Delineamento da Pesquisa

O delineamento de uma pesquisa expõe, numa dimensão mais ampla, seu desenvolvimento, focalizando os procedimentos técnicos de coleta e análise dos dados. Este trabalho caracterizou-se pela associação de três métodos de investigação: o estudo de caso, a pesquisa documental e o survey ou levantamento.

Pode ser classificado como estudo de caso por estudar o fenômeno no contexto da UFBA, já que esse método, na definição de Yin (2005, p. 32), “[...] investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real [...]”. Na visão de Gil (2002), caracteriza-se por estudar com profundidade, mas de forma a permitir o conhecimento amplo e, ao mesmo tempo, detalhado de uma pessoa, um grupo, uma instituição, um evento etc. Estando inserida na comunidade, em contato direto com o ambiente e seus docentes, discentes e técnicos, a identificação de práticas, comportamentos e rotinas com ênfase qualitativa foram favorecidos, possibilitando a percepção da cultura institucional em relação ao tema.

O uso da pesquisa documental como um dos métodos de investigação utilizados justifica-se pela exploração de fontes documentais, sobretudo na própria UFBA, sem tratamento analítico: leis, estatutos, regimentos, resoluções, portarias etc. Segundo Gil (2002, p. 47), a importância de usar documentos como base de uma pesquisa deve-se ao fato de que permitem visualização mais ampla do problema, podendo ainda indicar hipóteses capazes de conduzir a uma verificação por outros meios. Nesse sentido é que se buscou levantar e analisar essa documentação, tendo como marco histórico a Reforma Universitária de 1968.

A associação do método de survey à pesquisa pareceu muito indicada ao problema e foi relacionada à necessidade de se conhecer o posicionamento da população sobre o fenômeno, bem como ao caráter descritivo da pesquisa. Para Babbie (2005, p. 96):

Surveys são frequentemente realizados para permitir enunciados descritivos sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos. Nestes, o pesquisador não se preocupa com o porquê da distribuição observada existir, mas com o que ela é.

Essa técnica é bastante utilizada em pesquisas na área de Ciências Sociais Aplicadas, mas serve também a pesquisadores de outros campos. Diversas formas de coleta de dados, a exemplo de envio de correspondências, entrevista pessoal e contato telefônico, podem ser usadas com a técnica survey, e, atualmente, a técnica tem se valido das TIC. Além disso, a coleta e a quantificação de dados tornam-se fontes de informação permanentes.

3.2.1.1 Procedimentos de coleta de dados

A pesquisa foi dividida em quatro etapas. A primeira delas consistiu na localização dos documentos da UFBA, da CAPES e do CNPq que fazem referência à comunicação da produção científica. A técnica de coleta utilizada foi a observação indireta, acompanhada de anotações cursivas, como instrumento de coleta. Dessa forma, buscou-se:

contatar a Secretaria dos Órgãos Colegiados Superiores (SOC), para ter acesso ao Regimento Geral, ao Estatuto, aos regimentos e resoluções dos conselhos superiores, e com a Secretaria do Gabinete do Reitor, para ter acesso às portarias;

levantar, na Seção Memória da UFBA, na Biblioteca Reitor Macêdo Costa, registros de documentos que contenham resultados de pesquisas desenvolvidas na Instituição;

localizar, nos sites dos programas de pós-graduação da UFBA, documentos que orientem a forma de se comunicar a produção científica, bem como documentos que indiquem estímulo à publicação;

localizar critérios – especificamente os relacionados à comunicação da produção científica – de avaliação de propostas de pesquisadores e programas para financiamento nos documentos da Fapesb, da CAPES e do CNPq.

Para desenvolver a segunda etapa da pesquisa empírica, utilizou-se como técnica de coleta a aplicação de questionários e a observação sistemática. Buscou- se levantar se os pesquisadores da UFBA conhecem o Movimento de Acesso Livre à Informação Científica e se fazem uso de periódicos de acesso aberto para a comunicação de seus resultados de pesquisa, dentre outros aspectos. Num primeiro momento foi definida a amostra, caracterizada como não-probabilística, com critério de escolha intencional. O critério de seleção da amostra foi a identificação de pesquisadores que são obrigados a publicar regularmente e em periódicos qualificados. Foi constituída por pesquisadores da UFBA, bolsistas de Produtividade em Pesquisa do CNPq, das categorias Sênior e 1, distribuídos entre os níveis A, B, C e D. Para tanto, levantou-se, na Plataforma Carlos Chagas, em mapa de investimentos, no dia 7 de abril de 2009, o número total de pesquisadores-bolsistas da UFBA, excluindo-se os pesquisadores de categoria 2.

Posteriormente, um questionário foi construído e um pré-teste aplicado com pesquisadores-bolsistas não constituintes da amostra. Após os ajustes no instrumento de coleta e término da localização dos endereços eletrônicos dos pesquisadores, procedeu-se ao envio, renovado semanalmente, para os respondentes que recebiam o questionário e não o retornavam. Para esta etapa da pesquisa foi utilizado o software SurveyMonkey.

