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Efetividade no cumprimento de sentença de obrigação de pagar quantia certa à luz do Código de Processo Civil de 2015

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GRANDE DO SUL

JONATAN FERRICHE LENTZ

EFETIVIDADE NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA À LUZ

DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

Ijuí (RS) 2017

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JONATAN FERRICHE LENTZ

EFETIVIDADE NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA À LUZ

DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Francieli Formentini

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ser essencial em minha vida, meu guia, socorro presente em horas difíceis de angústia e apreensão, a minha mãe e irmãos que me incentivaram a retomar os estudos e, principalmente a minha esposa, pela paciência aos finais de cada semestre.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço еm primeiro lugar а Deus, quе iluminou о mеu caminho durante esta caminhada.

À professora Francieli Formentini, pela paciência nа orientação е incentivo quе, mesmo à distância, tornaram possível а conclusão desta monografia.

Аоs meus pais, irmãos, avós minha e a toda minha família que, cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para que еu chegasse аté esta etapa dе minha vida.

À minha esposa Tatiane Zanetti, pessoa cоm quem аmо partilhar а vida e mе sinto mais vivo dе verdade. Obrigado pelo carinho, а paciência е pоr sua capacidade dе me trazer pаz, nа correria dе cada semestre.

Аоs meus amigos, pеlаs alegrias, tristezas е dores compartilhadas. Cоm vocês, аs pausas entre um parágrafo е outro dе produção melhora tudo о quе tenho produzido nа vida.

À todos aqueles quе dе alguma forma estiveram е estão próximos dе mim, fazendo esta vida valer cada vеz mais а pena.

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“O problema da efetividade do processo tem ligação com a não rara demora do processo. O anseio pela efetividade da prestação jurisdicional existe em decorrência de uma demanda da sociedade, que almeja o direito na prática e está incrédula com o Poder Judiciário. Assim, os operadores do direito, motivando os legisladores a realizar inúmeras reformas na legislação, fizeram que a “efetividade do processo” tenha se tornado “palavra de ordem no moderno processo civil.” José Maria Rosa Tesheiner.

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise acerca das inovações trazidas pelo Novo Código de Processo Civil de 2015 com vistas a trazer efetividade e celeridade ao cumprimento das decisões judiciais. O objetivo do trabalho é abordar as formas que os credores têm disponíveis na legislação processual civil para buscar o crédito objeto do cumprimento de sentença, evitando o prolongamento do cumprimento de sentença e, possibilitando uma prestação jurisdicional mais efetiva com a concretização da garantia da duração razoável do processo. Para abordar a temática será realizada uma retrospectiva acerca da inserção do sincretismo processual e serão estudados os desafios e entraves do Poder Judiciário em busca de uma justiça efetiva e célere. Também será abordado sobre os meios de coerção e as penalidades a serem aplicadas aos sujeitos que praticam condutas caracterizadoras como litigância de má-fé e ato atentatório à dignidade da justiça. Além disso, serão realizadas análises de decisões recentes, visando a efetividade das decisões. Com a pesquisa verificou-se que as inovações inseridas pelo Novo Código de Processo Civil, passaram a dar mais liberdade para os operadores do direito, buscando novas alternativas de coação, na tentativa de obrigar o Devedor ao pagamento de sua dívida.

Palavras-Chave: Código de Processo Civil de 2015. Cumprimento de sentença. Efetividade. Inovações.

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The present work of course completion makes an analysis about the innovations brought by the New Code of Civil Procedure of 2015 with a view to bringing effectiveness and celerity to compliance with judicial decisions. The objective of this study is to discuss the ways in which creditors have available in civil procedural legislation to seek credit for the execution of a sentence, avoiding the extension of the execution of a sentence, and allowing a more effective jurisdictional rendering with the guarantee of reasonable duration The process. To address the theme will be a retrospective on the insertion of procedural syncretism and the challenges and obstacles of the Judiciary will be studied in search of an effective and swift justice. It will also be discussed on the means of coercion and penalties to be applied to subjects who practice characterizing behaviors such as bad faith litigation and acts that violate the dignity of justice. In addition, analyzes of recent decisions will be carried out, aiming at the effectiveness of decisions. With the research, it was verified that the innovations inserted by the New Code of Civil Procedure, gave more freedom to the operators of the law, seeking new alternatives of coercion, in an attempt to oblige the Debtor to pay their debt.

Keywords: 2015 Civil Procedure Code. Compliance with sentencing. Effectiveness. Innovations.

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INTRODUÇÃO ... 08

1 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA ... 09

1.1 Sincretismo processual ... 09

1.2 Cumprimento de sentença no CPC/2015 ... 14

1.3 Os desafios e entraves à efetividade do cumprimento de sentença ... 18

2 O EXEQUENTE E OS MECANISMOS PARA EFETIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS ... 22

2.1 Meios de coerção ... 22

2.2 Penhora online, averbações em busca da efetividade e protesto ... 27

2.3 Decisões inovadoras na vigência do CPC/2015 ... 33

CONCLUSÃO ... 42

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, tem o objetivo de discutir aspectos de fundamental importância, trazidos pelo Novo Código de Processo Civil, em relação a efetividade do cumprimento de sentença nas obrigações de pagar quantia certa, sendo abordada a necessidade de uma prestação jurisdicional mais efetiva, que não prolongue os processos por longos anos até que se consiga chegar a uma conclusão, que muitas vezes, não é suficiente para que a parte exequente consiga receber seu crédito pretendido.

No primeiro capítulo, será realizada uma retrospectiva acerca do sincretismo processual, a partir da análise do artigo 523, §§1º e 2º do CPC/2015, o que vem a contribuir para a agilidade do processo. A evolução do Código de Processo Civil no decorrer de suas alterações no que diz respeito ao cumprimento de sentença e os desafios e entraves à efetividade da decisão judicial, que deverá passar por um poder judiciário carente de um reaparelhamento para vencer o grande contingente de demandas.

No segundo capítulo, será abordado sobre os meios de coerção utilizados em busca de uma maior efetividade nas decisões judiciais, bem como as diversas formas de penhora on-line, com acesso a informações do devedor, em busca de bens penhoráveis e diversas decisões inovadoras, na vigência do CPC/2015, que os Juízes, amparados pelo artigo 139, IV, do CPC, através de medidas excepcionais, vão em busca do patrimônio do executado na tentativa de garantir o pagamento de uma obrigação.

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1 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA

O Novo Código de Processo Civil trouxe diversas alterações objetivando dar maior efetivação às decisões judicias. Nesse sentido, o presente capítulo abordará o sincretismo processual, ou seja, a unificação do processo de conhecimento e de execução, a partir do estudo do artigo 523, parágrafos 1º e 2º do CPC/2015, as especificidades do cumprimento de sentença de obrigação de pagar quantia certa, bem como, os desafios e entraves à efetividade das decisões judicias.

1.1 Sincretismo processual

Denomina-se sincretismo processual a fusão de atos de cognição e de execução, a partir da sentença que determina a obrigação de pagar quantia, não pondo fim ao processo, mas remetendo o credor a uma nova fase do processo de conhecimento (GONÇALVES, 2017).

A partir da lei nº 11.232/05, que alterou o Código de Processo Civil de 1973, para estabelecer a fase de cumprimento das sentenças no processo de conhecimento, tanto a liquidação quanto o cumprimento da sentença relativa às obrigações de pagar quantia passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento, sendo desnecessária a instauração de processo de execução para alcançar o bem da vida, objeto da condenação.

