• Nenhum resultado encontrado

Maria José da Silva Fernandes

H 1 : Em Portugal, a informação contabilística divulgada pelos municípios influencia a

3.1.3. Definição de variáveis

Face ao objetivo da investigação, nomeadamente, aferir se a informação conta- bilística tem impacto na reeleição dos autarcas portugueses, e no âmbito da hi- pótese de investigação: H1: Em Portugal, a informação contabilística divulgada pelos

municípios influencia a reeleição dos autarcas portugueses, a variável dependente a considerar no modelo empírico é a Reeleição dos Autarcas (RA).

A variável RA tem por base os resultados eleitorais do ano de 2009, sendo uma variável binária ou dicotómica (dummy), que assume o valor um quando os au- tarcas são reeleitos e o valor zero no caso contrário.

A seleção das variáveis independentes (ou explicativas) teve por base a aná- lise efetuada na revisão da literatura aos estudos empíricos com enquadra- mento na teoria da agência. Assim, tendo como principal objetivo identifi- car as variáveis explicativas exploratórias (adiante designadas variáveis ex- plicativas) a introduzir no modelo empírico, elaborámos um quadro8, onde apresentamos as variáveis utilizadas pelos autores dos artigos científicos, bem como a sua forma de cálculo. Além do referido, evidenciamos, sempre que possível, para cada variável estudada, o sinal esperado, o sinal obtido, bem como os níveis de significância dos resultados empíricos obtidos nas investigações.

Na análise à informação vertida no anexo 1 constatamos que, por um lado, os autores centram o seu objeto de estudo nos governos locais de diversos paí- ses, nomeadamente, Estados Unidos (Ingram & Copeland (1981) e Feroz & Wil- son (1994)), Espanha (Brusca & Montesinos, 2006) e Portugal (Fernandes et al., 2012). O que significa que as investigações são desenvolvidas em diferentes contextos quer a nível político, económico, cultural e social, quer também a nível contabilístico. Por outro lado, constatamos igualmente que os estudos são realizados com algum distanciamento temporal – 1972 a 1977 (Ingram & Cope- land, 1981), 1983 a 1985 (Feroz & Wilson, 1994), 1999 a 2003 (Brusca & Montes- inos, 2006) e 2005 a 2008 (Fernandes et al., 2012). Assim, investigações desen- volvidas em diferentes contextos e períodos temporais, potenciam diferenças nos resultados obtidos em cada investigação.

Nesta análise, também damos conta que, na generalidade, os autores convertem os números inerentes à informação contabilística em rácios. Segundo Ingram & Copeland (1981), a conversão dos números contabilísticos em rácios permite con- trolar a variação do tamanho do objeto de estudo.

Na identificação das variáveis explicativas do modelo empírico, para além de ter- mos atendido às variáveis testadas pelos autores dos artigos científicos, também tomámos como referência os indicadores utilizados no Anuário Financeiro. Neste sentido, e para o efeito, elaborámos a Tabela 1, onde apresentamos a variável dependente e onde descrevemos as variáveis explicativas do modelo empírico, agrupadas em duas componentes - gestão orçamental e dívida municipal. Nesta tabela também apresentamos os sinais espera- dos9 relativamente à associação entre cada variável explicativa e a variável dependente.

56

CONTABILIDADE & GESTÃO

Tabela 1 – Descrição da Variável Dependente e das Variáveis Explicativas

Variável Sinal Es-perado Descrição/Cálculo

Dependente

RA --- Reeleição do Autarca (1=sim; 0=não)

Componente – Gestão Orçamental

DesCompDesCg + Despesas comprometidas / Despesas Corrigidas

ExOrCor + Excedente Orçamento Corrente = (Despesas Corrigidas - Despesas comprometidas) / Despesas Corrigidas

RecLiquiRecCg + Receitas Liquidadas / Receitas Corrigidas

GraIndFin + Grau Independência Financeira = Receitas Próprias Co-bradas / Receitas Totais Cobradas

GraExecDes ? Grau Execução da Despesa = Despesas Pagas / Despe-sas Corrigidas

GraExecRec ? Grau Execução da Receita = Receitas Totais Cobradas / Receitas Corrigidas

