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1 “A parasita azul”

5. Dependência e escravidão

As primeiras histórias contadas no Jornal das Famílias enfocavam uma personagem muito importante, que durante os quinze anos de publicação dessa revista recebeu tratamento especial, como viemos acompanhando. Mais de um colaborador deu vida a agregadas que podem nos ajudar a compreender melhor o sentido de alguns desses escritos tanto para os próprios literatos quanto para as suas leitoras. Vivendo sob a proteção de parentes, ou sendo recebida em casa de seus senhores, como se fossem parte da família, compuseram histórias em que “as artes da dissimulação” são deliciosas de ler ainda hoje. Por outro lado, fizeram parte também de páginas bastante dramáticas daquele mensário. Emília, personagem criada por Adolpho – pseudônimo não-identificado – pode ser considerada como exemplar, nesse sentido.114 Filha do tropeiro Manuel Ventura, “verdadeiro homem do povo na sua acepção mais genuína”, a jovem donzela morava apenas com o pai em pequeno quarto de fazenda, “onde a família do proprietário a recebia como parenta”, quando o sertanejo partia com a tropa. “Era uma moça de dezoito anos, alta e esbelta, de rosto moreno e cabelos pretos, e esse ar indolente e requebrado que dá uma particular expressão de voluptuosa graça às filhas do país”.115

Ao compor o enredo de “A filha do tropeiro”, verdadeiro cenário idílico foi construído. Era na época da festa de São João. Naquele ano, em especial, o pai de Emília saíra com a tropa havia poucos dias. Não poderia, assim, participar daquela que era festa tão concorrida, contando mesmo com a presença dos escravos da fazenda, a quem eram concedidas “algumas horas de liberdade”. Fogos, dança, música e muita conversa animavam o local. Naquele dia, a menina fora cortejada por muitos. Contudo, Justino, “um moço de condição mais elevada”, foi

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Adolpho. “A filha do tropeiro”. Jornal das Famílias. Fevereiro de 1864. Pp. 49-55.

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quem mais chamou sua atenção. Apesar das concessões feitas aos escravos e agregados, logo naquelas primeiras histórias, ficava claro que narrativa com moça cortejada por rapaz de classe diferente não terminava bem. Seguindo esse princípio, Justino acaba assassinado por outro cortejador, enquanto Emília fora “fulminada de um raio”.116 Nesta e noutras histórias importava aos narradores frisar a situação de pai e filha que viviam sob a proteção dos donos da fazenda. Cabia aos dependentes servirem a seus amos, em troca de alguma forma de amparo. Além disso, a jovem donzela precisava pensar em se casar, como aconselharam diversos colaboradores da revista; contudo o pretendente deveria ter a sua mesma origem social. Caso contrário, e é o que acaba acontecendo, aquela relação de amor não seria bem sucedida. Ficava explicitada a continuidade de processo no qual pais e filhos perpetuavam a relação de dependência, por meio de suas uniões. Outras histórias, muito parecidas com essa, fazem parte das páginas do Jornal das Famílias. Machado de Assis discutia constantemente essas idéias. Escreveu enredos compatíveis e esteve ao lado do leitor, buscando interpretações diferentes para tantas linhas.

A primeira história assinada por Machado, no periódico aqui analisado, fora “Frei Simão”. Foi aqui também que apareceu sua primeira Helena.117 Esta morava com a família de Simão. Era órfã e dependente da boa vontade desses parentes. Acreditava poder se casar com o primo. Entretanto, os pais deste assim que descobriram as intenções do casal, usaram de seus recursos para afastá-los:

(...) É preciso dizer que os referidos pais eram de um egoísmo descomunal. Davam de boa vontade o pão da subsistência a Helena: mas lá casar o filho com a pobre órfã é que não

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Idem. Pp. 34-35.

