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Tratando-se do recorte de pesquisa, cabe lembrar que a investigação busca os estudantes de Odontologia Noturno egressos de escola pública e que apresentam renda familiar média mensal de até 1,5 salários-mínimos. Assim, considerando os critérios de recorte, a turma de Clínica Odontológica II do curso noturno apresenta os onze (11) estudantes que cursaram o Ensino Médio integralmente em escola pública. Entre os onze (11) estudantes egressos da escola pública, seis (6) estudantes pertencem a faixa de renda familiar média mensal de 1 até 3 salários-mínimos, ou seja, são estudantes que se aproximam do recorte da investigação – os prováveis entrevistados.

Salienta-se que a turma é composta por dez (10) mulheres e nove (9) homens. Em relação ao primeiro critério de recorte, a proporção entre mulheres e homens egressos da escola pública é de oito (8) mulheres para três (3) homens. Curiosamente, a diferença entre mulheres e homens aumenta considerando o segundo critério: são cinco (5) mulheres e um (1) homem com renda familiar média mensal de 1 a 3 salários-mínimos. Nesse sentido, na disciplina de Clínica Odontológica II do curso noturno, se destaca a presença de mulheres na condição de egressos do Ensino Médio público e, ao mesmo tempo, com renda familiar de um (1) até três (3) salários-mínimos.

Gráfico 12 - Relação entra os estudantes de Clínica Odontológica II Noturno e as expectativas para os próximos 10 anos

No que diz respeito à classificação por cor ou raça entre os possíveis sujeitos de entrevista, temos as seguintes informações: um (1) estudante se considera de cor ou raça preta, três (3) estudantes se consideram de cor ou raça branca e dois (2) estudantes não responderam a questão.

Quanto ao uso do direito de programa de bolsa de estudos ou políticas de reserva de vagas ou cotas – entre os prováveis interlocutores das entrevistas, temos: cinco (5) estudantes que fazem uso do direito e um (1) estudante que não faz uso do direito. Ademais, no que diz respeito aos posicionamentos sobre a reserva de vagas ou cotas para estudantes egressos da escola pública, cinco (5) estudantes consideram justo e um (1) estudante assinala NS/NR. Sobre as posições a respeito da reserva de vagas ou cotas para o ingresso de estudantes negros egressos da escola pública na universidade, quatro (4) estudantes consideram justo, um (1) estudante considera injusto e um (1) estudante assinala NS/NR.

No que diz respeito à situação de trabalho, os seis (6) prováveis interlocutores da entrevista apresentam as seguintes características: quatro (4) estudantes trabalham de 21 a 44 horas semanais, um (1) estudante trabalha até 20 horas semanais e um (1) estudante, por ora, não está trabalhando. Portanto, se observa que a maior parte dos estudantes desse recorte também está inserida na dupla jornada diária de trabalho e formação. Ao lado disso, nesse recorte, quatro (4) estudantes são os principais mantenedores da casa. Em outros dois (2) casos, o pai assume esse papel. Ao mesmo tempo, o apoio familiar para se manterem no curso também é relevante, pois três (3) estudantes dizem ser possível frequentar a universidade somente com o apoio financeiro da família, somente um (1) estudante considera possível fazer o curso independente do apoio financeiro familiar e dois (2) estudantes NS/NR.

Sobre a escolaridade da mãe e do pai, se verificou que este grupo de estudantes pertence a famílias onde mães e pais não ingressaram no Ensino Superior. Os dados demonstram que mães e pais desse segmento se concentram, predominantemente, nas etapas relativas ao Ensino Fundamental Incompleto e Ensino Fundamental Completo. Entre os casos, aparece apenas uma (1) mãe e um (1) pai que completaram o Ensino Médio. Nessa condição, os seis (6) estudantes identificados pelos critérios de recorte da pesquisa compreendem os novos públicos universitários, que integram a primeira geração familiar a ingressar no Ensino Superior brasileiro.

Cabe destacar os dados obtidos sobre as formações complementares entre os seis (6) estudantes. Nesse âmbito, quatro (4) estudantes dizem ter feito ou faz curso técnico profissionalizante, três (3) estudantes passaram pelo cursinho Pré-Vestibular/ENEM e dois (2)

estudantes informam não possuírem outra formação. Pode se levar em conta que a formação técnica profissionalizante indique uma estratégia familiar de inserção no mercado de trabalho, que seja mais rápida e menos onerosa. Esse aspecto será tratado com mais profundidade a partir da análise das entrevistas no capítulo 07.

