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5 ANÁLISE DE DADOS

5.3 Operadores argumentativos

Como anteriormente mencionado, demos ênfase aos pressupostos de Koch e Elias (2017 a) e Koch (2018) para alicerçar a análise, no que tange à articulação, das produções que

fazem parte desta pesquisa. Para tanto, recorremos a dois tópicos: operadores argumentativos e articuladores discursivos argumentativos.

Os articuladores, também chamados de operadores, assim afirmam Koch e Elias (2017 a, p. 132) encadeiam, e determinam a orientação argumentativa do enunciado que introduzem. Portanto, consideramos, para efeito de investigação dos textos do corpus da pesquisa, que os articuladores e operadores são complementares e/ou equivalentes. A fim de esclarecer a expressão a qual nos reportaremos, optamos pela nomenclatura operadores argumentativos.

Sobre os operadores argumentativos, observamos (ver Quadro 3) que o item três (deixam subtendida a existência de uma escala com outros argumentos mais fortes) e o dez (funcionam numa escala orientada para afirmação ou para negação da totalidade) não fazem correlação com os articuladores, assim como não há equivalência entre os operadores para a relação de correção/redefinição e comprovação dos articuladores discursivos argumentativos. Contudo, essas ponderações não serão entraves para nossa análise.

Os operadores argumentativos estão dispostos em dez divisões. Analisamos a recorrência dos operadores nos textos das produções inicial, intermediária e final dos aprendizes e constamos os seguintes operadores.

Quadro 14 – Operadores argumentativos encontrados nas produções

Fonte: elaborado pela autora.

OPERADORES ENCONTRADOS NAS PRODUÇÕES

Produções Inicial Intermediária Final

P1 e, ou. Mas, e, pois, ou. Mas, e, ou, pois.

P2 e, mas, pois. Mas, como, e, até mesmo e, como, já,

P3 porque, mas, por causa do, até mesmo, e.

e, porque, mas, nem, até, por causa do, então.

E, por isso, pois, por causa do, nem,

P4 mais do que, por isso, até mesmo, e, ou, mesmo.

Ou, já que, e, é igual a, mas, até mesmo, como, ao menos.

Ou, e, como, até, mas, além de, tudo

P5 e, ou, até mesmo. E, até, porém, porque. Mas também, pois, e, ou,

P6 como, mas, mesmo assim

ou, e, até, porque, por isso, também.

Ou, por causa de, e, então.

P7 porque, pois, e, ou pois, e, também. Pois, ou, até, e.

P8 porque, por isso, ou por causa de, já, ou, ainda. Porque, e, por isso, já, ou.

P9 porém, e, ainda. Porém, e, ainda, até, como, apesar da.

Porém, e, ainda, apesar da

Quadro 15 – Tipos de operadores argumentativos encontrados nas produções

Fonte: elaborado pela autora

Estabelecendo uma relação contrastiva e cronológica de acordo com a numeração, podemos verificar que, no operador tipo um, há predominância em quase todos os textos do modificador que adiciona em favor do argumento “e”, demostrando que os autores recorrem a esse recurso como forma de unir argumentos que indicam uma conclusão. Além deste, foram observados os operadores também, ainda, além de e, mas também.

Exemplo 55: “...ajudando não somente a si mesmas mas também ajudando outras mulheres ao inspirá-las a querer mudar sua atual situação de violência e abuso.” P5 final.

Tipos de operadores argumentativos Operadores iniciais Operadores intermediários Operadores finais 1. Somam argumentos a favor de

uma mesma conclusão

E. E, também, ainda. E, além de, mas também.

2. Indicam o argumento mais forte de uma escala a favor de uma determinada conclusão.

Até mesmo. Até mesmo, nem, até.

Nem, até.

3. Deixam subtendida a existência

de uma escala com outros

argumentos mais fortes

4. Contrapõem argumentos

orientados para conclusões

contrárias.

Mas, porém, mesmo,

mesmo assim.

Mas, porém. Mas, porém.

5. Introduzem uma conclusão com relação a argumentos apresentados em enunciados anteriores.

Por causa de, pois, por isso.

Pois, por causa do, então.

Pois, por isso, por causa do, então.

6. Introduzem uma justificativa ou explicação relativamente ao enunciado anterior

Porque, como. Como, porque, já que.

Como, porque.

7. Estabelecem relação de

comparação entre elementos

visando uma determinada

conclusão

Mais do que. É igual a.

8. Introduzem argumentos

alternativos que levam a

conclusões diferentes ou opostas

ou ou ou

9. Introduzem no enunciado conteúdo pressupostos

Ainda. Já, ainda. Já, ainda.

10. Funcionam numa escala

orientada para afirmação da totalidade ou para a negação da totalidade

No que se refere ao operador do tipo dois, que indica o argumento mais forte de uma escala favorecendo a conclusão, percebemos a recorrência de até, nem e até mesmo. Exemplo 56: “...pois de uma simples agressão verbal chega até a morte.” P7 final

Um aspecto interessante foi perceber que, somente em uma produção. foi percebido o operador que “deixa subtendida a existência de uma escala com outros argumentos mais fortes”, ou seja, que podem ser iniciados por ao menos, no mínimo. Tal recurso não se revelou comum ao conhecimento dos aprendizes.