Assim, transitada em julgado a decisão, pode o credor da obrigação de pagar quantia certa, requerer o cumprimento da sentença nos próprios autos do processo de conhecimento, por meio de simples petição.

Com a introdução do sincretismo processual nas obrigações de pagar quantia certa houve a sintonização do Código de Processo Civil com o princípio constitucional da celeridade previsto no art. 5º, LXXVIII, introduzido pela Emenda Constitucional n° 45/04, que garante a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

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O processo de execução apresenta difíceis desafios para todos os estudiosos e operadores do direito, do processo civil, notadamente, porque séculos de teoria, podem se tornar absolutamente inócuos, se for insatisfatório o resultado prático almejado por aquele que detém um crédito já reconhecido por um título executivo judicial (NETO; GOMES, 2016).

É através da arquitetura do processo de execução que ocorre o inevitável contato entre o universo das leis e a realidade fática, sendo que regras, doutrinas e jurisprudências, naquele processo, são colocadas em um verdadeiro teste de performance diante do mundo dos fatos, não adiantando de nada conjuntos normativos e teorias se o credor não conseguir obter, na vida real, exatamente e praticamente, o que ele já teria direito de obter se não fosse o inadimplemento do devedor e a necessidade do processo judicial (NETO; GOMES, 2016).

Nas palavras de Teori Albino Zavascki (2004. p. 91-92)

[...] a função de todo o processo é a de dar a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquilo a que tem direito. No que se refere especificamente ao processo de execução, que se origina invariavelmente em razão da existência de um estado de fato contrário ao direito, sua finalidade é a de modificar esse estado de fato, reconduzindo-o ao estado de direito e, desse modo, satisfazer o credor. Este, por sua vez, tem interesse em que a satisfação se dê em menor tempo possível e por modo que assemelhe a execução forçada ao cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor.

Especificamente sobre a busca efetiva do resultado prático da demanda, oportuna é a lição de José Miguel Garcia Medina (2004, p. 34), sendo que:

[...] a execução forçada tem por finalidade a satisfação do direito do exequente, e não a definição, para o caso concreto, do direito de uma das partes. Isto é, não é objetivo da execução forçada determinar quem tem razão. Pode-se dizer, assim, que, visualizada a tutela jurisdicional como resultado, na execução forçada tal ocorrerá, normalmente, com a entrega do bem devido ao exequente.

Menciona também Francisco Fernandes de Araújo (2004, p. 1)

O processo de execução civil tem constituído ao longo dos tempos um campo fértil para a prática do abuso do direito, mas, paradoxalmente, não tem tido a adequada atenção do legislador para equacionar esse mal, se comparado à sua maior preocupação com os processos de conhecimento e cautelar, com séria repercussão na morosidade da justiça, e, por conseqüência, na credibilidade do poder judiciário.

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Não é somente com a efetividade que devemos ter atenção, é preciso também buscar uma justiça célere, na qual as partes devem evitar propositura de ações temerárias e agir de forma justa, estimulando procedimentos eficientes, rápidos, com o seu respectivo dever de cooperação (MEDEIROS; GOMES, 2017).

Na constante busca por um justo e efetivo processo a atual Constituição Federal, no seu artigo 5º, LXXVIII, diz que a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade d e sua tramitação, mas na prática, não é o que se verifica nos Tribunais.

Visando buscar mais eficiência às decisões judiciais, iniciou-se em 1990, um movimento de reformas na legislação processual, por meio das leis nº 10.444/2002, nº 11.232/2005 e nº 11.382/2006, sendo que estas duas últimas, trouxeram profundas modificações na execução civil.

No direito brasileiro, antes da entrada em vigor da lei nº 11.232/05, o credor de uma obrigação de pagar quantia certa não cumprida, se via obrigado a buscar duas vezes o judiciário para cobrar o seu crédito, uma no processo de conhecimento, na qual era preciso ver seu direito reconhecido com a prolatação da sentença de procedência e, posteriormente, ajuizar uma nova ação em busca da satisfação do direito reconhecido na sentença.

Já com o advento da lei nº 11.232/05, foi introduzido o chamado modelo sincrético para a execução de sentenças que reconhecem a obrigação de pagar quantia certa, modelo esse iniciado pela lei nº 10.444/2002, em relação às obrigações de entrega de coisa, fazer e não fazer que, estabeleceu a fase de cumprimento de sentença, extinguindo a execução por processo autônomo de títulos judiciais, dando com isso decisão executória imediata, onde não mais se extingue o processo, apenas encerra-se uma primeira fase, devendo o prosseguimento se dar nos mesmos autos (art. 475-I), sob pena de multa por inadimplemento (art. 475-J), no percentual de 10%, devendo ser intimado para pagamento em 15 dias.

A lei nº 11.232/05 trouxe significativas mudanças na execução de título judicial ao unificar os procedimentos, como ensina José Miguel Garcia Medina (2008, p. 35-37)

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[...] na versão original do Código de Processo Civil de 1973, a tutela jurisdicional executiva realizava-se, quase que exclusivamente, de acordo com o modelo previsto no livro II. Assim, estabeleceu o Código, em sua versão original, a unificação procedimental das ações executivas, tendo-se imposto o mesmo procedimento para as ações de execução fundadas tanto em títulos executivos judiciais quanto em extrajudiciais, distinguindo-se, apenas, as matérias que poderiam ser arguidas nos embargos à execução fundada em título judicial e em título extrajudicial [...] É importante ressaltar que a atual sistemática das ações de execução abandonou a unificação procedimental originariamente adotada pelo Código de Processo Civil de 1973 [...]

Ao alterar substancialmente o CPC/73, no que se refere ao cumprimento de sentença, a lei nº 11.232/05 teve o intuito de eliminar a dicotomia entre processos de conhecimento e de execução, possibilitando por meio de um único processo, a condenação e a busca pela satisfação da obrigação constante no título judicial.

Como consequência, extinguiram-se os embargos para fins de defesa contra o recém-criado cumprimento de sentença, constituindo-se uma nova fase do processo, e não um processo novo, criando-se a impugnação ao cumprimento de sentença como forma de defesa do devedor.

Nos termos do artigo 475-J do CPC/73, a sentença fixa uma obrigação a ser cumprida e, em não havendo o cumprimento após o trânsito em julgado, caberá ao credor requerer o cumprimento de sentença. Intimado, o executado terá 15 dias para pagar, sob pena de inclusão de multa de 10% sobre o valor da condenação, permitindo-se a prática de atos executivos, com a realização de penhora, avaliação e demais atos executórios.

O processo sincrético viabiliza a prática de atos cognitivos e executivos de forma concomitante, sendo que o sincretismo processual é mantido CPC/2015, relativamente ao cumprimento da sentença cível.

Não existem motivos que visem a separação do processo de conhecimento, execução e acautelamento em processos distintos (relação jurídica processual), se o direito a ser discutido, tem origem nos mesmos fatos e direitos (relação jurídica material), devendo o conflito de interesses ser solucionado em um único processo, aproveitando melhor o tempo que se perderia na formação meramente burocrática de vários feitos (LEAL, 2016).