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Machado de Assis tinha preferência especial por nomear suas protagonistas por Helena. No Jornal das

Famílias, são quatro os contos que trazem personagem com esse mesmo nome. Além de “Frei Simão”, apareceu

em “Possível e impossível” (1867), “Quinhentos contos” (1868) e “A menina dos olhos pardos” (1873/4). A personagem de “Possível e impossível”, assim como a de “Frei Simão”, era uma prima que morava de favor e se apaixonou pelo dono da casa. Aqui não houve o final trágico encontrado em sua primeira história. Em “A menina dos olhos pardos”, a Helena também era uma personagem pobre que precisava de favores da família do homem por quem se apaixonou. Apenas a Helena de “Quinhentos contos” não possuía dificuldades financeiras, muito pelo contrário, era de uma família remediada, sendo mesmo disputada por causa de seu dote. Mesmo assim, é clara a insistência de Machado de Assis em construir Helenas muito bonitas, racionais e pobres, tal como a Helena de seu romance.

podiam consentir. Tinham posto a mira em uma herdeira rica, e dispunham de si para si que o rapaz se casaria com ela.118

Os pais de Simão agiam conforme a maioria daqueles que viam suas fortunas prestes a ser dividida. Uma coisa era oferecer algum favor a parentes menos remediados, que se viam sem ter onde morar, como Helena que ficara sozinha no mundo; outra, bem diferente, era consentir união desvantajosa. Isso era o mesmo que se igualar aos agregados, elevando-os de posição. Conforme temos visto, casamentos eram constantemente vistos como parte de negociação. Por isso o melhor era afastar Simão de casa e da menina, sem muitas explicações para ambos. Os jovens apaixonados não chegaram a compreender o que estava acontecendo. Mesmo separados, continuaram trocando cartas e contando os dias para o reencontro. Enquanto isso os tios empreendiam vigilância rígida sobre os atos da sobrinha, e descobriram a correspondência. Sua continuidade foi interrompida. Vetaram “tintas, pena, papel” na casa. Pensaram que dessa forma conseguiriam fazer com que o filho cumprisse os desejos deles. Para surpresa, quando enviaram carta ao jovem enamorado, dizendo que a “boa Helena tinha morrido”, mas que poderia se consolar casando-se “com outra”, que era “moça feita” e além do mais “um bom partido”, o rapaz tomou a decisão de entrar para um convento. Não esperavam tal atitude. O desenlace ainda guardava final ainda mais trágico, com a morte de praticamente todos os personagens, depois do encontro do padre com sua prima, que, na verdade, ainda não havia morrido, como atestara os tios dela.

Muitas das histórias encontradas nas páginas dessa revista tem como centro amores impossíveis, por causa da condição social de um dos amantes. Estes não são capazes de perceber quão duras são as relações sociais das quais faziam parte. São personagens movidos por sentimentos nobres, que acreditavam no amor, capaz de modificar certas desumanidades. A história assinada por Machado de Assis e publicada imediatamente depois de “Frei Simão”, em muitos pontos, seguiu o mesmo estilo. E ainda acrescentou mais alguma coisa. “Virginius” colocava em discussão o tema da escravidão,119 e, assim como “A filha do tropeiro”, focalizava seu drama nos festejos de São João.120 A história era narrada por advogado que

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M.A. “Frei Simão”. Jornal das Famílias. Junho de 1864. P. 163.

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Machado de Assis. “Virginius – narrativa de um advogado”. In: Jornal das Famílias. Julho e agosto de 1864.

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Ina Von Binzer descreveu a Festa de São João, como momento especial para os escravos, devido ao fato de coincidir com a comemoração do término da colheita do café. Em carta datada de 25 de julho de 1881, ela contou

havia recebido carta, solicitando os seus serviços. Quem a havia enviado tinha sido Pai de todos, personagem considerado como a “justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa”, e que oferecia tratamento especial aos seus escravos, digno de menção:

Escravo é o nome que se dá; mas Pio não tem escravos, tem amigos. Olham todos como se fora um Deus. É que em parte alguma houve nunca mais brando e cordial tratamento a homens escravizados. Nenhum dos instrumentos de ignomínia que por aí se aplicam para corrigi-los existem na fazenda de Pio. Culpa capital ninguém comete entre os negros da fazenda; a alguma falta venial que haja, Pio aplica apenas uma repreensão tão cordial e tão amiga, que acaba por fazer chorar o delinqüente. Ouve mais: Pio estabeleceu entre os seus escravos uma espécie de concurso que permite a um certo número libertar-se todos os anos. Acreditarás tu que lhes é indiferente viver livres ou escravos na fazenda, e que este estímulo não decide nenhum deles, sendo que, por natural impulso, todos se portam dignos de elogios?121

Raras são as linhas nessa revista que tratam esse tema de forma tão explícita. Mesmo Machado de Assis, embora tenha iniciado sua participação no Jornal das Famílias, contando histórias como essas, poucas vezes colocou dessa forma a situação dos escravos.122 Em “Virginius” é possível entender muito das suas intenções, se tomarmos como ponto de partida tal descrição da relação estabelecida entre Pio – Pai de todos – e seus amigos, quer dizer, escravos. Há cerca de vinte anos, a historiografia sobre a escravidão no Brasil tem realizado estudos em que os escravos aparecem como agentes históricos, e que muito nos ajudam na compreensão dessas histórias escritas por Machado de Assis e por tantos outros homens de letras.123 Pai de todos promovia em sua fazenda anualmente concurso para eleger o “escravo

à amiga com quem se correspondia sobre o envolvimento tanto dos donos da fazenda, quanto dos escravos nessa festa. Comentou também que no ano anterior àquele, a festa não havia sido oferecida pelos senhores da fazenda onde trabalhava como educadora, o que parece ter desagrado aos escravos dali, que em discurso não esqueceram de citar que por esse motivo haviam falado mal de seus senhores. BINZER, Ina Von. Os meus romanos: Alegrias

e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. Pp. 34-40.

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Machado de Assis. “Virginius – narrativa de um advogado”. In: Jornal das Famílias. Julho de 1864. P. 194.

122

No Jornal das Famílias, no ano de 1871, apareceu “Mariana”, outra história em que a situação dos escravos foi discutida por Machado de Assis. Ver, CHALHOUB, S. Machado de Assis, historiador. Op. Cit.

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Sobre essa bibliografia ver, AZEVEDO, Célia Marinho. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário

das elites do século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 SLENES, Robert. Na senzala, uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, Brasil Sudeste, Século XIX. Rio

do ano” e premiá-lo com a liberdade. Como o tratamento por ele oferecido era cordial, segundo o narrador da história, ninguém se interessava em tornar-se livre, portando-se todos igualmente “dignos de elogios”. A alforria, prêmio oferecido por Pai de todos, significava, até certo ponto, a continuidade da política de domínio, em que os escravos tornavam-se pessoas livres, mas continuavam vivendo debaixo da proteção de seu ex-senhor.124 Era forma de poder dos senhores, que negociavam a liberdade a partir de promessas, desde que esses tivessem bom comportamento, sendo mesmo o melhor escravo entre todos os outros durante todo o ano, por exemplo. Por agir desse modo, Pai de todos era considerado como alguém acima do bem e do mal, capaz de reprimir sem usar “instrumento de ignomínia”. Mesmo usando de tal tratamento, é difícil supor que a resposta à última pergunta da citação acima fosse a de que realmente para os escravos de Pio era indiferente viver livres. Afinal, ser livre ali representava também a possibilidade de receber “leite e instrução às crianças”, “pão e sossego aos adultos”, e, quem sabe, até uma porção de terras nas imediações da fazenda. Foi exatamente esta a gratificação oferecida a Julião. Depois de prestar serviços a Pio, aliado às “suas boas qualidades, a gratidão, o amor, o respeito com que falava e adorava o protetor” recebeu de seu “amo” uma “paga valiosa”. Pio ofereceu a Julião e sua filha, Elisa, um sítio e proteção por seus anos de serviço e dedicação. Era, portanto, dependente, mas sem ser escravo. Não era tão indiferente assim ser livre ou escravo naquela fazenda.

