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2.1 Silêncio como ato político: Intervenção político-social

2.1.3 Decisões para além do parlamento geral

As discussões que precederam a participação (ou não) do Senado nas reformas corresponde àquelas relacionadas aos cargos políticos ocupados pelos parlamentares fora da Assembleia Legislativa Geral. A reforma proposta ao artigo 71 da Constituição que “garantia o poder de legislar também as câmaras distritais e as assembleias legislativas”, considerou que somente a província da Corte não teria sua assembleia própria. Essa discussão esteve relacionada com os espaços de interesse cada vez mais articulados dos potentados locais, os quais mobilizavam-se em nível local e nacional. No entanto, a província da corte (Rio de Janeiro) foi considerada neutra, o que gerou ainda mais impasses a função de centro político-administrativo do império (VAINFAS, 2002).

Posta em votação, Ibiapina com a minoria que foi contra essa reforma, entendia que a corte dispunha de questões particulares, cujo espaço de discussão deveria ser também particular aos seus deputados provinciais. Isso implicava no entendimento dele acerca do papel da assembleia geral, que deveria restringir-se as discussões e dificuldades nacionais, um modelo que vigorava em outros países, como a Inglaterra, cuja adaptação foi rearticulada no Brasil53.

Em decorrência disso, e pela liberdade de ação dos deputados e senadores que ocupavam cargos públicos fora dos limites do parlamento nacional, outra discussão foi pautada no projeto de reformas, no anseio de manter inviolável esses postos, como também imunes de restrições, ameaças ou suspensões:

Artigo 6º – Os membros das assembleias provinciais são invioláveis pelas opiniões que emitirem no exercício de suas funções, e durante a sua deputação não poderão ser presos sendo por ordem da respectiva assembleia, salvo por crime de rebelião, sedição, insurreição, auxílio a estrangeiros para a invasão do império, e em flagrante delito de pena capital (ATO ADICIONAL, 1834).

A imunidade parlamentar foi uma discussão que perpassou as atividades legislativas e recai ainda hoje sobre as tramas da política brasileira. Tal decisão foi

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O aspecto é tão evidente que muitas sessões parlamentares desses países, especialmente da Inglaterra, foram traduzidas e publicadas em jornais de circulação nacional no Brasil, a exemplo do Jornal do Comércio.

69 responsável por dificultar a punição dos crimes, os mais variados possíveis, quando os deputados estivessem em atividade na assembleia geral ou provincial. Assentaram-se as bases dessa discussão no ano de 1834, quando o parlamento era organizar as reformas constitucionais e, portanto, estava disposto a moldá-la à sua maneira.

A ressalva com relação aos crimes de rebelião, sedição, insurreição e auxílio a estrangeiros que invadirem o império estava diretamente ligada as questões vivenciadas na ordem do dia, isto é, o surgimento de “mobilização social” que reivindicava a participação efetiva nas decisões político-institucionais tomadas naquele momento54.

Embora tenha votado a favor da imunidade, Ibiapina foi severo denunciante do crime cometido pelo ministro da fazenda, posto que era ocupado pelo seu companheiro de legislatura, Manoel do Nascimento Castro e Silva. Este fora nomeado pelo regente Feijó, mas logo fora acusado por crime de roubo ao tesouro nacional, fato que se abateu sobre a economia, causando acentuada crise financeira. Ademais, falaremos acerca dessa denúncia feita por Ibiapina e as consequências políticas para ele diante do grupo político que fazia parte.

As decisões políticas inclusas nas reformas de 1834 investiram na conquista de maior autonomia administrativa das províncias em decorrência da presença outrora invasiva da política central. Evidentemente que isso estava direcionado aos homens que estivessem dentro do pacto político centro-local, mais expressivamente os presidentes de província, figuras que se articulavam entre as províncias e o poder central.

Com a transformação dos Conselhos Gerais em Assembleias Legislativas Provinciais (artigo 1º), detalhe que é considerado como principal componente descentralizador da reforma, foi possível conferir no âmbito regional, através de um legislativo próprio, uma certa autonomia política, embora os presidentes de província continuassem a ser nomeados pelo poder central (VAINFAS, 2002).

As designações propostas pela reforma aos presidentes eram

1º Nomear dentre os deputados provinciais até seis conselheiros, a quem ouvirá na sanção das leis, e em todos os negócios graves da administração provincial, e removê-los quando julgar conveniente. As funções dos conselheiros cessam em todo o caso, logo que toma posse novo presidente. 2º Nomear para um ou mais municípios delegados que serão incumbidos de aprovar provisoriamente as posturas das câmaras municipais, promover a sua observância e executar as ordens do presidente da província. 3º Nomear e demitir os empregados

54 Para maiores informações sobre movimentos ocorridos durante o período regencial ver MOREL

70 públicos quando o exigir o bem do serviço e não se opuser a lei. 4º Convocar a nova assembleia de maneira que possa reunir-se no prazo marcado para as suas sessões. 5º Convocar a assembleia provincial extraordinariamente, prorroga-la e adia-la, quando assim o exigir o bem da província. 6º Suspender a publicação das leis provinciais, nos casos e pela forma marcados nos artigos 15 e 16. 7º Incumbir os negócios gerais aos empregados provinciais e municipais e vice-versa, quando assim julgar conveniente (ATO ADICIONAL, 1834).

Com o poder de sancionar leis e as resoluções das Assembleias Legislativas Provinciais, os presidentes de províncias estavam limitados, contudo, quando as questões fossem relativas “à receita, despesa e empregos municipais, à organização dos regimentos internos, aos casos de pronúncia do presidente da província e do magistrado e à defesa da constituição e das leis da província” (VAINFAS, 2002, p. 61).

Ademais, vale ressaltar que existia uma multiplicidade de interesses políticos em jogo, de modo que ultrapassava a clássica oposição centralização versus descentralização, e nos leva a entender que tais modificações foram estabelecidas para cessar as disputas políticas do momento. Contudo, falava mais alto o projeto cujo estabelecimento de um Executivo e um Legislativo fortes e uma autonomia provincial subordinada (idem).

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