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Apesar de todas as tentativas de melhoria do novo Código de Processo Civil, ainda há um longo caminho a ser percorrido em busca da efetividade da execução, seja no cumprimento de sentença ou na execução de título extrajudicial. Para que isso ocorra, é necessária uma atuação diligente dos atores processuais, pois a alteração da legislação, por si só, não é suficiente para provocar alterações significativas na prática forense em matéria de efetividade dos atos executórios.

Nesse sentido, a aplicação do art. 139, inciso IV do CPC (BRASIL, 2015), que traz em sua redação a possibilidade de o juiz determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias com o objetivo de possibilitar o recebimento da dívida, pode reduzir muito os índices de inadimplência, desde que não venha a ferir os direitos fundamentais e os princípios basilares, assim como o texto que segue:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste

Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça

e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais

ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação

pecuniária;

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente

VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a

conferir maior efetividade à tutela do direito; VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário,

força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das

partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não

incidirá a pena de confesso; IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o

saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva

respectiva.

Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular.

Para fins da presente pesquisa, apesar de o TCC ser referente ao cumprimento de sentença, a pesquisa também engloba decisões inovadoras na vigência do CPC de 2015, seja na fase de cumprimento de sentença ou de execução de título extrajudicial, a qual buscam induzir o devedor ou executado ao pagamento.

Dentre as decisões inovadores prolatadas na vigência da nova legislação processual civil destaca-se a decisão proferida em 11.10.2016, no processo 2014.05.1.009683-0, que tramita na vara cível de Planaltina, Distrito Federal, em que a juíza Joselia Lehner Freitas Fajardo, determinou a suspensão das carteiras de habilitações do ex-senador Valmir Antônio Amaral e de seus familiares, além da apreensão dos passaportes, para garantir o pagamento de dívida de mais de R$ 8 milhões (DISTRITO FEDERAL, 2014).

A juíza da vara cível de Planaltina, proferiu decisão interlocutória em processo de execução, deferindo o pedido da parte exequente, para suspender as carteiras de habilitação dos executados, bem como para apreender os passaportes deles, a fim de compeli-los a pagar prestação pecuniária. A Magistrada (BRASIL, 2014, [n.p.]) afirmou que a pretensão do credor se adequa às medidas executivas atípicas previstas no CPC/2015, pois, com a nova legislação, o juiz passou a “ter amplos poderes executórios, podendo utilizar toda e qualquer medida indutiva inominada, já que o artigo 139, IV, não traz nenhum requisito, procedimento ou limitação” na hipótese de obrigação de pagar quantia certa. Destacou, ainda, que a autorização

para uso dessas medidas em execução de prestação pecuniária, configura mudança de paradigma em relação ao CPC/1973. Segundo a julgadora, a busca da efetividade da execução exige a observância do esgotamento dos meios tradicionais de satisfação do débito. Por fim, a juíza ressaltou ainda, que o padrão de vida luxuoso ostentado pelos executados contraria a não localização de bens livres e desimpedidos, justificando-se, assim, a necessidade de adoção de medidas excepcionais.

Na eminente tentativa de receber seu crédito, os credores, não conseguindo receber seus valores em dinheiro e nem encontrando bens livres e desembaraçados para penhora, após dois anos de tramitação do processo, aceitaram o pedido para suspender as CNHs e apreender os passaportes.

Um dos fundamentos da decisão da juíza (BRASIL, 2014, [n.p.]), foi o fato de os devedores estarem ocultando os bens que poderiam garantir a execução. Nesse sentido, decidiu que:

Há que se considerar que se os executados não dispõem de dinheiro suficiente para o pagamento de seus débitos, também não dispõem de numerário para custear as dispendiosas viagens ao exterior. Atualmente no Brasil apenas viaja para o exterior as pessoas com alto padrão aquisitivo, tendo em vista a alta do dólar e o período de recessão econômica. No mesmo sentido, se não possuem veículos, também não precisarão de carteira de habilitação para dirigir.

