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Discutir a identidade sem pensar em algumas variáveis pode nos levar a alguns erros, portanto, antes de adentrar as discussões sobre identidade profissional e identidade profissional docente, faz-se importante uma breve introdução sobre o que é identidade, de maneira mais ampla. Segundo o dicionário online de português, “identidade é o conjunto das qualidades e das características particulares de uma pessoa que torna possível sua identificação ou reconhecimento”. Essa definição da palavra sugere que identidade são as características que nos definem, podendo ser biológicas (gênero, cor, raça etc.) ou socioculturais, nosso comportamento, crenças, dentre outras.

Para Moita (1992) “a identidade pessoal é um sistema de múltiplas identidades e encontra a sua riqueza na organização dinâmica dessa diversidade” (p. 115). Assim, é possível perceber que,

ao mesmo tempo em que temos uma identidade individual e única, temos também uma identidade que é coletiva. Essa identidade é formada pela junção de vários fatores, vivências e experiências, e faz com que nos relacionemos com determinados grupos e não com outros, possibilitando, assim, o sentimento de pertencimento.

Construímos nossa identidade a partir das relações que estabelecemos com os outros, inicialmente, com nossa família, e em seguida com os espaços sociais que vão se alargando. Então, nossas interações vão nos possibilitando novas aprendizagens à medida que nos apropriamos das práticas sociais, da cultura e dos costumes.

Para Erik Erikson (1972) apud Amaral (2007) “identidade é uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo esta solidamente comprometido” (p. 05). Ainda segundo o autor, a formação da identidade recebe influência direta de três fatores principais: interpessoal, intrapessoal e cultural.

O fator interpessoal está ligado às características inatas da pessoa e às outras que ele vai adquirindo ao longo da vida; o fator intrapessoal está relacionado às identificações pessoais e relações estabelecidas entre as pessoas próximas; e, por fim, os fatores culturais envolvem as experiências, valores e aprendizagens com as quais o sujeito teve contato.

Esses três elementos são responsáveis pela construção da identidade individual e social, permitindo que o indivíduo tenha sua identidade pessoal e coletiva formada de maneira ampla e complexa. Nessa perspectiva, cada fator é parte fundamental para a construção da identidade. Esse processo de construção da identidade é formado por dualismos, pois, ao mesmo tempo em que construímos nossa individualidade e nossas características próprias que nos farão seres únicos, partilhamos uma parte desse “eu” com o outro através do convívio social, das interações e relações cotidianas. Assim, essas relações possibilitarão uma reestruturação, uma complementação identitária, e propiciarão momentos de reconhecimento, de forma que a identidade se complete e se efetive a partir das interações, em um movimento permanente, em constante construção.

Dessa maneira, a identidade não pode ser entendida como algo que em algum momento da vida estará pronta ou concluída, ao contrário, está em constante transformação, influenciada por todas as relações sociais, culturais, afetivas, educacionais etc. que vivenciamos no decorrer

nossa vida. E como essas relações socioculturais são dinâmicas, nossa identidade pode se transformar, se construir e desconstruir constantemente.

Apresentadas essas ponderações acerca da identidade, passemos para as discussões sobre a identidade profissional. Essa, visa esclarecer um pouco melhor como a construção da identidade profissional é composta pelos subsídios pessoais, da formação escolar e acadêmica e da própria profissão.

Seguindo na ideia da construção da identidade como algo que se desenvolve nas relações e nas interações, e que é organizada conforme essas relações acontecem. A identidade profissional não está desvinculada do que o sujeito é ou será, mas sim atrelada a essa concepção de elaboração e envolvimento nos processos relacionais. Um profissional passa por várias etapas de formação de sua identidade profissional ao longo da carreira. Momentos de revisão dos saberes técnicos e da reformulação afetiva, por exemplo, são algumas situações que permearão a identidade desse profissional.

Segundo Jacques (1996), a composição da identidade profissional está indissociavelmente ligada à identidade pessoal, já que a pessoa é um todo, com suas especificidades. Assim, podem ocorrer conflitos entre a personalidade pessoal construída e a profissional exigida nos locais de trabalho. Em alguns casos, a identidade profissional pode ser idealizada a partir de experiências pessoais e da formação acadêmica, podendo entrar em conflito com situações que não atingiram o idealizado.

A profissão que exercemos no dia-a-dia, e que consome muito do nosso tempo e energia, é parte importante de quem somos e, portanto, não conseguimos separar completamente nossa vida pessoal da profissional. Nossas experiências, vivências, valores e crenças vão dizer muito sobre nossa identidade e sobre o tipo de profissional que nos tornamos.

O meio social e cultural no qual o sujeito cresce e se relaciona também é fator elementar na formação da identidade, ao mesmo tempo em que a maneira como ele se relaciona com tudo isso fará com que cada pessoa tenha uma experiência única e particular.

Assim, autores como Jacques (1996) e Dubar (1997) preferem não dissociar a identidade individual da coletiva, já que, para que essa identidade seja formada, o sujeito precisa passar por associações internas e externas, relacionando experiências entre si, além de compreender as relações estabelecidas entre os outros indivíduos e instituições. Dubar (1997) ainda

acrescenta a importância das abordagens culturais e econômicas no processo de construção da identidade profissional dos professores.

A identidade profissional, assim como a identidade pessoal, tem uma relação de características específicas que permite tanto a pessoa quanto o profissional diferenciarem-se no coletivo. Apesar dessas características próprias serem o que distingue uma pessoa da outra, elas são formadas e construídas no meio social, através das relações e do convívio.

A construção da identidade profissional sofrerá alterações conforme o indivíduo se relaciona com as pessoas e com as instituições, transformando-se ao longo do tempo e durante toda vida. O profissional organiza-se e faz, mesmo que de maneira inconsciente, uma seleção de comportamentos e condutas que deseja seguir, eliminando aquelas que julgar menos importantes.

Naturalmente, damos enfoque a características e aspectos identitários que consideramos, naquele momento, mais importantes e próximos do que acreditamos ser ideal. Aos poucos vamos consolidando uma base identitária profissional que nos permite transmitir aos nossos pares a imagem a que gostaríamos de ser reconhecidos. Construir e estruturar uma identidade profissional baseada em nossas experiências, faz com que nossa postura diante da carreira seja mais assertiva, transmitindo a todos mais credibilidade do nosso trabalho.