O lado mais severo da escravidão é encontrado no personagem Carlos, filho de Pio. Este fora criado juntamente com Elisa, “naquela comunhão da infância que não conhece desigualdades nem condições”. Com o tempo, além de a beleza de Elisa revigorar-se ainda mais, as desigualdades sociais também foram aguçadas no espírito do rapaz. Após passar algum tempo estudando fora, Carlos retornara homem e conhecedor das “condições da vida social”, ficando claro o “abismo (que) separava o filho do protetor da filha do protegido”.125 Todas essas questões são levantadas ainda no primeiro mês de publicação do conto. Assim, leitores e colaboradores teriam bom material para refletir sobre a situação e antagonismos do país. Talvez seja exatamente essa a intenção de Machado de Assis ao construir essas primeiras cenas, deixando o espaço aberto às possíveis discussões. Mesmo que, quem sabe, o final da história já tivesse sido escrito, os debates provocados, a partir de questões tão tensas,

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CHALHOUB, S. Visões da liberdade. Op. Cit. Ver, em especial, o segundo capítulo.

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interessariam ao escritor que ainda estava criando o seu próprio modo de participação no Jornal das Famílias.

A narrativa prosseguiu em agosto e ainda colocou novas questões, não menos importantes, em pauta. O jeito generoso de Pio cedeu lugar às características de caçador do filho Carlos. Este passava o dia a caçar, e, para isso, usava de “todos os cuidados, todos os pensamentos, todos os estudos”. Sua caça não se restringia aos animais selvagens, englobava também as filhas daqueles a quem o seu velho pai prestava proteção. Elisa foi, portanto, uma de suas vítimas. A primeira tentativa do caçador fora frustrada. Mas Carlos não desistiu, mesmo depois de ouvir as súplicas de Julião. Assim, na cena em que o “conflito da inocência com a perversidade” foi contada, o drama alcançava o seu ápice. Julião, seguindo o próprio desejo de Elisa, feria a filha mortalmente com uma faca de caça. Para o advogado e narrador da história, aquilo que acreditava ser romance, na verdade, era uma tragédia. Decerto, até mesmo o título do conto havia sido inspirado na tragédia de Virginius. Para o leitor que conhecesse de antemão tal história, o seu desfecho não surpreenderia. Pois, como ele mesmo conta aos desavisados, Apio Cláudio ao apaixonar-se por Virginia, filha de Virginius, por não conseguir obter dela alguma simpatia, tentou escravizá-la. Com o intuito de salvar a filha, em ambas as tragédias, o pai preferia usar a violência. Tanto em uma, como na outra história a filha foi morta com uma faca cravada no peito.

Enfim, esse conto pode ser entendido como uma denúncia por Machado de Assis da impossibilidade de tornar a escravidão mais viável, mesmo com senhores menos severos. Até mesmo para viabilização do sistema, os escravos, aos poucos, iam conquistando alguma liberdade, mas, ainda assim, não havia como deixar de olhar para a produção e reprodução dessa política de dominação. Se Pio era a forma mais branda que podia existir, seu filho não deixava escapar nem mesmo aqueles que já não eram mais escravos, embora fossem dependentes. Em anedota nada chistosa, escrita por Paulina Philadelphia, alguns anos depois, um senhor de escravos não conseguia conceder liberdade aos seus, nem mesmo depois da morte deles:

Ninguém ignora que o motivo que leva geralmente os negros ao suicídio é a esperança que eles têm de irem ressuscitar na sua terra.

Sabendo um fazendeiro que todos os seus escravos haviam combinado enforcarem-se para se livrarem dos maus tratos que lhes dava, esperando serem felizes depois da ressurreição, dirigiu-se ao lugar em que sabia ter de executar-se o plano projetado, levando também uma corda. Chegando-se a eles, disse-lhes, sem manifestar o menor abalo:

- Meus filhos, eu aprovo a vossa idéia, e venho enforcar-me juntamente convosco; porque como ireis ressuscitar em vossa terra, onde comprei uma grande porção de terreno em que trabalham de há muito os vossos companheiros que se enforcaram antes de vós, lá nos reuniremos, e assim será maior a soma de escravos que terei.