Também com relação ao novo CPC, a juíza critica o texto referente aos bens listados como impenhoráveis, os quais deveriam ser reduzidos e, no seu modesto entender, é incoerente, eis que muito mais efetiva se tornaria a execução por obrigação de pagar se fosse permitida a penhora de 10% do salário, se fosse limitado o valor do bem de família, se não fosse inserida a impenhorabilidade da quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 salários-mínimos”, afirma a juíza (BRASIL, 2014, [n.p.]).

Casos de suspensão de CNH, entre outros meios utilizados na tentativa de ver o crédito satisfeito, vem sendo utilizados cada vez com mais frequência pelos operadores do direito. A juíza Andrea Ferraz Musa, da 2ª vara cível de Pinheiros, na capital paulista, destaca sua decisão proferida em 16.09.2016, nos autos dos processos nº 4001386-13.2013.8.26.0011 e 0121753-76.2009.8.26.0011/01, em que Grand Brasil Litoral Veículos e Peças Ltda move contra Milton Antonio Salermo, suspendeu a carteira de habilitação, apreendeu o passaporte e

cancelou o cartão de crédito de um réu até que ele pague uma dívida, defendendo na sua decisão que (MIGALHAS, [s.a.], 2016, [n.p.]):

[...] se o executado não tem como solver a presente dívida, também não tem recursos para viagens internacionais, ou para manter um veículo, ou mesmo manter um cartão de crédito. Se porém, mantiver tais atividades, poderá quitar a dívida, razão pela qual a medida coercitiva poderá se mostrar efetiva.

Na decisão mencionou que a novidade trazida pelo Novo Código de Processo Civil no artigo 139, inciso IV, busca dar efetividade a medida, garantindo o resultado buscado pelo exequente. Assim, a lei estabelece que compete ao juiz, na qualidade de presidente do processo, determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária (MIGALHAS, [s.a.], 2016.).

Dessa forma, a nova lei processual civil adotou o padrão da atipicidade das medidas executivas também para as obrigações de pagar, ampliando as possibilidades ao juiz que conduz o processo, para alcançar o resultado objetivado na ação executiva, não podendo, no entanto, serem aplicadas indiscriminadamente, devendo se enquadrar dentro de critérios de excepcionalidade, evitando-se abusos.

Assim, segundo a juíza Andrea Ferraz Musa, as medidas excepcionais terão lugar após o esgotamento dos meios tradicionais de satisfação do débito, havendo indícios que o devedor usa a blindagem patrimonial para negar o direito de crédito ao exequente, utilizando subterfúgios tecnológicos e ilícitos para esconder seu patrimônio e frustrar os seus credores que (MIGALHAS, [s.a.], 2016, [n.p.]).

A medida escolhida pela juíza, todavia, deverá ser proporcional, devendo ser observada a regra da menor onerosidade ao devedor, art. 805 do CPC/2015 e, não poderá ofender os direitos e garantias assegurados na Constituição Federal (BRASIL, 2015).

Para que sua medida seja cumprida e tenha eficácia, é necessário ainda, que seja oficiado ao Departamento Estadual de Trânsito, à Delegacia da Polícia Federal e às operadoras de cartão de crédito para que possam tomar conhecimento.

Lamentavelmente, a presente decisão foi anulada liminarmente, logo após, pela 30ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, por entender o desembargador Marcos Ramos, relator do caso, que a decisão de primeira instância fere o direito de ir e vir do réu, consagrada na Constituição Federal de 1988 (SÃO PAULO, 2016).

Segue a presente decisão proferido no Habeas Corpus sob nº 2183713- 85.2016.8.26.0000 (BRASIL, 2016):