Buscando confrontar as respostas obtidas nos questionários, na terceira etapa, realizou-se um levantamento do total de artigos produzidos pelos pesquisadores da amostra, bem como dos títulos de periódicos utilizados por eles para a publicação dos resultados de suas pesquisas, considerando-se os últimos cinco anos (2004-2008). A observação sistemática foi definida como técnica de coleta desta etapa. Para tanto, foi construído um formulário único para se arrolar os títulos por área e identificá-los quanto ao modelo de negócio adotado.

Utilizou-se como fonte o Currículo Lattes dos pesquisadores que constituíam a amostra. Dentre os periódicos levantados, buscou-se verificar quais utilizavam o modelo acesso aberto, acessando os sites dos periódicos científicos on-line isolados e de repositórios de periódicos em rede, como o PubMed Central, o BioMed Central, Scielo, Public Library Science, editores privados como Elsevier, Wiley etc.

Na quarta etapa da pesquisa, foram realizadas 19 entrevistas com membros das instâncias superiores responsáveis pela pesquisa e pelo ensino de pós- graduação na UFBA-PRPPG e Câmara de Pós-Graduação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – bem como pelos membros do Conselho Editorial da Edufba. Na PRPPG foram entrevistados, além do Pró-Reitor, o Coordenador de Pesquisa e o Coordenador de Ensino de Pós-Graduação. Na Câmara, dos dez titulares, nove foram entrevistados com exceção do Pró-Reitor, entrevistado anteriormente. Dos sete componentes do Conselho Editorial da Edufba, apenas um titular não foi entrevistado, por estar afastado para estágio pós-doutoral; em seu lugar, foi entrevistado o suplente.

O roteiro, semiestruturado e composto de cinco questões abertas, foi aplicado individualmente e pessoalmente no mês de agosto de 2009, mediante agendamento prévio, após localização e contato com os entrevistados. Foi desenvolvido e seguido com o propósito de identificar as políticas existentes na universidade voltadas para a comunicação da produção científica e verificar se conheciam e como se posicionavam a respeito do acesso livre à informação científica.

3.2.1.2 Procedimentos de tratamento e análise dos dados

O esquema de análise dos documentos levantados na primeira etapa envolveu basicamente duas fases. De posse do Estatuto, regimentos, resoluções e portarias, procedeu-se ao agrupamento do material, observando-se a aproximação temática entre os documentos: o primeiro grupo analisa as regulamentações gerais, pois, com base nelas, toda a estrutura de funcionamento da universidade foi estabelecida; o segundo verifica o condicionamento da produtividade à progressão funcional; o terceiro analisa as resoluções mais recentes sobre o regime de trabalho dos docentes; o quarto aborda resoluções que trata da admissão e da alocação de vagas para docentes; o quinto examina a instituição da Comissão Permanente de

Pessoal Docente (CPPD) e da Gratificação de Estímulo à Docência (GED); o sexto refere-se a determinações de resoluções de estímulo ao aprimoramento profissional tantode técnicos quanto de docentes; e o último considera o apoio financeiro a docentes e discentes, para participação em eventos.

Em seguida fez-se uma leitura, buscando identificar a relação com a comunicação da produção científica, destacando-se desses documentos trechos considerados relevantes para a análise. Esta segunda fase aplicou-se também aos documentos levantados na Seção Memória da UFBA, na Biblioteca Reitor Macêdo Costa, nos sites dos programas de pós-graduação e nos critérios das agências de pesquisa e pós-graduação, especificamente nos critérios dos comitês de assessoramento e temáticos do CNPq e nos critérios do quesito 4 da nova ficha de avaliação das comissões de área da CAPES.

O esquema de análise da segunda etapa envolveu a realização de um perfil da amostra e análise quantitativa e qualitativa dos dados levantados, já que o instrumento foi composto por dez questões, sendo oito fechadas e duas abertas. Foram formuladas categorias de análise para questões abertas e realizado cálculo de médias, frequências e percentuais com o auxílio de um estatístico.

Para a análise dos dados coletados na terceira etapa, foi feita uma lista com as referências transcritas diretamente do Currículo Lattes de cada pesquisador, organizando-as por área e por pesquisador dentro de cada área. Em seguida, as páginas dos periódicos foram visitadas para identificação dos modelos de negócio adotados e preenchimento do formulário para contagem. Numa fase posterior, procedeu-se ao cálculo de médias, frequências e percentuais.

Para tratar e analisar os dados obtidos na quarta etapa, por meio das entrevistas, o primeiro passo foi realizar a transcrição. Em seguida, após leitura do material, procedeu-se à seleção de trechos considerados relevantes e destaque de pontos comuns à maioria das falas, associando análise quantitativa e qualitativa. Optou-se pela utilização de técnicas simplificadas e pela inferência na análise das falas dos entrevistados.