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Ainda que sejam autônomas as relações jurídicas material e processual, em princípio, não existe a necessidade de se iniciar dois ou mais processos para se solucionar uma mesma lide, devendo o juiz apreciar o pedido do autor e, caso decida pela procedência, ordenar que o réu cumpra seu comando, podendo em caso de falta de cumprimento, anunciar medidas práticas que irão levar o processo ao objetivo almejado, que é a satisfação do crédito com o pagamento (LEAL, 2016).

Nesse novo processo, cognição, concretização e prevenção, são reunidas como forma de proporcionar eficácia e tempestividade à tutela jurisdicional, a fim de atender a comandos constitucionais da maior importância, como o acesso à justiça e a razoável duração do processo (CF, art. 5.º, XXXV e LXXVIII).

Nessa linha, ações sincréticas seriam, para Joel Dias Figueira Junior:

[...] justamente aquelas que admitem, simultaneamente, cognição e execução, isto é, à medida que o juiz vai conhecendo e, de acordo com as necessidades delineadas pela relação de direito material apresentada e a tutela perseguida pelo autor, vai também executando (satisfazendo) provisoriamente, fulcrado em juízo de verossimilhança ou probabilidade. Significa dizer que as ações sincréticas não apresentam a dicotomia entre conhecimento e executividade, verificando-se a satisfação perseguida pelo jurisdicionado numa única relação jurídico-processual, onde a decisão interlocutória de mérito (provisória) ou a sentença de procedência do pedido (definitiva) serão autoexeqüíveis.

Deve-se buscar na interpretação de qualquer dispositivo legal, a maior amplitude possível dos direitos fundamentais, devendo, sempre que possível, prevalecer o princípio da celeridade, que também está ligado ao princípio da inafastabilidade da jurisdição (artigo 5° XXXV, da Constituição Federal), buscando através do sincretismo processual e, respeitando o princípio da segurança jurídica, dar o respaldo que a sociedade espera da justiça.

No que tange ao cumprimento de sentença, o novo Código de Processo Civil, objetivando possibilitar o acesso ao bem da vida de forma mais rápida e eficaz, levou em consideração, segundo a comissão de juristas responsável por elaborar o texto legal, os seguintes objetivos:

[...] 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar, resolvendo problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal; 4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo

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considerado; e 5) finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim, mais coesão. (BRASIL, 2016).

Ademais, trouxe significativas alterações com relação a ampliação do cumprimento de sentença, estendendo esse procedimento de execução também para obrigações de pagar alimentos e obrigações de pagar quantia pela Fazenda Pública, suprimindo, portanto, processos de execução autônomos para os títulos executivos judiciais.

Com isso, a nova legislação processual civil acaba com a divergência jurisprudencial existente na vigência do Código de Processo Civil de 1973 acerca da utilização ou não do cumprimento de sentença para obrigações de pagar alimentos, reconhecendo a aplicabilidade do procedimento e, ainda, ampliando a aplicação do cumprimento de sentença.

1.2 Cumprimento de sentença no CPC/2015

Atualmente o cumprimento de sentença pode se dar por força dos artigos 536 a 538 do CPC/2015, em se tratando de obrigação de fazer, de não fazer e obrigação de entrega de coisa e, também pelos artigos 523 e 525 do CPC/2015, quando a obrigação versar sobre pagamento de quantia certa.

Ainda é possível outras duas formas de cabimento, no caso de créditos de alimentos, em que poderá ser admitida tanto a prisão do devedor, como a penhora, descrito no artigo 528 do CPC/2015, bem como, o cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública, elencada nos artigos 534 e 535 do CPC/2015.

Será abordado mais especificamente neste capítulo, a obrigação de pagar quantia certa, na qual a fase de cumprimento da sentença deverá iniciar a partir de um requerimento do credor, devendo constar expressamente os requisitos estabelecidos pelo artigo 524 do CPC/2015, em que o executado será intimado para pagar o débito, acrescido de custas, se houver, no prazo de 15 dias. Tendo advogado constituído no processo, o executado será intimado na pessoa de seu advogado, por meio de nota de expediente, sendo constituído defensor público para o patrocínio da causa, sua intimação será pessoal, contando-se o prazo em dobro, nos termos do artigo 186, parágrafo 1º c/c artigo 183, parágrafo 1º do CPC/2015.

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Ao dar prosseguimento ao cumprimento definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar quantia certa, previsto no artigo 523 do CPC/2015, tanto o credor como o devedor, poderá fornecer a atualização de cálculo atualizado da ação, não sendo necessário subordinar o início de prazo, a apresentação do cálculo pelo vencedor, cabendo impugnação de qualquer uma das partes, caso não concorde com os valores apresentados.

A impugnação do valor da causa tem efeito suspensivo, podendo anteceder a penhora e, a decisão da impugnação, por força legislativa, poderá ser atacada via agravo de instrumento, salvo quando importar em extinção da execução, na qual caberá apelação (BUENO, 2015, p. 355).

Não ocorrendo o pagamento voluntário no prazo de 15 dias, o débito será acrescido de multa de 10% e também serão fixados 10% sobre os honorários advocatícios . Em caso de pagamento parcial, tais verbas incidirão apenas sobre o saldo devedor, nos termos do §2º do artigo 523 do CPC/2015.

Já no §3º do artigo 523 do CPC/2015, não sendo efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, o juiz determinará a expedição de mandado de penhora e avaliação, com o objetivo de tentar encontrar algum bem do devedor que possa dar liquidez a dívida (BUENO, 2015, p. 353).

Em não ocorrendo o pagamento no prazo estipulado pelo artigo 523 do CPC/2015, o devedor terá um prazo de mais 15 dias, de acordo com o artigo 525 do mesmo código, para oferecer impugnação ao cumprimento de sentença na qual poderá alegar: falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; ilegitimidade das partes; inexequidade do título ou inexigibilidade da obrigação; penhora incorreta ou avaliação errônea; excesso na execução ou cumulação indevida de execuções; incompetência absoluta ou relativa do juízo de execução e qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, com pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença (BUENO, 2015, p. 353-356).

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Antes da lei nº 11.232/2005, o artigo 605 do CPC/73, na redação da lei n° 8.898/94, aceitava o início da execução pelo executado, estabelecendo algo razoavelmente próximo a uma consignatória, ao menos do ponto de vista procedimental. É o que parcela da doutrina chamava de “execução inversa” (ALVES, 2017).

O novo Código de Processo Civil resgata a ideia da execução inversa ao permitir que o devedor possa dar início ao cumprimento de sentença. Exemplo disso, ocorre com a Fazenda Pública quando devedora que objetivando cumprir com sua obrigação de pagar dá início a fase de cumprimento de sentença apresentando o demonstrativo do débito. Esse procedimento ocorre nas cidades em que há uma estrutura administrativa da Fazenda Pública consolidada e o volume de processos que chegam ao poder judiciário é grande (ALVES, 2017).

Nesse procedimento utilizado, o poder judiciário, após o trânsito em julgado, em regra fixa o prazo de 60 dias para a Fazenda Pública apresentar os cálculos. Após a apresentação da conta pelo Poder Público, o juiz concede “vista” à parte credora para ciência e análise. Ao ser aceita pelo credor a conta elaborada pela Fazenda Pública, o Poder Judiciário adota as providências cabíveis para dar início ao trâmite necessário para a satisfação da obrigação, por meio de precatório (com pagamento no ano seguinte à inscrição) ou requisição de pequeno valor, com pagamento em 60 dias após a expedição, nos termos do artigo 100 da Constituição Federal (CANCELLA, 2017).