Trata-se de "habeas corpus" impetrado em decorrência de parte da decisão proferida nos autos da execução de título extrajudicial proposta por "Grand Brasil Litoral Veículos e Peças Ltda." em face de Milton Antonio Salerno, que determinou a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação do executado, bem como a apreensão de seu passaporte, até pagamento do débito exequendo. Aduzem os advogados do paciente, em síntese, que a coação é ilegal e afetará o direito de locomoção, garantido constitucionalmente. Assim, requerem a concessão de liminar para imediata devolução do passaporte e o afastamento da suspensão do direito de dirigir veículos automotores. Em que pese a nova sistemática trazida pelo art. 139, IV, do CPC/2015, deve-se considerar que a base estrutural do ordenamento jurídico é a Constituição Federal, que em seu art. 5º, XV, consagra o direito de ir e vir. Ademais, o art. 8º, do CPC/2015, também preceitua que ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz não atentará apenas para a eficiência do processo, mas também aos fins sociais e às exigências do bem comum, devendo ainda resguardar e promover a dignidade da pessoa humana, observando a proporcionalidade, a razoabilidade e a legalidade. Por tais motivos, concedo a liminar pleiteada. Comunique-se à autoridade coatora para que providencie as medidas cabíveis e urgentes para o desfazimento do ato por ela praticado, bem como encaminhe a este Tribunal as necessárias informações. Após, os autos devem ser direcionados à douta Procuradoria Geral de Justiça.

Temos decisões recentes também no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (BRASIL, 2016), como é o caso ocorrido na comarca de Taquara, na qual houve o indeferimento inicial da penhora do FGTS, porém, após interposição de agravo, a decisão foi reformada, após julgamento de agravo de instrumento, qual segue colacionado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. ALIMENTOS. EXECUÇÃO. PENHORA DO FGTS. Ainda que destinado a garantir o futuro do trabalhador, os depósitos do FGTS podem ser penhorados, para satisfazer a pretensão atual do credor de alimentos. Situação excepcional, pois foram em vão as tentativas de localizar outros bens penhoráveis. Precedentes jurisprudenciais. AGRAVO PROVIDO. UNÃNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70070557541, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 13/10/2016)

Outro caso que despertou bastante discussão e polêmica foi a decisão tomada pelo

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios na Apelação Cível nº 107263020068070009 (DISTRITO FEDERAL, 2007):

APELAÇÃO CÍVEL. ALVARÁ JUDICIAL. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. ALIMENTOS. BLOQUEIO DE FGTS. EXCEPCIONALIDADE. DESEMPREGO. POSSIBILIDADE. 1. EMBORA A VERBA DO FGTS TENHA CARÁTER INDENIZATÓRIO, SOBRE ELA NÃO INCIDINDO, EM PRINCÍPIO, DESCONTOS A TÍTULO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA, ADMITE-SE O BLOQUEIO, EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS, PARA GARANTIA DO PAGAMENTO DE VERBA ALIMENTÍCIA. 2. ESTANDO O PERCENTUAL DEVIDO DO FGTS JÁ BLOQUEADO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, A MEDIDA QUE SE IMPÕE É A CONCESSÃO DO ALVARÁ PARA SEU LEVANTAMENTO. 3. RECURSO PROVIDO. UNÂNIME. TJ-DF - APELAÇÃO CÍVEL AC 107263020068070009 DF 0010726-30.2006.807.0009 (TJ-DF). Data de publicação: 24/05/2007

Na presente decisão, o Tribunal de Justiça decidiu que, em caso de atraso no pagamento de pensão alimentícia judicial, é possível que a penhora recaia sobre o saldo do FGTS, podendo o valor da conta ficar disponível para pagamento de pensão alimentícia (BRASIL, 2007).

Mesmo sendo o FGTS impenhorável por ser uma verba alimentícia, vem sendo admitido a sua penhora para pagamento, por essa ser também uma verba destinada a manter o sustento do alimentando.

Após ser realizado o bloqueio do fundo, emite-se uma ordem de pagamento, limitado ao valor da ação, para que a Caixa Econômica Federal, que é a gestora do FGTS, libere o dinheiro. Pagando a dívida antes da liberação dos valores do fundo, poderá o devedor pedir ao juiz o desbloqueio dos valores.

