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4 PERDAS NA CONCRETAGEM DE ERCA COM CDC BOMBEADO

4.1 DEFINIÇÃO DE PERDAS

Conforme demonstrado no item anterior, as perdas podem se referir à quantidade de material utilizada em excesso em relação a uma quantidade de referência para execução de uma atividade, definição aplicável a processos produtivos em geral e de construção civil. No contexto da construção civil, Souza (2005) define perdas como:

Toda quantidade de material consumida além da quantidade teoricamente necessária, que é aquela indicada no projeto e seus memoriais, ou demais prescrições do executor, para o produto sendo executado.

As perdas podem ser entendidas como desvios em relação a valores de referência de equipamentos, mão-de-obra17 e capital necessários para a produção de

um edifício, considerando tantos desperdícios desses recursos quanto consumos dos mesmos em tarefas que não agregam valor ao resultado final (FORMOSO et al.; 1996).

Enquanto a eficiência no uso de recursos materiais em uma operação para produzir determinada quantidade de serviço é um indicador de produtividade, como o CUM apresentado anteriormente, as perdas de materiais, por serem indicadores que relacionam um determinado valor de consumo a um referencial teórico, são uma medição indireta da produtividade pois não consideram a quantidade de serviço executada.

17 Alguns estudos utilizam o ΔRUP como referência para perdas de produtividade por ser a diferença

entre a RUPpotencial, factível mas desafiadora, e a RUPcumulativa. Outros estudos, buscando entender melhor as variações de RUP, tem procurado dividir as horas de mão-de-obra e de equipamentos em tempos produtivos e improdutivos. Esses tempos improdutivos representariam as perdas da atividade, as quais podem se dar por diferentes motivos (PALLIARI, 1999).

Segundo Souza e Palliari (2006), algumas das diferenças entre a medição da eficiência no consumo de materiais pelo CUM e pelas perdas, e que justificam a preferência pelas perdas, são:

 As perdas apresentam de forma explícita a falta de eficiência de um processo de produção em relação a uma situação referência de perda nula;

 O CUMreal indica ao mesmo tempo a eficiência do projeto e da produção, mas sua interpretação é menos intuitiva que a das perdas.

Os valores de referência adotados para o cálculo das perdas são, na maioria das vezes, extraídos de projetos ou memoriais descritivos, conforme descrito por Souza (1996). No entanto, Ceotto (1995) demonstra que existem outras possibilidades de cálculo que se prestam para fins diferentes:

 Consumo referencial como valores extraídos do projeto: se posicionar em relação ao orçamento inicial;

 Consumo referencial como um valor médio do setor: para se posicionar em relação ao mercado;

 Consumo referencial como valores mínimos de mercado: para se posicionar em relação aos melhores concorrentes;

 Consumo referencial como norma técnica: para se posicionar frente a valores prescritos pela comunidade técnica.

Além de se ter um valor de referência, é importante entender as perdas para que se consiga reduzi-las. Com esse objetivo, diversos estudos propuseram classificações às perdas indo desde classificações mais abrangentes que consideram diversos tipos de recursos a classificações específicas para as perdas de materiais.

Dentre as classificações propostas, aquelas mais abrangentes dizem respeito ao tipo de recurso, à forma de controle, à etapa de ocorrência da perda, à abrangência do indicador de perda, à sua natureza e à sua origem. Aqui é apresentada uma combinação dos estudos de Andrade e Souza (2000), Formoso et al. (1996) e Paliari (1999) que cobrem e compilam grande parte dos trabalhos anteriores relacionados ao tema.

Quanto ao tipo de recurso, as perdas podem ser classificadas em (ANDRADE; SOUZA, 2000):

 Físicas: podendo ser de materiais, mão-de-obra, equipamentos e energia;

 Financeiras: podendo ser estritamente financeiras ou provenientes de perdas físicas;

Quanto ao controle, as perdas podem ser classificadas em (FORMOSO et al. 1996):

 Evitáveis: quando o custo de sua ocorrência é maior do que o custo para sua prevenção;

 Inevitáveis: quando o custo de sua ocorrência é inferior ao custo para sua prevenção, o qual depende do patamar tecnológico da empresa.

Quanto às etapas de ocorrência da perda, as principais classificações propostas são:

 Concepção, suprimentos, execução e uso-manutenção abrangendo diversos tipos de recursos (PALIARI, 1999);

 Execução, sendo a mesma decomposta em: recebimento, estocagem, transporte interno e produção; abrangendo diversos tipos de recursos (FORMOSO et al., 1996);

 Concepção, execução e uso-manutenção com a etapa da execução decomposta em: recebimento, estocagem, transporte, processamento intermediário e aplicação; tratando especificamente dos recursos materiais (ANDRADE; SOUZA, 2000).

Combinando essas definições, chega-se às seguintes etapas de ocorrência de perda para todos os tipos de recursos:

 Concepção: contempla as etapas de projeto, orçamento e planejamento da obra;

 Suprimentos: contempla a aquisição e fornecimento de materiais, equipamentos e mão-de-obra e os respectivos recursos financeiros;

 Execução: combinação dos recursos e informações das etapas anteriores para a materialização da obra;

 Uso e manutenção: uso das informações das etapas anteriores e de novos recursos durante o uso e para manutenção do empreendimento.