Caso o credor não aceite a conta, deverá apresentar os cálculos que entende corretos, em se tratando de condenação que dependa apenas de cálculo aritmético.

Poderá ainda, o devedor, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entenda devido, sendo justificada sua pretensão com memória discriminada do cálculo. Essa possibilidade, porém, não se estende à Fazenda Pública.

Após, o autor terá cinco dias para se manifestar, podendo levantar de imediato, por alvará, uma eventual parcela incontroversa, sem prejuízo de questionar o acerto do valor depositado, conforme §1° do artigo 526 do CPC/2015. Já no § 2º, havendo diferença assim reconhecida, após análise do magistrado, sobre ela incidirá multa de 10% e honorários

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advocatícios fixados no mesmo percentual, seguindo-se a execução com penhora e demais atos executórios.

Caso o autor não se oponha ou não se manifeste, será reconhecido o valor que foi depositado pelo réu e, extingue-se a obrigação (art. 924, III, CPC/2015), em consonância com o que dispõe o próprio artigo 526, §3° do CPC/2015.

O acesso pelo credor a uma prestação jurisdicional justa e efetiva, é importante no processo de exercício da cidadania, agregando valor a uma sociedade livre, justa e solidária. Com efeito, Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988, p. 12), relacionam o acesso à justiça, e acrescentam a justiça efetiva, como um direito humano básico. Afloram de suas palavras na obra acesso à justiça.

O acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como o requisito fundamental – mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos.

Na doutrina, Leonardo Greco, de acordo com Simonassi (2016, p. 5), conquanto não único, foi quem, primeiro exteriorizou preocupação com a efetividade na tutela executiva cível e prenunciou a crise que se instalava, entrementes a sua grita, na execução civil. São deles as seguintes palavras, ao tratar da crise na execução (apud SIMONASSI, 2016, p. 6):

E dentro desse universo despertou-me particular atenção o estudo do processo de execução, pois se, de um lado, a garantia da proteção jurisdicional dos direitos dos cidadãos deve ser progressivamente mais rápida e eficaz, para conferir concretude da maior amplitude possível ao gozo desses direitos, e se essa garantia pressupõe procedimentos executórios que de fato realizem, com essa mesma rapidez e eficácia, a entrega de bens que são reconhecidos pelas decisões judiciais, é desanimador verificar que justamente na tutela jurisdicional satisfativa o processo civil brasileiro apresenta o mais alto índice de ineficácia.

Antes da entrada em vigor da lei nº 11.382/2006, a execução civil praticamente colocava o devedor e não o credor em uma situação jurídica de vantagem, impondo ao exequente uma longa espera, uma verdadeira agonia, na tentativa de receber os seu créditos (GIANNICO, 2017).

Com o objetivo de possibilitar ao credor ter o seu crédito recebido na execução cível, é necessária a existência de meios executivos que permitam a concretude do direito, devendo buscar no ordenamento jurídico vigente, as normas que tutelam a garantia do

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direito consagrado no título executivo, segundo uma postura interpretativa erguida sobre três pilares, como citados por Marcelo Lima Guerra (apud SIMONASSI, 2016, p. 8), quais sejam:

a) O juiz tem o poder-dever de interpretar as normas relativas aos meios executivos de forma a extrair delas um significado que assegure a maior proteção e efetividade ao direito fundamental à tutela executiva; b) o juiz tem o poder-dever de deixar de aplicar normas que imponham uma restrição a um meio executivo, sempre que tal restrição – a qual melhor caracteriza-se, insista-se, uma restrição ao direito fundamental à tutela executiva – não for justificável pela proteção devida a outro direito fundamental, que venha a prevalecer, no caso concreto, sobre o direito fundamental à tutela executiva; c) o juiz tem o poder-dever de adotar os meios executivos que se revelem necessários à prestação integral de tutela executiva, mesmo que não previstos em lei, e ainda que expressamente vedados em lei, desde que observados os limites impostos por eventuais direitos fundamentais colidentes àquele relativo aos meios executivos.

Todas as recentes alterações advindas no novo Código de Processo Civil, buscam uma maior celeridade e efetividade no cumprimento das decisões judiciais, porém, precisamos de um grupo de julgadores capazes de atuar com muita responsabilidade e coragem de dar seguimento a esse texto normativo, interpretando da melhor forma possível, respeitando o princípio de uma razoável duração do processo e da efetividade.

1.3 Os desafios e entraves à efetividade do cumprimento de sentença

A busca pela efetividade das decisões judiciais tem sido objeto de incansáveis reformas legislativas que passaram a operar com mais força depois da Emenda Constitucional n° 45/2004. O processo no decorrer dos anos deixou de ser visto como um fim em si mesmo e adequou-se à realidade para qual deveria servir (ou ao menos tem sido essa a razão dos estudos e reformas empreendidas), objetivando a satisfação dos interesses do jurisdicionado (ALVES, 2016).

O problema da ausência de efetividade nos últimos anos, não tem sido somente o aumento de demandas, que segundo boa parte dos juristas afirmam estar atrelado a própria evolução da sociedade, mas tem a ver também com a judicialização das mais diversas relações humanas, existindo cada vez uma melhor compreensão das demandas coletivas, relacionadas à questões éticas, políticas e científicas, sendo o Judiciário acionado para dar a última palavra.

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A atual prestação jurisdicional se revela de duas formas: quantitativa e qualitativa, mas apenas a forma quantitativa tem ganhado um maior espaço.

É de suma importância a celeridade processual, porém, ela, em hipótese alguma, deve se sobrepor às garantias constitucionais estabelecidas para o processo, entre as principais, as elencadas no artigo 5° da Constituição Federal, tais como a ampla defesa e o contraditório, a inafastabilidade da jurisdição, a dignidade da pessoa humana e a máxima do devido processo legal, a garantia da razoável duração do processo e a celeridade de sua tramitação, conforme artigo 5°, LXXVIII, da CF, sendo também incluídas, através da Emenda Constitucional nº 45/2004.

A celeridade não pode ser buscada a qualquer custo, com julgamentos idênticos ou com a intenção de simplesmente alcançar metas particulares estabelecidas para arquivamento de processos. É preciso que os legisladores e os magistrados preparem-se para a aplicação de novas normas jurídicas, sem com isso violar o sistema de garantias (ALVES, 2016).

Muitos são os desafios para a efetividade das decisões judiciais e, uma das principais, recai sobre a responsabilidade dos magistrados de primeira instância, que são determinantes para o desafogamento dos tribunais de sobreposição, onde, com todo o acúmulo e sobrecarga de trabalho, fazem a diferença em número e em qualidade argumentativa, o que tem feito com que o Conselho Nacional de Justiça, divulgue relatórios anuais, tornando pública a produtividade dos magistrados e principalmente as dificuldades que enfrentam, na realização de um trabalho sobre-humano (SARLET, 2015).

Para os magistrados, manter sua autonomia na decisão de casos concretos, com relação à jurisprudência vinculativa, sem medo de fazer valer suas convicções e argumentos, diante dos dados fáticos apresentados, se tornará cada vez mais difícil com as atuais reformas, pois deverá seguir súmulas, jurisprudências e incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) previsto no capítulo VIII, do art. 976 e seguintes do CPC/2015, tratando-se de uma técnica que inaugura uma espécie de cisão na cognição do processo, estabelecendo o julgamento das questões comuns em demandas repetitivas para os juízes de segundo grau, originando uma espécie de “procedimento-modelo”.

