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Dependência energética e risco hidroelétrico: março de 2018

2.3. Futuro dos aproveitamentos hidroelétricos em Portugal

2.3.2. Dependência energética e risco hidroelétrico: março de 2018

Segundo o relatório da DGEG de 2017, no ano anterior Portugal terá registado uma dependência energética de 74,8% o segundo valor mais baixo registado, seguido do ano de 2014 (Figura 2.15). Esta grande dependência energética é resultado de um país maioritariamente produtor de energia elétrica através de combustíveis fosseis [21].

Figura 2.15 - Dependência energética nacional entre o ano de 2005 e 2016 [21].

Portugal é um dos países da UE com maior dependência energética (Figura 2.16) apesar de, tal como a Grécia, ser o país com maior potencial hidroelétrico não aproveitado, estando por explorar cerca de 50% (Figura 2.17).

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Figura 2.17 - Potencial hídrico não aproveitado vs. dependência energética e capacidade hídrica

instalada [19].

Com o intuito de combater a elevada dependência externa aliado ao facto de Portugal ter um potencial hidroelétrico significativo foi criado em 2007, o PNBEPH.

Ao utilizar fontes renováveis Portugal estará menos dependente de combustíveis fosseis para a produção de eletricidade, contribuindo assim para uma redução da sua dependência, e consequente, volatilidade dos preços, e uma redução das emissões dos GEE.

Para além do potencial hidroelétrico, Portugal é um país rico em recursos naturais, tendo- se vindo a explorar outras formas de produção de energia elétrica como através de painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas. Verifica-se que, entre 2009 e 2018, a energia solar evolui de pequenas instalações residuais para uma potencia instalada de 572 MW e a energia eólica somou um total de cerca de 4000MW instalados.

No entanto, como sabemos, a energia obtida através de fontes renováveis é incerta. No início do ano de 2018 Portugal encontrava-se numa situação hidrológica dramática. Segundo o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), 58,3% do território encontrava-se em situação de seca severa, 29,1% em seca moderada, 6,4% em seca extrema, 5,6% em seca fraca e apenas 0,6% em situação normal para a época. Um cenário nada favorável à hidroeletricidade nacional, que neste momento já se deparava com 10 meses de precipitação mensal inferior ao normal, representando um ano de muito baixa produtibilidade hidroelétrica, sendo (juntamente com 2012) o ano com um índice de produtibilidade mais baixo dos últimos 10 anos (Figura 2.18).

Figura 2.18 - Produtibilidade das hidroelétricas desde o ano de 2008 até ao ano de 2017 [20].

O mês de fevereiro não começou de forma diferente encontrando-se 56% do país em seca severa (Figura 2.19), adiantando uma especialista do IPMA que seria “necessário termos precipitação acima da média durante os meses de março e abril", de forma a poder regularizar a situação. A 15 de fevereiro o boletim sobre a seca publicado pelo IPMA refere um “agravamento da intensidade da situação de seca em relação ao final de janeiro”, registando- se apenas 17,6 mm de precipitação entre 1 e 15 de fevereiro, o que corresponde a 35% do valor médio da quinzena [23].

Figura 2.19 - Situação das albufeiras a 16 de fevereiro de 2018 [23].

No entanto, eis que a situação se altera e a três dias do fim do mês de fevereiro as condições meteorológicas sofrem uma alteração significativa, regressando a precipitação. Esta teria vindo para ficar e após 2 semanas consecutivas de chuva, o número de barragens com armazenamento superior a 80%, do volume total, subiu de cinco para dez, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que terá comparado os níveis de 61 albufeiras com os da semana anterior [24].

Entretanto a precipitação foi-se mantendo... A 10 de março os níveis de pluviosidade já teriam dobrado os valores médios do mês e no fim do mesmo verificou-se que se tratou do março mais chuvoso em 87 anos, tirando o país da situação de seca meteorológica que se encontrava desde abril do ano anterior.

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Segundo o IPMA, a 31 de março de 2018, 2 % do território estava na classe de chuva severa, 36 % na classe de chuva moderada, 52 % na classe de chuva fraca e 10 % na classe normal, o que representava uma completa inversão da situação que se verificava algumas semanas antes.

Todas as bacias hidrográficas do país sofreram as alterações das condições meteorológicas e a bacia do Douro não foi exceção. Com dados fornecidos pela EDP relativos aos caudais afluentes e lançados nos diferentes aproveitamentos entre o dia 15/02/2018 e 15/04/2018, e posterior tratamento dos mesmos, é possível fazer uma análise dos caudais na bacia hidrográfica do Douro, tendo-se separado os aproveitamentos em fios de água e albufeiras (Tabela 2.6).

Tabela 2.6 - Fios de água e albufeiras da bacia hidrográfica do Douro.

Depois do respetivo tratamento dos dados é possível verificar que os caudais afluentes nos aproveitamentos a fio de água no dia 15 de março encontravam-se cerca de seis vezes superiores aos valores registados no dia 15 do mês anterior.

Figura 2.20 - Caudais afluentes nos aproveitamentos a fio de água entre o dia 15 de março e 15 de abril

Figura 2.21 - Caudais afluentes nos aproveitamentos com albufeira entre o dia 15 de março e 15 de

abril de 2018.

Figura 2.22 - Caudais afluentes e lançados correspondestes ao AHFT entre o dia 15 de março e 15 de

abril de 2018.

A análise dos dados anteriores mostra bem a variabilidade das precipitações e dos recursos hídricos em Portugal e, em particular na Bacia do Douro, o que leva a situações de grave desaproveitamento dos recursos endógenos disponíveis. De uma situação de utilização dos aproveitamentos de fio de água de apenas alguns por cento, por escassez de caudais afluentes, passou-se num curto espaço de tempo a uma situação de descarregamento de caudais excedentários! Isto mostra bem a necessidade de implementação de sistemas de armazenamento de água a nível dos principais afluentes, de modo a permitir uma regularização de caudais e uma boa gestão da água, introduzindo uma maior inércia no sistema hidroelétrico e, consequentemente, uma muito maior eficiência. A complexidade do quadro atual e os interesses em jogo (económicos, políticos, ambientais, etc.) levam a compromissos que se vêm

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a revelar verdadeiros desastres, tanto a nível de esbanjamento do recurso como em termos de desperdício de investimento.

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