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CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO: BÚSSOLA DA AÇÃO GERENCIAL

2.2 Delimitando o conceito de avaliação

“O processo de avaliação disciplinada permeia todas as áreas do pensamento e da prática (...) Encontra-se em resenhas de livros acadêmicos, nos procedimentos do controle de qualidade da engenharia, nos diálogos socráticos, na crítica social e moral, na matemática e nas opiniões dadas pelos tribunais de apelação (...). É o processo cujo dever é a determinação sistemática e objetiva de mérito, propriedade ou valor. Sem esse processo, não há como distinguir o que tem valor do que não tem”. 30

O ato de avaliar é algo tão presente em nosso cotidiano que o realizamos certamente dezenas ou mesmo centenas de vezes num único dia e muitas vezes nem nos apercebemos de que estamos a fazê-lo. Quando acordamos e escolhemos o alimento com o qual realizaremos nosso desjejum em verdade já iniciamos uma avaliação, quando antes mesmo, olhamos ainda deitados o relógio e decidimos se podemos ficar mais alguns minutos na cama, já estamos realizando avaliação e assim poderíamos citar diversas outras situações nas quais nos deparamos com a avaliação como algo interessante e necessário.

Por outro lado, a dimensão com a qual pretendemos realizar nossas observações trata da avaliação sistematizada, revestida da maior objetividade possível. Não queremos, contudo, afirmar ser a avaliação uma disciplina neutra31 ao

contrário a entendemos como tomadora de posição na determinação de valores e

30 Scriven (1991) Apud. WORTTHEN, Blaine R., SANDERS, James R., FITZPATRICK, Jody L.;

Tradução Dinah de Abreu Azevedo. Avaliação de Programas: concepções e práticas. São Paulo: Gente, 2004, p.56.

31 Essa questão da ausência de neutralidade das avaliações em algumas circunstâncias configura-se

como motivo de especial atenção ARRETCHE ao tratar do tema alertava: “não existe possibilidade de que qualquer modalidade de avaliação ou análise de políticas públicas possa ser apenas instrumental, técnica ou neutra. Nesta perspectiva, qualquer linha de abordagem das políticas públicas supõe, de parte do analista, um conjunto de princípios cuja demonstração é, no limite, impossível, dado que corresponde a opções valorativas pessoais. Neste sentido, o uso adequado dos instrumentos de análise e avaliação é fundamental para que não se confunda opções pessoais com resultados de pesquisa”. ARRETCHE, Marta T. S. TENDÊNCIAS NO ESTUDO SOBRE AVALIAÇÃO. In: RICO, Elizabeth Melo (Org.). AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS: UMA QUESTÃO EM

méritos, algo frequentemente utilizado para embasar decisões. No mesmo sentido, Sobrinho32 ao dissertar sobre a conceituação de Hernest House assim concluiu:

“...a avaliação não é neutra, nem é simplesmente uma descrição. Ela emite julgamentos e determina o valor, não de forma aleatória, mas de acordo com critérios apropriados. Tem, portanto, uma racionalidade; segue uma metodologia e deve explicar e justificar suas opções e resultados, pois tem interesse público, da sociedade em geral, como instrumento da democratização das decisões.”

Diversos estudiosos focaram suas atenções no tema avaliação sob

vários aspectos conceituais, uns dando ênfase à avaliação de instituições educacionais, alguns no controle de qualidade, tomada de decisão, formação de cultura organizacional e tantos outros. Assim, a conceituação da avaliação varia em alguns aspectos de autor para autor. Não nos arriscamos a dizer qual seja a melhor definição até porque acreditamos que cada uma tem sua utilidade, e sendo assim, não há a definição melhor em todos os contextos. Todavia, aquela com a qual mais nos identificamos foi a de Hernest House33 que assim definiu:

“A avaliação se define normalmente como a determinação do valor de algo; em nosso caso, dos programas, políticas e pessoal educacionais, julgados de acordo com critérios apropriados que hão de ser, por sua vez, explicados e justificados. No melhor dos casos, a avaliação dos programas sociais e educacionais aspira a ser uma instituição para a democratização das decisões públicas, tornando possível que os programas e as políticas estejam mais abertos ao escrutínio e à deliberação públicos. Neste, sentido, a avaliação deveria servir aos interesses não só dos patrocinadores, senão também da sociedade nos diferentes grupos que compreende.

32 SOBRINHO, José Dias. AVALIAÇÂO: Políticas Educacionais e reformas da Educação Superior.

São Paulo: Cortez, 2003, p.48-49.

33 SOBRINHO, José Dias. AVALIAÇÂO: Políticas Educacionais e reformas da Educação Superior.

Porém, obviamente, a avaliação nem sempre cumpriu estas nobres aspirações”.

Nas observações de House está explícito o moderno princípio da

Accountability tanto do ponto de vista daqueles que o entendem no sentido da

responsabilização, como da transparência que deve permear as ações dos responsáveis pelas políticas públicas.

E dizemos que o princípio da Accountability é moderno não como referência temporal que se diria sobre o que é novo, mas como algo avançado. transparência e responsabilização – transparência no trato de coisas alheias, no sentido de dar satisfação – responsabilidade pelo que se fez ou se faz.

Entendemos importante observar que House reafirma uma das definições de Scriven quando descreve que “A avaliação se define normalmente como a determinação do valor de algo”.

É oportuno atentar para o fato de que uma avaliação devidamente realizada tende a promover a justiça, pois quando o valor de algo é corretamente determinado, cria a possibilidade de se tratar desigualmente os desiguais, o que configura uma das faces do princípio da igualdade.

Outros conceitos também interessantes podem trazer como elemento central o uso para o qual as avaliações se destinam, mas como não objetivamos esgotar todos os aspectos conceituais, entendemos que os principais sentidos das avaliações serão devidamente tratados nos tópicos seguintes deste trabalho.