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Demonstrada por meio do envolvimento da União Europeia nas negociações acerca da busca por resolução de conflitos que afloram no espaço pós-soviético após a queda da URSS e demais práticas como a inclusão de

19 viriam com o despertar de grandes conflitos separatistas, como o de Nagorno Karabakh , que

20 Demonstrada por meio do envolvimento da União Europeia nas negociações acerca da busca por resolução de conflitos que afloram no espaço pós-soviético após a queda da URSS e demais práticas como a inclusão de

saído em direção a outros Estadosdurante adiásporarussa promovida ao longo dos processos de russificação da URSS. Sob o novo contexto aqui exposto, estas comunidades deslocadas passariam a ser ressignificadas por um discurso que as revestiria de um papel devítima dos processos nacionalistas locais que se alastraram entre as repúblicas soviéticas no início dos anos 90 e, assim, garantiriam adesão de elites locais ao sentimento de pertencimento à comunidade russa. É evidente, pois, que estapolítica da Rússia não representa uma superação das tradições soviéticas - pelocontrário, as mantém(SHAH,2013; SMITH, 1998).

Imagem 2 - Presençade Russos pelo Espaço Pós-Soviético

Belarus Ukraine Georgia Kazakhstan

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Armenia\J3 —Estonia — Latvia ^Lithuania i I Al. _ r Azerba^fJ^jstan/Tajikistan Kyrgyzstan. Uzbekistan ,-MS / Russian diaspora Scarin'

Total population (millions)

A ausência das instituições que viabilizavam a multinacionalidade institucionalizada da qual prescindia o etnofederalismo territorial, por outro lado, contribuiria para aagudização dos conflitos étnicos que já se esboçavam durante o governo Gorbachev. Segundo Svante Cornell (2002), a divisão territorial e política que caracterizava a URSS foi responsável por prover as minorias étnicasnão somente de desejo,mas também de capacidade de ação. O grau de autonomia garantido a estes grupos durantetodo o períodosoviético, ainda que não tivesse tido níveis estáveis ao longo dotempo, permitiu a construção deinstituições decaráterestatal ao longo de inúmeros territórios. Ainda que muitas das vezes estas não fossem de fato legítimas, é certo que foram capazes de estruturar as bases políticas e institucionais das quais dependem um Estado. O fim do mandato de Brejnev e o início do de Gorbachev, assim, marcaria o momento em que estas instituições “estatais” passariam a ser mobilizadas como justificativas dos clamores independentistas que se espalhavam pela URSS.

A dissolução da União Soviética, portanto, representaria um momento de maior formalização das demandas das minorias étnicas à medida em que se aprofundavam o desejo peloreconhecimento internacional e a capacidade de perseguí-lo. É neste contexto que surge a discussão sobre os chamadosEstados de facto, termo do qual se utiliza Pegg Scott (2008). Segundo o autor, estes representam uma regiãosecessionista dentro deum Estado que declara sua própriaindependência sem que sejaestaprecedidade reconhecimento internacional. Estas entidades políticas, dirá ainda, são capazes - graças ao legado deixadopelo período soviético - de fornecer serviços básicos à sua população e demonstram altos níveis de organização institucional. Pode-se, assim, dizer que os Estados de facto são atores que se lançam à agudização de processos de state-building e nation-building ao passo em que buscam aprimorar suascapacidades estatais afim deobter reconhecimentoda parte de outros países.

Acerca dos processos de formação estatal [state-building e nation-building}

sistematizados pelos irredentistas pós-soviéticos, Graham Smith (1998) dirá que são estes informadospelo exemploeuropeu deEstado nação. Assim, em vista do sucesso da empreitada estatal no Ocidente, as elites que se fortalecem com a queda da URSS passam a buscar reproduzir os fundamentos de paridade entre sociedade e território. Desta maneira, são implementadas uma série de políticas de caráter homogeneizantes que se preocupam em fundamentar uma comunidade política que se sustente sobre os mesmos embasamentos étnicos, linguísticos, culturais e assim em diante. Neste contexto, as contribuições deHeather

Rae (2002) parecem ser de extrema relevância para percebermosque, emúltimainstância, os Estados de facto pós-soviéticos desempenham o papel de fundamentar um processo de construção identitária que lhes permita empreender um projeto de state-building. Este, em última instância, justificaria a busca destas entidades por reconhecimento internacional e potencialmente as aproximariam deste à medida em que permitem um melhor amadurecimento de instituições tipicamente estatais nestes locais. As sucessivastentativas de homogeneização social percebidas no espaço pós-soviético, assim, fazem coro às contribuições da autora que indicam a necessidade do Estado de possuir uma identidade incontestável para que possa dar continuidade aos seus processos formativos eparaque tenha legitimidade domésticaeinternacional.

Assim, tem-se, com o fim da URSS, aconstrução de um contexto eurasiático imerso em questões de grande sensibilidade. A estas sobrepõem-se a aproximação do Ocidente como fonte de estabilidade, a tentativa russa de manter seu poder de influência sobre a região e a emergência e o aprofundamento de movimentos irredentistas fortemente orientados por questões étnicas e identitárias. Entrementes, o legado da era soviética a todas as repúblicas que formavam a URSS é inquestionável. Ainda que a força desta influência seja mais proeminente nos casos de conflitos separatistas, ela não se fez irrisória nas demaissituações. Neste ínterim, os novos países que são reposicionados no ambienteinternacional vêm-se, em virtude das políticas da era soviética, desprovidos de identidades nacionais que lhes favorecesse empreender processos de (re)construção estatal. Neste contexto, então, alguns irão aproximar-se do Ocidente e, assim, darão início a um processode construçãoidentitária que se baseie em elementos e símbolos tipicamente ocidentais. Neste cenário, o legado soviético é tratado como o Outro opositor que, conforme David Campbell (1992), ameaça a existência desses novos Estados no cenário pós-soviético. Por outro lado, algumas regiões manterão uma postura de desconfiança para com os ocidentais, o que informará identidades quemais voltadas à Rússia e àprópria URSS.