b) um contra-argumento definido de forma abrangente como qualquer enunciado que coloca em questionamento a posição apresentada no ponto de vista; e c) uma resposta que captura a reação, remota ou imediata, frente ao contra-argumento.

O foco em diferentes facetas da unidade de análise, quer na sua faceta discursiva, quer na sua faceta cognitiva, permite abordar os diferentes fenômenos de interesse para esta pesquisa, a saber: a análise das competências argumentativas e dos processos de construção de conhecimento. Abordada na sua faceta discursiva, a unidade triádica permite a análise dos movimentos argumentativos produzidos pelos participantes (propositivos, opositivos e respostas). Por sua vez, dita análise pressupõe a identificação dos elementos que compõem um argumento, pontos de vista e suas justificativas, insumo para a análise da qualidade dos argumentos dos participantes. Finalmente, abordada na sua faceta discursivo-cognitiva, a unidade triádica permite capturar o processo de revisão de perspectivas que conduz à construção de novo conhecimento.

Âmbito das competências argumentativas

As competências argumentativas podem ser estudadas em ao menos três situações, produção, compreensão e avaliação de argumentos, para esta pesquisa a análise das

competências argumentativas dos professores teve como foco a situação de produção de argumentos. Desta forma, as competências argumentativas dos professores foram analisadas em termos de dois aspectos: a análise da sua estrutura e a avaliação da sua qualidade. Na análise da sua estrutura identificaram-se os movimentos discursivo-argumentativos especificados pela unidade triádica de Leitão (2000); já para avaliar a qualidade das competências foi estabelecida a satisfação dos critérios de aceitabilidade, relevância e suficiência que constituem os “bons argumentos” (Rapanta & cols., 2013)

Estrutura. Além das três operações argumentativas de argumentos, contra-argumentos

e respostas, serão analisadas outras características que estes possam apresentar que permitam registrar nuances da produção de argumentos tais como o tipo de argumentação segundo quem realiza os movimentos (quando o mesmo sujeito quem argumenta, antecipa e responde à oposição estamos diante de episódios auto-argumentativos) ou a quantidade de elementos apresentados.

Contra-argumento. Entendemos um contra-argumento como qualquer comentário

oposto a uma ideia ou ponto de vista previamente expressado. Segundo Leitão (2000), os enunciados que desafiam o posicionamento estabelecido podem se agrupar em três tipos: 1)

Alternativo. Estabelece oposição oferecendo um ponto de vista alternativo sobre a

controvérsia sem questionar o argumento; 2) Crítica sobre a aceitabilidade do argumento

em questão. Este tipo de contra-argumento atinge o argumento questionando algum

elemento do argumento, seja o ponto de vista ou as razões apresentadas para fundamentar o ponto de vista. Por sua vez, este tipo de contra-argumento pode apresentar duas formas típicas: a) uma simples negação de um dos elementos do argumento; ou b) uma enunciação que comprometa sua força; 3) Crítica sobre a relação justificativa - ponto de vista. Neste tipo de contra-argumento se reconhece a aceitabilidade das justificativas que integram o argumento, mas questiona sua relevância para fundamentar o ponto de vista.

Resposta. Como resposta consideramos a qualquer enunciado no qual o participante

considera os elementos de oposição trazidos pelo contra-argumento e dá conta da forma como o participante incorpora ou não elementos contrários à sua compreensão sobre o tópico em questão. É precisamente neste movimento argumentativo que se pode capturar o conhecimento construído a partir da participação e diálogos argumentativos.

Leitão (2000) destaca o fato de que a consideração de um contra-argumento não necessariamente conduz a uma mudança radical do ponto de vista proposto, sendo possível encontrar ao menos quatro formas diferentes nas quais elementos de oposição podem ser integrados nas respostas de quem está engajado em uma argumentação: 1) Resposta de

Destituição. Neste tipo de resposta o contra-argumento é descartado, enquanto mantem o

argumento inicial; 2) Concordância local: Aqui o participante expressa sua concordância com o conteúdo do contra-argumento, sem que isto envolva um compromisso com o ponto de vista oposto ou leve a mudanças nos aspectos que compõem o posicionamento inicial; 4)

Resposta integrativa: Ao igual que a concordância local, neste tipo de resposta se manifesta

um acordo com partes de um contra-argumento e se muda parcialmente o posicionamento inicial. O impacto do contra-argumento no argumento pode se observar pela adição de exceções ou condições; pela modalização do grau de certeza afirmado inicialmente; ou pela reformulação do contra-argumento em novos termos que lhe dão novo sentido a afirmação; e 5) Retirada do ponto de vista inicial: Neste tipo de resposta o participante abandona o argumento inicial e aceita o posicionamento do contra-argumento.

