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Debates doutrinários sobre o alcance dos termos empregados pelo art.

4. O IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO

4.3. Aspectos constitutivos do imposto predial e territorial urbano

4.3.1. Aspecto material

4.3.1.5. Debates doutrinários sobre o alcance dos termos empregados pelo art.

A concepção de propriedade, para fins tributários, não é pacífica doutrinariamente, principalmente no que tange ao alcance constitucional do termo que, no art. 156, I, não trata da posse, do domínio útil e da enfiteuse. Portanto, a CF/88 efetivamente excluiu o conceito de

123 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito das coisas, Vol. V, 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 42. 124 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. V. 4, 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 1993. p. 32-33.

posse, domínio útil, enfiteuse e demais direitos reais como hipótese de incidência do IPTU, posto que diversamente do art. 32 do CTN, o texto magno não os trouxe de modo expresso?

A doutrina majoritária defende a tese de que a posse e demais direitos reais configuram hipótese de incidência do IPTU, ressaltando apenas que no caso da posse, somente quando a mesma seja apta a gerar o usucapião, isto é, quando se tratar de posse ad usucapionem, é que possibilita a cobrança do imposto sobre imóveis. Quanto ao domínio útil, por configurar sinal exterior de riqueza, expressando capacidade contributiva, também serviria como elemento descrito na hipótese de incidência.

Considerando que o tributo incide conforme a capacidade contributiva e, por conseguinte, analisando a disponibilidade econômica que cada contribuinte desfruta, torna-se claro que o IPTU não agrava o imóvel ou seu título aquisitivo, mas sim a expressão econômica do contribuinte, medida a partir do título de direito real do qual é detentor. Argumenta Kiyoshy Harada125 que mesmo a nulidade ou anulabilidade de título de propriedade não exclui a responsabilidade do titular da posse de pagamento do tributo, ex vi art. 118 do CTN, isto é, o título não é relevante para incidência do IPTU, mas sim a disponibilidade econômica do contribuinte.

Seguindo o princípio da solidariedade, próprio do Estado de bem estar, quem possui domínio útil, posse ad usucapionem ou qualquer outro título que expresse capacidade econômica, deve pagar tributo, porque, como afirmado, não é o título, mas a capacidade contributiva que importa para incidência tributária. Alguém que desfruta dos mesmos benefícios proporcionados pelo poder público enquanto usufrui do imóvel também deve colaborar financeiramente com as despesas públicas, pagando impostos.

Sobre o conceito de posse no campo tributário, o mesmo é reduzido àquela que propicia a propriedade por usucapião, descartando a possibilidade de qualquer espécie de posse configurar hipótese de incidência de IPTU. Caso contrário, locatário seria o natural sujeito passivo da relação obrigacional tributária, permitindo que contratos alterassem normas de direito tributário, fato expressamente proibido pelo art. 123 do CTN:

Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.

125 HARADA, Kiyoshi. Direito tributário municipal: sistema tributário municipal. 2ª ed., São Paulo: Malheiros,

Ocorre que existem teorias jurídicas que se afastam da tese adotada na presente pesquisa, podendo ser citada a posição de Leandro Paulsen126, segundo a qual o imposto predial incide sobre sinais exteriores de riqueza, sendo exclusivamente a propriedade de imóveis a marca concreta de tais sinais e, para aqueles que detêm outros direitos reais que não a propriedade, tais como posse, domínio útil, existe sinal de menor riqueza, portanto, não podem ser postos como sujeitos passivos da relação obrigacional tributária e considerados devedores de IPTU.

Limitar a atuação do IPTU e, por conseqüência, sua expressão ambiental conforme a vontade de particulares que, por manobras contratuais podem não pagar tributo, é afetar toda a sistemática do ordenamento jurídico no que se refere às normas cogentes, visto que seria possível evitar pagamento do imposto utilizando manobras contratuais. O Fisco municipal teria muito mais despesa em fiscalização para verificar se efetivamente o contrato que justifica a posse ou domínio útil seria condizente com a realidade dos fatos, não apenas um recurso para dificultar a cobrança de IPTU, dificultando a definição do sujeito passivo da obrigação tributária.

Na melhor efetividade da atuação da competência tributária em sentido ambiental, sustenta-se que a propriedade e outros institutos de direito real configuram materialidade suficiente para constarem na hipótese de incidência do IPTU, portanto, os titulares do direito de propriedade imóvel, são os que têm o exercício pleno de propriedade, quais sejam: o titular do direito real de propriedade, o co-proprietário ou condômino, o fiduciário, o compromissário-comprador imitido na posse, o usuário que demonstre ou tenha intuito de posse duradoura, o titular do direito real de habitação, o possuidor com ânimo de propriedade com domínio127 e o titular com direito de superfície.

Mais que supostamente seguir o entendimento conclusivo de uma opção ampliativa da materialidade suscetível de incidência de IPTU, busca-se garantir a efetividade de uma série de normas constitucionais e mais, permitir o efetivo uso deste tributo para atender à proteção do meio ambiente. O entendimento restritivo, por ser incompatível com a sistemática ambiental e tributária, sacrifica por demais o sistema e dificulta a materialização do princípio da dignidade humana no que tange ao uso deste tributo como meio de induzir condutas ambientalmente favoráveis, propiciando um meio ambiente digno.

126 PAULSEN, Leandro. Direito tributário: constituição e código tributário a luz da doutrina e da jurisprudência.

São Paulo: Livraria do Advogado, 2005. p. 763.

127 MIRANDA, João Damasceno de. A Regra-Matriz do IPTU e sua Constitucionalidade in PEIXOTO,

Outro conceito importante para se compreender o IPTU diz respeito ao conhecimento do que significa o termo Imóvel para fins tributários e, para tanto, parte-se do conceito utilizado pelo Código Civil Brasileiro no art. 79, considerando o solo e tudo o que lhe for incorporado de modo natural, ou artificial, havendo ainda imóveis por equiparação estabelecidos no art. 80 do C.C, como os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram e o direito à sucessão aberta.

Deve-se ressaltar que para a formação da base de cálculo do IPTU consideram-se as duas realidades, tanto construções permanentes quanto terrenos, não podendo incidir somente sobre um dos dois, salientando Hugo de Brito128 que somente em caso de Imposto Territorial Rural –ITR– é que a incidência ocorre apenas sobre o terreno, não nas edificações. Portanto, extensão do termo imóvel resume-se a prédios, correspondendo a edificações permanentes de engenharia para habitação ou para exercício de atividades profissionais e a terrenos, extensão de terra sobre a qual se realizam os projetos de engenharia.