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Capítulo 2. Constituição de inventários

2.2. Definição dos campos de inventário

O mesmo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa define “inventário”, como uma «lista ou relação de bens de uma pessoa, de uma comunidade», como «papel ou documento onde se encontram registados, inventariados esses bens» ou ainda como «enumeração detalhada; descrição minuciosa», remetendo para questões relativas ao tipo de informações a recolher (Academia das Ciências de Lisboa 2001b: 2157).

A metodologia de recolha de dados a desenvolver dependerá, em larga medida, das informações que é necessário registar, sendo necessário definir quais os campos que devem constar num inventário do património cultural imaterial. No decurso da reunião Expert Meeting on Documenting

and Archiving Intangible Cultural Heritage em 2006 foram referidos vários campos de inventário

(UNESCO 2006a: 8):

Título curto mas informativo; Comunidade / língua;

Localização(s); Domínio(s);

Características da expressão/tradição;

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Disponibilidade dos elementos tangíveis associados? Nome do elemento atribuído pela comunidade envolvida; Realizado em que ocasião(s)?

Realizado por quem (idade/género/nomes)? Como se transmite?

Viabilidade ou nível de perigo; Ameaças (se existentes);

Organizações locais relevantes (ONGs e outras) (se existentes); Autorização explícita da comunidade para a inclusão numa lista? Referência a materiais bibliográficos/ discografia, audiovisuais? Informação recolhida por?

Informação recolhida quando?

Além destes campos, poderá ser útil para a delineação de acções de salvaguarda a recolha das seguintes informações:

- Contextualização histórica: Embora a Convenção não mencione directamente o aspecto histórico do património cultural imaterial, este é implicitamente referido quando uma das características do património cultural imaterial é ser «(…) transmitido de geração em geração (…)», incutindo nas comunidades «(…) um sentimento de identidade e de continuidade (…)» (artigo 2º). Por conseguinte, o carácter histórico de cada expressão cultural deverá ser identificado, por exemplo, através de estudos e trabalhos de investigação ou relatos orais das comunidades, por forma a traçar, na medida do possível, a sua evolução. A comparação entre os resultados dos estudos de etnotecnologia e os acervos dos museus poderão constituir outra forma de traçar a evolução histórica de determinadas expressões culturais.

- Terminologia: as manifestações do património cultural imaterial têm um léxico próprio que deverá ser registado, pois este tipo de património é geralmente transmitido oralmente, e a sua inventariação deverá respeitar esta dimensão oral.

- Suportes audiovisuais: sempre que possível, o património cultural imaterial deverá ser registado em meios audiovisuais, embora o fim da Convenção não seja o registo para memória futura, mas sim o registo para apoiar a salvaguarda. Desta forma, qualquer registo deverá ser executado tendo em vista ao desenvolvimento de acções e programas que permitam e promovam a sobrevivência da manifestação do património cultural imaterial.

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A necessidade de actualização referida no artigo 12º decorre do carácter dinâmico do património cultural imaterial e também devido a eventuais alterações do grau de perigo detectado, devendo ser registados no inventário os dados referentes à manifestação do património cultural imaterial tal como é praticada na actualidade procedendo-se a uma actualização periódica.

Os inventários deverão ficar o mais acessíveis possível desde que respeitadas “as práticas consuetudinárias que regem o acesso a aspectos específicos do referido património” (artigo 13º). Por conseguinte, a informação que poderá ser disponibilizada deverá cumprir a legislação vigente em cada país relativamente à propriedade intelectual, e deverá também contar com o consentimento inequívoco das comunidades e grupos para ficar acessível nos inventários, ou ser sequer mencionada. Na elaboração de normas de acesso aos inventários do património cultural imaterial poderá se útil o recurso a códigos de conduta como, por exemplo, o Código de Ética da The International Federation of Film Archives (FIAF s/ data).

A constituição de inventários exigida pela Convenção é obrigatória para a apresentação de candidaturas à “Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade” e à “Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente” e os critérios para a inscrição nas Listas apontam pistas sobre a informação a recolher (UNESCO 2008b).

Critérios para a inscrição na

Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade

R.1. O elemento constitui património cultural imaterial como definido no artigo 2º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial

R.2.

A inscrição do elemento contribuirá para assegurar a visibilidade, a tomada de consciência da importância do património cultural imaterial e do diálogo, reflectindo assim a diversidade cultural do mundo inteiro e dando testemunho da criatividade humana

R.3. São elaboradas medidas de salvaguarda que poderão permitir a protecção e promoção do elemento

R.4. O elemento foi proposto no seguimento da participação mais ampla possível da comunidade, do grupo ou, se for o caso, dos indivíduos envolvidos e com o seu consentimento livre, prévio e informado

R.5. O elemento figura num inventário do património cultural imaterial presente no(s) território(s) do(s) Estado(s) Parte(s) que apresentam a candidatura

Quadro 4. Critérios para a inscrição na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade

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Critérios para a inscrição na

Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente U.1. O elemento constitui património cultural imaterial como definido no artigo 2º da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial

U.2.

a) O elemento necessita de uma salvaguarda urgente porque a sua viabilidade se encontra em perigo, apesar dos esforços efectuados pela comunidade, pelo grupo ou, se for o caso, pelos indivíduos e Estado(s) Parte(s) envolvidos (ou)

b) O elemento necessita de uma salvaguarda extremamente urgente pois é alvo de ameaças graves às quais não poderá sobreviver sem um procedimento de salvaguarda imediato

U.3. São elaboradas medidas de salvaguarda que poderão permitir que a comunidade, o grupo ou, se for o caso, os indivíduos envolvidos continuem a praticar e a transmitir o elemento

U.4.

O elemento foi proposto no seguimento da participação mais ampla possível da comunidade, do grupo ou, se for o caso, dos indivíduos envolvidos e com o seu consentimento livre, prévio e informado

U.5. O elemento figura num inventário do património cultural imaterial presente no(s) território(s) do(s) Estado(s) Parte(s) que apresentam a candidatura

U.6. Nos casos de extrema urgência, o(s) Estado(s) Parte(s) envolvidos é (são) consultado(s) sobre a questão da inscrição do elemento conforme o artigo 17º/3 da Convenção

Quadro 5. Critérios para a inscrição na Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente

Estes critérios sugerem a necessidade de no inventário constarem informações sobre acções para promover a visibilidade das manifestações, as medidas de salvaguarda a desenvolver, a participação e envolvimento dos actores e as ameaças à sobrevivência da manifestação.