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Definição da população 

2. Paralisia Cerebral

3.1. Definição da população 

Numa patologia tão complexa como a PC a identificação adequada de todos os casos com esta  situação clínica não é tarefa fácil, tratando‐se de um processo que necessita especial cuidado.  No  entanto,  do  ponto  de  vista  epidemiológico,  este  aspecto  é  essencial,  uma  vez  que  pode  fornecer  importantes  contributos  na  identificação  de  padrões  e  tendências  temporais,  bem  como, sustentar as escolhas efectuadas por técnicos e decisores políticos, relativas às medidas  de  prevenção,  à  alocação  de  recursos  e  à  distribuição  e  tipologia  dos  serviços  de  apoio  (Rosenbaum, 2009). 

Desta  forma,  alguns  aspectos  devem  ser  acautelados,  uma  vez  que  o  cálculo  do  número  de  novos casos de PC não é linear. Stanley, Blair e Alberman (2000), referem que o diagnóstico  diferencial  de  outras  patologias  neuromotoras  pode  levantar  dificuldades,  uma  vez  que  algumas  destas  apresentam  patologia  progressiva  de  lenta  evolução,  por  outro  lado,  os  critérios  utilizados  na  definição  da  incidência  da  PC  podem  ser  diversos,  uma  vez  que  os  indicadores  podem  ter  por  base  os  números  relativos  a  dois  momentos:  o  momento  do  aparecimento das perturbações motoras ou o momento da ocorrência da lesão cerebral.  Estes autores alertam também para o facto do diagnóstico da PC nem sempre ser efectuado na  mesma faixa etária, principalmente nas situações de patologia motora mais ligeira e referem  dados do Western Australian Cerebral Palsy Register que apresentam uma amplitude entre o  nascimento  e  os  três  anos  de  idade  para  a  identificação  dos  novos  casos  de  PC.  Assim,  sublinham  que,  embora  a  incidência  resultante  destes  dois  momentos  seja  teoricamente  idêntica, as distâncias temporais podem trazer alguma perturbação que deve ser tida em conta  (Stanley ; Blair ; Alberman, 2000). 

Constatam‐se  também  algumas  dificuldades  na  identificação  de  todos  os  casos  nas  regiões  onde os rastreios do desenvolvimento infantil não são efectuados de forma sistemática a todas  as crianças, nas situações de PC mais severas, com algumas situações de morte nos primeiros  meses de vida e no acompanhamento de populações com alguma mobilidade geográfica. No  entanto,  nos  diferentes  registos  internacionais (Oxford,  Inglaterra;  Mersy,  Inglaterra;  Vitoria,  Austrália; South Austrália; Western Austrália) a idade recomendada para a referenciação dos  casos de PC é a de 5 anos (Stanley ; Blair ; Alberman, 2000). 

Desde  a  sua  criação  em  1998,  uma  das  primeiras  preocupações  da  SCPE  foi  a  validade  dos  numeradores para o cálculo das estimativas de incidência e de prevalência da PC, uma vez que  se tornava  difícil comparar dados,  partindo  de diferentes critérios na exclusão e inclusão  de 

casos. Assim, logo nesse ano, foi criado um grupo de peritos constituído por Neuropediatras,  Epidemiologistas  e  Fisiatras,  representativos  dos  14  países  europeus  que  compreendiam  a  rede, e que tiveram como primeira função a sua definição (Cans et al., 2006). 

Em  1999  juntaram‐se  a  este  grupo  profissionais  das  áreas  da  Neonatalogia,  Pediatria,  Obstetrícia,  Genética  e  de  Saúde  Pública,  tendo  sido  adoptados  e  progressivamente  disseminados os critérios acordados, sendo que durante 3 anos foram desenvolvidos esforços  no sentido de aferir a sua implementação (Cans et al., 2006). 

Assim, ficou estabelecido que a idade mínima para confirmar o diagnóstico de PC e recolher os  dados das crianças é aos 3 anos, sendo que a idade recomendada para esta recolha é aos 5  anos.  No  sentido  de  melhor  identificar  todos  os  casos,  são  também  incluídas  crianças  com  quadro clínico de PC e que faleceram anteriormente à idade do registo (Cans et al., 2006).  Em Portugal, a  equipe de investigadores do PVNPC efectuou a tradução e  disseminação  dos  critérios de inclusão e exclusão da SCPE e, no sentido de complementar os dados fornecidos  pelos notificadores, são recolhidos ciclicamente os casos registados como falecidos entre os 1  e os 5 anos de idade, junto do Observatório Nacional de Saúde (ONSA) (Andrada et al., 2009).  Todos os casos sinalizados são confirmados pela coordenação da equipe de investigadores do  PVNPC,  sendo  que  esta  equipe  dinamiza  reuniões  científicas  e  contactos  regulares  com  os  diferentes notificadores, no sentido da discussão dos casos duvidosos e da divulgação de boas  práticas  na  área  da  PC.  De  uma  forma  global,  são  excluídas  todas  as  situações  progressivas  resultando na perda de competências adquiridas, as doenças da medula espinhal e os casos  em que a hipotonia constitui o único sinal neurológico (Andrada et al., 2009). 

Os  coordenadores  do  PVNPC  classificam  os  diferentes  casos  notificados  como  confirmados  (quando  cumpridos  os  critérios  de  inclusão),  duplicados  (casos  confirmados  mas  notificados  por  mais  do  que  um  notificador),  excluídos  (quando  não  estão  cumpridos  os  critérios  de  inclusão)  e,  provisoriamente,  duvidosos  (quando  levantam  dúvidas  de  diagnóstico).  Na  presença desta última situação, são solicitados mais dados ao notificador, de modo a permitir  reclassificar  o  caso  notificado.  Nos  casos  de  notificação  múltipla  é  complementada  a  informação já existente, de modo a completar o registo de cada caso (Andrada et al., 2009).  A  definição  da  população  em  estudo  deve  ter  por  base  o  objectivo  específico  a  que  cada  situação obedece. Dolk, Pattenden e Jonhson (2001) recomendam que, como forma de melhor  estudar os aspectos etiológico da PC, se deve partir dos casos tendo em conta o momento do  nascimento  e,  para  o  estudo  dos  aspectos  ligados  com  a  prevalência,  se  deve  partir  da 

27  população residente que obedeça aos critérios pré‐estabelecidos, nomeadamente idade e área  geográfica em estudo. 

Assim,  tendo  por  base  os  casos  sinalizados  ao  PVNPC,  este  estudo  aborda  duas  populações  dinâmicas  e  não  fechadas,  com  movimentos  de  entrada  e  saída,  sendo  que  foi  efectuada  recolha de dados em diferentes momentos, figura nº6.  

Figura nº6 – Evolução temporal das duas populações em estudo.

 

Partindo das crianças com PC nascidas em 1996/1997, foram estudadas: as crianças nascidas  na  região  de  LVT  nesse  biénio;  as  crianças  residentes  em  LVT  aos  5  anos  (2001/2002);  as  crianças residentes em LVT aos 10 anos (2005/2006). Partindo das crianças com PC nascidas  em  2001/2002,  foram  estudadas:  as  crianças  nascidas  na  região  de  LVT  nesse  biénio;  as  crianças residentes em LVT aos 5 anos (2005/2006). 

Crianças com PC nascidas em LVT em 1996 / 1997

1996 / 1997

2005 / 2006

2001 / 2002 Crianças com PC nascidas

em LVT em 2001 / 2002 Crianças com PC nascidas

em 1996/1997 e residentes em LVT em 2001/2002 Crianças com PC nascidas em 1996 / 1997 fora da área em estudo,

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