Caixa Econômica Federal tem recorrido das decisões da justiça quanto ao bloqueio do saldo do FGTS, como terceiro interventor, alegando ser fundamental para o trabalhador, em caso de uma possível demissão, porém, não tem sido esse o entendimento dos Tribunais.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça decidiu no RMS 26.540/SP, de relatoria da Ministra ELIANA CALMON que:

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL – FGTS E PIS: PENHORA - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL - SÚMULA 202/STJ – INTERESSE DA CEF - IMPENHORABILIDADE - MITIGAÇÃO FRENTE A

BENS DE PRESTÍGIO CONSTITUCIONAL. 1. A competência para a execução de sentença condenatória de alimentos é da

Justiça Estadual, sendo irrelevante para transferi-la para a Justiça Federal a

intervenção da CEF. 2. Na execução de alimentos travada entre o trabalhador e seus dependentes, a CEF

é terceira interessada. 3. A impenhorabilidade das contas vinculadas do FGTS e do PIS frente à execução

de alimentos deve ser mitigada pela colisão de princípios, resolvendo-se o conflito para prestigiar os alimentos, bem de status constitucional, que autoriza, inclusive, a

prisão civil do devedor. 4. O princípio da proporcionalidade autoriza recaia a penhora sobre os créditos do

FGTS e PIS. 5. Recurso ordinário não provido.

(RMS 26.540/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/08/2008, DJe 05/09/2008).

Colaciona-se, outrossim, outras decisões inovadoras:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ACERCA DO ADIMPLEMENTO DE ALIMENTOS. PENHORA DE VALORES NA CONTA DO FGTS DO DEVEDOR. CABIMENTO. O rol das hipóteses para movimentação do FGTS, previsto no art. 20 da Lei n.º 8.036/90, não é taxativo, sendo cabível a penhora, de saldo existente para satisfazer débito alimentar, quando o devedor não possui bens passíveis de penhora. Precedentes desta Corte de Justiça e do STJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO, POR MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº 70071304356, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 17/01/2017). (BRASIL, 2017)

Ementa: EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PENHORA DO FGTS.

POSSIBILIDADE. 1. Em se tratando de débito alimentar é possível a penhora do saldo existente em conta do FGTS do executado, mormente quando não foram localizados outros bens passíveis de penhora. 2. É cabível a expedição de ofício solicitando informações acerca da conta do FGTS do devedor para viabilizar a penhora. Recurso provido. (Agravo de Instrumento Nº 70070555826, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 30/11/2016). (BRASIL, 2016)

Nas decisões do Supremo Tribunal de Justiça também vem ocorrendo diversas inovações, entendendo ser perfeitamente possível, em caso de execução de alimentos de filho menor, o protesto e a inclusão no cadastro de proteção ao crédito (SPC e SERASA).

Colaciona-se, outras decisões inovadoras no que se refere a inclusão do nome do Devedor no cadastro de restrição ao crédito (SPC e SERASA), conforme segue:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS.

EXECUÇÃO. DEVEDOR. INSCRIÇÃO EM CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO.

INSCRIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO À VIDA DIGNA. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO LEGAL. COERÇÃO INDIRETA. MELHOR INTERESSE DO ALIMENTANDO. INOVAÇÃO LEGISLATIVA. ARTIGOS 528 E 782 DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

1. É possível, à luz do melhor interesse do alimentando, na execução de alimentos de filho menor, o protesto e a inscrição do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito.

2. Não há impedimento legal para que se determine a negativação do nome de contumaz devedor de alimentos no ordenamento pátrio.

3. O mecanismo de proteção que visa salvaguardar interesses bancários e empresariais em geral (art. 43 da Lei nº 8.078/90) pode garantir direito ainda mais essencial relacionado ao risco de vida, que violenta a própria dignidade da pessoa humana e compromete valores superiores a mera higidez das atividades comerciais.

4. O legislador ordinário incluiu a previsão de tal mecanismo no Novo Código de Processo Civil, como se afere da literalidade dos artigos 528 e 782.5. Recurso especial provido. (REsp 1469102/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe 15/03/2016) (BRASIL, 2016)

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS. EXECUÇÃO.

