Definição das observações (X i )

No item 5.3.4 já foi vista a definição daquilo que se convencionou chamar de observações. Não raro, há casos onde é muito difícil determinar quando se inicia a degradação na rede ótica, motivo este que leva o operador do sistema de telecomunicações a estar atento às leituras dos sistemas que utilizam a rede. A existência de alarmes de sinal degradado é a forma mais comum de se ter uma leitura indireta dessa degradação. Já os estados de disponibilidade e indisponibilidade são mais facilmente verificáveis pelas simples constatações do funcionamento dos links suportados pela rede.

Atenuação do enlace (x0 e x1)

No contexto das comunicações óticas, a atenuação representa a perda de potência na medida em que o sinal luminoso trafega ao longo de uma fibra ótica, sendo a mesma o resultado dos fenômenos de absorção, espalhamento e irradiação presentes no guia de onda (SERIES, 2007). Ou seja, representa a diminuição, expressa em dB, da potência de um sinal transmitido. É com base na atenuação que as equipes decidem em modificar o seu estado inercial e atuar na solução dos eventos atenuativos encontrados. É ela quem diferencia entre os payoffs degradado e

disponível em função da amplitude do valor da atenuação encontrado em um determinado ponto

da rede.

Para o escopo dessa dissertação, foram adotados dois intervalos de atenuação: o intervalo x0 e x1 que equivalem a intervalos de 0 a 0,99 dB e acima de 1 dB, respectivamente. Para a

construção do modelo de decisão aqui abordado, altos valores de atenuação, assim considerados os valores acima de 5 dB, foram marcados como valores que indisponibilizam o uso da fibra ótica sob observação. Muito embora, na prática, essa fibra não esteja rompida, deliberou-se conscientemente que a mesma está indisponível para ser utilizada devido ao degrau de atenuação encontrado. Dentro dessa categoria encontram-se as fibras seccionadas ou partidas, ou ainda aquelas que foram tão tensionadas a ponto de apresentarem altos degraus de atenuação, embora não estejam rompidas.

Seccionamento do caminho ótico

O seccionamento de um enlace ótico é definido como sendo o rompimento da continuidade física desse meio. O seccionamento do enlace está diretamente ligado ao estado de indisponibili-

dade visto anteriormente e pode ser encarado como uma exacerbação da atenuação medida num

enlace. É possível que um enlace esteja indisponível sem, contudo ter sido seccionado, bastando que a atenuação num determinado ponto seja suficiente para impedir a passagem do sinal de telecomunicações. Especificamente para o caso dessa dissertação, as observações serão os valores x0 e x1 definidos acima, ficando de fora os casos drásticos de seccionamento de rede.

As formas de se realizar as observações acima podem se dar de duas maneiras distintas: a) Medição periódica em rede ótica

A medição periódica em rede ótica é obtida através do PMP anualmente realizado pelas equipes de manutenção das regionais. Cada uma das seis regionais da CHESF possui um calen- dário de atuação que varre toda a rede ótica baseada em cabos OPGW no período de um ano. Na

medida em que as equipes identificam pontos de defeito na rede, programações de manutenção corretiva são agendadas para providências futuras. Hoje, essa é a principal fonte de informações sobre o estado da rede. O resultado dessa varredura é uma visão geral e instantânea de como a rede se mostra sob o ponto de vista da atenuação, principal causa de degradação do sistema ótico. O modus operandi da medição realizada no PMP foi visto no item 3.2.4 cuja principal ferramenta de trabalho é o equipamento conhecido como OTDR.

b) Verificação da qualidade do sinal recebido através dos equipamentos terminais

A segunda forma de observar o sistema ótico é através dos alarmes emitidos pelo sistema de transporte de dados. No capítulo dois ficou explicitado que a CHESF utiliza três desses transportes de dados: sistemas baseados em PDH, SDH e Rádio. Estes possuem alarmes que informam a qualidade do sinal recebido pela estação de destino. Com isso, é possível ter noção da qualidade do sinal e avaliar se há problemas na rede entre as duas estações. De igual modo, os equipamentos também identificam a ausência de conectividade entre as estações, o que pode significar o seccionamento da rede ótica. Em varias ocasiões, as equipes de manutenção foram acionadas ou informadas de alarmes de sinal degradado entre duas estações adjacentes. Em campo, foi constatada a existência de problemas na rede ótica após os avisos de alarme o que confirma a correlação dos mesmos com o estado real da rede.

