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A presente pesquisa tem como objeto discutir como a intolerância política no ciberespaço, mais especificamente no Facebook, a partir de comentários de leitores em matérias jornalísticas na referida rede social digital. Como espaço público, esta rede social digital vem sendo utilizada para a disseminação de discursos intolerantes , que em muitos 32 casos evidenciam o discurso do ódio, verificado nos comentários em feeds de notícias e fanpages pessoais.

De acordo com dados do Central Nacional de Crimes Cibernéticos (SAFERNET, 2016), nos últimos anos ocorreu um aumento expressivo nas denúncias de crimes de ódio, cometidos no ciberespaço. A maioria destes crimes vem ocorrendo na rede social digital mais popular do mundo no momento, o Facebook . No Brasil, em quinto no ranking geral, mas o 33 mais frequentado entre as redes sociais digitais, segundo o sítio Alexa (serviço de Internet da 34 Amazon, que mede o número de visitas em um sítio na internet determinando um ranking dos endereços eletrônicos mais visitados na web).

Como já destacado, dos vários tipos de intolerância identificados na rede (Dossíê comunica q Muda, 2006, p. 06), a que aparece em segundo lugar, logo atr[as do racismo, [e em relação à política. Constata-se facilmente, que a partir do período eleitoral de 2014, a polarização ideológica se acirrou elevando os ânimos, tanto da classe política, quanto do eleitorado. Possivelmente, um período da história do país, no qual mais se discutiu política, mas infelizmente também registrou o aumento da intolerância política.

Com uma vasta área ainda a ser explorada, os estudos centrados no ciberespaço e nas redes sociais digitais, encontram dificuldades e enfrentam desafios, na utilização de um método apropriado, em relação à compreensão das dinâmicas sociais e culturais próprias deste objeto. Dificuldades, como o consentimento dos sujeitos envolvidos na pesquisa, ou questões relacionadas aos aspectos públicos e privados, das informações obtidas, se tornam problemáticas quando tratadas a partir do ciberespaço.

• Jornal da USP, 23/05/2016: O perfil da intolerância ideológica no Brasil 32

https://www.lifewire.com/top-social-networking-sites-people-are-using-3486554 33

http://www.alexa.com/topsites/countries/BR 34

Em princípio, a opção inicial era realizar uma pesquisa netnográfica, ou seja, a utilização do método etnográfico no ciberespaço, no entanto, problemas apontados por autores da área da Antropologia (TAFARELLO, 2013, p. 05) influenciaram na alteração do método, além de dificuldades próprias do ambiente estudado.

O principais problemas seriam, a confiabilidade nos dados devido a falta das interações face a face, pois, “supostamente se perderiam de vista certos modos de interação não redutíveis àquelas interações no ciberespaço (em termos de limitação gestual, entonação de voz, entre outras, se comparados com espaços offline)” (SEGATA, 2008, não paginado). Também, a alteração na noção de espaço, característica do ciberespaço, que consequentemente também altera a noção de campo, já que o meio constitui um fenômeno mundialmente distribuído. Na atualidade, as comunidades virtuais inauguram um campo de interações mediado por computadores, desterritorializado e sem limites geográficos (HINE, 2005).

No entanto, outras formas de pesquisar as redes sociais digitais se apresentam pois, além disto, de acordo com Fragoso et al (2015: 19): “não existem fórmulas prontas para fazer pesquisa: cada problema, cada método, cada amostragem e tratamento dos dados deve ser encarada como uma construção única, que pode servir de ensinamento e inspiração, mas nunca como um receituário pronto a ser seguido”.

Outro ponto a ser levado em conta é que, como trata-se de uma pesquisa, em sua maior parte, de caráter qualitativo, é necessário considerar a complexidade inerente desta para a obtenção de resultados pautados em probabilidades e medidas obtidas nas demais ciências, como as exatas e as naturais.

De acordo com Rauen (2015, p. 531):

a medida do que é verdadeiro em ciência humanas é diferente daquela que se obtém em ciências naturais, porque se faz necessário aceitar vontades e valores de pesquisadores e de sujeitos de pesquisa. O que se pode obter em ciências humanas são tendências e não leis determinísticas, de modo que o que se conclui em ciências humanas não pode ser encarado como absoluto ou definitivo, mas aproximativo. Tendo em vista estas questões, optou-se pelo método de Análise de Redes Sociais. A análise de Redes Sociais (ARS) possibilita o estudo multidisciplinar dos padrões das relações sociais. De acordo com Souza e Quandt (2008), a sua principal vantagem é a possibilidade de uma apresentação gráfica e quantitativa de teorias baseadas em conceitos sociais. O objetivo da ARS é observar a interação entre os atores (comentaristas das

manchetes) dentro de uma rede (portal notícias facebook), o que possibilita uma visão da estrutura da mesma.

