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Definindo as Variáveis de Controle

4.4 Um Modelo Empírico para a Mudança Estrutural

4.4.1 Definindo as Variáveis de Controle

Por definição, as variáveis de controle são aquelas mantidas constantes na estimação, i.e; aquelas as quais seu impacto deve ser removido de forma a se obter a relação entre a variável de interesse e a explicada sem sua potencial interferência. A escolha das variáveis de controle se torna um tema crítico à medida que a variável explicativa não é estritamente exógena e, tampouco, aleatoriamente distribuída ao longo das unidades de análise (neste caso, países). Este é, de fato, o caso da taxa de câmbio real. Estritamente correlacionada com uma série de outras variáveis macroeconômicas, estruturais e mesmo institucionais das economias, é fácil supor que a taxa de câmbio esteja fazendo o papel de proxy para alguma variável omitida, o que levaria a um viés na estimação.

Dessa forma, a fim de evitar a interferência de variáveis omitidas – mas correlacionadas com a variável explicativa – no parâmetro estimado, é preciso identificar aquelas que podem estar canalizando sua interferência sobre a estrutura produtiva através do câmbio real. Esta escolha, todavia, implica em difíceis (e frágeis) julgamentos acerca da causalidade das relações.

A primeira variável de controle para a estimação, portanto, é o grau de abertura da economia (OPENK). O simples fato de que a mudança estrutural é medida através de dados da balança comercial dos países, já tornaria esta uma importante variável na estimação, já que controla para seus efeitos sobre a balança comercial que possam estar espelhados nos indicadores de estrutura produtiva construídos. No entanto, na medida em que o grau de abertura da economia é uma importante variável na explicação da taxa de crescimento do produto, determinando ainda o volume dos fluxos internacionais de comércio e

divisas e, com efeito, o câmbio nominal, em última instância a taxa de câmbio real poderia funcionar como uma proxy para estes efeitos do grau de abertura sobre a estrutura produtiva (embora uma proxy não tão boa, como demonstram análises de correlação entre as variáveis). Neste caso, a equação (45) funcionaria como a equação reduzida da estimação que incluísse OPENK.

Em relação às variáveis relacionadas ao setor externo das economias que poderiam estar canalizando algum efeito através da variável cambial, ressalta-se, além do OPENK: (i) o déficit externo de um país (DEBT); (ii) o ajustamento dos termos de troca (TOTad); e (iii) o investimento direto estrangeiro (FDI). Por definição, o endividamento externo tem influência direta sobre o câmbio nominal e, por consequência, no câmbio real, sobretudo em sua expressão de longo prazo, já que o endividamento é variável relevante na determinação do preço do câmbio nos mercados de futuros. Da mesma forma, o endividamento influencia as decisões de investimento tanto do governo como os agentes internos e externos em uma economia, afetando, dessa forma, a estrutura produtiva. Igualmente, a omissão da série evolutiva de ajustamento dos termos de troca (TOTad) poderia, por hipótese, dotar a variável cambial de um poder explicativo que não é unicamente seu, na medida em que esta variável pode ser importante para explicar tanto o crescimento do produto como a taxa de câmbio real.

Ainda em relação às variáveis do setor externo, incluímos entre os controles o investimento direto estrangeiro (FDI) pela óbvia relação entre este e o crescimento dos setores beneficiados (em detrimento dos demais) e pelo fato de que se pode afirmar a existência de uma causalidade mútua entre a taxa de câmbio nominal e a entrada destes recursos (sobretudo entre a manifestação de longo prazo do câmbio – nível cambial – e o FDI)59.

59 Como se pode esperar, no entanto, estas variáveis determinadas no setor externo das economias apresentam algum grau de correlação umas com as outras, o que pode provocar endogeneidade na estimação. Não obstante, considerando algum grau de correlação entre estas variáveis, podemos supor que a equação reduzida do modelo considere apenas uma destas variáveis, a qual funciona com uma proxy para as demais.