Definição dos bens ou payoffs (pj)

Os bens ou payoffs são as consequências concretas resultantes das ações tomadas em função dos estados da natureza observados. Para o caso prático do problema da CHESF, foram identi- ficados três bens, os quais atendem, pelo menos inicialmente, aos propósitos estabelecidos para o estudo do caso aqui apontado, o qual é reflexo do estado da natureza assumida pela rede ótica.

a) Indisponível (p1)

Indisponível, como o próprio nome indica, é o payoff cujo tempo de indisponibilidade é qualquer valor acima das 46 horas. O estado de indisponibilidade é alcançado com a interrupção da rede ótica ou com a exacerbação do estado de degradação desse meio. É o bem menos desejado, ou melhor, é o bem indesejado sob o ponto de vista do mantenedor da rede ótica. Assim, no modelo adotado de mantenabilidade da rede ótica, será representado por p1. De todo

modo, na edução da função utilidade, que mede o grau de preferência do decisor diante dos jogos apresentados, a indisponibilidade foi limitada a 120 horas para que fosse evitada a tendência à rejeição ao risco identificada nos decisores durante entrevista prévia à aplicação do questionário.

Portanto, 120 horas representa aproximadamente 97% dos atendimentos na CHESF de acordo com o Modelo U (Urgente) de atendimento a falhas utilizado na companhia (BARROS FILHO, 1995, p. 115). No modelo de mantenabilidade proposto nesse trabalho, a utilidade para esse bem possui o valor 0 (zero) e será uma das entradas da função utilidade usada mais adiante.

b) Degradado (p2)

Degradado é o payoff representado por uma disponibilidade limitada entre 99,46 a 99,97% do tempo, assim considerado o ano comercial de 360 dias ou 8.640 horas, o que corresponde ao intervalo de disponibilidade entre 8.593,34 a 8.637,41 horas de disponibilidade. É possível raciocinar em termos do complementar, ou seja, o bem p2 (degradado) é o correspondente entre

2 a 46 horas de indisponibilidade da rede, novamente assim considerado o ano comercial de 360 dias ou 8.640 horas. Degradado não é o bem que mais se deseja, no entanto prefere-se esse ao estado de indisponibilidade.

c) Disponível (p3)

Disponível é o estado, representado por um bem, em que a rede ótica está apta a desempenhar satisfatoriamente a função para a qual foi concebida, isto é, apresenta disponibilidade de 99,98% do tempo, assim considerado o ano comercial de 360 dias ou 8.640 horas. Isso representa o equivalente a 8.638,27 horas de disponibilidade, ou 2 horas de indisponibilidade dentro do ano comercial. Disponível é, portanto, o payoff mais desejado na concepção do modelo de decisão para a rede ótica do problema aqui abordado. Dito isto, no modelo de mantenabilidade proposto nesse trabalho, a utilidade para esse bem possui o valor 1 (um) e será uma das entradas da função utilidade do presente modelo. Como relação de preferência, os bens possuem a seguinte ordem de desejabilidade:

p3 ≻ p2 ≻ p1 (5.10)

onde o símbolo ≻ indica a relação de preferência entre os elementos e é para ser lido como p3

é preferível à p2 que é preferível à p1, de acordo com a Definição 2.2.1 de Campello de Souza

(2007, p. 46-47).

É interessante ressaltar que, embora os bens não se confundem com as observações, repre- sentada pela atenuação diretamente medida, a obtenção de um determinado bem guarda uma forte correlação com a atenuação medida. Uma vez que a natureza escolheu deslocar o núcleo ótico do cabo OPGW, foi observada atenuação que por sua vez resultou na obtenção de um bem classificado como degradado ou indisponível.