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3.3 Arqueologia da CDT

3.3.4 Votação

3.5.1.3 Decisões das CDT

3.5.1.3.1 Enquadramento legal

Relembramos que, nos termos da Lei, a comissão pode suspender a determinação da sanção se o consumidor toxicodependente aceitar sujeitar-se voluntariamente a tratamento em serviço público ou privado devidamente habilitado, podendo tal período de suspensão ir até aos três anos. Se durante o período da suspensão, por razões que lhe são imputáveis, o toxicodependente não se sujeitar ou interromper o tratamento, a suspensão é revogada e determinada a sanção correspondente à contra-ordenação.

Aos consumidores não toxicodependentes poderá ser aplicada uma coima ou, em alternativa, sanção não pecuniária, e aos consumidores toxicodependentes são aplicáveis sanções não pecuniárias. A comissão determina a sanção em função da necessidade de prevenir o consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas.

Tratando-se de consumidor toxicodependente cujo tratamento não seja viável ou não seja por ele aceite, a comissão pode promover a suspensão da execução da sanção, impondo a apresentação periódica daquele perante serviços de saúde, com a frequência que estes considerem necessária, com vista a melhorar as condições sanitárias, podendo

38 Prof. Doutor José Luis Fernandes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto in Jornal a Página da Educação ano 10, nº 106, Outubro 2001, p.7

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ainda a suspensão da execução ser subordinada à aceitação, pelo consumidor, de medidas ou soluções de acompanhamento, especialmente aconselháveis pela particularidade de cada caso.

A comissão declara a extinção da sanção se, decorrido o período da suspensão, não houver motivos que possam conduzir à sua revogação. A suspensão da execução da sanção é revogada sempre que, no seu decurso, o consumidor infrinja repetidamente as medidas impostas. A revogação da suspensão determina o cumprimento da sanção aplicada.

3.5.1.3.2 Análise de conteúdo – amostragem

Descrito o quadro legal, importa analisar as decisões, quanto mais não seja, por amostragem. Tendo sido pedido aos serviços centrais um conjunto de decisões que considerassem ilustrativas do que se tem praticado ao longo destes 5 anos, tivemos a oportunidade de estudar três dezenas de decisões.

Pelo confronto das estatísticas [que constam no ANEXO III] com o conteúdo desta amostragem, pudemos constatar que muitas se limitam a concluir que o indiciado é consumidor toxicodependente e consequentemente deliberam pela suspensão provisória do processo, por períodos médios entre o mínimo e o máximo previsto, devendo o indiciado ser (re)encaminhado para estrutura de saúde adequada ao seu problema aditivo, atento o facto de ter sido aceite tal solução pelo próprio. Também, por vezes, não só designam o CAT, como ainda se pronunciam sobre o programa que deve seguir (subutex, metadona, etc.). Também levam em conta estar ou não o indiciado profissionalmente inserido, e beneficiar ou não de apoio familiar.

Normalmente, há um cuidado especial: quanto à competência territorial das comissões, ao enquadramento jurídico-penal do tipo de ilícito e na escolha e medida da sanção a aplicar ao indiciado. As decisões condenatórias são, de uma forma geral, escolhidas entre o leque previsto na lei, e embora este permita alguma margem de liberdade, não encontrámos nenhuma que fosse inovadora.

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Existe também uma preocupação quanto ao destino a dar às drogas apreendidas. Embora previsto, não nos pareceu que alguma vez tivessem os indiciados pedido a comparência dos seus terapeutas, mas, por vezes, as comissões fazem-se acompanhar nas sessões por elementos das equipas técnicas.

Quanto ao quórum das comissões, ficámos com a sensação que nem sempre estava completo pois muitas das decisões só estão assinadas por dois dos três membros.

Constata-se que os indiciados, inquiridos pela comissão, prescindem de advogado/defensor oficioso, desconhecendo-se se alguma vez, algum esteve presente. Também, segundo conseguimos apurar, nunca existiu recurso para os tribunais das decisões das comissões.

No caso dos indiciados serem consumidores não toxicodependentes, passam de imediato com o prosseguimento do processo para determinação da sanção. Admitimos que nem sempre a decisão reflicta os procedimentos que as equipas técnicas, entretanto, tenham desencadeado para ajudar o indiciado. Mas, porque se lhes “afigura pertinente, adequada e proporcional, a aplicação da sanção de coima”, aplicam-na, pretendendo “que o indiciado, ao mesmo tempo que interioriza o desvalor da conduta, procure afastar-se da prática dos factos ilícitos e opte pela abstinência do consumo de substâncias estupefacientes”. Algumas das vezes, substituem-na ou sugerem que seja requerida a sua substituição pela prestação de serviços gratuitos a favor da comunidade.

Nos casos de consumidores problemáticos, a suspensão do processo provisoriamente por um período, insusceptível de impugnação, são logo os indiciados notificados da data do arquivamento do processo.

Segue-se muito a estrutura do processo penal, com o relatório, fundamentação dos factos – factos provados e não provados –, da motivação da matéria de facto, da qualificação, do despacho de interrupção da audição para proferir a decisão e, por fim, a decisão. Por último, a notificação do indiciado, a comunicação às diversas entidades, o registo e a comunicação para o registo central do IDT.

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Por vezes, encontramos a presença da mãe ou de outros familiares. Casos há em que as comissões ordenam a apreensão da carta de condução por um determinado período, ou determinam apresentações periódicas no Centro de Saúde da sua área de residência ou noutras instituições. Noutros casos, tem-se em conta se o indiciado abandonou ou não o tratamento.

Avança-se com um conceito de consumidor toxicodependente em ‘remissão de consumo de drogas duras’. Existe sempre a preocupação de consultar o registo central de dados para apuramento da existência de processos do mesmo indiciado e já começam a aparecer reincidentes com uma certa frequência.

Face à não comparência à audição do indiciado, é difícil caracterizá-lo no sentido de o determinar toxicodependente ou não toxicodependente. Então, face à escassez de elementos, consideram-no não toxicodependente e suspendem o processo.

Também existem casos em que o indiciado não toxicodependente viu o seu processo suspenso e encaminhado para o IEFP, ou mesmo alguns que não aceitaram o tratamento.

No documento Dispositivos de Controlo das Dependências (páginas 70-73)