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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 171 REFERÊNCIAS

F. Infância em perspectiva: políticas, pesquisas e instituições São Paulo: Cortez, 2010.

1.3 OS LUGARES DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ESFORÇOS NO CENÁRIO NORMATIVO INTERNACIONAL

1.3.2 Declarações de 1924 e de 1959: Avanços e contrapartidas

Consentâneo ao elaborado acima, em 1924 sob os auspícios da Liga das Nações, é publicada a Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança; visava-se abarcar a proteção e o reconhecimento quanto à alimentação, à educação, aos cuidados nas situações de perigo, contudo, esta recebe críticas, pois não tece muitas considerações à família, não elenca responsabilidade dos Estados, apenas enumera direitos. Nas

120 MARANGON, A. C. R. Janusz Korczak, precursor dos direitos da criança: Uma vida

entre obras. São Paulo: UNESP, 2007.

121 País que teve a população civil mais atingida durante a guerra.

122 FEHRENBACH, H. War orphans and postfascist families: kinship and belonging after

1945. IN: BIESS, F.; MOELLER, R. G. Histories of the aftermath: the legacies of the Second World War in Europe. New York/USA: Berghahn Books, 2010.

seções 1.1123 e 1.2124 desta dissertação, já fora comentado o quanto a família faz parte do ambiente da criança, logo, a breve menção à instituição se torna insuficiente.

A natureza dos pontos eleitos na Carta é de princípios e de não regras com efeitos coercitivo, sancionador, aos Estados-partes. Assim, mesmo com o avanço na agenda internacional daquele que seria o primeiro esboço para normas vinculantes futuramente125, se aponta que não causa efeito direto de responsabilização internacional dos Estados126, visto que não coloca os meios para atingir estas garantias.

Ainda sob a égide da Declaração de 1924, os congressos internacionais permaneceram a ocorrer, como o “Primeiro Congresso Geral da Criança”, em Genebra (em 1925), neste encontro de médicos, professores, sociólogos se fomentava suprir a lacuna da não responsabilização dos Estados127. Além desse fator de caráter jurídico, também em outras edições (em Roma e em Milão), se pontuava também as razões médico-higienistas.

Em 1959, já no âmbito da Organização das Nações Unidas e não mais no da Liga das Nações128, é promulgada pela Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Em seus dez artigos (também chamados de princípios, assim como a Carta de 1924) estabelece diretrizes para conferir as garantias dos pequenos, como a proteção desde nascimento, o direito a um nome e a nacionalidade, a proteção social e a vivência em ambiente de afeto, tolerância e amizade

123 Acerca da reelaboração das imagens da criança e da família. Discute-se, oportunamente, os

sentimento de infância e de família e demonstra com a instituição é intimamente vinculada à figura da criança.

124 Que traz as teorias sociológicas sobre a infância e consequentemente seu desenvolvimento

junto à família.

125 VIEIRA; C. M. C. A.; VERONESE, J. R. P. Crianças encarceradas: A Proteção integral

da criança na execução penal feminina da pena privativa de liberdade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

126 Este tema, o da responsabilização dos Estados, será melhor desenvolvido no capítulo 3. 127 BALSERA, P. D; GARMENDIA, L. M. N. La evolución de los derechos de la infancia:

Una visión internacional. Encounters on Education, Kingston/CAN, v. 7, 2006.

128 Foi extinta em 1946 e a ONU é organização internacional sucessora, herdeira dos seus

princípios (paz e segurança universais), do seu patrimônio e dos pontos positivos que surgiram no período de existência da Liga (como as ideias de Assembleia Geral entre representante dos Estados e a Corte Permanente de Justiça – na linguagem onusiana seriam a Assembleia Geral da ONU e a Corte Internacional de Justiça. Ambas previstas na Carta de São Francisco de 1945).

e, estende seu alcance aos familiares129. Percebe-se, portanto, que as tratativas dos congressos ressoaram sobre a Declaração de 1959.

A partir do documento de 1959 e também com o aporte da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, cujo art. XXV (2) expressa a garantia da assistência especial tanto a criança quanto às mães, se mensura o interesse superior da criança130 que é enraizador para a intepretação e aplicação do seu texto. Sobre isto, atenta-se que este foi um elemento inovador que deixou heranças para as políticas futuras e para a Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989.

Ambos os textos legais, o de 1924 e o de 1959, fazem parte do conjunto denominado Soft Law. Esta categorização coloca elementos com juridicidade no âmbito da comunidade internacional, visto que se põe uma normativa que gradativamente vai gerando efeitos no campo do Direito Internacional; implica, assim, numa reestruturação e mudança dos agentes que produzem (legitimidade) as fontes na no ramo do Direito Internacional, pois atores não estatais, como as organizações internacionais131 participam ativamente do fomento destas normas, sendo algo inovador atrelado aos tempos contemporâneos jusinternacionalista132.

Ainda sim, embora tendo raiz eminentemente sugestiva, a soft

law elabora os espectros ideológicos aos Estados, não sendo uma

expressão inválida ao Direito ou sem importância. Ao contrário, é vista como uma incubadora para as normas Hard Law133, uma preparação dos Estados para as novas tendências para compreensão em torno de um tema.

Logo, há de se apontar que as Declarações de 1924 e de 1959 são geraram positivo impacto na agenda da política internacional para a reflexão sobre a necessidade de tutelar os direitos da criança. Reforça-se

129 MASCIA, M. L’internazionalizzazione dei diritti dell’infanza. Pace, diritti dell’uomo, diritti dei popoli, Padova/ITA, anno 4, n. 1, 1990. p. 67-76.

130 Pode-se denominar também de melhor interesse da criança (tradução literal da língua

inglesa -“the best interest of the child”). MONACO, G. F. C. A proteção da criança no

cenário internacional. Belo Horizonte/MG: Del Rey, 2005.

131 Define-se organizações internacionais como associação de vontades dos Estados em criar

uma instituição com órgãos permanentes, próprios e independentes, que buscam representar os interesses coletivos das partes e equacionar medidas para melhoria das relações, através de conferências e de acordos. DIEZ DE VELASCO, M. Las organizaciones

internacionales. Madrid/ESP: Tecnos, 2010.

132 MENEZES, W. A “Soft Law” como fonte do Direito Internacional. In: MENEZES, W

(Org). Direito Internacional no cenário contemporâneo. Curitiba/PR: Juruá, 2003.

também a afirmação de que mesmo não tendo a característica de vincular os Estados aos compromissos firmados quando da assinatura, tais Cartas permitiram um amadurecimento dos governantes para a necessidade de se elaborar um documento desta espécie, qual seja, a Convenção de 1989.