Exemplo 57: “... ou ao menos falar nada já que antigamente isso era normal na sociedade...” P4 intermediária.

Diferentemente, o recurso que contrapõe argumentos para uma posição contrária revelou outros dados. Como os alunos queriam discordar da posição em que a mulher é agredida dentro do próprio lar e grande parte por seus companheiros, foi necessária a discordância para sobrepor suas ideias ou expor seus argumentos contrários. Entretanto, dois foram mais utilizados: mas e porém, e operadores distintos mesmo e mesmo assim assumiram a mesma relevância no texto dos alunos.

Exemplo 58: “Mesmo sendo uma cidadã os direitos que os homens recebe tem que ser o mesmo aplicado na mulher...” P4 inicial.

Em relação ao tipo cinco, que se refere à introdução de uma conclusão com relação a argumentos apresentados em enunciados anteriores, a presença marcante de pois, por isso e por causa de é inegável. Contudo, evidenciamos o uso do então nessa categoria. O operador funcionou para exprimir a mesma condição dos demais.

Exemplo 59: “..., então ligue para 180 e vamos parar com este crime horrível que é o feminicidio.” P6 final.

A justificativa ou exemplificação foi comprovada através dos operadores como, porque e já que na maioria das produções. Destacamos o trecho que foi encontrado em apenas um texto.

Exemplo 60: “...elas não podiam falar da opinião ou ao menos falar nada já que antigamente isso era normal na sociedade...” P4 intermediária.

O estabelecimento da comparação foi salientado na produção inicial e intermediária, inclusive do mesmo autor, demonstrando assim que sua percepção sobre os operadores argumentativos foi produtiva, apesar de suas produções não terem sido tão significativas em outros aspectos analisados.

Exemplo 61: “... mesmo a mulher se esforçando o dobro por dia a mais do que o homem, por exemplo sendo dona de casa... P4 inicial.

Exemplo 62: “... isso é igual a uma prisão domiciliar sem a mulher ter direito a nada somente a obedecer seu companheiro... P4 intermediária.

A introdução de argumentos que levam a conclusões distintas ou contrária foi representada pelo ou em todas as produções. Não houve tentativa de mudança de repertório para esse tipo de operador.

Exemplo 63: “Caso você sofra esse tipo de violência, perca o medo e ligue para o 180 ou procure a Casa da mulher brasileira... P1 inicial.

Para o tipo nove, que diz respeito à introdução no enunciado de conteúdo pressupostos, dois operadores foram detectados: ainda e já. Em pequena quantidade, os aprendizes ora utilizavam ainda como somatório de argumentos a serviço de uma mesma conclusão, ora principiavam conteúdos hipotéticos. Da mesma forma, deu-se com o operador já, que, algumas vezes, foi delimitador de tempo e não exerceu a função de introdutor de enunciado.

Exemplo 64: “... apesar da justiça brasileira ser lenta e falha, ela ainda é o único recurso que temos, acredite o silencio não é a melhor solução. P9 inicial.

Exemplo 65: “...ela já acontece a anos e só tem aumentado durante os últimos anos. P2 final. O último operador argumentativo, tipo dez, atua na escala orientada para afirmação ou negação da totalidade. A priori, não detectamos nenhum exemplar, todavia mais uma vez o autor do texto quatro surpreendeu e citou um operador desse tipo.

Exemplo 66: “...isso pode causar um problema mental na vítima se achar incapaz ou que ela precisa do companheiro para tudo o que deve fazer... P4 final.

O operador tudo assume a função de afirmação da totalidade. O autor tentou expressar a relação de dependência que a mulher tem em relação ao companheiro quando esta não trabalha ou não tem autonomia para tomar suas próprias decisões ou é impedida de fazer tais coisas.

Ainda convém frisar que, mesmo considerando os articuladores discursivos argumentativos correspondentes na maioria dos aspectos em relação aos operadores argumentativos, encontramos alguns termos que fazem parte apenas do contexto dos articuladores.

Operadores como, ou seja, isto é, foram encontrados nas produções P3 final, P4 intermediária, P6 intermediária e P9 inicial e final. São considerados, consoante Koch e Elias (2017 a) articuladores de correção/redefinição, embora compreendam as duas possibilidades. Nos textos analisados, o intuito foi reforçar o comprometimento com o que fora dito anteriormente, como forma de legitimar o enunciado.

Outra expressão encontrada nas produções P2 intermediária, P3 inicial e intermediária, P4 inicial, P10 inicial foi por exemplo, que, como os articuladores discursivos, funcionam como exemplificador de uma declaração. Verificamos que o objetivo dos articulistas foi realmente dar ênfase à explicação para fundamentar seus argumentos.

Diante dos dados analisados, consideramos procedente o desenvolvimento da habilidade de utilizar operadores argumentativos em textos como o artigo de opinião, uma vez que, desde a produção inicial, foi percebida uma apropriação contínua dos operadores.