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CAPÍTULO 3. O EXERCÍCIO DA CIDADANIA AMBIENTAL PERANTE O PODER

3.2. A defesa judicial do meio ambiente

A tutela judicial dos interesses difusos e, em especial, do meio ambiente, é uma questão merecedora de grande destaque na legislação processual dos países centrais e que, por via reflexa, tem se espalhado nas diversas nações do mundo.

Nos termos do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal: “O Estado está obrigado a prestar a tutela jurisdicional sempre que exercido o direito constitucional de ação pelos seus jurisdicionados”.

Consagra-se, aí, o princípio da indeclinabilidade da jurisdição, que significa: “quando provocado, o Judiciário está obrigado a responder com o direito”, estando implícito o princípio do devido processo legal, que é norteador do ordenamento jurídico como um todo.

Também no art. 5º, inciso XXXV de Constituição Federal de 1988 agasalha, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, ao enunciar: “A lei não excluirá da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Com isso, ficou evidenciado o direito de ação e defesa, um direito público e subjetivo de exigir do Estado a prestação da tutela jurisdicional, uma vez que ele chamou para si a função de se fazer substituir aos conflitos, dirimindo-os.

Quanto ao local para a propositura da ação, observam-se os preceitos do artigo 2º da lei da Ação Civil Pública, Lei nº 7.347/85 que diz: “O juízo competente para processar e julgar ações coletivas ambientais é o lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano”.

Trata-se da competência funcional, portanto, absoluta, que não pode ser prorrogada por vontade das partes e, se não for observada, acarreta a nulidade dos atos processuais decisórios e enseja, após o trânsito em julgado, a propositura de ação rescisória, com fundamentos no artigo 485, inciso II, do Código de Processo Civil

Art. 485 : A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: II. Proferida por Juiz impedido ou absolutamente incompetente.

O sistema de competência encontra-se respaldado no princípio da efetividade da tutela dos interesses metaindividuais, porque, além das dificuldades naturais do ajuizamento da respectiva ação ambiental, regra diversa de competência prejudicaria o exercício jurisdicional do magistrado, dada a maior facilidade de apuração do dano e de suas provas na comarca em que os fatos ocorreram. Nesse sentido, pondera Dotti:

... o sentimento de reação emocional ao dano é melhor vivenciado pelo agente do Ministério Público e outras autoridades que habitam na mesma cidade, que convive com as mesmas vítimas e testemunhas e assim poderá, coma mais eficiência que outro colega distanciado da área das conseqüências do fato, promover as medidas adequadas à perseguição dos agressores bem como lutar pela prevenção do dano (DOTTI, 2001, p. 238).

Hodiernamente, tem se avultado o problema da efetividade da atuação do Poder Judiciário como agente capaz de assegurar a concretização dos direitos esculpidos na Constituição Federal.

Nesse sentido, observa-se que as transformações sociais verificadas nos últimos 12 anos têm conscientizado a população da premente necessidade de intervenção estatal para regulamentar e dirimir conflitos entre os diversos segmentos sociais.

Parece óbvio que a conseqüência lógica e racional de tal postura é a modificação substancial do espaço político legado ao Poder Judiciário, nesta nova etapa da vida estatal. A dificuldade apresentada é justamente a de harmonizar uma atuação mais ativa e participante do Judiciário com a necessária imparcialidade para o julgamento das questões que se colocam perante as cortes de justiça.

Um dos fatores que deve ser levado em consideração é a crescente ampliação das atribuições do Ministério Público, surgindo como uma resposta às dúvidas que eram suscitadas, permitindo-se que um dos braços da organização do Estado se parcialize na defesa de interesses, que, para a sociedade politicamente organizada, são dotados de relevância transcendental.

Ressalta-se que, embora não se constituindo em Poder do Estado, a autonomia funcional e administrativa da qual é dotado o Ministério Público permite que tenha as condições mínimas para exercer a tutela dos bens jurídicos considerados indisponíveis pelo conjunto da sociedade.

Mesmo com todos os avanços obtidos nas questões ambientais, a problemática da defesa dos interesses difusos ainda não está devidamente equacionada no Direito brasileiro, necessitando de estudos mais aprofundados que deverão vir acompanhados de experiência jurisprudencial.

Entretanto, algo precisa ser feito para que o povo brasileiro seja educado em matéria de defesa do meio ambiente. As leis de proteção ambiental existem em número suficiente. É preciso, pois, aplicá-las e reclamar a intervenção do Poder Judiciário, quando descumpridas, de modo a fazer valer a vontade concreta da lei. Ao que parece, o cumprimento da legislação existente não é fiscalizado, convenientemente, pelo Poder Público, tampouco, há uma conscientização do povo na cobrança de uma atuação mais efetiva das autoridades para coibir os abusos e crimes praticados contra o meio ambiente.

A tarefa do Poder Judiciário, nesse campo, é, por conseguinte, das mais importantes e relevantes. Sua missão é caracterizada, na medida em que se configura como o esteio, a última esperança do povo na defesa do meio ambiente, por tratar dos destinos e do bem-estar da sociedade.

O espírito da Lei 6.938/81, Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, bem como da Lei 7.347/85, é o de conceder aos co-legitimados à propositura da Ação Civil Pública, instrumento eficaz para coibir as agressões aos interesses e direitos por elas protegidos. De nada adiantaria existir na lei, esses mecanismos vigorosos, se não houvesse respaldo adequado do Poder Judiciário na consecução dos objetivos da norma jurídica.

Por isso, é necessário espírito público, de despreendimento, desapego às tradições do direito privado comum, que não mais atendam aos reclamos das necessidades do mundo hodierno.

Conclui-se que com destaque à relevância ímpar do Judiciário na defesa do meio ambiente, é preciso realçar que o Direito Ambiental se situa na confluência das decisões políticas que implicam na escolha de valores éticos, jurídicos, culturais, econômicos e sociais novos. Esse ramo emergente da ciência jurídica estabelece um conceito novo sobre o distorcido relacionamento milenar da sociedade com a natureza. Nesse sentido, deve, inequivocamente, impor-se sobre as regras jurídicas tradicionais, pois o Direito Ambiental é

um direito revolucionário, futurista e que está mudando a mentalidade da população como um todo.

Para atuar em defesa do meio ambiente, basta utilizar os instrumentos que a própria lei disponibiliza para a defesa dos interesses metaindividuais e que serão analisados a seguir.