Recuero (1999) destaca que a ARS on line tenta focar-se em ‘unidades de análise’ específicas como: relações (caracterizadas por conteúdo, direção e força), laços sociais (que conectam pares de atores através de uma ou mais relações), multiplexidade (quanto mais relações um laço social possui, maior a sua multiplexidade) e composição do laço social (capital social derivado dos atributos individuais dos atores envolvidos).

Outra vantagem do uso da ARS em ambiente digital é que ela:

permite perceber a estrutura das redes e quantificar, por exemplo, o quão próximos entre si são os atores (indivíduos ou organizações) participantes da rede (grau de conexão dos nós) e quem são os atores com mais conexões (nós mega conectados, os chamados hubs) . 35

A partir desta exposição, segue o detalhamento da pesquisa:

A análise do objeto desta pesquisa leva em conta a dinâmica da realidade das redes sociais digitais, procurando compreender os fatos sociais envolvidos no estudo, como as influências culturais e políticas que levaram aos resultados obtidos.

Em relação ao método, como meio técnico de investigação, este estudo procurou combinar três métodos. No entanto, para a coleta de dados, foi utilizado o método observacional. Por último, a pesquisa também possui características de um estudo comparativo, pois propõe-se “descobrir relação empírica entre variáveis”. Neste sentido, objetiva-se relacionar variáveis como, “comentário intolerânte em fanpage de notícias” e político seguido no Facebook.

O método comparativo configura-se no tipo de raciocínio pelo qual “podemos descobrir regularidades, perceber deslocamentos e transformações, construir modelos e tipologias, identificando continuidades e descontinuidades, semelhanças e diferenças, e explicitando as determinações mais gerais que regem os fenômenos sociais” (SCHMITT; SCHNEIDER, 1998, P. 47).

A partir da classificação de vários tipos de menções de ódio e intolerância no ciberespaço, optou-se pelo tipo político, uma vez que se trata do maior tipo identificado pelo

Revista Comunicando, Vem e traz um problema... de investigação! Os recursos e as soluções teórico-

35

“Dossiê da Intolerância: visíveis e invisíveis no mundo digital” . De acordo com o dossiê, a 36 intolerância de maior incidência no Brasil é a política, com quase 220 mil menções.

Também justifica-se esta escolha devido ao contexto de polarização política que o país vive desde o período eleitoral de 2014. A diferença pequena entre os candidatos no resultado do pleito acirrou a polarização e aumentou a agressividade no debate e no confronto ideológico.

Não mais importante, é a revisão sistemática em base de dados, procurando estabelecer parâmetros para a pesquisa, assim como conhecendo a produção acadêmica sobre, ou próxima ao tema proposto.

4. 1 O Estado da arte sobre a intolerância política nas redes sociais digitais

A partir do acesso a bancos de dados com publicações acadêmicas, foi possível o acesso a uma série de artigos pertinentes ao tema. O levantamento bibliográfico realizado serviu de base para a revisão da literatura acerca do tema pesquisado .

Com o objetivo de familiarização com o tema, a partir dos propósitos da pesquisa, a revisão de literatura realizada requereu uma reflexão crítica sobre o tema. A partir de então, foi possível verificar as contradições entre os autores, identificando assim as abordagens de maior interesse para o estudo o que, em consequência, levou ao estabelecimento de uma abordagem teórica adequada e capaz de fundamentar o trabalho (GIL, 2007, p.13).

Ao realizar o estado da arte sobre a intolerância política nas redes sociais digitais, foi possível identificar o que já se publicou sobre o tema, norteando o andamento da presente pesquisa. A revisão também serviu para indicar as lacunas existentes, demandando o aprofundamento destas questões.

Como trata-se de tema pouco pesquisado e atual, optou-se pelo espaço de três anos na coleta dos artigos. Neste sentido, foram pesquisados artigos de 2014 a 2017. As bases de dados pesquisadas foram: SCIELO; PERIÓDICOS CAPES; GOOGLE ACADÊMICO

e MUSE.

Desta forma, o total de resultados gerais, encontrados segue na tabela abaixo:

http://www.conexaopublica.com.br/wp-content/uploads/2016/08/dossie_intolerancia.pdf) 36

Quadro 1 - Bases de dados consultadas e resultados identificados

Fonte: elaborado pelo autor (2017).

A sistemática para a exploração dos artigos coletados foi chegar por aproximação ao tema e objeto desta pesquisa, intolerância nas redes sociais digitais. Como trata-se de tema ainda pouco explorado, optou-se por mais de um descritor com diferentes temas norteadores. Como descritores principais e aproximados com o objeto da pesquisa, optou-se por três:

CIBERATIVISMO NAS REDES SOCIAIS/CYBERACTIVISM IN THE SOCIAL