Sobre o tempo de dedicação aos estudos acadêmicos, em horas semanais, se verificou as seguintes situações para os seis (6) estudantes: três (3) estudantes manifestaram estudar de 1 a 3 horas semanais, dois (2) estudantes disseram estudar de quatro 4 a 7 horas semanais e um (1) estudante declarou estudar de 8 a 12 horas semanais. Curiosamente, o tempo mínimo de 1 a 3 de horas semanais dedicadas ao estudo persiste modal entre os estudantes de Odontologia.

Em relação a esse grupo, a escolha pelo curso de Odontologia também está fortemente marcada pela afinidade e vocação pela área. Entre os seis (6) estudantes, quatro (4) optaram pelo curso levando em conta a afinidade e a vocação pela área e dois (2) optaram pela Odontologia levando em conta a rentabilidade financeira da profissão.

Por fim, no que tange às perspectivas de futuro em relação ao seis (6) estudantes, não há elementos severamente dissonantes. Entre as expectativas para os próximos 10 anos, o trabalho e a especialização/aperfeiçoamento profissional compartilham o primeiro lugar – citados três (3) vezes. Em segundo lugar, mencionados duas (2) vezes, o Mestrado/Doutorado e o desejo de sair do país/estado. Por fim, se destacam a perspectiva de constituir família e a expectativa de estabilidade financeira, citadas uma (1) vez. Deve-se observar que um (1) dos estudantes optou por não responder à questão.

Esse grupo de estudantes não pertence ao segmento universitário representado pelos herdeiros tradicionais da universidade brasileira, principalmente, dos cursos historicamente elitizados. São estudantes pertencentes a famílias que não tiveram meios de ascender aos níveis superiores de escolarização. Em outras palavras, esses estudantes representam os novos públicos universitários e se configuram como precursores do contexto familiar a acessarem a universidade.

7 ENTREVISTAS E ANÁLISES

A etapa anterior, que diz respeito ao questionário aplicado na turma de Clínica Odontológica II, resultou na possível contextualização do grupo de estudantes a partir de aspectos socioeconômicos e culturais e, também, na identificação de possíveis interlocutores de entrevista. Verificou-se que entre os dezenove (19) estudantes que responderam o questionário, seis (6) apresentaram as características requeridas pelos critérios de recorte dessa pesquisa – os prováveis interlocutores.

Durante a aplicação do questionário na turma, os estudantes foram informados da possível participação da segunda etapa da pesquisa. Assim, o fornecimento de dados de contatos pelos estudantes oportunizaria o convite para a entrevista. A turma foi certificada de que a sua participação na pesquisa era facultativa. Os dados fornecidos pelos estudantes para futuro contato foram restritos aos endereços de rede sociais e telefone. Desse modo, a partir de convite enviado aos seis (6) estudantes, três (3) se propuseram a participar dessa pesquisa.

As entrevistas foram realizadas com autorização do estudante e com termo de consentimento livre e esclarecido. Todas as entrevistas ocorreram na faculdade de Odontologia (UFRGS) em horário que precedia o início da aula do turno da noite. A escolha pelo local de entrevista foi negociada conforme a disponibilidade do estudante. As três (3) estudantes que participaram das entrevistas são trabalhadoras e, portanto, necessitavam sistematizar o intervalo entre o trabalho e a faculdade. As entrevistas do primeiro encontro tiveram a média de duração equivalente 1 hora e 15 minutos. O segundo momento de entrevista com cada participante durou em média de 40 minutos. Importa ressaltar que, por restrição de tempo, as análises das entrevistas se limitam a apenas duas entrevistadas.

No primeiro momento, as entrevistas foram realizadas a partir de roteiro temático e gravadas em áudio digital por aparelho celular. A primeira entrevista se caracterizou pela livre narrativa conduzida pela própria entrevistada a partir dos temas norteadores estabelecidos pelo roteiro. No segundo momento, as estudantes tiveram acesso à análise produzida a partir do material da primeira entrevista. Essa etapa se caracterizou pelo esclarecimento de dúvidas e detalhes relativos às trajetórias das estudantes. Foram verificadas algumas hipóteses quanto à análise disposicional. Contudo, havia o propósito de “feedback” dos resultados preliminares e o consentimento de publicação desses resultados por parte da estudante. O segundo

momento de entrevista não foi gravado em áudio e as questões foram produzidas a partir da especificidade da trajetória da estudante.