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Parte II – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

Capítulo 3 Procedimentos Metodológicos

2- Modelo de Investigação

Atendendo a que o estudo de investigação que queremos realizar preconiza a compreensão da estrutura psicossocial no seio de uma turma com uma criança com Autismo, o método de investigação para o desenrolar desta ação assentou no método qualitativo. Segundo Bogdan e Biklen, grande parte das investigações qualitativas seguem cinco caraterísticas, mas nem todas as investigações deste caráter, as seguem com igual exaltação.

Primeiro, podemos salientar que este método de investigação “exige que o mundo seja examinado com a ideia que nada é trivial, que tudo tem potencial para construir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (Bogdan & Biklen 1994:49). Nesta ótica, interessa, ao investigador qualitativo a descrição dos dados recolhidos, tentando analisar toda a sua riqueza de forma minuciosa.

Segundo, a opinião dos mesmos autores, os investigadores qualitativos em educação estão permanentemente a questionar os sujeitos de investigação, pois é bastante relevante compreender “as experiências do ponto de vista do informador” (1994:51). Nesta linha de pensamento, Psathas (1973, in Bogdan & Biklen, 1994:51) afirma, que o objetivo dos investigadores qualitativos é “perceber aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem”. Desta forma, Almeida e Freire (2000:27) associam a investigação qualitativa ao estudo com recurso “à própria perspetiva dos sujeitos implicados nas situações”. Nesta investigação “a par dos comportamentos observáveis, torna-se necessário conhecer os sistemas de crenças e valores, os sistemas de comunicação e relação, bem como as suas representações para os indivíduos ou grupos em causa” (Almeida & Freire, 2000:27).

A terceira caraterística está relacionada, com a fonte direta de dados ser o ambiente natural, ou seja, os investigadores frequentam os locais de estudo, porque entendem que “as ações podem ser melhor compreendidas quando são

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observadas no seu ambiente habitual de ocorrência” (Bogdan & Biklen, 1994:48).

A quarta perspetiva, assenta na ideia que estes investigadores se debruçaram, especialmente, pela compreensão do processo, do que unicamente com os resultados ou produtos.

Por fim, a quinta visão, baseia-se na ideia, que quando estes investigadores analisam os dados da sua investigação fazem-no de forma indutiva. Clarificando, para o investigador qualitativo a direção do seu estudo só começa a ter rumo após “a recolha dos dados e o passar do tempo com os sujeitos” (Bogdan e Biklen, 1994:50).

Ao longo destas constatações e de algumas leituras realizadas, foi possível analisarmos que um dos modos de investigação que as metodologias qualitativas descrevem é o Estudo de Caso, e consideramos, que a investigação que desenvolvemos pretendeu estudar um fenómeno social e humano que foi compreendido a partir das informações recolhidas no seio de uma turma.

2.1- O estudo do caso

Os autores Bruyne et al. (in Lessard-Hébert et al, 2010:169) consideram que o Estudo de Caso, no contexto da investigação científica, desenvolve-se num campo real, aberto e menos controlado, uma vez que, o investigador está fortemente envolvido na compreensão do conhecimento como produto de descoberta de um estudo aprofundado em casos particulares. Esta atitude compreensiva conjetura “uma participação ativa na vida dos sujeitos observados e uma análise em profundidade do tipo introspetivo” Bruyne et al. (in Lessard-Hébert et al., 2010:169). Os autores citados anteriormente referem, que o Estudo de Caso é caraterizado igualmente, pelo facto de compilar informações “tão numerosas e tão pormenorizadas quanto possível com vista a abranger a totalidade da situação”. Nesta perspetiva, as caraterísticas do estudo de casos alicerçam-se em três aspetos fundamentais, já descritos anteriormente por Robert Yin (1975), e atualmente, enumerados por Bruyne et

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al. O primeiro aspeto, baseia-se na ideia que o Estudo de Caso tem como objeto de estudo “um fenómeno contemporâneo situado no contexto da vida real”; o segundo, refere-se que “as fronteiras entre o fenómeno estudado e o contexto não estão nitidamente demarcados”, e o terceiro aspeto, descreve que o investigador “utiliza fontes múltiplas de dados”.

Sendo o objetivo estabelecido para esta investigação: compreender a estrutura psicossocial, bem como a delimitação do campo de observação, determinam algumas estratégias a seguir.

Tendo em conta o método de investigação qualitativa, e alicerçando-nos na ideia já referida anteriormente, que refere que o estudo de casos reúne inúmeras informações detalhadas, utilizamos “técnicas variadas de recolha de informação: observações, entrevistas e documentos” (Bruyne et al. in Lessard- Hébert et al, 2010:170). Nesta ótica, no início da investigação foi distribuído um teste sociométrico, realizadas entrevistas, analisados vários documentos e feitas algumas observações informais dos alunos desta turma. No fim, após a recolha de dados será fundamental a sua interpretação e organização.

2.2- Construção da Amostra

Almeida e Freire (2000:99) referem que outro aspeto essencial numa investigação está relacionado com a “definição da amostra ou dos grupos de sujeitos a considerar”. Na área da Psicologia, e também, na área da Educação, os investigadores recorrem, inúmeras vezes, ao estudo de grupos e não de amostras, pois não existe “como objetivo abarcar as caraterísticas de uma população ou a generalização dos resultados” (Almeida & Freire, 2000:108). Esta distinção entre amostras e grupos de sujeitos está relacionada com o menor número de efetivos a considerar no caso do “estudo de grupos”, e com a metodologia de amostragem que é caraterizada por ser menos aleatória. Assim, a amostragem de grupos é considerada “tomando não os indivíduos singulares, mas grupos em que as populações se encontram organizadas, por exemplo, tomando os distritos de um país ou as turmas num dado ano de

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escolaridade” (Almeida & Freire, 2000:102). Tendo em conta estas diretrizes, consideramos válida o nosso “estudo de grupos”, pois está centrado nos alunos de uma turma, onde existe um sujeito que apresenta caraterísticas da Perturbação Autística. De facto, consideramos a escolha deste tipo de amostra representativa, pois encontra-se na linha de estudo que definimos realizar, e que procurava saber o tipo de redes de comunicação possíveis de estabelecer, no seio de uma turma, onde existe uma criança com NEE.

Relativamente à significância da amostra, ou seja, ao número de efetivos que abarca, parece-nos que um universo de vinte alunos poderá representar o grupo desta investigação, uma vez que não pretendemos encontrar generalizações nos resultados obtidos. No entanto, é nosso objetivo que os resultados sejam aplicáveis a esta turma e que possam ajudar a melhorar o bem-estar da sua estrutura social.

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