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Depósitos de Sulfuretos Maciços Vulcanogénicos (DSMV)

13 Figura 2.2 – Gráfico da quantidade de precipitação diária (RR), acumulada (ACUM) e normal

2.7 Depósitos de Sulfuretos Maciços Vulcanogénicos (DSMV)

Os sulfuretos maciços de ferro e metais de base que pertencem a jazigos que ocorrem num encaixante composto por rochas pertencentes ao complexo vulcano- sedimentar, onde predominam as rochas vulcânicas, denominam-se: Depósitos de Sulfuretos Maciços Vulcanogénicos, que na literatura Inglesa são designados como “Vulcanogenic Massive Sulphide Deposits”.

Segundo SANGSTER & SCOTT (1976) in GASPAR (1996), os jazigos de sulfuretos maciços vulcanogénicos são acumulações que surgem em unidades litológicas, em estratos, constituídas – pelo menos em 60% da sua totalidade – por sulfuretos de ferro estratiformes a que estão associadas quantidades variáveis de sulfuretos de metais de base. Esta percentagem pode atingir os 100%, embora a maior parte dos jazigos apresente uma componente, por vezes substancial, de uma mineralização epigenética que é formada por uma rede venular, desenvolvida de maneira discordante ou concordante com as rochas encaixantes, localizadas a muro dos sulfuretos maciços. Nas últimas décadas, tem-se vindo a observar uma enorme proliferação na literatura científica sobre a génese dos sulfuretos maciços vulcanogénicos. Este facto deve-se ao seu interesse económico e também à reformulação da sistemática das concentrações maciças de sulfuretos de metais de base que se encontram ligados a rochas vulcânicas e/ou sedimentares.

Os resultados da natureza química dos fluidos mineralizados dos DSMV e os resultados obtidos para a variação dos valores isotópicos δ34S dos sulfuretos indicam que

o S é em grande parte originário da redução dos sulfatos da água do mar [apontada por

MUNHÁ&KERRICH(1980)], mas existem ainda outras fontes, tais como o H2S proveniente

da lixiviação das rochas subjacentes, as emanações magmáticas e também fontes de natureza orgânica.

As texturas finamente globulares da pirite, os frambóides de pirite e galena encontrados em Feitais, bem como os restos mineralizados do que se julgam ser microrganismos observados em Aljustrel, são uma prova de que os sulfuretos maciços se depositaram num ambiente onde existia uma grande actividade biogénica e corroboram as observações e conclusões de MITSUNOet al. (1986, 1988) e KASEet al. (1990)acerca da

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origem de uma parte do S que constitui os sulfuretos maciços e a pirite dos xistos negros encaixantes dos DSMV da FPI.

A metodologia desenvolvida com a finalidade da prospecção mineira de jazigos de sulfuretos maciços, baseou-se no pressuposto que a natureza das concentrações e os teores dos metais de base dependem não só das condições físico-químicas e termodinâmicas específicas de transporte e deposição para cada um deles, como também da natureza da rocha encaixante. Uma das dificuldades encontradas na utilização deste critério de classificação resulta no facto dos jazigos serem constituídos, na sua maioria, por diversas massas mineralizadas com teores de metais de base muito variáveis, podendo incluir-se, quando consideradas isoladamente, em diversos tipos.

É universalmente aceite a existência de uma zonalidade metálica característica dos DSMV que se define, do muro para o tecto dos jazigos, segundo a seguinte distribuição:

Fe → Fe-Cu→ Cu-Zn-Pb → Zn-Pb-Ba

Esta sequência de zonalidade não se encontra totalmente desenvolvida em todos os tipos de DSMV e devido ao metassomatismo, metamorfismo e tectonismo a que foram submetidos, é também difícil de reconhecer esta zonalidade.

2.7.1 Enquadramento geológico-estrutural das mineralizações de Aljustrel

A mina de Aljustrel localiza-se na Faixa Piritosa Ibérica (FPI), mundialmente reconhecida pela sua riqueza em jazigos de sulfuretos maciços vulcanogénicos, vulgarmente conhecidos por pirites. Esta província metalogenética forma um arco com uma extensão de 250 km de comprimento e 30 a 60 km de largura, que abrange parte do Alentejo, do Algarve e da Andaluzia.

Os jazigos de sulfuretos da FPI encontram-se associados a uma formação geológica constituída por rochas vulcânicas e sedimentares (Complexo Vulcano-Sedimentar), formada na era Paleozóica há cerca de 352 a 330 Milhões de anos. A sua génese está relacionada com a circulação de fluidos hidrotermais (água do mar modificada e fluidos magmáticos) entre as rochas, as quais sofreram por isso, intensos processos físico- químicos de lixiviação e troca iónica. Nos locais de descarga destes fluidos formam-se, em ambiente marinho massas de sulfuretos ricas em ferro, cobre, zinco, chumbo, prata e ouro.

No centro mineiro de Aljustrel conhecem-se reservas superiores a 250 milhões de toneladas de pirite, o que faz desta mina uma das maiores da Faixa, a par de Neves

Corvo (mina em actividade localizada próximo de Almodôvar), e de Rio Tinto, Los Frailes- Aznalcollar, Tharsis, La Zarza e Sotiel-Migollas (áreas mineiras actualmente abandonadas e situadas em Espanha).

