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Definições e situação actual

2 Cuidados integrados

2.1 Definições e situação actual

Antes de se definir o conceito de cuidados integrados, convêm analisar a origem da palavra integração. Assim, citando Kodner & Spreeuwenberg (2002:1), por integração entende-se “para completar” e por integrado “parte orgânica de um todo”. A integração é uma questão fulcral para a concepção e desempenho organizacionais, envolvendo a combinação de estruturas, estratégias, pessoas, processos e ferramentas. De forma a se atingirem objectivos de eficiência e qualidade no seio das organizações e sistemas é necessária a cooperação e colaboração entre as várias partes da organização (Kodner & Spreeuwenberg, 2002).

Esta abordagem é passível de aplicação ao mercado da saúde, bem como àqueles que com ele interajam. Obviamente, a integração pode não ser completa, dadas as interrupções existentes neste tipo de sistema, no entanto, poderá ser um início para a criação de sistemas mais completos e preocupados com o todo. Assim, os cuidados integrados surgem como resposta a problemas como insatisfação dos doentes, ineficiência, pouca qualidade dos serviços e fraca acessibilidade (Dias, 2005).

Segundo Jansen (2006), o conceito de cuidados integrados surgiu nos EUA no século passado e era apresentado como uma cooperação inter-sectorial entre os prestadores de cuidados de saúde (médicos) e a assistência social do sector, a fim de oferecer continuidade no atendimento às pessoas com múltiplas necessidades, tais como idosos e deficientes.

Segundo Gröne & Garcia, cuidados integrados é um “conceito que abarca os inputs, os processos, a gestão e a organização de serviços relacionados com o diagnóstico, o tratamento, os cuidados e a reabilitação para a saúde. A integração é o meio para conduzir à melhoria dos serviços no que se refere ao acesso, qualidade, satisfação dos consumidores e eficiência” (Grone & Garcia-Barbero, 2002:1).

Em Portugal, o Governo definiu cuidados integrados como o “conjunto de intervenções sequenciais de saúde e/ou de apoio social, decorrente da avaliação conjunta, centrados na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua dependência, através da sua reabilitação e reinserção familiar social.” (alínea a) do art.3.º do DL n.º 101/2006, de 6 de Junho).

No contexto internacional, os autores são unânimes. Os cuidados integrados surgiram da necessidade de (OPSS, 2008):

• Providenciar melhores serviços para apoio continuado a pessoas em situação de dependência;

• Disponibilizar serviços de reabilitação na situação pós-aguda;

• Diminuir o internamento desnecessário, o número de altas tardias, o recurso às urgências por falta de acompanhamento continuado, os re-internamentos hospitalares e o internamento de convalescença;

• Aumentar a capacidade de intervenção dos serviços de saúde e apoio social na reabilitação e promoção de autonomia e

• Planear recursos através da identificação de necessidades de cuidados específicos da população a nível regional.

Ao passo que os cuidados continuados “são aqueles que são prestados no domicílio do doente proporcionando conforto pela possibilidade de os mesmos serem efectuados por pessoal tecnicamente habilitado mas no seio da família onde tudo para o doente é grato” (Beltrão, 2001:30), os cuidados integrados surgem-nos como um conceito mais abrangente, pois contrariamente aos cuidados continuados não envolvem só a óptica do utente (quer em casa, quer no hospital) mas também todo um conjunto de conceitos como a gestão, a economia e as tecnologias da informação (Dias, 2005).

Da leitura da Figura 1 conclui-se que os cuidados integrados não são um fim em si mesmo, mas podem ser entendidos como uma forma para melhorar a qualidade dos serviços de saúde (acesso, satisfação dos utentes, eficácia e eficiência), com o objectivo global de melhorar equitativamente a saúde da população (Jansen, 2006).

Figura 1: O processo e o resultado de cuidados integrados (adaptado de (Jansen, 2006)

As características epidemiológicas, sociais e familiares da sociedade estão a mudar. Como resultado desta situação, novos grupos de doentes se evidenciam, surgindo os idosos como os maiores utilizadores dos serviços de saúde. A estes, é necessário dar uma resposta personalizada, acessível e de qualidade, de forma a promover a sua autonomia. No entanto, é cada vez mais visível a colisão existente entre a prestação de cuidados de saúde e as reais necessidades dos doentes. Sendo a prestação de cuidados continuados um direito do utente, e o apoio ao domicílio uma opção à hospitalização, é urgente tomar medidas que se traduzam em melhor acesso dos doentes aos cuidados de saúde, maior satisfação e reconhecimento dos profissionais e mais eficiência na utilização dos recursos.

A continuidade de cuidados revela-se um elemento importante na prestação de cuidados de saúde e no seio das organizações. Assim, promover os cuidados continuados integrados poderá significar, à posteriori, uma diminuição dos custos pessoais, sociais e económicos do doente, bem como da família e da própria sociedade, o que se traduzirá, claramente, em maior qualidade, eficiência e flexibilização dos recursos e dos serviços (Santana, Dias, Souza, & Rocha, 2007).

A introdução do conceito cuidados integrados implica uma remodelação das respostas existentes e a criação e descrição dos vários tipos de cuidados a prestar segundo as diferentes necessidades dos doentes. Só assim se verão cumpridos os seguintes objectivos:

• Melhorar a qualidade de vida e fomentar a inserção social e comunitária do doente, bem como o desenvolvimento de processos de valorização pessoal;

• Beneficiar e privilegiar a estadia no domicílio e no meio familiar e social;

• Cooperar com as famílias, fortalecendo as suas capacidades e competências, cedendo-lhes o apoio necessário e o acesso a ajudas técnicas adequadas;

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• Criar e impulsionar condições propiciadoras de autonomia e bem-estar, estimulando a participação dos próprios na resolução dos seus problemas.

Não obstante, os cuidados integrados devem ser vistos não apenas como uma ferramenta de gestão, mas também, e sobretudo, como um método de maior satisfação das necessidades de saúde dos indivíduos doentes, bem como de toda a população (Grone & Garcia-Barbero, 2001; Holcik & Koupilova, 2000).