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Deficiências do regime geral da Previdência Social na perspectiva Conservadora

No documento Estado, Desenvolvimento e Seguridade Social (páginas 79-82)

4.2 DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO SEGUNDO A CORRENTE CONSERVADORA

4.2.2 Deficiências do regime geral da Previdência Social na perspectiva Conservadora

Social, também por fatores internos ao sistema. Miranda (2010) assinala também problemas existentes dentro do próprio sistema de concessão de benefícios, sendo eles: aposentadoria por tempo de contribuição, auxílios-doença, aposentadorias especiais e mudanças na composição etária da população brasileira:

4.2.2.1 Aposentadoria por Tempo de Contribuição

Nicholson (2007) salienta que dentro do INSS os problemas de injustiça social surgem, principalmente, com as aposentadorias por tempo de contribuição, sendo esse o beneficio da classe média urbana, ratificando que somente uma em cada cinco pessoas consegue esse benefício. Acrescenta, ainda, que os beneficiados dessa modalidade, nem sempre contribuem o suficiente para cobrir o gasto real dos seus benefícios.

Os benefícios deveriam ser o reflexo das contribuições realizadas durante a vida ativa do trabalhador. A argumentação principal com relação aos benefícios concedidos por tempo de contribuição diz respeito ao alto valor de subsídio embutido no mesmo, concluindo que os benefícios deveriam ser direcionados aos mais pobres.

79 A classe média, por ter melhor condição de acesso à educação e mercado de trabalho, acabam aposentando-se de forma antecipada, antes de uma idade mínima, em detrimento aos demais contribuintes. Dessa forma, passam mais tempo recebendo o beneficio da aposentadoria ultrapassando contribuições realizadas. Melhor definido na citação:

O que está em voga, na verdade, é a repartição dos recursos de forma mais justa. Até porque, o Fator Previdenciário veio a minimizar este problema apontado pelo autor, tendo em vista que, a partir de então, quem quiser se aposentar antes da idade mínima terá os valores de seus benefícios reduzidos. (MIRANDA, 2010, p.77)

4.2.2.2 Auxílios-doença

Conforme a Previdência Social (2017), auxílio-doença é o benefício concedido ao segurado impedido de trabalhar por doença ou acidente por mais de 15 dias consecutivos. Caso o trabalhador tenha carteira assinada, os primeiros 15 dias são pagos pelo empregador, exceto o doméstico, e a Previdência Social paga a partir do 16º dia de afastamento do trabalho. A Previdência paga o auxílio desde o início da incapacidade e enquanto a mesma perdurar.

Segundo Giambiagi (2007), o fato de ter de pagar o beneficio de risco juntamente com a contribuição ao INSS é considerado uma anomalia do sistema equivalente à analogia de uma pessoa ter um seguro do carro, sem a necessidade de pagar qualquer valor, e se beneficiar de seu uso quando necessitar.

Na tabela 10, observa-se que, em maio de 2017, o Brasil possuía 1.390.558, beneficiados pelo auxílio-doença, totalizando em valores pagos R$ 1.803.393.215. Atente para a afirmação:

O fato é que o contribuinte do INSS, do ponto de vista financeiro, paga a rigor pela aposentadoria, mas recebe o direito a ela e também aos chamados “benefícios de risco”, entre eles o auxílio-doença. Se alguém contratar uma instituição privada para ter a mesma cobertura, terá de pagar certo valor para receber uma aposentadoria X e um seguro adicional para cobrir a possibilidade de não poder trabalhar e ter de se alimentar durante esse período sem se descapitalizar. (GIAMBIAGI, 2007, p. 120).

4.2.2.3 Aposentadorias Especiais

Segundo a Previdência Social (2017), a aposentadoria especial é um benefício concedido ao cidadão que trabalha exposto a agentes nocivos à saúde, exemplificado: calor, ruído, de forma contínua e ininterrupta, em níveis de exposição acima dos limites

80 estabelecidos em legislação própria. Nessa situação é possível aposentar-se após cumprir 25, 20 ou 15 anos de contribuição, conforme o agente nocivo.

Nicholson (2007) salienta que as regras não condizem com a realidade dos acontecimentos, citando exemplos dos jornalistas correspondentes de guerra que poderiam se aposentar até 10 anos antes da população em geral. Então, por analogia, os balconistas de padarias e farmácias do Brasil deveriam ter o mesmo beneficio, dado o alto índice de assaltos seguidos de morte registrados no país, sendo muito maior do que de mortes de jornalistas em serviço.

Nessa situação, o beneficio da aposentadoria seria alocado para pessoas que não contribuíram o tempo suficiente para receber o crédito, ampliando assim o déficit previdenciário.

4.2.2.4 Mudanças na Composição Etária da População Brasileira

A informação mais importante de todas as argumentações dos Conservadores para explicar o Déficit Explosivo na Previdência Social conforme Miranda (2010), a qual ratifica a necessidade de realização de uma Reforma Previdenciária abrangente, deve-se ao fato de estarem previstas mudanças grandes na composição etária da população brasileira.

Miranda (2010) aponta que o atual sistema de repartição simples, no qual, o pessoal da ativa financia os seus aposentados contemporâneos, somado ao atual mercado de trabalho baseado na informalidade, fará o cálculo atuarial tender ao colapso nos próximos anos. Nesse sentido faz a seguinte observação:

O importante a se observar e, desta forma, tornando o argumento dos Conservadores extremamente contundente, é que enquanto os beneficiários do INSS tendem a crescer vertiginosamente, triplicando-se em quarenta anos, o inverso, porém menos acentuadamente, acontece com o grupo dos financiadores do Sistema Previdenciário sendo que apresentará uma queda relativa de 6% nos próximos quarenta anos. Se nos dias de hoje o INSS não é capaz de se manter independentemente, sem a necessidade de recursos da União, muito menos será, se for mantido o mesmo sistema de alíquotas de contribuição, valores dos benefícios, enfim, o mesmo arcabouço de proteção que o INSS atualmente se propõe a realizar. (Miranda, 2010, p. 83).

Conforme o IBGE (2015), o bônus demográfico constitui o período em que há uma alta proporção de pessoas em idade potencialmente ativa, comparativamente a outros grupos etários dependentes. Nesses termos, existe uma elevada proporção de adultos na população, relativamente à participação de crianças e idosos. Hipoteticamente maior proporção de

81 pessoas em idade ativa prospectaria o desenvolvimento econômico, o predomínio de pessoas que produzem mais do que consomem, propiciando mais reservas e aumento dos recursos disponíveis por indivíduo.

Analisando mais detalhadamente os dados, percebe-se que o Brasil iniciou processo de envelhecimento populacional mais rápido que a média mundial, com possibilidade de crescimento na expectativa de vida, conforme registros observados na Tabela 1.

Diante deste contexto, uma maior formalização do mercado de trabalho, com aumento da arrecadação da Previdência Social, torna-se vital para o sistema previdenciário, alocando recursos de outras fontes, que podem gerar retração dos investimentos produtivos na educação, na segurança pública, em infraestrutura.

No documento Estado, Desenvolvimento e Seguridade Social (páginas 79-82)