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2 ARGUMENTOS CONTRÁRIOS A TRANSMISSÃO DA COBRANÇA DO ISS

2.2 A remuneração através de emolumentos

2.2.2 Definição e natureza jurídica

Demonstrada a base legal que cerca o tema, passaremos a análise doutrinária da definição e da natureza jurídica dos emolumentos para, ao final, realizar uma correlação com o pagamento do ISS, demonstrando ser inconstitucional a transmissão da cobrança do referido imposto para os usuários dos serviços dos registros públicos, cartorários e notariais.

Quanto à definição dos emolumentos, a própria legislação se encarregou de fazê-la, senão vejamos o que dispõe o art. 1º da Lei 12.692/2006:

Art. 1º- Emolumentos são as despesas devidas pelos interessados aos responsáveis pelos serviços notariais e de registros, pelos atos que vierem a ser praticados no âmbito de suas serventias, dentro de sua competência legal, de acordo com os valores previstos para cada um deles, na conformidade das tabelas de emolumentos anexas, suas notas explicativas e observações, todas com força normativa.

Neste tom, Sabbag (2010, p. 427) diz que:

a) Emolumentos: são devidos pelos serviços notariais e de registro,

estes prestados por meio de delegação ao setor privado, ex vi do art. 236, da Constituição Federal, regulamentado pela Lei n. 8.935/94. Nesse passo, os emolumentos são devidos pela realização dos atos de registro e baixa a cargo dos distribuidores. Os emolumentos destacam-se, portanto, como custas, na espécie “custas extrajudiciais”, “pois estas resultam, igualmente, de serviço público, ainda que prestado em caráter particular (art. 236, CF)”. (grifos do autor)

Realizadas as considerações acima tem-se que, de forma precisa e objetiva, os emolumentos são os valores devidos ao cartórios, registros públicos e notariais pelos serviços por estes prestados.

Cumprida tal etapa, qual seja a definição/conceituação dos emolumentos, passemos a análise de sua natureza jurídica, a qual merece maior aprofundamento doutrinário e jurisprudencial.

Quanto a natureza jurídica dos emolumentos, a doutrina, bem como a jurisprudência pátria, lastreada em precedentes do Supremo Tribunal Federal, entendem, de maneira pacífica, que este possuem natureza jurídica de taxas.

Nessa ótica, Sabbag (SABBAG, 2010, p. 425) diz que “os emolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais, exigidos pelas serventias judiciais e extrajudiciais, assumem a feição tributária como taxas de serviços [...]”

Em adição, e como anteriormente mencionado, o Supremo Tribunal Federal corrobora o entendimento da doutrina, sendo que inúmeros julgados apontam na mesma direção. Vejamos o que diz a ementa da Ação Direta de Constitucionalidade nº 5, julgada no dia 17 de novembro de 1.999, tendo como Relator o Ministro Nelson Jobim:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. DECLARAÇÃO DE

CONSTITUCIONALIDADE DE ARTS. DA LEI Nº 9534/97. REGISTROS

PÚBLICOS. NASCIMENTO. ÓBITO. ASSENTO. CERTIDÕES.

COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE A MATÉRIA. ARTS. 22, XXV E 236, §2º. DIREITO INTRÍNSECO AO EXECÍCIO DA

CIDADANIA. GRATUIDADE CONSTITUCIONALMENTE

GARANTIDA. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE A QUE O ESTADO PRESTE SERVIÇO PÚBLICO A TÍTULO GRATUITO. A ATIVIDADE QUE DESENVOLVEM OS TITULARES DAS SERVENTIAS, MEDIANTE DELEGAÇÃO, E A RELAÇÃO QUE ESTABELECEM COM O PARTICULAR SÃO DE ORDEM PÚBLICA. OS EMOLUMENTOS

SÃO TAXAS REMUNERATÓRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS.

PRECEDENTES. O DIREITO DO SERVENTUÁRIO É O DE PERCEBER, INTEGRALMENTE, OS EMOLUMENTOS RELATIVOS AOS SERVIÇOS PARA OS QUAIS TENHAM SIDO FIXADOS. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DOS ARTS. 1º, 3º E 5º DA LEI 9534/97. LIMINAR DEFERIDA. (grifo nosso)

Outro julgado do Pretório Excelso e que merece destaque é a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.378-5 Espírito Santo, julgada em 30 de novembro de 1.995, tendo como Relator o Ministro Celso de Mello, a qual possui a seguinte ementa:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CUSTAS JUDICIAIS E EMOLUMENTOS EXTRAJUDICIAIS – NATUREZA TRIBUTÁRIA (TAXA) [...]

