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2. A CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS NAS AUTARQUIAS LOCAIS

2.1. Demonstrações financeiras consolidadas e separadas

A aprovação do Plano Oficial de Contas do Setor Público (POCP), através do Decreto-Lei n.º 232/97, não criou os princípios e normas orientadoras subjacentes à consolidação de contas no âmbito do setor público, encontrando-se os vários planos de contabilidade dispersos e não homogeneizados.

O Plano Oficial de Contas (POC) substituiu o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de julho, tal como aconteceu com o POCP, pelo Sistema Público de Normalização Contabilística (SPNC). Segundo as Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público, o processo de prestação de contas engloba apresentação das demonstrações financeiras, as suas componentes e o relato financeiro e implica a adaptação deste normativo.

A partir da data da publicação da portaria 474/2010, os procedimentos e requisitos das normas de consolidação de contas para o setor público e as constantes do SNC ─ Sistema de Normalização Contabilística são semelhantes ou iguais, nomeadamente ao nível dos princípios contabilísticos, identificação das entidades que constituem o grupo e do conceito de controlo.

A Lei 2/2007, de 15 de janeiro que aprovou a Lei das Finanças Locais e revogou a Lei n.º 42/98, de 6 de agosto, no seu artigo 46.º, menciona que os municípios que detenham serviços municipalizados ou a totalidade do capital de entidades do setor empresarial local, devem proceder à elaboração de contas consolidadas:

1. “ Sem prejuízo dos documentos de prestação de contas previstos na lei, as contas dos municípios que detenham serviços municipalizados ou a totalidade do capital de entidades do sector empresarial local devem incluir as contas consolidadas, apresentando a consolidação do balanço e da demonstração de resultados com os respectivos anexos explicativos, incluindo, nomeadamente, os saldos e fluxos

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financeiros entre as entidades alvo de consolidação e o mapa de endividamento consolidado de médio e longo prazo.”

2. “Os procedimentos contabilísticos para a consolidação dos balanços dos municípios e das empresas municipais ou intermunicipais são os definidos no POCAL.”

É ainda mencionado, no mesmo artigo, que o grupo é constituído pelo município, serviços municipalizados e entidades do setor empresarial cujo capital seja detido na totalidade (100%).

Relativamente ao perímetro de consolidação, segundo Lopes et al. (2012:51) e “Colocando

de lado a obrigação legal, é por mais evidente que o estabelecido pela LFL e pelas instruções SATAPOCAL é manifestamente insuficiente… Não é pelo simples facto de um município deter 99% de uma entidade, em vez de 100%, que a sua responsabilidade, diminui de tal forma que não deva ser considerado no perímetro de consolidação… Assim entendemos que os princípios estabelecidos na Orientação n.º 1/2010 são bem mais adequados do que os da LFL, pois transmitem uma imagem mais adequada do conjunto detido pelo município”.

Prevendo a Lei das Finanças Locais, em determinadas situações, a obrigatoriedade de elaboração das contas consolidadas por parte dos municípios, e encontrando-se os procedimentos contabilísticos para a consolidação definidos no Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL), salientamos que este diploma, até ao momento, não abrange esta temática.

Contudo, publicou-se entretanto a Portaria n.º 474/2010, de 15 de junho, com base na qual se aprovou a Orientação n.º 1/2010, intitulada «Orientação Genérica relativa à consolidação de contas no âmbito do sector público administrativo», encontrando-se incluídos no seu âmbito de aplicação os municípios.

Tendo as normas e procedimentos da Orientação n.º1/2010 substituído os constantes do POCAL, POC-Educação e POC-Saúde, foi possível proceder à uniformização e homogeneização, o que facilita a normalização contabilística e melhora a informação

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prestada pelas demonstrações financeiras consolidadas, contribuindo, em última análise, para a melhoria da Contabilidade Nacional.

Decorridos cinco anos de vigência da atual Lei n.º 2/2007, de 15 de janeiro, que aprovou a Lei das Finanças Locais, surgiu recentemente o projeto de Lei n.º 122/XII/2.ª – Nova Lei das Finanças Locais, visto e aprovado em Conselho de Ministros de 27 de dezembro de 2012, entrando a lei em vigor a 1 de janeiro de 2014, pela necessidade da revisão “ de

alguns aspetos que a realidade da sua aplicação revelou suscetíveis de aperfeiçoamento. Com efeito, o Programa de Assistência Económica e Financeira, assinado em 17 de maio de 2011 com a União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu prevê expressamente, no âmbito das Medidas Orçamentais Estruturais, a revisão da referida Lei, para se adaptar aos processos orçamentais da nova Lei de Enquadramento Orçamental. Também a Reforma da Administração Local levada a cabo pelo Governo, com base nos objetivos enunciados no Documento Verde da Reforma da Administração local, reclama a necessidade de alteração da Lei das Finanças Locais como instrumento próprio para a concretização das necessidades de financiamento das autarquias locais e das entidades intermunicipais, com especial ênfase para a excessiva dependência das receitas municipais do mercado imobiliário, para o novo mapa de freguesias e para o novo papel das entidades intermunicipais no desenvolvimento sub-regional.”

A revisão da Lei das Finanças Locais tem como princípios, “ ajustar o paradigma das

receitas autárquicas à realidade atual, aumentar a exigência e transparência ao nível da prestação de contas, bem como dotar as finanças locais dos instrumentos necessários para garantir a efetiva coordenação entre a administração central e local, contribuindo assim para o controlo orçamental e para a prevenção de situações de instabilidade e desequilíbrio financeiro.”

A referida proposta de lei, vem criar regras mais simples, mas ao mesmo tempo mais exigentes e mais coerentes, no que respeita, nomeadamente:

 Ao equilíbrio orçamental;  Aos limites da dívida;

 Aos mecanismos de recuperação financeira;  À prestação de contas individual e consolidada;  À auditoria externa e certificação legal de contas.

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No âmbito do art.º 86.º e 87.º da referida proposta de lei, a consolidação de contas “procede-se ao alargamento do perímetro de consolidação das contas dos municípios e,

agora, também das entidades intermunicipais e entidades associativas municipais, de forma a abranger toda e qualquer participação das indicadas entidades em empresas locais e serviços intermunicipalizados, bem como entidades de qualquer outra natureza sobre as quais os municípios detenham poderes de controlo”.

A consolidação de contas nos municípios surge, assim, como um passo necessário para melhorar a informação contabilística prestada pela administração local.