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4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 Delimitação do corpus

A pesquisa se realizou com alunos de 9° ano, em uma instituição municipal 10 Apesar de nossa pesquisa ser qualitativa, quando necessário, para referendar nossos achados, recorreremos a dados quantitativos.

regular situada no bairro Pirambu. A escola se localiza na periferia de Fortaleza / Ceará, onde há elevada incidência de tráfico de drogas e prostituição e, por consequência, a violência. Além desse fator comum a outros bairros periféricos na capital, existe a característica de ser próxima ao litoral (Vila do Mar), fator que algumas vezes afasta os alunos da escola devido à prática de surf ou a necessidade de pescar para ajudar no sustento familiar.

A turma é constituída por 30 alunos, sendo 12 do sexo feminino e 18 do masculino. Os alunos frequentam as aulas de forma, relativamente, assídua durante a semana. A faixa etária dos discentes está compreendida entre 14 e 20 anos. O aluno que apresenta distorção idade/série é uma pessoa com deficiência intelectual. O desenvolvimento cognitivo é comprometido, uma vez que sua idade cronológica não corresponde à idade mental, e para que estabeleça a socialização, é preciso que ele mantenha contato com os “pares mais próximos a sua idade”, no caso, os alunos de 9 ° ano. A maioria da turma é constituída por alunos que frequentam a escola pública desde os primeiros anos escolares, todavia só passaram a fazer parte do corpo discente dessa escola no sétimo ano, porque a instituição só oferecia turmas a partir da referida série. A partir do ano de 2018, a escola incorporou três turmas de 6°ano, completando assim a oferta para o ensino fundamental II.

Os estudantes são moradores das circunvizinhanças e a maioria pertence a famílias de baixo poder aquisitivo, fato comprovado através de observações particulares (alguns precisam trabalhar para ajudar na manutenção familiar) e da constatação de participação em projetos sociais como o bolsa-família, por exemplo.

Apesar das dificuldades sociais, os participantes, em grande parte, têm relação afetiva com bairro onde residem. Um dos motivos é por sempre terem vivido no local; o outro, devido à permanência desde crianças, é o conhecimento das peculiaridades da vizinhança.

Dois alunos iniciaram a proposta de intervenção, mas saíram da escola. Uma foi aprovada no Instituto Federal do Ceará/IFCE e o outro foi transferido devido à mudança de residência. O aluno com necessidades especiais (NEE11) teve participação restrita nos módulos devido as suas dificuldades e ausência às aulas, porém em nenhum momento o discente foi ignorado ou excluído e sempre que presente participava das aulas oralmente ou fazendo parte dos grupos quando solicitado.

A escola estava passando por algumas reformas e não foi possível aplicar algumas

11 O termo NEE é utilizado para definir indivíduos com necessidades educativas especiais, independentemente de que os problemas sejam do tipo sensorial, físico, intelectual e emocional ou decorrente de dificuldades cognitivas de aprendizagem.

atividades fora da sala de aula. Consequentemente, as ações aconteceram dentro de sala em seu horário regular das 7h às 11h. Vale frisar, que, mesmo dentro de sala, para cada atividade houve uma dinâmica motivacional a fim de propiciar a participação e integração de todos.

A proposta da sequência foi dividida em onze módulos, vinte atividades aplicadas em 16 (dezesseis) encontros de 01(uma) ou 02 (duas) horas/aulas semanais, totalizando 22 (vinte e duas) horas/aulas, de um semestre do ano letivo de 2019. Durante os encontros, houve faltas; assim, para análise dos dados, não foram consideradas as produções dos faltosos. Todavia, a falta de participação integral de doze discentes12 não implica que não houve progresso ou aprendizagem.

Dos doze alunos, ausentes em algum dos módulos, seis não quiseram colaborar com a escrita das produções, contudo, curiosamente, por vezes participaram dos debates, dos trabalhos em grupos, enfim de atividades que não exigiam a escrita, mas a expressão oral. Isto, com certeza causou inquietações que não soubemos minimizar. Os demais alunos participaram dos módulos, de maneira alternada, e produziram textos. No entanto, não consideramos oportuno analisar suas produções como fizemos com os participantes do corpus, porque não houve a participação integral nas aulas de produção e intervenção da sequência.

Para o desenvolvimento da proposta, quinze alunos participaram de todos os módulos da sequência didática, gerando assim dados que podem ser julgados como adequados. Entretanto, escolhemos, aleatoriamente, apenas dez para realizar uma análise mais minuciosa.

Então, para fins desta dissertação, a amostra coletada foi de 10 produções iniciais, 10 produções intermediárias e 10 produções finais, totalizando um corpus de 30 textos (cf. Anexo A). Cada grupo de produção foi nomeada como P1, P2, ... até P10, com sua respectiva identificação, inicial, intermediária e final.

Acentuamos ainda que, para resguardar a segurança dos participantes, o projeto deste trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, consoante o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE: 19917919.6.0000.5054 (cf. Apêndice Q) e, para respaldar a participação dos alunos, recolhemos às devidas autorizações de pais, alunos e gestão escolar.

Para ratificar a distribuição dos alunos nas atividades, apresentamos o gráfico.

12 Os alunos participaram de boa parte dos módulos, mas faltaram a alguns ou deixaram de escrever alguma das produções. Entretanto, houve avaliação no encerramento da sequência e os depoimentos de aprendizagem foram relevantes e puderam ser constatados em outras disciplinas, conforme relatos de colegas docentes.

Gráfico 1 – Distribuição dos alunos da turma segundo a SD

Fonte: Secretaria Municipal de Administração de Horizonte (2009, p. 101).

A fim de visualizar os títulos das produções analisadas, elaboramos o quadro, que expõe a escolha dos alunos em cada módulo de produção textual.

Quadro 4 – Títulos das produções textuais PRODUÇÕES

TÍTULO INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

P1 Não tenha medo e

denuncie.

Quem cala consente. Quem cala consente.

P2 A violência contra mulher é crime. A violência contra mulher. A violência contra a mulher no Brasil. P3 A mulher também é um ser humano.

A mulher tem o direito de se defender.

Por que o homem pratica feminicídio?

P4 Mulheres ainda escravas. As mulheres merecem sim mais que os homens.

As mulheres sofrem mais que os homens.

P5 Violência doméstica: a cada 17 minutos uma mulher é agredida.

Agredir uma mulher é inaceitável, um ato doentio.

Seria a base da violência doméstica a falta de educação sobre o assunto?

P6 A violência doméstica infantil.

Agressão doméstica. Crises do feminicídio.

P7 Amor agressivo. Agressão contra mulher. Agressão no amor. P8 O número de agressão a

mulher aumenta.

Mulher recebe grave agressão pelos homens.

Por que agredir a mulher?

P9 Sem título. A dor do silêncio. A justiça brasileira contribui indiretamente na violência contra as mulheres.

P10 Agressão contra idosos. Violência não é só física! Violência não é só física!

Tendo sido o corpus delimitado, passamos agora a discorrer sobre os procedimentos adotados para a análise das produções textuais.