NATUREZA JURÍDICA DAS CUSTAS JUDICIAIS E DOS

EMOLUMENTOS EXTRAJUDICIAIS.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido de que as custas judiciais e os emolumentos concernentes aos serviços

notariais e registrais possuem natureza tributária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, sujeitando-se, em consequência, quer no que concerne à exigibilidade, ao regime jurídico- constitucional pertinente a essa especial modalidade de tributo vinculado, notadamente aos princípios fundamentais que proclamam, dentre outras, as garantias essenciais (a) da reserva de competência impositiva, (b) da

legalidade, (c) da isonomia e (d) da anterioridade. Precedentes. Doutrina. (grifo nosso)

Após colecionadas as jurisprudências acima, as quais são basilares para o ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que emanadas da mais alta corte, pode-se afirmar que os emolumentos cobrados pelas serventias extrajudiciais, cartórios e registros públicos, possuem natureza jurídica tributária, sendo qualificadas como taxas remuneratórias de serviços públicos.

Nesta esteira, como os emolumentos possuem natureza tributária de taxas, há de fazer menção ao art. 145, § 2º, CF, o qual diz que “As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.” O mesmo entendimento é garantido ao Código Tributário Nacional o qual prevê, no parágrafo único do art. 77 que “A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto [...]

Em prosseguimento ao raciocínio, aliando a natureza dos emolumentos (taxa) com a incidência do ISS (imposto) sobre os serviços prestados pelos registros públicos, cartorários e notariais, chega-se à conclusão de que a cobrança deste não pode ser transmitida ao usuário dos serviços, sob pena de ferir os ditames constitucionais acima transcritos, uma vez que os tomadores estariam suportando duplamente um ônus tributário alicerçado na mesma base de cálculo.

Complementando, duas relações jurídico-tributárias permeiam o referido tributo, as quais ocorrem em dois momentos e envolvendo sujeitos distintos, senão consideremos;

MUNICÍPIO – cobra, através de lei municipal, o ISS dos registros públicos, cartorários e notariais (momento 1); REGISTROS PÚBLICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS cobram TAXAS (emolumentos) dos usuários dos serviços (momento 2).

Como forma de ratificar a construção acima, destaca-se o que mencionou o Ministro Sepúlveda Pertence quando da discussão das teses doutrinárias que envolveram o julgamento da ADI 3.089, vejamos: “Essa taxa é cobrada do usuário, o imposto sobre serviços é do delegatário." (grifo nosso)

Diante disso, caso o município autorize o repasse da cobrança do ISS aos usuários dos serviços fará com que estes suportem o ônus de pagar o imposto (ISS) e a taxa (emolumentos) sobre uma mesma base de cálculo, sendo esta uma prática inconstitucional.

Como se não bastasse, a Lei 8.935/1994, em seu art. 31, e a Lei Estadual 12.692/2006, em seu art. 8º, preveem que as cobranças indevidas ou excessivas dos emolumentos geram a responsabilização/penalidades aos registradores, notários e oficias de registro.

Vejamos, primeiramente, o que reza o art. 31 da Lei 8.935/1994

Art. 31. São infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de registro às penalidades previstas nesta lei:

I - a inobservância das prescrições legais ou normativas; II - a conduta atentatória às instituições notariais e de registro;

III - a cobrança indevida ou excessiva de emolumentos, ainda que sob a alegação de urgência;

IV - a violação do sigilo profissional;

V - o descumprimento de quaisquer dos deveres descritos no art. 30. (grifo nosso)

Agora, visualizemos o que dispõe a Lei Estadual 12.692/2006, em seu art. 8º

Art. 8°- A cobrança de emolumentos e despesas com infração desta Lei,

para mais ou para menos, será considerada falta punível na forma da lei

e cumulada com a restituição em dobro da quantia cobrada em excesso, ou com o pagamento de multa equivalente ao valor dos emolumentos devidos para o ato, em benefício do Fundo Notarial e Registral - Funore -, na cobrança de valor de emolumentos menor da determinada por esta Lei. (grifo nosso)

Por derradeiro, como já demonstrado, a transmissão da cobrança para os usuários dos serviços é prática que, além de inadequada, é capaz de gerar sanções aos prestadores dos serviços, sendo que a Lei Estadual 12.692/2006 prevê, inclusive, a restituição em dobro da quantia cobrada em excesso.

Nesta ótica, apenas como forma de ilustrar a sistemática de cobrança adotada pelos registros públicos, cartorários e notariais, a qual é feita com embasamento em leis municipais autorizadoras, acompanha o presente trabalho, como documento anexo (Anexo A), um recibo de emolumentos fornecido por um prestador situado no município de Três Passos/RS. Neste

documento, que possui o título “Recibo de emolumentos”, é possível verificar que o prestador do serviço discrimina os valores cobrados, sendo que valor referente aos emolumentos aparece na parte superior do mesmo, enquanto que o relativo ao ISS na parte inferior. Já o valor final cobrado do usuário é o resultado do somatório destes com o custo do selo digital.

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