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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A técnica escolhida para direcionar a pesquisa, esteve intimamente ligada ao tipo de questão de estudo que o trabalho buscou responder. Quanto à natureza, propôs-se uma pesquisa aplicada, já que este tipo de pesquisa parte de estudos teóricos que geram conhecimentos para a aplicação prática (GIL, 2010).

O problema de pesquisa foi abordado de maneira qualitativa, devido as suas características peculiares, como a consideração do subjetivo, do indutivo, bem como a busca pela interpretação e a decodificação dos sentidos inseridos no fenômeno estudado. Para Portela (2004), a pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização.

A pesquisa realizada foi classificada quanto ao atendimento dos objetivos como sendo de caráter exploratório. Esta classificação considera que, buscou-se se familiarizar com o fenômeno, obter novas percepções e descobrir novas ideias. As pesquisas exploratórias têm como características principais, a flexibilidade, a criatividade e a informalidade, mas com o objetivo primordial de proporcionar maior familiaridade com o problema, com a finalidade de torná-lo mais explícito para o aprimoramento de ideias (GIL, 2002).

A pesquisa do ponto de vista dos procedimentos técnicos foi definida como estudo de caso e desenvolveu-se na UFSM. A escolha do estudo de caso é coerente em razão de tratar-se de pesquisa exploratória que evidenciou acontecimentos contemporâneos reais, não envolvendo controle ou manejo de eventos (YIN, 2010).

Assim, entendeu-se que o estudo de caso era o método mais adequado para a pesquisa, tendo em vista os objetivos propostos de identificar a influência de fatores políticos e fatores de racionalidade no processo decisório de alocação de

recursos na PRA, diante de um cenário de escassez financeira vivenciado no exercício financeiro de 2015 na UFSM.

O estudo limitou-se a analisar o processo decisório no sentido de identificar a influência de fatores de racionalidade e fatores políticos nas decisões de alocação de recursos financeiros de custeio e de investimentos. As fases posteriores ao processo decisório estudado que correspondem aos estágios da despesa pública relativos à emissão de empenhos, liquidação e pagamento das despesas não foram objetos de análise nessa pesquisa.

Para o estudo, utilizou-se o modelo de tomada de decisão proposto por Allison (1971), atualizado por Allison e Zelikov (1999), como quadro teórico de referência, que segundo os autores analisa o processo decisório em três perspectivas, a racional, a organizacional e a política. Para Schwenk (1988), as perspectivas utilizadas por Allison (1971) são formas comuns, úteis e aceitas pelos pesquisadores para a compreensão dessas perspectivas fundamentais nas decisões organizacionais. A seguir, o Quadro 2 mostra os fatores de racionalidade utilizados no estudo, os autores e as definições teóricas.

Quadro 2 - Categorias de análise sobre racionalidade

FATORES AUTOR DEFINIÇÃO

Escolha racional

Allison e Zelikow (1999).

Schwenk (1988).

Ação com base em: objetivos claros, informação pertinente; análise de alternativas e consequências; estratégias formuladas, conscientemente, pelos gestores; na adaptação dos meios aos fins pretendidos, de modo eficiente no alcance das metas organizacionais.

Racionalidade burocrática Weber (1979); Kalberg (1980); Miller, Hickson e Wilson (1996); Morgan (1996).

Ação fundamentada em padrões racionais de meio e fim na resposta de problemas, tendo como meta proporcionar o máximo de eficiência, apoiada em regras, leis e regulamentos de caráter universal, respeitando a legalidade e a impessoalidade nas ações.

Racionalidade limitada March e Simon (1981); Simon (1979); Butler (1992); Eisenhardt e Zbaracki (1992); Allison e Zelikow (1999).

Ação baseada na fragmentação da informação e do conhecimento de todas as variáveis da situação que requer a ação; na imperfeição de prever todas as consequências; impraticabilidade de prever todas as alternativas, inclusive, por questões físicas e biológicas; os objetivos não são totalmente alcançados e a escolha não é a ótima, mas é a mais adequada ou satisfatória.

Estrutura e processos organizacionais Allison (1971); Allison e Zelikow (1999); Schwenk (1988).

Decisões como produto da estrutura, de processos e programas organizacionais, envolvendo procedimentos, regras e rotinas organizacionais, e não como uma escolha deliberada.

A seguir, o Quadro 3 apresenta os fatores políticos usados na pesquisa, os autores e as definições teóricas.

Quadro 3 - Categorias de análise sobre política

FATORES AUTOR DEFINIÇÃO

Negociação

Allison (1971); Allison e Zelikow (1999); Mintzberg (1985).

Decisões podem resultar de negociações, barganhas e manobras de convencimento.

Poder Allison e Zelikow (1999); Arrow (1974); Pfeffer, Salancik e Leblebici (1976); Dean e Sharfman (1993); Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976); Hills e Mahoney (1978); Pfeffer e Moore (1980); Pfeffer e Slancik (1974); Morgan (1996).

Ação baseada na habilidade do decisor em influenciar escolhas, individualmente ou coletivamente resultantes, predominantemente, da barganha. As fontes podem ser: autoridade formal; controle sobre recursos escassos; fatores estruturais, regras e regulamentos; controle do conhecimento e da informação; controle da tecnologia e alianças. Conflito Allison e Zelikow (1999); Eisenhardt e Zbaracki (1992); Pfeffer (1992); Schwenk (1995); Pereira e De Toni (2002).

Problema pode ser visto de diferentes ângulos ou pontos de vista; convicções e preferências moldadas de acordo com a subunidade de lotação do indivíduo; discordância sobre objetivos e meios; perspectivas de análise de uma situação relacionada com a área de domínio do indivíduo.

Coalizão Eisenhardt e Bourgeois (1988); Eisenhardt e Zbaracki (1992); Butler (1991); Pereira e De Toni (2002).

Aliança formada entre pessoas ou grupos em torno de uma oportunidade, ponto de vista ou problema.

Interesses Anastassopoulos et al. (1991); Allison e Zelikow (1999); Eisenhardt e Zbaracki (1992); Mintzberg (1985).

Decisões com base em: negociações, acordos e barganhas privilegiando demandas pessoais e organizacionais; influência hierárquica nas decisões visando aos interesses dos decisores, e metas e preferências individuais que podem determinar decisões, ações e concordância por parte dos indivíduos.

Influência externa

Allison e Zelikow (1999); Braga (1987).

Aspectos externos à organização e ao processo decisório, por vezes, conflitantes, entre si, podem influenciar as decisões.

Fonte: base teórico-empírica.

Neste trabalho, fatores organizacionais foram considerados como fatores de racionalidade, pois, partiu-se do pressuposto que estruturas e processos organizacionais são alicerçadas em padrões racionais. Alisson e Zelikow (1999), também, associaram o modelo organizacional ao modelo racional. Para Selznick

(1967, p. 31), “a organização formal constitui a expressão estrutural da ação racional”. Morgan (1996) afirmou que, muito frequentemente, a estrutura organizacional, as regras, os regulamentos e os procedimentos são vistos como instrumentos racionais. A noção de organização burocrática de Weber (1982), e o conceito de racionalidade formal de Kalberg (1980) a ela inerente autorizariam tratar fatores organizacionais do processo decisório como fatores de racionalidade.

As categorias analíticas propostas para o estudo tiveram o objetivo de indicar caminhos para a coleta e análise dos dados obtidos em relação às definições teóricas de cada um dos fatores pesquisados, permitindo a apuração dos resultados.