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A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 15.º,

COMENTÁRIO

VII. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 15.º,

explicita a nacionalidade como um direito fundamental, e assegura sua proteção contra sua privação arbitrária, além de não restringir sua aquisição ao momento do nascimento, ao garantir o direito à mudança posterior de nacionalidade. Embora haja essa preocupação em assegurara a nacionalidade, não é imposto a nenhum país o reconhecimento, como nacional, de toda pessoa nascida em seu território. No entanto, o antagonismo na aplicação dos critérios ius sanguinis e ius solis no que tange a atribuição de nacionalidade

226 Paulo Manuel Costa, Contencioso da Nacionalidade, in CEJ, O contencioso de direito

administrativo relativo a cidadãos estrangeiros e ao regime da entrada, permanência, saída e afastamento do território português, bem como do estatuto de residente de longa duração, Coleção Formação Inicial, 2016, p. 28.

227 Uadi Lammêgo Bulos, Curso de Direito Constitucional, 1.ª ed., São Paulo, Editora Saraiva, 2007, p. 645.

potencialmente gera conflitos legais que dão ensejo aos institutos da apatridia e da plurinacionalidade. O instituto da plurinacionalidade refere-se aos cidadãos com mais de uma nacionalidade, ou seja, pessoas que estabelecem vínculo de nacionalidade com dois ou mais países. Podemos citar como exemplo deste o caso em que alguém nasce dentro da circunscrição de um país que adota o critério do ius solis, porém os seus progenitores são nacionais de um país que utiliza o sistema de ius sanguinis. Ocorre o oposto no caso da apatridia: geralmente é proveniente do conflito negativo dos dois critérios supra citados mas não só. Embora esta seja a razão mais comum, a apatridia também pode decorrer de medidas de repressão de regimes políticos totalitários que privam pessoas da sua nacionalidade, por conta da fragmentação de Estados ou desintegração de impérios há gerações e até mesmo uma mudança em práticas administrativas podem fazer com que pessoas, por equívoco, caiam em um limbo legal por conta de alguma peculiaridade de nascimento, casamento ou herança. Considerando que, em uma perspectiva primária, é dever do Estado assegurar a proteção dos direitos fundamentais aos seus nacionais, já se pode verificar o quão relevante é a existência de tal vínculo, o que justifica a inclusão do direito à nacionalidade ao rol de direitos humanos fundamentais. A situação do apátrida conflitua seriamente com a ideia de dignidade da pessoa humana, pois a inexistência de vínculo de nacionalidade prova o ser humano da possibilidade de pleitear proteções jurídicas básicas e de ter estabelecido, a seu favor, os parâmetros mínimos de definição de seu estatuto pessoal. No mundo todo, cerca de 3.9 milhões de pessoas estão oficialmente se nacionalidade; a Agência da ONU para os Refugiados estima que o número verdadeiro possa ser

tês vezes maior229. Nesse sentido, desde que a Declaração Universal dos Direitos

Humanos foi adotada, há 70 anos, houve um reconhecimento crescente do problema da apatridia, e busca-se tanto no plano interno como no internacional a adoção de algumas medidas para que reduza o número de apátridas no mundo. Pretende-se que os países confiram àqueles que não são nacionais de nenhum país os mesmo direitos reconhecidos aos estrangeiros, em regra geral, e em alguns casos os direitos reconhecidos aos próprios cidadãos, como acesso à educação básica e assistência pública. No plano internacional, o secretário- geral da ONU tem como tarefa o envio anual de um relatório sobre a privação da nacionalidade à Assembleia Geral.

VIII. Como forma de ilustrar a essencialidade do direito à nacionalidade 229 Informações disponíveis em ttps://nacoesunidas.org/artigo-15-direito-a-

e, consequentemente, a gravidade da apatridia, é interessante a análise de Daniel Cabó Diógenes sobre o cancelamento coletivo da nacionalidade dos judeus alemães durante o regime nazista: “Durante o regime nazista, como forma de enfatizar o tratamento vil destinado aos judeus, Adolf Hitler cancelou coletivamente a nacionalidade deste grupo de alemães, simplesmente por considerá-los indignos de tal vínculo. Isso significava que eles não mais teriam a referência de um espaço físico que os acolhesse e os desconstituiu como sujeitos de direitos, colocando-os à margem da legalidade. Repentinamente, a Alemanha deixou de ser a pátria destas pessoas, tornando apátridas todos aqueles que não possuíam outra nacionalidade – a maioria – e privando- os de seus direitos políticos. Ademais, a apatridia abrupta os impossibilitou a comprovação de sua origem, o que na prática os impedia a obtenção de vistos para migração e os colocou em situação irregular em qualquer país que eventualmente se encontrassem, ficando sujeitos à deportação. Além de todas as restrições políticas que tiveram que suportar, havia também um grande terror psicológico, na medida em que eles não mais possuíam um local de proteção e acolhimento no mundo, que lhes concedessem uma sensação de segurança. Viviam, pois, sob a constante sensação de perigo e abandono estatal, sem perspectiva de buscar auxílio em seu próprio país. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, diante da multidão de refugiados, a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou diversas convenções acerca dos refugiados e apátridas, e estabeleceu um princípio geral de não-discriminação quanto a eles, determinando, ainda, uma série de direitos e deveres para com o Estado acolhedores, tais como a obediência ao ordenamento jurídico interno, a liberdade de circulação e de exercício profissional, a concessão de títulos de viagem para o exterior, facilitação do processo de naturalização

etc230. A essencialidade do direito à nacionalidade pode ser claramente constatada

ao observar a gravidade dos danos que a sua privação arbitrária é capaz de causar. Por esta razão, tal arbitrariedade é considerada uma das mais graves violações aos direitos humanos, na medida em que descarta as pessoas de sua condição de cidadãs e, consequentemente, dos benefícios concedidos pela lei aos nacionais231.”232

Carolina Merlin Galvani 230 Kildare Gonçalves de Carvalho, Direito Constitucional: Teoria do Estado e da Constituição,

Direito Constitucional Positivo, 15ª ed., Belo Horizonte, Editora Del Rey, 2009, p. 918.

Estudante do 2.º ano da licenciatura em Direito

ARTIGO 16.º

1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

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