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Decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de

2. AGRAVO DE INSTRUMENTO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

2.5 Hipóteses de cabimento do agravo de instrumento

2.5.14 Decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de

inventário

Diferentemente do processo de conhecimento, em que somente as decisões contidas nos incisos I a XIII do art. 1.015 do CPC podem ser agraváveis, nas fases de liquidação de sentença ou cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário, todas as decisões interlocutórias são agraváveis.

Nesse sentido, comenta Fredie Didier Jr.:

A lista taxativa de decisões agraváveis, contida no art. 1.015 do CPC, aplica-se apenas à fase de conhecimento. Na fase de liquidação de sentença, na de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário e partilha, toda e qualquer decisão interlocutória é agravável. Não há limitação. São atípicos os casos de decisões interlocutórias agraváveis, cabendo examinar, concretamente, se há interesse recursal.56

Complementa Humberto Theodoro Júnior:

Admitem, ainda, agravo de instrumento as decisões proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário (art. 1.015, 56 Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos,

ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência

originária de tribunal / Leonardo Carneiro da Cunha — 13. ed. refornn. — Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 225

36 parágrafo único). Isso porque esses procedimentos terminam por decisões que não comportam apelação. Assim, as interlocutórias ali proferidas não poderão ser impugnadas por meio de preliminar do apelo ou de suas contrarrazões.57

A Terceira Turma do STJ, ao julgar o Resp 1.736.285 – MT, reforçou o entendimento de que na liquidação e no cumprimento de sentença, no processo de execução e na ação de inventário, há ampla e irrestrita recorribilidade de todas as decisões interlocutórias58. Confira-se a ementa:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERIU O PEDIDO DE NULIDADE DAS INTIMAÇÕES OCORRIDAS APÓS A PROLATAÇÃO DA SENTENÇA. CABIMENTO DO RECURSO EM

FACE DE TODAS AS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS

PROFERIDAS EM LIQUIDAÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA,

EXECUÇÃO E INVENTÁRIO, INDEPENDENTEMENTE DO

CONTEÚDO DA DECISÃO. INCIDÊNCIA ESPECÍFICA DO ART. 1.015, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/2015. LIMITAÇÃO DE CABIMENTO DO RECURSO, PREVISTA NO ART. 1.015, CAPUT E INCISOS, QUE SOMENTE SE APLICA ÀS DECISÕES

INTERLOCUTÓRIAS PROFERIDAS NA FASE DE

CONHECIMENTO.

1- Ação proposta em 13/02/2017. Recurso especial interposto em 10/08/2017 e concluso à Relatora em 26/04/2018.

2- O propósito recursal consiste em definir se é recorrível, de imediato e por meio de agravo de instrumento, a decisão interlocutória que indeferiu o pedido de declaração de nulidade das intimações ocorridas após a prolatação da sentença.

3- Somente as decisões interlocutórias proferidas na fase de conhecimento se submetem ao regime recursal disciplinado pelo art. 1.015, caput e incisos do CPC/2015, segundo o qual apenas os conteúdos elencados na referida lista se tornarão indiscutíveis pela preclusão se não interposto, de imediato, o recurso de agravo de instrumento, devendo todas as demais interlocutórias aguardar a prolação da sentença para serem impugnadas na apelação ou nas contrarrazões de apelação.

4- Para as decisões interlocutórias proferidas em fases subsequentes à cognitiva – liquidação e cumprimento de sentença –, no processo de execução e na ação de inventário, o legislador optou conscientemente por um regime recursal distinto, prevendo o art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015, que haverá ampla e irrestrita recorribilidade de todas as decisões interlocutórias, quer seja porque a maioria dessas fases ou processos não se findam por sentença e, consequentemente, não haverá a interposição de futura apelação, quer seja em razão de as decisões interlocutórias proferidas nessas fases ou processos 57 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. Ed. Salvador: Forense,

2016. p. 1304.

58 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ define hipóteses de cabimento do agravo de

instrumento sob o novo CPC. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/STJ-define-hipoteses-de- cabimento-do-agravo-de-instrumento-sob-o-novo-CPC.aspx>. Acesso em: 02 mar. 2020.

37 possuírem aptidão para atingir, imediata e severamente, a esfera jurídica das partes, sendo absolutamente irrelevante investigar, nesse contexto, se o conteúdo da decisão interlocutória se amolda ou não às hipóteses previstas no caput e incisos do art. 1.015 do CPC/2015. 5- Na hipótese, tendo sido proferida decisão interlocutória - que indeferiu o pedido de nulidade das intimações após a prolatação da sentença - após o trânsito em julgado e antes do efetivo cumprimento do comando sentencial, cabível, de imediato, o recurso de agravo de instrumento, na forma do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. 6- Recurso especial conhecido e provido.59

Vale lembrar que as decisões não contidas no referido rol taxativo não são recorríveis pelo agravo de instrumento, mas poderão ser discutidas na apelação ou nas contrarrazões de apelação. É o que dispõe o art. 1.009, §1º do CPC:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. § 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.60

O que se quis, basicamente, com esse rol, foi a simplificação do sistema recursal e o desestímulo à recorribilidade durante o curso do processo até a sentença. É o que se depreende do Parecer nº 956 de 2014, de relatoria do Senador Vital do Rêgo:

O projeto de Novo Código de Processo Civil segue o caminho da simplificação recursal e do desestímulo ao destaque de questões incidentais para discussões em vias recursais antes da sentença, especialmente quando, ao final do procedimento, esses temas poderão ser discutidos em recurso de apelação.

Por essa razão, no PLS, não se exacerbou na previsão de hipóteses de cabimento de agravo de instrumento. Essa espécie recursal ficou restrita a situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em eventual recurso de apelação.

Nesse sentido, o PLS flexibilizou o regime de preclusão quanto às decisões interlocutórias para permitir, se necessário for, a sua impugnação em futuro recurso posterior a sentença. Uma das espinhas dorsais do sistema recursal do projeto de Novo Código é o prestígio ao recurso único.

59 STJ – RESP 1736285/MT 2018/0091021-2, Relatora a Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, 21 de maio de 2019 (Data do Julgamento), Publicado EMENTA / ACORDÃO em 24/05/2019.

60 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.html. Acesso em: agosto 2019

38 Acontece que, no SCD, essa diretriz foi parcialmente arranhada, com o acréscimo de diversas hipóteses novas de agravo de instrumento, o que merece ser rejeitado na presente etapa legislativa.61

Portanto, conforme o parecer acima, percebe-se que o projeto do Novo Código de Processo Civil, ao prever um rol taxativo, tentou trazer uma maior celeridade para o processo, rechaçando a recorribilidade indiscriminada. Contudo, o legislador não tem e não teve condições de prever todas as situações possíveis que não podem aguardar rediscussão futura, de modo que muitas decisões interlocutórias urgentes ficaram de fora do referido rol taxativo. E é nesse sentido que passamos à discussão acerca da taxatividade do rol do art. 1.015 do CPC/15.

61 Parecer nº 956, de 2014 da Comissão Temporária do Código de Processo Civil, sobre o

Substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD) ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 166, de 2010, que estabelece o Código de Processo Civil. Disponível em:

http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=159354&tp=1. Acesso em: setembro 2019.

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A TAXATIVIDADE DO ROL DO ART. 1.015 DO

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