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2 DECISÃO, PROCESSO DECISÓRIO, RACIONALIDADE E POLÍTICA NAS

2.4 MODELOS DE ANÁLISE DO PROCESSO DECISÓRIO

2.4.3 O modelo decisório político

O processo decisório nas organizações nem sempre ocorre de forma racional. Assim, as decisões tomadas podem não ser fruto da racionalidade ou de regras e preceitos estabelecidos, supostamente racionais, isto é, o conceito de racional para um indivíduo ou grupo pode não ser para os outros ou mesmo para a organização (ZEY, 1992). No modelo político, considera-se as pessoas, individualmente racionais, porém não coletivamente. As organizações são vistas como sistemas políticos, em que os indivíduos são motivados por desejos e aspirações, tanto individuais quanto

nos rumos da organização. Esta situação pode ser influenciada pela posição pessoal, ambições e interesses particulares (EISENHARDT e ZBARACKI, 1992).

O modelo político estaria relacionado, portanto, com pessoas que, de alguma forma, exerceriam influência sobre as decisões, motivadas por interesses pessoais ou grupais dentro de limites aparentemente ordenados aos objetivos organizacionais. Dean e Sharfman (1996) observaram que os interesses se manifestam nas decisões dependendo da posição formal ou funcional, hierárquica e pessoal dos agentes.

No ponto de vista deste modelo, predominariam nas organizações a cooptação, a manipulação de informações, negociações, preferências e interesses dos agentes, incerteza das consequências, conflito, poder e as coalizões (ALLISON, 1971). As preferências, neste modelo, não versariam sobre recursos tecnológicos e sofreriam influência da hierarquia e dos interesses dos tomadores de decisão (EISENHARDT e ZBARACKI, 1992).

Os problemas organizacionais são acompanhados de desacordos, entre os participantes, sobre as estratégias a serem adotadas, pois as pessoas envolvidas possuem, naturalmente, diferenças e percepções distintas e desempenham papéis que tendem a nortear a atenção do problema, relacionando-o a sua área de domínio (ALLISON e ZELIKOW, 1999).

Assim, o modelo político de Allison e Zelikow (1999), caracteriza-se pela existência de vários atores, competindo em um jogo político, no qual as decisões são vistas como resultados de processos de barganha, de acordo com várias concepções de objetivos organizacionais e pessoais, e que as decisões não são escolhas simplesmente racionais e sim originárias de manobras de convencimento (BIN e CASTOR, 2007).

Portanto, o modelo político fundamenta-se nas negociações e nas coalizões, entre os grupos envolvidos, no processo decisório (SILVA, 1989). Assim, as negociações e as coalizões objetivariam formar um poder dominante e influenciar ou decretar a decisão final. A negociação poderia, também, ter como objetivo a solução de conflitos (EISENHARDT e ZBARACKI, 1992). As divergências no processo decisório tendem a substituir decisões racionais por barganhas, pressões e relações que envolvem poder, substituindo decisões claras e objetivas por decisões baseadas em metas e interesses subjetivos (DRENTH eKOOPMAN, 1992).

A negociação é a forma como indivíduos, grupos ou organizações definem os esforços a serem dispendidos para realizar alguma coisa, por meio de acordos sobre o que, como, quando e onde fazer (BRAGA, 1987). Allison e Zelikow (1999) avaliam que a ideia nem sempre permanece a mesma e que decisões em grupos podem produzir resultados diferentes dos planejados antes da associação. No modelo racional, a qualidade das decisões é medida pelos seus resultados enquanto que no modelo político ela está relacionada à vitória dos indivíduos em suas disputas (EISENHARDT e ZBARACKI, 1992).

Pereira e De Toni (2002) enfatizaram, como características do modelo político, as coalizões, os conflitos e as competições entre as pessoas, pois um mesmo problema pode ser visto de diferentes ângulos ou pontos de vista. Os autores entenderam que estas características presentes nas negociações são importantes para o processo de tomada de decisão, pois desenvolvem aspectos como habilidade, poder, capacidade de persuasão e convencimento e sensibilidade dos decisores.

O termo coalizão, além da correlação associativa pode significar, também, aliança na disputa entre pessoas ou grupos. Butler (1991) ilustrou a situação, utilizando-se de uma situação hipotética em que A auxilia B contra C, em uma determinada conjuntura, com o compromisso de B auxiliar A em outra situação.

No modelo político, as decisões estariam relacionadas ao uso do poder, com predomínio de interesses pessoais, manipulação de informações e barganhas (MILLER, HICKSON e WILSON, 1996). Conforme Crozier (1981) haveria, também, o poder oriundo da experiência ou da habilidade pessoal em executar determinada atividade e o poder inerente ao cargo ou função. Para Morgan (1996), as principais fontes de poder nas organizações são: autoridade formal; controle sobre recursos escassos; fatores estruturais, regras e regulamentos; controle do conhecimento e da informação; controle da tecnologia e alianças.

A cooptação é definida por Selznick (1971) como sendo, o procedimento de aquisição de novos ingredientes na liderança ou nas decisões políticas de uma organização, com o intuito de impedir intimidações a sua sobrevivência. O autor ressalva que este processo pode ser revestido de legitimidade. Neste caso, o poder seria distribuído nos níveis hierárquicos ou sem legitimidade, havendo duas formas de cooptação: a formal, com a necessidade de legitimar a autoridade ou torná-la

acessível ao seu público; e a informal, sujeita ao ajustamento quanto às pressões de centros de poder.

A questão política na tomada de decisão é analisada em duas dimensões: (i) com relação aos comportamentos internos de indivíduos e grupos participantes do processo decisório buscando informações, escolhendo um caminho de ação, barganhando por uma alternativa e esclarecendo direcionamentos para chegar a uma decisão e justificá-la; (ii) referindo-se a aspectos externos, mas que podem afetá-lo, como contexto, estrutura organizacional, tecnologias, governo, políticas governamentais e alocação de poder (BRAGA, 1987). Para a autora, as negociações não são dirigidas apenas pelos agentes envolvidos diretamente no processo, mas, também, por extensas indagações da organização e da sociedade. As coalizões são formadas com o intuito de produzir uma ação desejada e podem incluir vários elementos externos à organização (ALLISON e ZELIKOW, 1999).