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A importância da definição de mercado relevante visa mostrar que é possível a existência de um suposto poder de mercado, antes que se busque prevenir, no ato de concentração, ou reprimir, no caso de uma conduta presumidamente infrativa (POSSAS, 1996).

Uma noção bastante simples e precisa de mercados relevantes, segundo Cade, 1995 apud Possas (1996) é o empregado pelo Merger Guidelines28, do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a qual já foi incorporada à experiência e jurisprudência brasileira:

Um mercado é definido como um produto ou um grupo de produtos e uma área geográfica na qual ele é produzido ou vendido tal que uma hipotética firma maximizadora de lucros, não sujeita a regulação de preços, que seja o único produtor ou vendedor, presente ou futuro, daqueles produtos naquela área, poderia provavelmente impor pelo menos um pequeno mas significativo e não transitório aumento no preço, supondo que as condições de venda de todos os outros produtos se mantenham constantes. Um mercado relevante é um grupo de produtos e uma área geográfica que não excedem o necessário para satisfazer tal teste (POSSAS, 1996, p. 2).

Mais detalhadamente, a formulação de um mercado relevante, segundo Possas (1996), compreende os seguintes procedimentos:

a) O mercado é definido na dupla dimensão produto e geografia, sendo que o produto pode abranger grupos de produtos.

b) O principal processo de definição de mercado relevante é avaliar preliminarmente a possibilidade da atividade econômica em questão vir a ter algum nível de agregação de produtos em alguma área geográfica, e assim possuir condições técnico- econômicas estruturais nas quais o exercício de poder de mercado, em termos de preço e quantidade, seja logicamente possível.

c) Utilização do procedimento do monopolista hipotético: no mercado em questão (produto/área) considera-se a existência de um monopolista hipotético que efetua um aumento do preço do bem, assim se os compradores migrarem para outros produtos,

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Guia para regras internas elaboradas pela Divisão Antitruste dos Estados Unidos em conjunto com a Comissão Federal de Comércio.

deve-se incluir como partes de um novo mercado hipotético o substituto mais próximo e a região onde ele é comercializado, já se não migrarem, o mercado relevante encontra-se definido29.

Assim, para o autor, um mercado relevante seria simplesmente o menor mercado possível, ou seja, o menor agregado de produtos, combinado com a menor área que satisfaz o critério do item (c).

3.2.1 Aplicação da definição de mercado relevante para o mercado bancário e de crédito

Como já exposto na seção anterior, a definição de mercado relevante abrange tanto o ponto de vista geográfico quanto do produto, mas devido às exigências estabelecidas pelo Banco Central do Brasil na concessão dos dados30, não foi possível a identificação das respectivas instituições financeiras, deixando o trabalho impossibilitado de definir qualquer outra dimensão geográfica de mercado que não fosse o Brasil como referência.

Devido essa restrição, a concentração e desigualdade a serem mensuradas poderão estar subestimadas, pelo simples motivo que um banco localizado apenas no estado do Maranhão dificilmente pertenceria ao mercado de outro banco situado no estado do Rio Grande do Sul. Assim, como a definição do mercado ficará restrita a ótica do produto, será apresentada uma definição de produto bancário:

Existem duas abordagens para definir o produto bancário: a produção e a intermediação; existem justificativas para ambas. A abordagem da produção enfatiza o papel da firma bancária produzindo serviços – pagamentos, arrecadação de tributos, etc. – relacionados às contas dos clientes utilizando trabalho e capital. Portanto, as variáveis número de contas ou de transações de um banco seriam medidas do produto bancário, e o conceito de custo seria o de custos operacionais.

A abordagem da intermediação enxerga as instituições financeiras como produtoras de serviços relacionadas diretamente ao seu papel de intermediação no mercado. Elas captam fundos para depois intermediá-los para empréstimos ou outros ativos. Conseqüentemente o volume de empréstimos, ou um outro conjunto de ativos

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Na prática, segundo Mello (2006), esse teste é feito raramente, devido ser muito dispendioso.