Qualidade dos argumentos. Como mencionado na seção sobre competências

argumentativas, a qualidade dos argumentos refere à existência de uma relação válida entre aquilo que é afirmado e como isto é fundamentado (Blair, 2012; Rapanta & cols., 2013). Para o caso desta pesquisa usaremos como critérios de aceitabilidade, relevância e suficiência, nos apoiando das elaborações que sobre eles têm feito autores tais como Blair (2008) e Govier (2014).

Aceitabilidade. Indica que as justificativas de um argumento devem ser aceitáveis tanto

para o proponente quanto para os interlocutores (Rapanta & cols., 2013). Segundo Govier (2014), várias condições do fundamento de um ponto de vista podem dar conta da sua aceitabilidade. Dentre essas condições temos: a) sabe-se a priori que a justificativa é verdadeira; b) a justificativa invocada é um assunto do conhecimento comum; c) a justificativa está apoiada em um testemunho apropriado (a afirmação não é implausível, as fontes não são desconfiáveis, a afirmação está restringida à experiência e a competência da pessoa que a enuncia); d) constitui um apelo à autoridade apropriado; e e) não se sabe que a justificativa seja inaceitável e pode server provisionalmente como base para o argumento.

Relevância. Segundo Blair (2012), indica que o argumento ou as justificativas oferecidas

para um ponto de vista guardam relação com o tema em questão e que proveem força provatória a favor ou contra uma conclusão.

Suficiência. Neste critério se avalia se o fundamento ou o conjunto deles oferecem apoio

Construção de conhecimento sobre o MDC

Reconhece-se aqui que há diversas formas de interação mediante as quais pode-se construir conhecimento sobre diferentes domínios ou aspectos do mundo, um caso privilegiado em contextos instrucionais seria a explicação. Contudo, o foco da análise do conhecimento construído sobre o MDC recairá em aqueles conteúdos que foram objeto de intercâmbios argumentativos.

A apropriação do MDC pode ocorrer sobre dois aspectos, os aspectos cruciais e os aspectos funcionais. Por aspectos definitórios entendem-se aquelas características nucleares que definem o DC, elementos que são condição necessária para que uma interação discursiva determinada possa ser identificada como uma instância de um MDC. Por sua vez os aspectos

funcionais referem ao arranjo disposto para a interação discursiva específica que é o MDC. Aspectos definitórios.

Situação inicial ou o estabelecimento de uma controvérsia. Procura-se examinar o

sentido que os professores construíram em relação à controvérsia como desencadeante do Debate. Como eles definiram e assumiram a condição da existência de um conflito de opinião como inaugural do MDC.

Situação final ou objetivo. Visa-se estudar qual o sentido produzido pelos professores

sobre o objetivo comparado com o objetivo proposto pelo MDC: atingir de forma colaborativa uma proposta razoável para a resolução do conflito de opinião.

Meio. No MDC deve-se atingir uma resolução ao conflito de opinião mediante a

exposição dos pontos de vista divergentes, a apresentação de argumentos razoáveis a favor de cada ponto de vista, a avaliação crítica dos argumentos da contraparte e a tentativa de persuadi-la com base nos méritos dos argumentos apresentados (Fuentes, 2011; Leitão, 2012)

Aspectos funcionais.

Aqui se avalia a apropriação dos aspectos operativos necessários para realizar o MDC.

Conjunto de regras. Com este critério se visa estudar a apropriação dos professores

sobre as regras orientadas a regular a interação entre os participantes. Abrange a) os papéis e b) o tempo do discurso, como elementos que permitem ordem na apresentação dos argumentos e facilitam sua avaliação.

Fases do MDC. Inclui sentidos produzidos a respeito de como se realiza o preparo, o

Etapas do MDC. Inclui sentidos específicos sobre as etapas do debate mesmo, isto é a

etapa de apresentação do informe de pesquisa, etapa de argumentação, das perguntas, da conclusão e avaliação.

A partir da análise dos episódios argumentativos foi possível identificar uma nova categoria de análise sobre a construção de conhecimento sobre o MDC: a exequibilidade. Nesta categoria agrupam-se as discussões sobre fatores que representam um desafio para a implementação do MDC no cenário da sala de aula.

Tabela 4

Resumo dos elementos de análise Âmbitos de

Análise Aspectos Categoria Subcategoria

Competências argumentativas

Estrutura Argumento Ponto de vista mais justificativa Contra-

argumento

Alternativo

Crítica sobre a aceitabilidade do argumento

Crítica sobre a relação justificativa ponto de vista Resposta Destituição

Concordância local Resposta integrativa

Retirada do ponto de vista inicial Qualidade Aceitabilidade Relevância Suficiência Apropriação do MDC Aspectos definitórios Situação inicial Situação final Meio Aspectos funcionais Regras Fases do MDC. Etapas do MDC Bancadas

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