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A ideologia do CPC/2015 visa ultrapassar a mera eficácia das normas instrumentais e atingir a efetividade do processo, nessa esteira o IRDR, tendo como objetivo uniformizar entendimentos e possibilitar a agilidade no julgamento dos processos, uma vez estabelecido o “processo-modelo” pelo segundo grau, vindo assim, o juízo de primeiro grau, após instalado e julgado o incidente, aplicar o padrão decisório estabelecido, mas com competência e legitimidade para atender às peculiaridades de cada caso concreto (SARLET, 2015).

Cabe também ao Ministério Público, assumir a função de parte como a de “custos

legis”, devendo preservar a moralidade e boa-fé processual, buscando soluções conciliatórias

entre as partes envolvidas, cuidando para que não ocorra prejuízo desnecessário para nenhuma das partes (SARLET, 2015).

Também é de fundamental importância, para a melhora da efetividade, o aparelhamento do judiciário, com colaboração das partes e advogados para uma razoável duração do processo. Ao falar em aparelhamento, é imprescindível lembrar dos servidores, que na atualidade, trabalham com um quadro bastante reduzido e com salários, na sua grande maioria, defasados. Assim, partindo da análise de que o Estado é agente regulador e em inúmeras demandas também é parte, a atuação deste perfaz-se ainda com maior importância dentro dos desafios a serem superados para a prestação jurisdicional eficaz (SARLET, 2015).

Para uma prestação jurisdicional mais célere e efetiva, deve haver uma mudança na consciência de todos os responsáveis pela tramitação dos autos, pois de nada adianta sucessivas mudanças no Código de Processo Civil, muitas vezes com medidas extremas para aumentar a quantidade de processos julgados, se não houve uma mútua colaboração entre todos os envolvidos.

Não existe resposta imediata, pois diversas normas subtraindo ou minimizando prerrogativas e garantias na tentativa de eliminar entraves burocráticos, poderá se transformar em letra morta, se os operadores do direito continuarem com o mesmo pensamento antigo. Além disso, o mínimo que o Estado deve oferecer é um aparelhamento condizente com o ofício de julgar, pois possui obrigação legal de agir, de acordo com a sua finalidade principal, a de julgar. Além do mais, não pode apenas implantar medidas de celeridade sem permitir a prestação de uma tutela que possibilite uma decisão justa e satisfatória.

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O poder judiciário, possui sérios problemas estruturais, devendo repensar seu modo de atuação, melhorando a aplicação e a efetivação do direito, priorizando principalmente o respeito ao indivíduo.

Os principais afetados por esse cenário de morosidade são os cidadãos, os quais são os mais vulneráveis do sistema, aguardando anos a fio, às vezes décadas, muitas vezes vindo a óbito, antes mesmo de ter realmente seu direito efetivado, apesar de uma decisão judicial que o assegurou.

Efetivar direitos é a missão principal do poder judiciário, especialmente após Constituição de 1988, incorporando os direitos fundamentais, importando num desafio a um judiciário cada vez mais fragilizado, não pela falta de dedicação e vocação dos magistrados para essa missão, mas pelas dificuldades de operar de forma efetiva em um cenário com dificuldades de estrutura, principalmente funcionais, quando se fala em número de processos. A dificuldade também é administrar os processos com eficácia e priorizar demandas que envolvam direitos fundamentais mais sensíveis, quando muitas vezes vira um turbilhão de ações que não param de chegar.

O judiciário funciona (SARLET, 2016) muito bem em um estado democrático forte, quando as decisões judiciais são realmente respeitadas e cumpridas. Na Alemanha, por exemplo as execuções contra a Fazenda Pública são exceções e qualquer decisão, após encerrados os recursos, são imediatamente cumpridos pelo poder público, não sendo necessário ações de execução, mostrando um cenário em que após decisão do juiz, há uma tradição no seu cumprimento.

Nem a reforma, a qual surgiu um novo Código de Processo Civil que vem sendo bastante discutido e outras estruturas de organização procedimental, são satisfatórias para permitir uma boa agilidade, presteza e eficácia nas ações, porém, as reformas sempre são indispensáveis para poder ter um judiciário mais dinâmico e ágil (SADEK, 2016).

O grande desafio ao Judiciário é sobreviver como instituição, buscando mesmo com escassos recursos, manter sua independência funcional, a efetivação de direitos com responsabilidade e garantir níveis de eficiência que possam fazer a população realmente acreditar que o judiciário ainda é o caminho adequado para se fazer Justiça (SARLET, 2015).

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2 O EXEQUENTE E OS MECANISMOS PARA EFETIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

O direito processual civil é necessariamente a forma mais clara de exteriorização do direito material, que para sua maior efetividade, necessita de instrumentos hábeis ao fim almejado pelas partes na relação processual de forma precisa e célere.

Nesse capítulo, serão abordados os meios de coerção utilizados com a finalidade de evitar o descumprimento das decisões judicias, através de penalidades a serem aplicadas aos sujeitos que praticam as condutas caracterizadoras como litigância de má-fé e ato atentatório à dignidade da justiça. Será abordado também em que casos é medida cabível para a prisão civil.

O credor, ao se deparar com a ausência de bens penhoráveis, o que inviabiliza o recebimento dos seus créditos, poderá solicitar ao juiz o acesso a informações do devedor, no que diz respeito ao seu patrimônio, na tentativa de localizar bens penhoráveis através dos sistemas informatizados conhecidos como Infojud, Renajud e Bacenjud.

Através de análises jurisprudenciais, será estudado casos recentes, em que os juízes, amparados pelo artigo 139, IV, do CPC/2015, por meio de medidas indutivas, coercitivas, mandamentais e sub-rogatórias, necessárias ao cumprimento da ordem judicial, estão aplicando algumas medidas excepcionais, tais como, suspensão da CNH, passaporte, penhora de FGTS para pagar alimentos e registro de protesto, como formas de garantir o pagamento de dívidas por parte do executado.

2.1 Meios de coerção

A efetividade está relacionada com o resultado positivo da prestação jurisdicional. Assim, para garantir a efetividade, a lei criou meios de coerção e sub-rogação a serem utilizados para evitar o descumprimento das decisões judiciais.

Coerção, originaria do latim “coercere”, é o poder do Estado, pelos mecanismos de persuasão e de constrangimento, que obriga os jurisdicionados ao cumprimento de leis e obediência das normas (JUNIOR, 2003, p. 46).

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A sub-rogação consiste na satisfação do direito do exequente através do próprio Estado, que substitui a vontade do executado, vencendo a resistência deste, a exemplo da penhora/expropriação e depósito/entrega da coisa, atos materiais que são praticados independentemente da concordância ou resistência do executado.

Muitos administradores e legisladores, lato sensu, buscam enfraquecer o poder judiciário, retirando-lhe competências, diminuindo o poder de suas decisões, descumprindo a Constituição Federal, mas esquecem tais representantes do povo, que a verdadeira democracia é garantida quando há um judiciário forte e apto a garantir o cumprimento e aplicação das lei, e que, para tanto, as decisões judiciais são submetidas a recursos, a fim de que arbitrariedades e injustiças sejam evitadas (JUNIOR, 2003, p. 48).