Em termos das variáveis estruturais da economia e que eventualmente podem ser importantes controles nas estimações, poderíamos elencar: (i) o investimento total da economia (KI) 60; e a (ii) estrutura produtiva inicial (EPt). A primeira vista, KI

poderia ser descartado das nossas estimações, na medida em que a causalidade entre o câmbio real e o investimento é, sobretudo, advinda do primeiro para o segundo. Não obstante, é possível supor que o investimento agregado possa afetar o câmbio real, uma vez que funciona como um elemento da demanda agregada e, assim, pode interferir na determinação do câmbio nominal no curto prazo e na taxa de câmbio real e termos de troca no longo prazo (quando se materializa nova capacidade produtiva). A inclusão da estrutura produtiva inicial como variável de controle se justifica pela possibilidade teórica de que haja convergência ou um ponto de steady state para a estrutura produtiva de um país. Esta pode ser decorrente da hipótese de convergência de crescimento entre os diversos países, tratada à exaustão na literatura de crescimento. Uma vez válida esta hipótese, sua não mensuração poderia implicar em um viés de subestimação do efeito da variável cambial na mudança estrutural, já que países com estrutura produtiva em steady state (ou próxima) não seriam impactados (ou teriam menor elasticidade aos movimentos cambiais).

Recentemente, conforme propõe Gala (2008), parte da literatura econômica tem tentado relacionar variáveis macroeconômicas de curto prazo ao crescimento do produto no longo prazo. Tendo em vista que o crescimento de longo prazo é aqui assumido como uma função da elasticidade-renda da demanda da produção nacional e sendo esta determinada pela estrutura produtiva da economia, algumas dessas variáveis poderiam, eventualmente, fazer sentido nas estimações propostas. É o caso, por exemplo, da (i) taxa de inflação da economia (INFL); e

60 Como supusemos, a mudança estrutural é tão somente uma face da reorganização produtiva da economia, determinada em primeira ordem pela da taxa de investimento setorial líquida. Na ausência de informações acerca do investimento setorial para o período e países em análise, todavia, podemos assumir KI como proxy. É fato, entretanto, que a característica do investimento que procuramos observar (sua distribuição) é amplamente prejudicada pela ausência dessa informação desagregada, podendo esta variável ser amplamente rejeitada em termos de significância estatística nas estimações.

da (ii) taxa de juros real (R)61. Considerando-se, por um lado, a depreciação da

moeda um indicador de estabilidade macroeconômica e, dessa forma, um elemento importante para a condução do investimento produtivo na economia, e sabendo, por outro lado, que INFL apresenta óbvia relação com a taxa de câmbio nominal (em verdade, relação esta mais no sentido da segunda para a primeira, embora, por construção, a taxa de câmbio real seja o câmbio nominal descontado da inflação), é justificada a inclusão da variável na estimação. Por sua vez, a inclusão da taxa de juros como variável de controle é ainda mais controversa. Na medida em que a taxa de juros nominal é aceita na literatura como o custo de oportunidade do investimento (embora em uma circunstância teórica específica) fica patente sua relação com a mudança estrutural. Por outro lado, enquanto o “custo de oportunidade de retenção da moeda”, a taxa de juros também é impactada por um mesmo fator que afeta a taxa de câmbio nominal: a política monetária do governo. Neste sentido, pode-se supor que a omissão dessa variável poderia determinar algum viés no parâmetro do câmbio real no caso de países que adotarem políticas monetárias ativas.

Com relação às variáveis institucionais que podem afetar a estrutura produtiva das economias, como o sistema de crédito local, o sistema de inovação, o capital humano, o grau de empreendedorismo e a infraestrutura física dos diversos setores, não há motivos teóricos para se supor qualquer interação no sentido destas para com a variável cambial (embora a recíproca seja usualmente falsa), de forma que é descartada a possibilidade de que sua inclusão possa afetar os parâmetros estimados (exceto no caso de a variável incluída causar endogeneidade na estimação por decorrência da sua interação com outras variáveis de controle utilizadas. Este seria provavelmente o caso para a maioria destas variáveis com relação ao indicador da estrutura produtiva inicial).

61 Considerando-se as mesmas hipóteses para a inclusão do investimento agregado como um importante fator de controle nas estimações, poderíamos supor a capacidade de utilização da economia (gap do produto) também relevante. Na medida, contudo, que este apresenta forte correlação com a taxa de inflação, em economias fechadas, e que este fator é controlado pelo grau de abertura da economia, variável também incluída em algumas estimações, podemos supor que seu efeito seja proxiado por outros elementos de controle das estimações.