Componente – Dívida Municipal

DivTRecTCob + Dívidas Totais a pagar / Receitas Totais Cobradas

JDivTRecTCob + Juros e outros encargos sobre as Dívidas Totais / Recei-

tas Totais Cobradas

CusDiv - Custo da Dívida = Taxa de juro da dívida pública em Por-

tugal

EndiviLiq - Endividamento Líquido per capita

VarDivLiq - Variação da Dívida Líquida per capita

DivRecebCprRecTCob + Dívidas a Receber Curto Prazo / Receitas Totais Cobradas

DivPgCprDesTComp - Dívidas a Pagar Curto Prazo / Despesas Totais Compro-metidas

TFundDivT + Total Fundos Próprios / Dívidas Totais

Para o caso da componente da gestão orçamental e os seus efeitos nos resultados eleitorais, e segundo o ponto 2.3 do POCAL, que define para as autarquias locais a adoção de dois documentos previsionais - o orçamento e as grandes opções do plano – o referido diploma legal estabelece que a execução desses dois documen- tos deve pautar-se, entre outros, pelo princípio da utilização racional das dota- ções aprovadas em orçamento. Isto é, as autarquias locais que assumem custos e perdas devem ser capazes de os justificar de acordo com os critérios de economia, de eficiência e de eficácia.

Para além do referido no ponto 2.3 do POCAL, a execução do orçamento deve pautar-se ainda pelos princípios da estabilidade orçamental, da solidariedade recíproca entre níveis da administração, bem como pelo princípio da transpa- rência orçamental (nº 4, artigo 4º, Lei nº 2/2007, de 15 de janeiro10). As autarquias locais, entre outras exigências inerentes à execução do orçamento, devem pres-

tar aos cidadãos/eleitores informação sobre a sua situação financeira, de forma clara, transparente, rigorosa, e acessível a todos (nº 5, artigo 4º, Lei nº 2/2007, de 15 de janeiro).

Nas variáveis explicativas elencadas na Tabela 1 inerentes à componente da ges- tão orçamental, para além de termos incluído alguns indicadores já estudados por Brusca & Montesinos (2006), incluímos também outros indicadores constan- tes do Anuário Financeiro, nomeadamente, grau de independência financeira, grau de execução das despesas e grau de execução das receitas.

O primeiro indicador - grau de independência financeira - mede o grau de in- dependência financeira das autarquias locais, expresso na relação entre receitas próprias e receitas totais.

O Anuário Financeiro considera que as autarquias locais portuguesas possuem independência financeira se as suas receitas próprias representarem, pelo me- nos, 50% das suas receitas totais (a análise efetuada no Anuário Financeiro tem por base os correspondentes valores cobrados). As conclusões vertidas no refe- rido documento mostram que as autarquias locais de grande dimensão apresen- tam um grau de independência maior11, comparativamente às autarquias locais de pequena dimensão, onde esse indicador se mostra muito reduzido12. Pelo que prevemos que a variável grau de independência financeira influencie positiva- mente a probabilidade de os autarcas serem reeleitos.

Para os indicadores - grau de execução das despesas e grau de execução das re- ceitas – não conseguimos prever o sinal da relação existente entre estas variáveis e a reeleição dos autarcas.

Quanto à dimensão da dívida municipal, os resultados das investigações mos- tram-se divergentes, nomeadamente, no estudo de Ingram & Copeland (1981), as variáveis explicativas mais relevantes tomadas em consideração pelos cidadãos/ eleitores na decisão de voto encontram-se relacionadas com a dívida municipal. Pese embora os resultados obtidos no estudo desenvolvido por Brusca & Montes- inos (2006) permitirem concluir que o nível da dívida municipal não é indutor de influenciar a tomada de decisão dos cidadãos/eleitores, logo não influenciando os resultados eleitorais.

Os resultados da investigação de Brusca & Montesinos (2006) vão no sentido de que os votantes tomam em consideração a gestão do orçamento, sendo que as variáveis que se mostram mais significativas no modelo e com impacto sobre os resultados eleitorais são os índices de modificação e de realização das despesas municipais. Pelo que entendemos pertinente para a investigação incluir no mo- delo empírico a componente da dívida municipal.

58

CONTABILIDADE & GESTÃO

Para a componente da dívida municipal, a literatura académica assume que os autarcas reeleitos seguem políticas no sentido de diminuírem o nível da dívida municipal, com impacto na decisão de voto dos cidadãos/eleitores (Ingram & Copeland, 1981). Isto porque, uma diminuição da dívida municipal, contribui para o aumento da confiança dos cidadãos/eleitores sobre a gestão autárqui- ca, logo, influenciando-os na tomada de decisão sobre o seu sentido de voto, e, consequentemente, na reeleição dos autarcas.

3.2. Delimitação e desenho da investigação