Parte II – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
Capítulo 3 Procedimentos Metodológicos
1- Definição do Problema e Objetivos da investigação
Conforme referem os autores Almeida e Freire (2000) a primeira fase na elaboração de uma investigação é a correta definição do problema, pois a sua má formulação “pode levar-nos a investigar falsas realidades e, eventualmente, a retirar ilações que, mesmo corretas em face da metodologia seguida, poderão em última instância nada ter de científico, inclusive conduzir a posicionamentos comprometedores” (Almeida & Freire, 2000:39).
As formas que este problema pode adotar são inúmeras, mas quando a investigação está voltada para a compreensão ou a explicação de um fenómeno na área da Psicologia da Educação apresenta-se na forma de questão. A escolha e definição do problema pareceu-nos um assunto relativamente fácil, uma vez que pretendia ir ao encontro das experiências desenvolvidas ao longo dos últimos três anos, pois o investigador confrontava- se, dia após dia, com inúmeras crianças que apresentavam Perturbações Globais do Desenvolvimento. Esta realidade levou-nos a questionar sobre a
A estrutura psicossocial na turma de uma criança portadora de autismo
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forma como estas Perturbações poderiam influenciar as escolhas e as rejeições dos colegas que partilham a mesma turma. Nesta perspetiva, a questão-problema que definimos para esta investigação foi:
Como será a estrutura psicossocial de uma turma, onde está inserida uma criança que apresenta uma Perturbação Autística?
Esta questão abrangente impulsionou um questionamento mais minucioso, e proporcionou outras questões relacionadas com a questão-base:
§ Quais as relações de afinidade, relações conflituosas ou relações
indiferentes no seio desta turma?
§ Quais são algumas das caraterísticas de uma criança popular ou
impopular?
§ As caraterísticas da criança com autismo impulsionam a sua
preferência/rejeição pelos pares?
§ O ambiente escolar e contexto familiar beneficiam as relações
sociais da criança com autismo?
§ As crianças, desta idade, têm uma perceção correta relativamente
às amizades das outras crianças?
Os autores Almeida e Freire (2000:41) referem quatro parâmetros que são fundamentais para a avaliação da qualidade e pertinência do problema de uma investigação. Assim, a questão-problema deverá ser estruturada a partir das seguintes premissas:
- ser concreto e real;
- reunir as condições para ser estudado e poder ser operacionalizado através de uma hipótese científica;
- ser relevante para a teoria e/ou para a prática;
- estar formulado de forma suficientemente clara e percetível para os outros investigadores.
Partindo destes parâmetros concluímos, que o nosso problema estava alicerçado numa estrutura concreta e real, pois não sendo uma mera intuição ou ideia vaga, tinha como objetivo principal o estudo das relações sociais numa turma concreta. Reunia, também, condições para ser investigado, uma vez que
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estava à disponibilidade do investigador uma turma com uma criança com Autismo, onde era possível operacionalizar o estudo, criando várias hipóteses científicas. O estudo era, ainda, relevante na sua ligação intrínseca entre teoria e a prática, pois a partir do conhecimento da estrutura psicossocial de uma turma, onde está inserida uma criança com NEE, será possível agir sobre a mesma e criar condições que permitam o seu melhor funcionamento. Por fim, pareceu-nos que o problema era igualmente claro e de fácil compreensão para qualquer investigador, pois expressa-se entre várias variáveis, sendo motivo de verificação empírica e admitindo respostas precisas ao objetivo definido.
Partindo da correta reunião de todos os parâmetros definidos para a qualidade e pertinência do problema desta investigação, focar-nos-emos, agora nos seus objetivos:
- Compreender as redes de comunicação (afinidade, rejeição e indiferença) no seio de uma turma;
- Conhecer algumas das caraterísticas das crianças populares e impopulares;
- Correlacionar as caraterísticas do aluno com Perturbação Autística com as escolhas e rejeições dos pares;
- Fomentar relações interpessoais no contexto turma; - Desvendar as perceções das crianças desta facha etária.
A partir do momento que o problema foi definido, procedemos ao enquadramento teórico sobre o tema “relações sociais” e “autismo”, uma vez que “a revisão bibliográfica pode assumir-se como interface entre a delimitação do problema e a formulação da hipótese, bem como dos passos seguintes da investigação” (Almeida & Freire, 2000:45). Este levantamento foi bastante útil, porque nos ajudou a delimitar o nosso estudo e a compreender melhor alguns conceitos. Após a leitura de vários documentos bibliográficos, partimos para a formulação de algumas hipóteses, ou seja, tentamos definir uma “explicação ou solução plausível” do nosso problema. Assim, compreendemos que as hipóteses devem fazer a ligação entre “a teoria e a observação/realidade e irão orientar toda a investigação subsequente” (Almeida & Freire, 2000:45). Nesta
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ótica, esta fase importante abarca a definição das hipóteses e a operacionalização das variáveis a considerar, sendo as hipóteses contestadas de forma a se encontrar a solução do problema:
Hipótese 1 – No seio desta turma existem fortes relações de amizade, sobretudo entre crianças do mesmo sexo, e também, existem algumas relações conflituosas ou indiferentes;
Hipótese 2 – As crianças populares apresentam boas capacidades cognitivas, e determinadas caraterísticas sociais que interferem na escolha dos colegas;
Hipótese 3 – As caraterísticas do aluno com Perturbação Autística impulsionam a sua aceitação pelos pares;
Hipótese 4 – O ambiente escolar e o contexto familiar dão um grande contributo para o crescimento social da criança com autismo;
Hipótese 5 – As crianças com a faixa etária entre os 10-12 anos têm uma boa perceção relativamente à amizade dos seus pares.
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