Vendo a disposição em que estava seu senhor de segui-los até depois de mortos, desistiram do intento, morreram na escravidão, com grande aprazimento do fazendeiro.126

O tom usado por Paulina Philadelphia é desanimador. Ainda mais se levarmos em consideração que pode ter provocado riso em algum leitor. Contudo, ao ler sua anedota o sentido político do conto “Virginius”, ganhava maior força e clareza. Desde essas primeiras histórias, a intenção de Machado de Assis era a de pensar de forma crítica situações conflituosas na sociedade em que vivia. Para isso, colocou em pauta o tema da escravidão de forma ambiciosa. Ou seja, ao invés de rir de possíveis crenças e costumes dos escravos, com olhar até certo ponto preconceituoso, fez a opção de caminhar por dentro da instituição da escravidão. Colocou em cena senhores que negociavam com seus escravos, e tentou entender qual o significado de conquistar a liberdade e continuar sob a proteção desse mesmo senhor. Tanto no conto, quanto na anedota a morte é pensada como forma de garantir a liberdade. Machado escolheu enfatizar a covardia de um filho de fazendeiro, que pensava poder caçar animais ferozes e “mulatinha” formosa, enquanto Paulina zombava da aparente covardia dos escravos que acreditavam poder ser seguidos, mesmo depois da morte. Ambos podem ter provocado, em seus leitores contemporâneos, sentimento de repulsa e indignação diante de questão idêntica, mesmo que por caminhos tão diferentes.

Assim, a história de Pai de todos, Julião e Elisa nos ajuda a entender uma outra política longe da rua do Ouvidor, das discussões em torno de trocas ministeriais e eleições, mas presente no cotidiano dos leitores e colaboradores do Jornal das Famílias. São embates e dissensões que se abrem a todos os leitores perspicazes. Estes possivelmente depois de ler

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esses escritos iriam querer saber mais sobre o mesmo tema. Passariam a investigar e reconstruir a cada leitura novas histórias. Nesse sentido, Machado de Assis ainda contou com outro colaborador/personagem: Maria Amália.127 Naquele mesmo ano de 1864, saía, em “Mosaico”, artigo intitulado, “Fragmentos de um livro”.128 Ali a autora oferecia aos seus leitores indicações de leituras. Para realizar tal objetivo, atacava diretamente a “escola Realista”:

O romance moderno, o romance dessa escola que se apraz em endeusar os vícios e em sustentar como peregrinas as teses mais absurdas, são flagelos que se lançam no seio da sociedade.

E de fato, qual o bom senso que não repugna esse realismo de madame Bovary, essa febre de Fernanda, de Dumas; das Cortesãs, de Balzac; de Jacques e Valentina, de madame

Jorge Sand?

Eu quisera que por uma vez se abolissem esses livros perigosos das mãos inexperientes, esses filtros daninhos que tanto corrompem a alma, como corrompem também o coração.

Porque não há de vir os romances como os de mistress Beecher Stow, miss Cumming,

mademoiselle Fredrica Bremer, e tantos outros primores da literatura estrangeira,

enriquecerem as nossas bibliotecas?129 (Grifos no original)

A grande preocupação de Maria Amália era com as cortesãs presentes em determinada literatura, que tanto mal causavam às jovens e inexperientes leitoras, segundo sua análise. A autora do texto chegou a oferecer exemplo de uma senhora de vinte anos que, “sem ter tido outra instrução além da leitura desses romances perigosos”, imaginava-se uma “heroína” de Balzac. A tal moça de seu exemplo havia trocado um namorado pobre, que não tinha

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A primeira e única vez que Maria Amália assinou algum artigo para o Jornal das Famílias foi em dezembro de 1864. Entretanto, “Fragmentos de um livro” corresponde a uma série de histórias que já vinham sendo