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COLOCAÇÃO NO RANKING

2 Fundamentação teórico-empírica

2.1 Definições de estratégia

Precedendo a discussão sobre o processo de formação de estratégias, procurou-se esclarecer o conceito de estratégia. Pensou-se que, para analisar o fenômeno em investigação, seria importante obter essa definir. Mintzberg (2001, p. 26) reforça essa idéia ao explicar que o reconhecimento desse significado pode ajudar o pensamento neste campo difícil. Assim sendo, resgataram-se diferentes autores visando fortalecer a discussão atingindo uma definição apropriada para o alcance dos objetivos desta pesquisa.

Chandler (1998), Ansoff (1973) e Porter (1986) são autores que propõem uma abordagem prescritiva para as estratégias das empresas. Eles analisam aspectos das estratégias levando em consideração a capacidade do estrategista de prever ações internas e externas à

organização. Por pensarem que a maioria das estratégias é planejada, eles não reconhecem o seu surgimento tendendo a deixar o processo estratégico menos flexível.

Na opinião de Chandler (1998, p. 136), “estratégia é a definição dos principais objetivos em longo prazo de uma empresa, bem como a adoção de linhas de ação estratégica e a alocação de recursos tendo em vista esses objetivos”. O autor acredita que as estratégias podem ser elaboradas a partir de um pensamento de antecipação de acontecimentos. Seguindo o pensamento de Chandler (1998), Henderson (1998, p. 5) complementa, ao explicar que estratégia é um plano de ação deliberado que se desenvolve e ajusta-se à vantagem competitiva de uma empresa. O autor ainda esclarece que se busca um processo interativo iniciado com o reconhecimento das capacidades organizacionais e dos objetivos pretendidos. Nessa perspectiva, a estratégia passou a ser reconhecida como um plano, um curso de ação conscientemente engendrado numa diretriz, possuindo duas características essenciais, a preparação prévia e o desenvolvimento consciente e deliberado (MINTZBERG, 2001, p. 27).

Para Grant (1995, p. 25-26), uma boa estratégia pode ser criada a partir de quatro ingredientes. O primeiro deles é o planejamento das metas de longo prazo; o segundo é o entendimento do ambiente externo; o terceiro é o conhecimento de suas capacidades e, por fim, tem-se a implementação. Segundo o autor, este último deve ocorrer com resolução, coordenação e comprometimento.

Já Porter (1999) procurou explicar o seu significado no artigo “O que é estratégia?”. Acredita-se que uma das suas maiores contribuições nesse trabalho foi identificar a compatibilidade entre as atividades dentro das organizações gerando a vantagem competitiva. Ele definiu estratégia como sendo a criação da sinergia entre as atividades da empresa, comentando ainda, que o êxito da estratégia depende do bom desempenho de muitas atividades – e não apenas de umas poucas – e da integração entre elas (p. 73).

Há autores que vêem a noção de estratégia como algo não muito preciso, correspondendo à intangibilidade e a difícil visualização. Ohmae (1998), por exemplo, afirma: “aquilo que os gerentes acreditam ser a estratégia, nada mais é do que a ponta do iceberg. Como o iceberg, a maior parte da estratégia está submersa escondida da visão” (p.68-69). Esse sentido põe os gestores e administradores numa posição passiva, além de deixar implícito que as organizações atuam independentemente dos seres humanos. Se as estratégias são icebergs onde a maior dimensão está submersa, então - como as estratégias se formaram? Quem as elaborou?

Buscando responder a esses questionamentos, utiliza-se do que defendem Mintzberg (1978, 1998) e Andrews (2001). Para os autores, estratégia é vista como um padrão ou corrente de decisões importantes. Andrews (2001) conceitua estratégia empresarial como sendo um padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produzindo também as principais políticas e planos.

A estratégia, então, pode ser compreendida como um padrão em um fluxo de ação. Trata-se de uma consistência no comportamento das estratégias, atuando como pretendida ou não (MINTZBERG, 2001, p. 27-31). Tem-se, aqui, o conceito das estratégias como sendo planejadas e pretendidas, podendo ser buscadas e realizadas ou não-realizadas (MINTZBERG, 1978, 1998; MINTZBERG; WATERS, 1982; MINTZBERG; MCHUGH, 1985; MINTZBERG; WATERS, 1985; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). As organizações desenvolvem planos para seu futuro, estratégias pretendidas, e também adotam padrões de seu passado, estratégias realizadas (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p.18). Dentro dessa perspectiva, os autores explicam que as estratégias realizadas podem ter sua origem nas estratégias pretendidas, deliberadas.

Lança-se, aqui, uma indagação: ao longo do tempo, as estratégias poderão emergir? Esse parece ser um dos fatores-chave da discussão, pois nem sempre o que os dirigentes

executam está planejado (ver a figura 1 (2)). Visto assim, aceita-se o processo estratégico como uma ação continuada, cujos padrões estratégicos ao serem reconhecidos fazem com que o indivíduo passe a utilizá-los. Nesse caso, as estratégias emergem e ao tornarem-se realizadas são armazenadas pelos estrategistas, para que possam ser utilizadas numa próxima situação semelhante. Validando essa visão, diferentes autores sustentam a existência de padrões estratégicos originados por estratégias emergentes, a exemplo de Quinn (1978, p. 9), Miles, Snow, Meyer e Coleman (1978, p. 548), Idenburg (1993, p. 133) e Kay (1996, p. 385).

Figura 1 (2) Estratégias deliberadas e emergentes

Fonte: Adaptado de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 19)

Esclarecendo a discussão, compara-se a estratégia vista como um plano com a de um padrão. É possível perceber que uma estratégia planejada pode tornar-se realizada ou não-

realizada, diferentemente da que se tem como um padrão, por já ter sido realizada. As

estratégias deliberadas correspondem a intenções que existiam e foram realizadas, originadas de intenções. Por outro lado, as estratégias emergentes são derivadas de ações não intencionais (MINTZBERG, 2001, p. 28). A figura 1 (2) demonstra que as estratégias podem se aproximar mais de um desses tipos de estratégia, embora possam permanecer num

continuum que existe entre os dois tipos. Isso parece comprovar que raramente uma

organização terá uma versão pura de uma delas.

Chega-se à definição de estratégia que foi adotada neste estudo. Ela é um padrão num fluxo de decisões e ações, composta pelas estratégias realizadas (padrões de decisões e ações observadas no tempo), que tanto podem ter sido deliberadas (pretendidas, intencionadas) ou

Estratégia Deliberada Estratégia Pretendida Estratégia Realizada Estratégia Não-Realizada Estratégia Emergente

emergentes – padrões realizados na ausência de intenções explícitas (MINTZBERG; MCHUGH, 1985, p. 161).

Salienta-se que a definição de estratégia aqui selecionada vem apoiando diferentes estudos, formando, com isso, uma corrente de conhecimento na área da administração estratégica (MINTZBERG, 1978, 1998; MINTZBERG; WATERS, 1982; MINTZBERG; MCHUGH, 1985; MINTZBERG; WATERS, 1985; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000; MINTZBERG, 2001). Finalizada a discussão sobre o conceito de estratégia, prossegue-se com a explanação sobre o processo de formação de estratégias.