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Denotativamente, ou seja, para os dicionários usuais, o termo abrigo significa, basicamente, proteção, ou mesmo o ato de abrigar. Essa definição simplória, apesar de estabelecer um significado geral e correto do termo, não abrange, obviamente, seu conceito para as ciências (sociais, humanas, da saúde, da educação) que tratam das instituições chamadas de abrigo. Antes de entrar factualmente no tema, então, é premente realizar uma breve definição desse conceito.

Para o ECA, abrigo é a instituição, em primeira instância, que seja regida por seus princípios, ou seja, instituições que sejam doutrinada por autarquias que não façam parte deste núcleo não são caracterizadas como abrigos, por exemplo, locais que se disponham a reabilitação de drogaditos e congêneres (BRASIL, 1990). Logo, entende-se que nem todo tipo de serviço que assista crianças e adolescentes é considerado abrigo, e que, para fins deste trabalho, é necessária esta primeira diferenciação.

São considerados abrigos, de acordo com Silva (2004, p.38), todas as instituições que oferecem acolhimento continuado a crianças e adolescentes desacompanhados de seus familiares, o que pressupõe regularidade nos serviços oferecidos e determina ao dirigente da instituição a equiparação legal ao guardião dos meninos e das meninas acolhidos. As entidades, portanto podem ser analisadas à luz dos artigos do ECA que tratam dos abrigos. São excluídas dessa definição as instituições com exclusividade de atendimento para adultos e adolescentes com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas, mais

conhecidas como comunidades terapêuticas, as quais tem seu funcionamento e prestação de serviços disciplinados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e não pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

Abrigo é um local, não necessariamente de responsabilidade do Estado, mas regulamentado por este, que acolhe crianças e adolescente que, por algum motivo, estejam afastados do convívio familiar. Aqui é importante destacar que não somente casos de abuso físico ou sexual servem de motivo para tanto, mas quaisquer eventos, de ordem natural ou não, que ocasionem tal condição. A permanência do indivíduo no estabelecimento não é fator limitante para a definição de abrigo, ou seja, locais que recebam crianças e adolescente por momentos em que os pais não possam estar com os mesmos também podem ser assim considerados.

Isto significa que o abrigo funciona quando, por diversos motivos, os pais ou responsáveis primevos não atendem a criança ou adolescente com a moradia e condições humanas básicas. Os motivos podem ser inapetência, comprometimento com a Justiça, ausência por motivos de saúde e até mesmo de trabalho, algo não raro num país de dimensões tão extensas como o Brasil etc. Assim, fica claro que o abrigo funciona como um meio de permanência e convivência alternativo ao lar familiar, quando este lhe faltar, uma alternativa que visa, em última instância, preservar a criança ou adolescente em sua integridade física e mental.

Não obstante, uma problemática bastante recorrente nas discussões sobre abrigos (OLIVEIRA, 2006; GUARÁ, 1996) tratam do caráter paliativo dos abrigos. Segundo sua própria definição, ora trabalhada, é possível perceber, sob um olhar mais crítico a nível social, que estas instituições acabam por suplantar deficiências da política social do país. A demanda desses locais se deve, em sua

grande maioria, a casos em que o Estado falha na prevenção da supressão da convivência familiar, e aí é possível incluir as necessidades financeiras pelas quais passam milhões de famílias no país, por exemplo. Isto é: os abrigos são necessários, em muitos casos, para contrabalancear a desigualdade social do Brasil, o que, inclusive só ocorre parcialmente, pois uma medida pontual como um abrigo não oferece de forma alguma suporte para uma mudança social.

Mudanças sociais precisam de um suporte maior da participação do governo municipal, já que as dificuldades são enormes para se enfrentar o problema diretamente na raiz. É preciso fazer com que os abrigos institucionais de João Pessoa funcionem para essas crianças e adolescentes, oferecendo oportunidades que eles nunca passariam em ter.

Há que se fazer com que o esporte seja investido maciçamente dentro dos abrigos institucionais, com contratação de mais profissionais de Educação Física como parte da equipe técnica das unidades e uma melhor estrutura física e de transporte, além de melhor remunerar os que já estão na ativa.

O IPEA (2003, p.307) traz os dados necessários ao entendimento da questão:

Ora, trata-se de um direito que tem sido violado, sobretudo com crianças e adolescentes oriundos de famílias empobrecidas. Para os dirigentes das instituições que executam programas de abrigo, as maiores dificuldades para o retorno das crianças e adolescentes para as famílias encontram-se nas condições socioeconômicas das famílias (35,45%), na fragilidade, ausência ou perda do vínculo familiar (17,64%), na ausência de políticas públicas e de ações institucionais de apoio à reestruturação familiar (10,79%), no envolvimento com drogas (5,65%) e na violência doméstica (5,24%). Portanto, se não houver pronta e eficaz ação municipal (aí incluídas intervenções de organizações não-governamentais) assim que detectada ameaça ou violação ao direito à convivência familiar e comunitária, só um programa de abrigo não bastará. Reinventaremos a roda dos expostos, os internatos, os orfanatos, os educandários que cumpriram suas finalidades numa época em que a “situação irregular” era a marca das crianças e adolescentes tratados como

“menores”, as formas de atendimento massificantes e sem perspectivas de o indivíduo acolhido pela instituição retornar ao convívio de sua família. O que o estatuto e a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS prescrevem é que as ações municipais poderão responder a essas perguntas de forma particular, mas sempre tendo por objetivo, por ideal e por fundamento o cumprimento à doutrina da proteção integral e o resgate dos direitos de indivíduos e famílias permanecerem juntos, em condições de manutenção de seus membros.

O dever de modificar é justamente de quem tem a responsabilidade de buscar mudar o sempre que posto pela sociedade, ou melhor, imposto para nós. Devemos mostrar que outra sociedade é possível, onde as pessoas convivam sem preconceito, sem discriminação, menos exclusão e mais inclusão (Aragão, 2011, p.202).

E é justamente nesse sentido que caminha o trabalho realizado no abrigo em questão nesta pesquisa: a inclusão social a partir do esporte, não apenas tendo em vista o desenvolvimento físico, mas também uma oportunidade de reestruturação social dos garotos atendidos, como será devidamente exposto na discussão dos resultados.

Embora o abrigo institucional seja um local de passagem que a crianças e o adolescente são acolhidos por um certo tempo, que eles possam ter o convívio familiar e seus direitos preservados, como é colocado no que compreende a estrutura politica dos abrigos institucionais.

2.5 A ATUAL SITUAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRIANÇAS E