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Depósito da produção científica em repositórios institucionais de acesso aberto

2.4 Repositórios Institucionais de Acesso Aberto

2.4.2 Depósito da produção científica em repositórios institucionais de acesso aberto

O depósito da produção científica em repositórios institucionais de acesso aberto pode ser feito de duas maneiras: o autoarquivamento, quando o próprio autor deposita seu trabalho no repositório; e o depósito mediado, quando terceiros fazem esse depósito, terceiros esses que são, frequentemente, os bibliotecários.

A Boai (2002) define autoarquivamento, em seu sentido amplo, como o depósito de um documento digital em um site de acesso público, preferencialmente compatível com

41 arquivos abertos. Alguns autores, como Coleman e Roback (2005) e Xia (2008), consideram que o autoarquivamento se dá quando um autor deposita seu trabalho em repositórios de acesso aberto, sejam eles institucionais, sejam temáticos. Outros (SWAN; BROWN, 2005) declaram que o autoarquivamento pode ser realizado em sites na internet: pessoais, institucionais ou de grupos de pesquisa.

Para Coleman e Roback (2005), autoarquivamento é “a prática de depositar cópias de documentos ou outros trabalhos acadêmicos em um repositório de acesso aberto”. Xia (2008), por sua vez, declara:

o autoarquivamento é a prática de depositar um documento pelo próprio autor e a principal forma de agregar conteúdo aos repositórios institucionais, prática esta herdada dos repositórios temáticos, que há muitos anos incorporaram a prática dos próprios pesquisadores depositarem seus resultados de pesquisa, enquanto os repositórios institucionais datam dos anos 2000.

Swan e Brown (2005) definem autoarquivamento como “um complemento às publicações em periódicos eletrônicos, em que o autor publica em qualquer periódico a sua escolha e depois simplesmente autoarquiva uma cópia”.

Curiosa a atenção que os autores dão à ideia de complementaridade dos processos, ou seja, aos periódicos cabe a prerrogativa da ação de publicação, a qual, do ponto de vista formal, assegura, entre outros, a avaliação por pares e o estabelecimento de autoria. Ao autoarquivamento, por seu turno, cabe a criação de vias alternativas para a ampla distribuição daquilo que foi publicado, ou aceito para publicação. Na prática, a ideia de autoarquivamento de Swan e Brown (2005) significa depositar o trabalho, que geralmente é a versão final do artigo após a revisão por pares, em acesso aberto.

Ainda de acordo com esses autores, há três maneiras de os pesquisadores autoarquivarem seus artigos: “eles podem depositá-los em um site pessoal ou institucional, em um repositório institucional de acesso aberto ou, ainda, em um repositório temático”.

Além dos conceitos apresentados de autoarquivamento, é possível encontrar, na literatura que trata sobre o tema, o conceito de “depósito mediado”. Muthu, Rao e Awasthi (2006) realizaram uma pesquisa tendo o Repositório Institucional do Instituto Nacional de

42 Tecnologia de Roukela, na Índia, como ambiente de estudo. O instituto adota uma política que obriga os pesquisadores a depositar seus trabalhos, ou a enviá-los à biblioteca, para que ela se responsabilize pelo depósito. Segundo suas descobertas, “os pesquisadores preferem que o depósito seja feito pela biblioteca. Uma das razões pode ser o fato de que os bibliotecários servem como mediadores e ajudam com as questões relacionadas aos direitos autorais”.

A ideia de Cooke (2007) vem ao encontro dos achados de Muthu, Rao e Awasthi (2006). Cooke informa que, “apesar dos repositórios terem sido construídos para que o próprio autor autoarquivasse seus trabalhos, o mais usual é o depósito mediado”. Joint (2006), por sua vez, entende que “quanto mais as bibliotecas tornarem-se mediadoras do depósito, mais chances há de qualidade de padrões de metadados e de preservação digital”. Ou seja, o depósito mediado parece consistir em processo fundamental para o povoamento de repositórios institucionais de acesso aberto.

O povoamento é o principal desafio dos repositórios institucionais. As duas práticas de povoamento que têm se mostrado mais eficazes, segundo os autores discutidos anteriormente (COLEMAN; ROBACK; SWAN; BROWN, 2005; MUTHU; RAO; AWASTHI; JOINT, 2006; COOKE, 2007; XIA, 2008), é o autoarquivamento e o depósito mediado por bibliotecários. Entretanto, embora seja mais fácil para o pesquisador que a biblioteca assuma esse trabalho, a biblioteca acabaria por pagar um ônus por isso, pois que ela carece de investimentos para fazê-lo. Por isso, esse investimento deve ser necessariamente considerado no planejamento da criação de repositórios institucionais. Um repositório institucional não pode, então, ser pensado baseando-se somente na disposição dos pesquisadores em alimentá-lo. Investimentos é condição inarredável para que bibliotecários e bibliotecas tenham condições de fazer um trabalho de qualidade, na sua condição de intermediários do depósito da produção científica. Não é ocioso lembrar, então, que

Bibliotecas e bibliotecários estão lá para serem acionados, mas eles precisam de recursos decentes para fazer qualquer coisa bem feita; dar-lhes recursos extras para promover o depósito em repositórios institucionais é estar alinhando com as necessidades desta forma particular de construção de coleções de Acesso Aberto. Ao envolvê-los desta forma, as perspectivas oferecidas pelo movimento de repositórios institucionais têm melhores chances de serem cumpridas – algo que

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pesquisadores, bibliotecários e leitores de artigos de pesquisa desejam ver acontecer. (JOINT, 2006).

Confirma-se, pois, mais uma vez, a convicção de que o papel das universidades na consolidação dos repositórios institucionais é fundamental. A elas cabe o dever de garantir adequadas condições de trabalho para bibliotecários e bibliotecas, e encorajar pesquisadores a depositar sua produção científica no repositório. Esse encorajamento, para ser bem-sucedido, deve apontar os benefícios dessa ação, bem como as vantagens de se realizar o depósito da produção científica em repositórios institucionais, assunto esse tratado com mais detalhe no capítulo seguinte.