Ensina também Cândido Rangel Dinamarco (1998, p. 308-309) que:

A efetividade do processo é uma das preocupações da moderna doutrina e corresponde a idéia instrumentalista de que o processo deve ser apto a produzir o melhor resultado possível, seja para a plena atuação do direito material, seja para a satisfação integral pacífica dos litigantes. Para obter esses bons resultados, o sistema arma-se de meios executivos e os aperfeiçoa, inclusive contra repúdio a preconceitos tradicionais herdados, como os que empeciam a execução específica de obrigação infungível ou de dar coisa certa.

O Código de Processo Civil disciplina em seu artigo 77 (BRASIL, 2015), que todos aqueles que de qualquer forma participam do processo, devem proceder com lealdade e boa-fé, além de não formular pretensões, nem alegar defesa, ciente que são destituídas de fundamento. Trata-se de um mecanismo que deve ser usado com o objetivo de reprimir os abusos que são cometidos durante a tramitação do processo no que diz respeito ao descumprimento de ordem judicial.

É inerente à ideia de efetividade das decisões judiciais, o poder de coerção, que impõe respeito ao seu cumprimento. No sistema atual, aquele que se recusa a cumprir uma ordem judicial, estará sujeito a sanções civis, criminais e processuais, além de pagamento de multa.

A dúvida que surge é se o valor da multa irá satisfazer a parte prejudicada pelo descumprimento da decisão, ou ao Estado, já que, caso a parte condenada, não efetue o pagamento, serão os valores inscritos em dívida ativa, beneficiando o Estado quando de seu pagamento (MAFRA, 2017).

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Condutas relativas à litigância de má-fé agora estão disciplinadas no artigo 80 do CPC/2015, que preserva a redação do código em vigor, alterando somente a primeira palavra do caput, que atualmente traz a redação “reputa-se” e passa a ser “considera-se”, assim como o texto que segue:

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:

I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado;

VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Quando a ordem judicial não é atendida, esta pode acarretar prejuízos materiais ao seu beneficiário, estando sujeito a reparar os danos ocasionados, desde que sejam provados pelo prejudicado. Para que o dano seja comprovado, é preciso que a ordem seja legítima, proferida de acordo com um processo legal, e que o agente tenha conhecimento prévio do conteúdo, podendo essa conduta de desobediência ser comissiva ou omissiva (MAFRA, 2017).

As penalidades aplicadas aos sujeitos que praticam as condutas de litigância de má-fé, trazem inúmeras alterações para a aplicação da multa, como para a de indenização.

Já o CPC/2015 (BRASIL, 2015), traz outro percentual para a penalidade de multa qual seja o montante não inferior a 2% (dois por cento), nem superior a 10% (dez por cento) do valor corrigido da causa. E, este mesmo dispositivo legal em seu artigo 81, § 2º garante uma penalidade mais gravosa nas situações em que o valor da causa seja irrisório ou inestimável, estabelecendo a possibilidade da aplicação da pena de multa em um montante de até dez vezes o valor do salário mínimo, embora esta vinculação não seja admitida pela nossa Constituição Federal, que estabelece tal vedação em seu artigo 7º, inciso IV, sendo expressamente vedada a vinculação do salário mínimo para qualquer fim (LEMOS, 2017).

Esse novo dispositivo surge com a intenção de evitar a utilização de valores irrisórios ou insignificantes à causa com o objetivo de pormenorizar o valor das custas processuais.

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A indenização pela violação dos deveres processuais, no código em vigor é limitada a 20% sobre o valor da causa, podendo ocorrer a liquidação por arbitramento caso o dano seja maior, situação esta que causa grande discussão na doutrina e na jurisprudência, pois muitos estudiosos entendem pela ilegitimidade dessa limitação.

A litigância de má-fé ocorre, quando uma das partes de um processo litiga intencionalmente com deslealdade e/ou corrupção. O litigante de má-fé é aquele que busca vantagem fácil, alterando a verdade dos fatos com ânimo doloso, o que não existiu nos presentes autos em relação à parte autora (ALBUQUERQUE, 2017).

A litigância de má-fé é o princípio pelo qual as partes se obrigam a proceder com lealdade, probidade e dignidade durante o processo e não o fazem (JÚNIOR, 2003, p. 55).

A litigância de má-fé deve ser duramente combatida, pois gera um atraso ainda maior na prestação jurisdicional e coloca em risco a eficácia de todo o sistema.

As sanções oriundas da litigância de má-fé são suportadas também pelos beneficiários da justiça gratuita – Lei nº 1060/1950 – já que o não pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios, em razão da falta de recursos financeiros, não significa que o beneficiário recebe autorização para praticar atos atentatórios ao trâmite processual, mas por se tratar de sanção, não é observada a condição financeira da parte punida, mas sim, a extensão do dano e a gravidade do ato atentatório, evitando a proliferação de ações semelhantes (BALDUCI, 2017).

O ato atentatório à dignidade da justiça encontra guarida no artigo 774 do CPC (BRASIL, 2015), considerando a conduta comissiva ou omissiva do executado que fraudar a execução, se opor maliciosamente a ela com meios ardis e maliciosos, dificulta e embaraça a realização da penhora, resiste injustificadamente às ordens judiciais e não indica ao juiz onde estão os possíveis bens que podem ser penhorados. Qualquer inocorrência de ato atentatório, ocasionará uma multa no valor máximo de 20% do valor atualizado do débito (774, §único do CPC).

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Para que se caracterize o ato atentatório, é necessário que ocorra a desobediência e que a ordem civil seja legítima, tendo o agente conhecimento prévio de seu conteúdo (MAFRA, 2017).

A dignidade da justiça, como valor moral e constitucional, repugna a conduta desleal e de má-fé. A jurisdição, como função pública do Estado destinada a dirimir os conflitos sociais, merece um tratamento que contemple o seu caráter social e publicista (MAFRA, 2017).

Nesse sentido, a 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu

no julgamento do Agravo de Instrumento nº 70072767171, de Relatoria do Desembargador Pedro Luiz Pozza que:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. PENHORA SOBRE O FATURAMENTO. BASE DE CÁLCULO A PARTIR DA INTIMAÇÃO DA PARTE EXECUTADA DA PENHORA. OBRIGAÇÃO DE DEPOSITAR. PENALIDADE DE MULTA POR ATOATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. A obrigação de separar e depositar o valor relativo à penhora de 10% do faturamento mensal da empresa surge para a parte executada a partir do momento em que foi intimada da penhora. Descabe o cálculo do valor a ser depositado tendo por base período anterior à referida intimação. Obrigação da parte executada de depositar o valor, no prazo assinalado pelo julgador, sob pena de multa de ato atentatório à dignidade da justiça, haja vista que a partir da intimação da penhora torna-se depositária dos 10% do faturamento penhorados. AGRAVO PROVIDO EM PARTE. UNÂNIME. Agravo de Instrumento Nº 70072767171, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 27/04/2017 (RIO GRANDE DO SUL,2017).

A CF/88, no art. 5º, inciso LXVII (BRASIL, 2015), proibiu expressamente a prisão civil por dívida, ressalvando a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. Desse modo, em regra não haverá prisão civil por dívida. Excepcionalmente, porém, em dois casos será permitida a prisão civil por dívida: a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel (OLIVEIRA, 2017).