Os vulcanitos de Aljustrel constituem a parte mais importante do Complexo Vulcano- Silicoso (Figura 2.6) e correspondem a uma sequência bastante espessa de rochas piroclásticas, produto de um vulcanismo submarino félsico, de quimismo quartzo- queratofírico a riolítico, de idade Tournaisiana a Viseana inferior, como já foi referido anteriormente. A esta sequência vulcânica propriamente dita sobrepõe-se uma formação vulcano-sedimentar designada por formação do Paraíso, constituída por jaspes lenticulares, xistos siliciosos, xistos púrpura e xistos negros grafitosos. Com esta formação estariam relacionadas algumas das mineralizações de manganésio e ferro. A Formação do Paraíso passa superiormente e sem descontinuidade a uma sequência de flysch, de fácies Culm, com várias centenas de metros de espessura de xistos e grauvaques [SCHEMERHORN & STANTON, 1969].

Figura 2.6 – Corte Geológico esquemático que ilustra as relações estratigráficas entre as unidades do VS, segundo CONDE&LEITÃO, 1984 inGASPAR, 1996. (1 = Tufo félsico; 2= Fácies felsítica com tufos felsíticos, xistos negros e felsitos maciços; Fácies felsítica grosseira de tufos com “lapilli”, porfiríticos e brechóides; 4= Sulfuretos maciços; 5 = Tufos verdes; 6 = Jaspe, 7 = Formação do Paraíso).

2.8 Petrografia

O mineral dominante é a pirite, seguida da calcopirite, esfarelite e galena. Como indicadores característicos destas zonas, apresenta-se uma escala variada de sulfuretos de bismuto, sulfossais e sulfoarsenatos de cobalto raros. Em alguns depósitos ocorre a

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pirrotite ou magnetite como minerais subordinados. Os minerais de ganga mais comuns são o quartzo, os carbonatos, a muscovite e a clorite [VELASCO,1998].

Os estudos microscópicos identificaram os seguintes minerais essenciais, acessórios e raros, seriados por ordem decrescente, segundo a frequência em que ocorrem nos jazigos de Feitais (Tabela 2.1) e Moinho (Tabela 2.2).

Tabela 2.1 – Minerais observados nos minérios do jazigo de Feitais

[

GASPAR, 1996

].

Resultados observados na microscopia dos minérios de Feitais

Mais observados Medianam. observados Raramente observados Pirite (FeS2) Bournonite (CuPbSbS3) Bismuto nativo (Bi)

Blenda (ZnS) Jamesonite Pb4FeSb6 S14 Gudmundite (FeSbS) Calcopirite (CuFeS2) Pirrotite (Fe1-xS) Kobellite (Pb5(Bi,Sb)8S17) Tetraedrite (Cu12As4S13) Cassiterite (SnO2) Magnetite (Fe3O4) Tenantite (Cu12 As4 S13) Estanite (Cu2PbSbS4) Hematite (Fe2) Galena (PbS) Meneghinite (CuPb13 Sb7 S24)

Arsenopirite (FeAsS) Marcassite (FeS2) Cobaltite (CoAsS)

Tabela 2.2 – Minerais observados nos minérios do jazigo do Moinho

[

GASPAR, 1996

].

Resultados observados na microscopia dos minérios do Moinho

Mais observados Medianam. observados Raramente observados Pirite (FeS2) Tetraedrite (Cu12As4S13) Magnetite (Fe3O4)

Blenda (ZnS) Bournonite (CuPbSbS3) Glaucodoto (Co,Fe)AsS Calcopirite (CuFeS2) Tenantite (Cu12 As4 S13) Gudmundite (FeSbS)

Galena (PbS) Kobellite (Pb5(Bi,Sb)8S17) Aikinite (PbCuBiS3)

Arsenopirite (FeAsS) Pirrotite (Fe1-xS) Horobetsuite (Bi,Sb)2S3 Estanite (Cu2PbSbS4) Meneghinite (CuPb13 Sb7 S24) Cassiterite (SnO2) Betechtinite Cu10(FePb)SbS6 Marcassite (FeS2) Bismutinite (Bi2S3) Cobaltite (CoAsS) Bismuto nativo (Bi) Boulangerite (Pb5Sb4S11) Enargite (Cu3AsS4) Jamesonite Pb4FeSb6 S14 Mackinawite (Fe, Ni)9S8 Berthierite (FeSb2S4) Galenobismutinite (PbBi2S4)

Plagionite (Pb Sb8 S17) Alloclasite (Co,Fe)AsS

De um modo geral, tanto no jazigo de Moinhos como no de Feitais verifica-se, segundo CONDE&LEITÃO(1984)inGASPAR(1996), uma estratigrafia dos minérios em que cada nível corresponde à deposição, de muro para tecto, dos seguintes tipos: minério de grão grosseiro bandado, minério maciço de grão grosseiro a médio, minério maciço de grão fino e minério finamente bandado. A correlação entre minérios e os seus teores médios em metais é a seguinte:

• Ocorrem teores de Cu acima da média no minério grosseiro bandado; • Os teores de Cu, Bi e Sb são mais elevados no minério grosseiro maciço;

• Os teores de Zn, Pb, As, Sn, Au e Ag são mais elevados no minério de grão fino bandado;

• Os teores de Cu, Pb e Zn são muito variáveis, mas mais baixos, no minério de fino maciço.