PROTESTO E INCLUSÃO DO NOME DO DEVEDOR NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO (SPC E SERASA). POSSIBILIDADE. FORMA DE COERÇÃO INDIRETA DO EXECUTADO. MÁXIMA EFETIVIDADE AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE. MÍNIMO EXISTENCIAL PARA SOBREVIVÊNCIA. 1. A proteção integral está intimamente ligada ao princípio do melhor interesse da criança e adolescente, pelo qual, no caso concreto, devem os aplicadores do direito buscar a solução que proporcione o maior benefício possível para o menor. Trata - se de princípio constitucional estabelecido pelo art. 227 da CF, com previsão nos arts. 4° e 100, parágrafo único, II, da Lei n. 8.069/1990, no qual se determina a

hermenêutica que deve guiar a interpretação do exegeta. 2. O norte nessa seara deve buscar a máxima efetividade aos direitos fundamentais

da criança e do adolescente, especificamente criando condições que possibilitem,

de maneira concreta, a obtenção dos alimentos para sobrevivência. 3. O art. 461 do CPC traz cláusula geral que autoriza o juiz, a depender das

circunstâncias do caso em concreto, adaptar a técnica processual ao perfil do direito material, com vistas à formação de uma solução justa e adequada do conflito, possibilitando que, por meio de alguma medida executiva, se alcance a realização da justiça (CF, art. 5°, XXXXV). 4. O direito de família é campo fértil para a aplicação dessa tutela específica, notadamente pela natureza das relações jurídicas de que cuida - relações existenciais de pessoas -, as quais reclamam mecanismos de tutela diferenciada. Realmente, a depender do caso concreto, pode o magistrado determinar forma alternativa de coerção para o pagamento dos alimentos, notadamente para assegurar ao menor, que sabidamente se encontra em situação precária e de vulnerabilidade, a máxima efetividade do interesse prevalente - o mínimo existencial para sua sobrevivência -, com a preservação da dignidade humana por meio da garantia de seus alimentos. 5. É plenamente possível que o magistrado, no âmbito da execução de alimentos, venha a adotar, em razão da urgência de que se reveste o referido crédito e sua relevância social, as medidas executivas do protesto e da inscrição do nome do devedor de alimentos nos cadastros de restrição ao crédito, caso se revelem como meio eficaz para a sua obtenção, garantindo à parte o acesso à tutela jurisdicional efetiva.

6. Isso porque: i) o segredo de justiça não se sobrepõe, numa ponderação de valores, ao direito à sobrevivência e dignidade do menor; ii) o rito da execução de alimentos prevê medida mais gravosa, que é a prisão do devedor, não havendo justificativa para impedir meio menos oneroso de coerção; iii) a

medida, até o momento, só é admitida mediante ordem judicial; e iv) não deve haver divulgação de dados do processo ou do alimentando envolvido, devendo o registro se dar de forma sucinta, com a publicação ao comércio e afins apenas que o genitor é devedor numa execução em curso.

7. Ademais, o STJ já sedimentou o entendimento de ser "possível o protesto da sentença condenatória, transitada em julgado, que represente obrigação pecuniária líquida, certa e exigível" (REsp 750.805/RS, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, DJe 16/06/2009). 8. Trata-se de posicionamento já consagrado em legislações de direito comparado, sendo inclusive previsão do novo Código de Processo Civil, que estabeleceu expressamente a possibilidade do protesto e da negativação nos cadastros dos devedores de alimentos (arts. 528 e 782). 9. Na hipótese, o recorrido, executado na ação de alimentos, devidamente citado, não pagou o débito, sendo que, determinando-se diligências, não foram encontrados bens passíveis de penhora em seu nome. Portanto, considerando-se que os alimentos devidos exigem urgentes e imediatas soluções - a fome não espera -, mostram-se juridicamente possíveis os pedidos da recorrente, ora exequente, de protesto e de inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao crédito (SPC e Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para garantir a efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. 10. Recurso especial

provido. (REsp 1533206/MG,

Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/11/2015, DJe 01/02/2016) (BRASIL, 2016)

Diversas opiniões e comentários vem sendo tecidos sobre o assunto, mas é necessário que exista mecanismos capazes de coagir o executado ao pagamento da dívida, porém, é

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