A EC nº 45, ao outorgar natureza de forma supralegal aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos - CF, art 5º, §3º - (BRASIL, 1988), seguiu diretriz prevista no Pacto de San José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, que permite a prisão civil apenas ao devedor de alimentos.

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Essa questão foi enfrentada no STF, vindo a culminar com a edição da Súmula Vinculante nº 25 que estabelece “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito” (BRASIL, 2009, [n.p.]).

O dever de cumprir decisões judiciais, afirmando que existe um comportamento ético de todos que atuam no processo, vem a colaborar com a eficácia nas decisões judicias, evidenciando o comprometimento da jurisdição em tutelar e forma específica os direitos e valores consagrados na ordem jurídica constitucional.

2.2 Penhora online, averbações em busca da efetividade e protesto

A penhora é o primeiro ato da expropriação pelo Estado, em que o bem é individualizado, apreendido e depositado para posteriormente se transformar em dinheiro para o pagamento da dívida, não podendo o executado, após a sua perfectibilização, dispor livremente, apenas será responsável pela sua guarda e depósito, quando essa responsabilidade não recair na pessoa do depositário judicial da comarca ou leiloeiro nomeado pelo juízo.

O efeito da penhora beneficia o credor, o qual poderá ter o seu crédito satisfeito. Para o devedor representa a perda e a indisponibilidade de seus bens, já para terceiros, ela produz eficácia quando o crédito ou bem do executado atingido pela penhora está na posse temporária de outra pessoa, ficando este obrigado a respeitar o gravame judicial, como depositário, cumprindo-lhe o dever de efetuar sua prestação em juízo, à ordem judicial, no devido processo, sob a pena de ineficácia do pagamento direto ao executado ou a outrem. Há também o efeito geral e Erga Omnes que faz com que qualquer terceiro tenha que se abster de negociar com o executado, em torno do domínio do bem penhorado, sob pena de ineficácia da aquisição perante o processo e permanência do vínculo executivo sobre o bem mesmo que passe a integrar o patrimônio do adquirente (THEODORO JUNIOR, 2008, p. 112).

Quanto a sua ordem, a penhora, prevista no art. 835 do CPC (BRASIL, 2015) observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado; III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; IV - veículos de via terrestre; V - bens imóveis; VI - bens móveis em geral; VII - semoventes; VIII

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- navios e aeronaves; IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias; X - percentual do faturamento de empresa devedora; XI - pedras e metais preciosos; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; XIII - outros direitos, devendo ser a mais proveitosa ao credor, podendo ainda, conforme estabelece o artigo 656 (BRASIL, 2015), requerer a substituição da penhora , quando o bem penhorado não obedecer a ordem legal ou de alguma forma puder comprometer o recebimento de seu crédito.

Embora os devedores tenham que responder por suas obrigações, com os seus bens presentes e futuros (art. 789 do CPC e art. 391 do Código Civil), em muitas vezes, os credores se deparam nos processos judiciais, com a ausência de bens penhoráveis, inviabilizando o recebimento dos créditos executados, o que possibilita, antes do arquivamento do processo, solicitar ao juiz da causa que acesse informações referente ao devedor, mais precisamente ao seu patrimônio, na tentativa de localizar bens penhoráveis através dos sistemas online conhecidos como: Infojud, Renajud e Bacenjud. (BRASIL, 2015); (BRASIL, 2002)

A penhora Online é uma ferramenta utilizada amplamente pelo poder judiciário, tornando-se um sistema muito eficiente, em consonância com o direito à razoável duração do processo, preceituado pelo artigo 5º, LXXVIII da CF/88, visando a tentativa de satisfação da obrigação (BRASIL, 1988).

O Bacenjud, que surgiu em 2001, interligando o poder judiciário e o Banco Central do Brasil, possibilitando aos magistrados encaminhar requisições de informações e ordens de bloqueio de dinheiro depositado ou aplicado em instituições financeiras públicas e privadas do país (penhora de ativos ou penhora online), desbloqueio e transferência de valores, bem como, realizar consultas sobre a existência de saldos nas contas bancárias, aplicações, extratos e endereços.

Ela é realizada através de comandos emitidos a entidades supervisoras de instituições financeiras, para que ocorra o bloqueio das contas do devedor. Essa vem doutrinada no artigo 854 do CPC (BRASIL, 2015), onde para que possa ser efetivada a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a requerimento do credor e sem aviso prévio ao executado, determinará por sistema eletrônico gerido por autoridade supervisora do sistema

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financeiro nacional, tornando indisponível eventuais valores em nome do executado, podendo no prazo de até 5 dias, provar que os valores que estavam depositados são impenhoráveis.

Cabe ressalvar que na penhora eletrônica dos valores depositados em contas bancárias, devem obedecer às normas de impenhorabilidade que forma contempladas pelo CPC/2015, no artigo 833, que alterou o artigo 649, do CPC/73 (BRASIL, 2015).

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, no REsp 1211366/MG 2010/0166129-9, decidiu que:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. IMPENHORABILIDADE

ABSOLUTA DOS VENCIMENTOS E PROVENTOS DE APOSENTADORIA. 1. A Primeira Seção, ao julgar o REsp 1.184.765/PA, sob a relatoria do Ministro Luiz Fux e de acordo com o regime dos recursos repetitivos, cujo acórdão veio a ser publicado no DJe de 3.12.2010, deixou consignado que o bloqueio de ativos financeiros em nome do executado, por meio do Sistema BacenJud, não deve descuidar do disposto no art. 649, IV, do CPC, com a redação dada pela Lei 11.382/2006, segundo o qual são absolutamente impenhoráveis "os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal" (BRASIL, 2010)

A penhora em dinheiro é a melhor forma de viabilizar a realização do direito do credor que dispensa todo o procedimento destinado a permitir justa e adequada transformação do bem penhorado como o imóvel em dinheiro, eliminando a demora e os custos dos atos como a avaliação e a alienação do bem a terceiro, dando ao exequente e oportunidade de penhorar a quantia necessária ao seu pagamento, o que é difícil, em se tratando de penhora de bens móveis e imóveis, os quais são “relativos” e, por isso mesmo, são objeto de venda em leilão público, ocasião em que a arrematação pode ocorrer por preço inferior ao de mercado (MARINONI; ARENHARDT, 2008, p. 274).

Deve-se observar, porém, que os valores limitar-se-ão à existência de depósito ou aplicação somente até o valor da execução, não podendo o credor acessar todas as informações financeiras do executado. No mais, essa modalidade de penhora não ofende o direito à intimidade, afinal,

[...] como é óbvio, não há qualquer violação de intimidade ao se obter informação a respeito da existência de conta corrente ou aplicação financeira, Ora, se o exequente não tiver o direito de saber se o executado possui conta corrente ou aplicação financeira, o executado certamente não teria o dever de indicar à penhora dinheiro depositado em aplicação ou instituição financeira. Ou, melhor, todos teriam o direito

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de esconder da justiça as suas correntes e aplicações financeiras (MARINONI; ARENHARDT, 2008, p. 276).

A penhora via Renajud é uma ferramenta eletrônica que desde 2008, vincula o judiciário e o DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito), possibilitando a efetivação de ordens judiciais de restrição de veículos cadastrados no RENAVAM (Registro Nacional de Veículos Automotores), com a finalidade de agilizar os registros das determinações judiciais, evitando, por exemplo, que o devedor venda ou transfira um bem de sua propriedade, tentando fraudar o recebimento da execução.