Quanto à sua abrangência, as perdas podem ser divididas em (PALIARI, 1999):

 Parciais: quando se referem a uma das etapas acima ou ao uso de determinado recurso em um momento específico de uma atividade de produção;

 Globais: quando se referem a todas as etapas acima ou ao uso de determinado recurso durante todo o período de uma atividade de produção.

Quanto à natureza, num contexto mais abrangente, apresenta-se as classificações apresentadas por Formoso et al. (1996) por elas considerarem perdas de outros tipos, além das de materiais:

 Superprodução: produção em quantidades superiores às necessárias e, portanto, incorre em perdas de material, de mão-de-obra, de equipamentos e financeira;

 Substituição: os autores definem como a utilização de um “material de valor ou características superiores às necessárias”, mas também neste caso, cabe expandir a classificação para equipamentos e mão-de-obra (ex.: utilizar grua com capacidade superior à necessária para a obra ou contratar mão-de-obra especializada para serviços simples);

 Espera: gerada pela falta de sincronização e nivelamento dos fluxos de materiais e das atividades dos trabalhadores;

 Transporte: manuseio excessivo ou inadequado de materiais, os quais podem, além de incorrer em perda de material, incorrer também em perda de mão-de- obra e de equipamento utilizado para o transporte e, consequentemente, financeiro;

 Processamento: relacionada ao uso de recursos na execução da operação;

 Estoque: estoque excessivo ou inadequado de materiais, que podem incorrer em perdas financeiras, mas também pode se referir a perdas com estoque de equipamentos não utilizados;

 Movimentação: movimentos desnecessários por parte de trabalhadores, podendo incorrer em perdas financeiras, além de materiais e equipamentos que os trabalhadores estejam levando;

 Elaboração de produtos defeituosos: produtos sem a qualidade necessária;

 Outras: roubo, vandalismo e acidentes.

Quanto à origem, também definida como a causa mais distante ou causa original, as perdas são divididas em função da etapa responsável pela sua ocorrência. As classificações encontradas se dividem em:

 Projeto, planejamento, fabricação de materiais, suprimentos e recursos humanos buscando abranger diversos tipos de recursos (PALIARI, 1999; FORMOSO et al., 1996);

 Concepção, planejamento, aquisição, execução e uso-manutenção com foco nos materiais (ANDRADE; SOUZA, 2000).

Entendendo a função suprimentos como a responsável por fazer a aquisição dos materiais e equipamentos, a concepção como função similar à de projeto, mas com escopo mais amplo que engloba tanto o desenvolvimento dos projetos quanto definições anteriores ao início da elaboração dos mesmos e combinando as duas classificações apresentadas, propõe-se a divisão quanto à origem em:

 Concepção, planejamento, fabricação de materiais, suprimentos, recursos humanos, execução e uso-manutenção.

Especificamente no contexto dos materiais, além das classificações já expostas (tipo, controle, abrangência, etapa de ocorrência, origem e natureza), Andrade e Souza (2000) ainda sugerem a classificação das perdas quanto à causa e à forma de incidência e apresentam uma subdivisão das perdas quanto sua natureza:

 Causa: diferentemente da origem, se refere à causa imediata da perda;

 Forma de incidência: refere-se à forma de manifestação da perda, mais específica do que a natureza (ex.: saco de cimento empedrado, material que caiu no chão;

 Natureza: divide as perdas em entulho, incorporada ao produto final (ex.: revestimento de argamassa ou laje de concreto em espessura superior à de projeto) e roubos, as quais, fazendo um paralelo com as naturezas apresentadas anteriormente, podem ser enquadradas nas seguintes classes:

o Superprodução: entulho e incorporada; o Substituição: incorporada;

o Transporte: entulho;

o Processamento: entulho e incorporada; o Estoques: entulho;

o Elaboração de produtos defeituosos: entulho; o Outras: roubo.

As perdas de materiais podem ocorrer e ter sua origem em todas as etapas identificadas, nas quais podem estar envolvidas diversas áreas da construtora, além da obra, e o fornecedor de material. Sua redução passa necessariamente pelo seu entendimento (PALIARI, 1999) e seu desconhecimento pode aumentar os custos de construção e prejudicar a rentabilidade das empresas, além de frequentemente estarem associadas a baixa qualidade na execução de serviços, resultando em prejuízo à qualidade do produto, redução da produtividade de sua execução, além de maiores impactos ambientais (LANTELME, 1994; SOIBELMAN, 1993; SOUZA; PALIARI, 2006).

As classificações apresentadas acima auxiliam nesse entendimento, mas não resolvem o problema caso a empresa não se disponha a medi-las e atuar sobre as mesmas. Assim como no caso da produtividade, os indicadores de perda podem auxiliar na tomada de decisão sobre definições de orçamento, escolhas tecnológicas, controle do consumo de materiais, organização do trabalho, priorização de ações corretivas e avaliação de impactos ambientais (SOUZA; PALIARI, 2006), além de permitir a comparação do desempenho entre obras, empresas e o setor.