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2.1 Silêncio como ato político: Intervenção político-social

2.1.5 A promulgação da reforma constitucional

Mesmo com o quadro movimentado das discussões parlamentares, o ano de 1834 foi de contenção para Ibiapina, que se manteve em silêncio, porém, não inativo, que deve ser encarado aqui, sobretudo, como um ato político (DUVERGER, 1972). Essa atitude pode ser entendida no sentido da sua condição de principiante no parlamento, como também da posição de investigador que ele se prontificou a assumir nesse primeiro ano de legislatura.

Tal atitude levou-o a apurar sobre a prática dos grupos políticos atuantes, quer dizer, averiguar quais eram as pautas levantadas, as defesas que assumiam e as decisões que tomavam ao longo do ano. Isso o fez exitoso, por assim dizer, quando da “nomeação da comissão especial encarregada de examinar os atos da administração passada, e propor os abusos nela introduzidos. Correndo-se o escrutínio, saíram para ela eleitos os senhores Tobias com 32 votos, Ibiapina com 27, Alcibíades com 33 votos” (ANAIS, 1834).

Vale ressaltar que os dois deputados que compuseram essa comissão com Ibiapina são de províncias de próspera atuação política – São Paulo e Minas Gerais –, reconhecidas pela posição no quadro político, bem como a importância econômica de ambas. Tobias Aguiar era militar, foi nomeado presidente da província de São Paulo em 1835 e eleito deputado por dez legislaturas (1838-1861), sendo ainda líder da Revolução Liberal de 1848. Alcibíades era igualmente reconhecido, sendo ele referência na militância pela educação feminina no império, como foi também Ibiapina, mais tarde, na construção de Casas de Caridade que efetivaram essa militância55.

55 Sobre isso ver “Comunica-me as ocorrências da casa: O padre Ibiapina e as minorias segregadas no

72 Das atividades delegadas ao grupo, este apurou os fatos acerca das ações dos senadores, deputados e ex-imperador quando de sua estada no Brasil, redigindo o seguinte texto com a apresentação de resoluções acerca dos abusos cometidos por tal administração:

O senhor Alcibíades como relator da comissão especial encarregada de conhecer dos abusos da administração passada, apresentou em resultado dos seus trabalhos, um parecer em que se notam vários abusos, e se oferecem três resoluções: 1ª declarando nula e abusiva a nomeação do cidadão Francisco Maria Gordilho Velloso Barbuda, para senador do império, pela província de Goiás; a 2ª dando por nulos todos os títulos, condecorações e ordens militares criadas pelo ex-imperador do Brasil, sem autorização da assembleia geral depois de jurada a constituição; porém os titulares que quiserem usar do nome de seus títulos, o poderão fazer, sem que por isso se julguem com alguma distinção ou importância política; e os cavaleiros das ordens militares compreendidas na disposição do primeiro artigo da resolução, poderão igualmente trazer os seus distintivos, que serão tidos como mero enfeite, podendo qualquer outro indivíduo usar das insígnias, sem que incorra nas penas do artigo 301 do código criminal; a 3ª, finalmente, declarando nulas e abusivas, e como tais reprovadas as convenções feitas pelo governo do Brasil com as nações estrangeiras, a saber: os artigos 1º, 2º, 7º, 8º e 10º do tratado celebrado pelo governo do Brasil com o governo de Portugal em 20 de Agosto de 1825; a estipulação de direitos de importação feita nos tratados com a França em 6 de Junho de 1826, com a Inglaterra em 17 de Agosto, com as cidades asiáticas em 17 de Setembro, com a Áustria em 29 de Novembro de 1827, com a Prússia em 17 de Abril, com a Dinamarca em 26 de Outubro, com os países-baixos em 20 de Dezembro de 1826; assim como o artigo 10 do tratado preliminar de paz celebrado com a república das províncias unidas do Rio da Prata, em data de 27 de Agosto de 1828, e igualmente a criação da comissão mista feita na convenção com Inglaterra, em 23 de Setembro de 1826, sobre a extinção do tráfico da escravatura, para o julgamento definitivo dos contrabandistas de escravos importados da costa da África (ANAIS, 16 de setembro de 1834).

A performance política dos deputados que compuseram a comissão especial correspondia a uma resposta particular ao contexto em que estavam inseridos. Isto é, a partir da delegação dessa apuração, Ibiapina, Alcibíades e Tobias foram munidos institucionalmente para verificar os erros cometidos, de acordo, evidentemente, com o que previa a lei. Desse modo, o poder dos deputados esteve a serviço da fiscalização e da proposta de punição do executivo, como se vê com as resoluções oferecidas por eles.

Não se pode esquecer o caráter efetivamente de críticas advindo da guinada liberal que os três portavam intelectual e politicamente, o que resultou na decisão de anular a nomeação do senador Francisco Maria Gordilho Velloso Barbuda, bem como a

73 de anular condecorações criadas pelo ex-imperador, reforçando o distanciamento que os deputados tinham das ações de D. Pedro I durante o seu governo. Além do sentimento antilusitano que pairava sobre a câmara, essas resoluções, portanto, foram julgadas coerentes pelos demais deputados e foram enviadas para serem discutidas posteriormente. Porém, a última resolução, mais complexa em vista do envolvimento com outros países, para além da questão da extinção do tráfico negreiro, que era encarado como tabu pelos proprietários de terras, “não se julgou objeto de deliberação”.

Outro êxito do silencioso ato político de Ibiapina, foi a nomeação

[...] para a deputação que havia de apresentar a regência a lei de reforma da constituição, aos senhores Limpo de Abreu, Seara, Vital Raymundo, Souza Martins, Ibiapina, José Mariano de Albuquerque, Brito Guerra, Albuquerque Maranhão, Peixoto de Albuquerque, Francisco do Rego, Vicente de Macedo, Fernandes da Silveira, Inocêncio José Galvão, Cornélio Ferreira França, Antônio Augusto da Silva, Climaco, Rodrigues Barboza, Cerqueira Leite, José Pedro de Carvalho, Alves Machado, Tobias Aguiar, Duarte Silva, Paranhos, Batista de Oliveira (ANAIS, 07 de agosto de 1834).

Embora Ibiapina não tenha pronunciado nenhuma palavra durante as sessões no paramento em 1834, ele concluiu as atividades políticas naquele ano deixando a sua “marca registrada” nas decisões e no texto que modificou efetivamente os rumos da política nacional do século XIX. Pode-se dizer que, segundo o programa dos liberais moderados, ele tinha alcançado o objetivo de promover reformas e legitimá-las a nível político-institucional (FRANCO, 1980).

O silêncio parlamentar de Ibiapina era um ato político frente as questões apresentadas nas sessões daquele ano, esboçando-se nos mais impactantes debates através do voto, uma “arma” efetivamente importante nos espaços deliberativos, além da participação em importantes comissões da câmara. O fato de silenciar nos pronunciamentos parlamentares não tirou Ibiapina do cerne das decisões, bem como não tirou o seu poder de estar no jogo político dos espaços extraparlamentares, como se verá nos anos procedentes a 1834.

Ademais, as reformas que ficaram conhecidas como o Ato Adicional e foram efetivamente um ganho conquistado pelo grupo dos liberais, que de certa forma entraram em acordo com os conservadores na disputa pelo poder central do país. Passou então as alterações constitucionais a vigorar a partir daquele ano, o qual permaneceu em

74 voga mesmo após a ascensão de D. Pedro II, o que gerou, segundo Ibiapina, um posicionamento antagônico entre a ética e a política.

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