Em tempo real, será possível aos juízes consultar, via internet, a base de dados sobre os veículos e proprietários, inserindo restrições judiciais de transferência, licenciamento e circulação, além de registrar penhora sobre os veículos. Anteriormente, para se obter essas informações, era necessário que o Juiz oficiasse a todos os Detrans do país, e somente após a resposta do oficio, era possível fazer a restrição, o que levava meses, ferindo gravemente o princípio executório da efetividade processual.

As grandes vantagens da penhora Renajud é a máxima rapidez na identificação de veículos e na efetivação de restrições judiciais, abrangência nacional, sistema totalmente eletrônico e maior celeridade processual, devendo ressaltar que o credor não precisa apontar o veículo que pretende ver penhorado.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do RS, decidiu no julgamento do Agravo de Instrumento nº 70060443181, de relatoria do Desembargador Newton Luís Medeiros Fabrício que:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. CONSTRIÇÃO DE VEÍCULO ATRAVÉS DO SISTEMA RENAJUD. POSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE DE PRÉVIA INDIVIDUALIZAÇÃO DO BEM. É desnecessária a prévia individualização dos veículos passíveis de constrição, podendo ser, desde logo, realizada a contrição dos bens encontrados em nome do executado através do sistema RENAJUD. Precedentes do TJRS. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70060443181, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Julgado em 02/07/2014).

O Infojud é um programa que desde 2007 permite que magistrados ou pessoas por eles autorizadas, acessem informações cadastrais e declarações de pessoas físicas ou jurídicas, substituindo o envio de dados via ofício em papel entre o Poder Judiciário e a Secretaria da

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Receita Federal. O acesso ao Programa Infojud (Sistema de Informações ao Judiciário) pode ser feito pelos juízes previamente cadastrados através do site da Receita Federal, e mediante um clique, é possível tomar ciência de dados sigilosos dos contribuintes que serão úteis, principalmente, em feitos executivos, para localização de bens penhoráveis.

Os benefícios do sistema Infojud, criado pela Receita Federal, é o acesso online às informações protegidas por sigilo fiscal, agilidade na identificação de bens dos devedores, eliminação do trânsito de papéis e o aumento na efetividade das execuções.

Quanto à utilização do Infojud e do Renajud, o Poder Judiciário impõe restrições, determinando que a utilização dos mesmos esteja condicionada ao esgotamento de diligências por parte do credor em busca de bens penhoráveis. Já o uso do Bacenjud, os credores não precisam esgotar diligências para requerer a penhora de ativos.

Porém, a 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2015), tem decidido constantemente que “desde as reformas introduzidas pela lei nº 11.382/06, não mais se exige da parte credora o esgotamento das diligências extrajudiciais, visando a localizar bens do devedor, para deferir a penhora on-line”. Contudo, se a penhora de ativos restar frustrada, o credor primeiro deverá esgotar as diligências que estão ao seu alcance, para somente então, requerer que o magistrado utilize os sistemas Renajud ou Infojud.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do RS decidiu no Agravo de Instrumento nº 70062731971, de relatoria do Desembargador Umberto Guaspari Sudbrack que:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EXECUÇÃO. CONSULTA DE BENS MÓVEIS. SISTEMA RENAJUD. DILIGÊNCIAS EXTRAJUDICIAIS. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO À RECEITA FEDERAL. SISTEMA INFOJUD. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS. SIGILO FISCAL. Desde as reformas introduzidas pela Lei nº 11.382/06, não mais se exige da parte credora o esgotamento das diligências extrajudiciais, visando a localizar bens do devedor, para deferir a penhora "on line". Tendo sido esta realizada, sem que tivesse sido suficiente o saldo encontrado, deve ser deferida a consulta de bens móveis em nome do devedor, pelo sistema RenaJud. Não é caso de deferir a expedição do ofício à Receita Federal, sob pena de violação do sigilo fiscal da parte agravada, devendo a parte esgotar outros meios. Agravo desprovido. (Agravo nº 70062731971, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 05/03/2015).

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A utilização dos programas Infojud, Renajud e Bacenjud guarda total coerência com a natureza e agilidade que deve permear o procedimento executivo, porém, muitas vezes, os devedores, orientados por seus advogados ou conhecimento de amigos, simplesmente se desfazem dos bens e esvaziam suas contas bancárias, tão logo seja intimado da abertura do processo.

É de fundamental importância que a efetivação da penhora possa ser averbada, seja sobre bem móvel ou imóvel, registrando o mais breve possível, evitando-se assim o desfazimento e a dilapidação do patrimônio que em tese, deveria garantir o cumprimento da execução. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o registro da penhora de imóveis é realizada por ato do oficial de justiça, o que demanda uma certa morosidade. O tribunal de Justiça de São Paulo, já desenvolveu um sistema de penhora de imóveis registrados dentro do Estado, o qual foi implantado em 01.06.2009.

O CPC também possibilita possibilidade de compelir o devedor ao adimplemento da obrigação fixada na sentença, através do protesto da decisão transitada em julgado junto ao um cartório de notas e protesto de títulos e documentos, assim como o texto que segue:

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art.523; § 1o Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da

decisão; § 2o A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e

indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário; § 3o O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão

exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da

propositura da ação à margem do título protestado; § 4o A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do

juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. (BRASIL, 2015)

O protesto é possível sempre que a obrigação estampada no título é considerada líquida, certa e exigível. Por esta razão é que a decisão judicial que reconhece a exigibilidade de uma obrigação, como título executivo que é, permite a utilização desse mecanismo. Diferente da sentença, o protesto produz uma publicidade específica de divulgação da inadimplência, constituindo-se assim, eficaz meio de execução indireta (DONIZETTI; ELPIDIO, 2016. p. 689).

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No âmbito da jurisprudência, o STJ firmou entendimento segundo qual a sentença condenatória transitada em julgado é título representativo de dívida e, sendo assim, poderá ser levado a protesto - Recurso Especial 750.805/RS (BRASIL, 2009). A decisão foi bastante acirrada, o que mostra a inexistência de um entendimento pacífico sobre o tema.

A Lei nº 13.105/2015 entrou em vigor e estabeleceu novas e sensíveis modificações no processo civil brasileiro, trazendo críticas, reflexões, elogios e reclamações das mais diversas, se apresentando como a grande novidade legislativa vigente no ano de 2016, trazendo consigo vários desafios aos operadores do direito, causando um grande alvoroço com a produção de muitas controvérsias práticas.

2.3 Decisões inovadoras na vigência do CPC/2015

Apesar de todas as tentativas de melhoria do novo Código de Processo Civil, ainda há um longo caminho a ser percorrido em busca da efetividade da execução, seja no cumprimento de sentença ou na execução de título extrajudicial. Para que isso ocorra, é necessária uma atuação diligente dos atores processuais, pois a alteração da legislação, por si só, não é suficiente para provocar alterações significativas na prática forense em matéria de efetividade dos atos executórios.

Nesse sentido, a aplicação do art. 139, inciso IV do CPC (BRASIL, 2015), que traz em sua redação a possibilidade de o juiz determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias com o objetivo de possibilitar o recebimento da dívida, pode reduzir muito os índices de inadimplência, desde que não venha a ferir os direitos fundamentais e os princípios basilares, assim como o texto que segue:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste

Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça

e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais

ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação

pecuniária;

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente

Referências

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