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CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO: BÚSSOLA DA AÇÃO GERENCIAL

2.3 Motivos/objetivos para implementação de avaliação sistêmica

“Os estudos de avaliação de políticas e programas governamentais permitem que formuladores e implementadores sejam capazes de, objetivamente, tomar decisões com maior qualidade, maximizando o gasto público nas diversas atividades objeto da intervenção estatal, identificando e superando pontos de estrangulamentos e êxito

dos programas, e, por conseqüência abrir perspectivas racionais para implementar políticas públicas dotadas de maior capacidade de alcançar os resultados desejados pelos formuladores no plano da operacionalidade dos programas e políticas públicas, em qualquer área de competência do governo.” 34

Poderíamos destacar como principais motivos para a implementação de uma avaliação sistêmica os seguintes:

Dotar os tomadores de decisões com as informações necessárias para a escolha das melhores políticas ou mesmo mudança naquelas já em curso, proporcionando a capacidade de intervenção racional nos meios envolvidos no atingimento dos fins;

aprimorar o sistema de aprendizagem organizacional35; afirmar valores.

A atividade de avaliar traz consigo a característica de constituir-se em valiosa oportunidade de formação do conhecimento organizacional, inclusive de detectar e corrigir seus erros, como sugeriu Calmon36. Diante do que, entendemos como verdadeira incúria sua ausência na gerência de programas ou mesmo projetos na Administração Pública. Há na avaliação a possibilidade de se pensar no desenvolvimento organizacional. Repensar conceitos, realinhar atitudes, procedimentos, projetar avanços, reforçar conquistas e reafirmar bandeiras.

A necessidade, ou melhor, a chance de se conhecer de fato as comunidades, mormente aquelas menos privilegiadas de determinado sistema social

34 NEPP, UNICAMP. Modelo de Avaliação de Programas Sociais Prioritários: Relatório Final.

Campinas, NEPP. UNICAMP, 1999, p.37.

35 CALMON, Kátia Maria Nasiaseni. Avaliação de Programas e a Dinâmica da Aprendizagem

Organizacional. Revista Planejamento e Políticas Públicas, n.19, Brasília: IPEA, junho de 1999, p4. “Entenda-se por aprendizagem organizacional ‘o processo de detectar e corrigir erros’. Tal definição atribuída a Chris Argyris (1982) relaciona o processo de aprendizagem à capacidade da organização de buscar, sistematicamente, formas mais apropriadas para solucionar seus problemas e, assim, incrementar sua eficácia e sua eficiência”.

36 Ver CALMON, Kátia Maria Nasiaseni. Avaliação de Programas e a Dinâmica da Aprendizagem

e a partir daí poder ofertar-lhe os serviços públicos a exemplo de serviços na área da educação, na medida e qualidade mais apropriadas, nos leva a pensar o quanto a avaliação estruturada (sistêmica) poderia contribuir nesse prodigioso feito.

A avaliação permite, dentre outras coisas, que possamos, a partir do diagnóstico de determinada realidade ou situação, tomar a decisão que se apresente mais adequada. E nesse contexto, imaginemos quantos agentes públicos ou mesmo nós cidadãos comuns, em nosso cotidiano, não tomamos decisões que posteriormente mostram-se tão inadequadas por pura e simples falta de uma avaliação estruturada.

Ao tratar das funções das avaliações Belloni, Magalhães e Sousa37 assim asseveraram:

“O outro objetivo – oferecer subsídio para a tomada de decisão – refere-se tanto à continuidade da política examinada, quanto a ajustes ou reformulação de suas ações, em face dos objetivos da própria política e/ou os dos setores atingidos. A formulação de subsídios para a tomada de decisão é endereçada principalmente aos setores governamentais, mas oferece também, aos demais envolvidos, elementos para suas próprias definições e estratégias.”

Destarte, resta-nos a idéia que via de regra decide melhor quem dispõe de maiores informações sobre os elementos que compõem uma determinada política (considerando, iguais os demais aspectos à disposição dos tomadores de decisão). E nesse sentido um adequado sistema de avaliação pode desempenhar a contento esse mister.