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O sigilo quanto à identificação das instituições financeiras foi determinante para que Banco Central do Brasil fornecesse os dados.

rentáveis, é visto como uma medida da produção bancária e conseqüentemente dá importância aos juros além dos demais custos, é a abordagem mais encontrada na literatura (TROSTER, 2006, p.8).

Conforme se observa no anexo B, as contas presentes no Cosif se encaixam nas duas abordagens de Troster (2006) de produto bancário, pois há produtos relativos à produção do banco (cobrança, fornecimento de folhas de cheques, entre outros); e também produtos relacionados a operações de intermediação, como diversas modalidades de crédito e tesouraria.

Com isso, para sejam realizadas as mensurações de concentração e desigualdade para o mercado bancário e de crédito, as contas seguirão basicamente a agregação definida na planilha do Cosif. No entanto, as contas tiveram seus nomes abreviados, visando à simplificação, mas enfatizando suas finalidades, assim, as contas para o mercado bancário ficaram definidas conforme o Quadro 15.

Contas do mercado bancário (Cosif) Definição

Rendas de operações de crédito Crédito

Rendas de arrendamento mercantil Leasing

Rendas de câmbio Câmbio

Rendas de aplicações interfinanceiras de liquidez Tesouraria Rendas com títulos e valores mobiliários e

Tesouraria instrumentos financeiros derivativos

Rendas de prestação de serviços Serviços

Rendas de participações Participações

Quadro 15 – Classificação das contas para o mercado bancário brasileiro

Fonte: Elaborado com informações do Bacen (2007c)

O Quadro 15 mostra que as contas Rendas de aplicações interfinanceiras de liquidez e

Rendas com títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos, devido serem

contas afins, foram consideradas em uma mesma conta, definida como Tesouraria.

Quanto ao mercado de crédito em particular, suas subdivisões também foram classificadas conforme critérios baseados no Cosif, com algumas agregações, segundo o Quadro 16.

Contas do mercado de crédito (Cosif) Definição

Rendas de adiantamentos a depositantes Adiantamentos

Rendas de títulos descontados Tesouraria

Rendas de financiamento à exportação Exterior

Rendas de financiamento de moeda estrangeiras Exterior

Rendas de financiamentos com interveniência Consumo

Rendas de financiamentos rurais - aplicações livres Rural e Agroindustrial Rendas de financiamentos rurais - aplicações obrigatórias Rural e Agroindustrial Rendas de financiamentos rurais - aplicações repassadas e

Rural e Agroindustrial Refinanciadas

Rendas de refinanciamentos de operações com o governo federal Governo Federal Rendas de financiamentos agroindustriais Rural e Agroindustrial

Rendas de financiamentos imobiliários Imobiliário

Rendas de financiamentos habitacionais Imobiliário

Rendas de financiamentos de infraestrutura e desenvolvimento Infraestrutura

Rendas de direitos por empréstimos de ações Tesouraria

Quadro 16 – Classificação das contas para o mercado de crédito brasileiro

Fonte: Elaborado com informações do Bacen (2007c)

Da mesma forma que foi feito para o mercado bancário, as contas do mercado de crédito também foram classificadas e agregadas devido semelhanças na finalidade31, por exemplo, conforme Quadro 16, as contas Rendas de financiamento à exportação e Rendas de

financiamento de moeda estrangeiras foram agrupadas em uma só conta/mercado de crédito,

denominada Exterior, devido as mesmas denotarem operações relacionadas com o mercado externo.

Portanto, sendo que os mercados a serem analisados foram definidos, a próxima seção apresentará o instrumental utilizado nas mensurações da concentração e desigualdade das rendas no mercado bancário e no mercado de crédito brasileiro, entre os anos 2001 a 2007.

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As definições e consequentemente as finalidades de cada uma das contas, tanto do Quadro 15 quanto do Quadro 16, estão presentes no Anexo C.