Por fim, temos o terceiro motivo qual seja, o de afirmar valores organizacionais. O professor Ristoff38 ao dissertar sobre os objetivos da avaliação institucional brilhantemente expõe da seguinte forma:

37 BELLONI, Isaura, MAGALHÃES, Heitor de, SOUSA, Luzia Costa de. Metodologia de Avaliação: Em

“A palavra avaliação contém a palavra 'valor' e, por isso mesmo, não podemos fugir dessa concepção valorativa. Quando dizemos que avaliar tem a função de (a)firmar valores, estamos dizendo também que negamos a suposta neutralidade do instrumento e do processo de avaliação para admitir que eles são sempre resultado de uma concepção impregnada de valores, sejam eles científico-técnicos, didático-pedagógicos, atitudinais, éticos, políticos, ou outro. Assim que, quando por exemplo, organizamos um instrumento de avaliação do desempenho docente, e este instrumento põe perguntas, há sempre um valor desejado e indesejado subjacente a cada uma destas perguntas. Quando perguntamos, por exemplo, se o professor apresentou plano de ensino, estamos na verdade afirmando que apresentar plano de ensino é desejável. Quando perguntamos se o professor cumpriu o plano de ensino estamos de fato afirmando que cumprir o plano de ensino é desejável. Quando perguntamos se o professor foi assíduo e pontual, estamos, sem dúvida, afirmando que assiduidade e pontualidade são os valores que prezamos. Estas são formas mais escancaradas de apresentar o que muitas vezes se disfarça, se insinua e se espalha como neutro, mas a avaliação não é neutra como não é neutra e desinteressada a linguagem.”

Assim, como as sobreditas palavras destacamos a importância e a oportunidade da reafirmação de valores como forma de desarticular comportamentos e atitudes indesejáveis ou principalmente reforçar aqueles almejados pela instituição e/ou seus atores.

Ao apresentarmos os motivos pelos quais acreditamos ser a avaliação algo indispensável na Administração seja pública ou privada, seja na indústria ou na prefeitura de uma pequena cidade, não queremos absolutamente dizer que a avaliação é a cura de todos os males e nem que não há sérias dificuldades na institucionalização da cultura da avaliação. Até mesmo porque, não são raras

38 RISTOFF, Dilvo I. Avaliação institucional: pensando princípios. In: BALZAN, Newton Cezar e

SOBRINHO, José Dias (orgs.). Avaliação Institucional: teoria e experiências. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p.46.

situações em que os processos avaliatórios criaram algum tipo de constrangimento, principalmente quando atrelados a regimes de conseqüências. Mas no mesmo sentido do que Simon a seguir expôs, entendemos ser preferível enfrentar as dificuldades que possam advir da atividade de avaliar que ficar à margem de seus benefícios.

Ao dissertar sobre “As avaliações de nova geração” Simon39, assim expressou:

“Não é que as avaliações consigam atender a todas as questões que preocupam; mas os problemas associados às avaliações parecem ser claramente preferíveis aos problemas associados à sua não existência, como a falta de parâmetros, a ausência de critérios, os desperdícios e injustiças na distribuição de recursos e a impossibilidade de estabelecer políticas consistentes para sistemas de educação de massa.”

Diante dessa ausência de avaliação40 permite-se que serviços públicos sejam prestados em quantidades e especificações inadequadas. A ausência de avaliação ocasiona a falta de respostas a perguntas do tipo:

- Será que a qualidade e quantidade dos serviços estão compatíveis com os desejos e aspirações do público alvo?

- Qual os motivos que estão influenciando negativamente o desempenho da gestão?

- A eficiência, eficácia e efetividade estão sendo atingidas?

- Os recursos empregados são suficientes para o atingimento dos objetivos?

- Qual o padrão que desejamos para os serviços recebidos e prestados?

39 SOUZA, Alberto de Mello e (organizador). Dimensões da Avaliação Educacional. Petrópolis, Vozes,

2005, p.31.

40 Doravante quando tratarmos de ausência de avaliação estaremos a fazê-lo considerando o sentido

Estas e outras questões tão ou mais importantes podem ser respondidas por um adequado sistema de avaliação.