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Os depoimentos transcritos a seguir enfatizam a opção política pelo apoio declarado a determinadas candidaturas como estratégia mobilizada pelo movimento comunitário local na

perspectiva de influenciar políticas públicas governamentais em prol do desenvolvimento da

economia solidária e da defesa de outros projetos que lhe são pertinentes. Aqui o discurso nativo

revela que o espaço da política se amplia para além da esfera local, afetando e sendo afetado pelo

campo de interesses que se configura no âmbito das organizações partidárias cujos atores ocupam

ou têm o potencial de ocupar os cenários onde são concebidas, planejadas e executadas as

políticas públicas governamentais.

[...]. Então cara, acho que duas questões são importante: uma foi essa questão da discussão, que eu acho que a gente nunca tinha encarado essa discussão de frente, assim que tem que

74 Denomino aqui como “figurantes” indivíduos que prestam serviço durante campanhas eleitorais, atuando na formação de contingentes que acompanham candidatos ou veículos de propaganda eleitoral, reforçando a animação de eventos como caminhadas, comícios e carreatas. Grupos de “figurantes” também costumam agitar bandeiras de partidos e candidatos em semáforos ou esquinas movimentadas. Trata-se de um trabalho precário, em que os prestadores deste tipo de serviço recebem pagamento na forma de diária e não gozam de nenhum direito trabalhista. Normalmente, tais indivíduos são recrutados entre eleitores declarados de um determinado candidato. Na linguagem típica de campanhas eleitorais, são tratados como “militantes”.

transformar a luta social em luta política [...]. E depois... num primeiro momento a gente conseguiu unificar os candidatos, né? Como geralmente tem tendências e partidos diferentes, né, mas nós conseguimos unificar a chapa toda, do Presidente a... Senador, Governador, Estadual e Federal; o que possibilitou de você trazer mais os candidato, por que não tem... por que não tem divergências, né? [...]. Nos outros anos, era muito liberado. Então cada qual apoiava a quem quisesse. Aí ficava difícil, por que cê não podia trazer ninguém pra cá, por que tinha um outro que era d’outro candidato. Como é que ficava a situação, né? E como esse ano unificou todo mundo, há um consenso geral dos candidatos, aí dá pra... digamo, ter uma posição mais clara. [...]. Eu acho que o governo do Lula, ele... é... assim, trouxe isso muito forte. Quer dizer, de uma forma ou d’outra o pessoal vota. E se posiciona e as coisa se decide. E a gente, eu acho que mais do que nunca, a gente vive muito com o dinheiro público aqui. Dinheiro que vem de política pública, que vem dos governos. Que passa pelos governos, que passa pela aprovação dos candidato, pela indicação dos candidatos. Então eu acho que hoje houve... houve um salto mais crítico com relação a essa nossa posição de se manter independente completamente da campanha. Se bem que independente nunca a gente se manteve. O que a gente fazia era liberar as bases, pra cada qual apoiar a quem quisesse, o que... levava uns pra votar na direita, outros pra votar na esquerda, outros votar por interesse financeiro, enfim. [...]. [“E assim, qual é a... a bandeira que... que unifica e que garante esse consenso?” – Pergunta feita por mim, como pesquisador, ao interlocutor]. Eu acho que... em cima do candidato Federal, Eduardo, essa história do campo-cidade, que houve uma grande discussão aqui. Por que o Eduardo foi um cara do INCRA, que me levou pro interior, que entrou em contato com... com os assentamentos. Então, essa relação que a gente tá tendo muito com os assentados, comprando, vendendo produtos, foi um foco muito determinado. Eu acho... a Raquel e... que é Deputada Estadual, durante todo o apoio que ela fez em relação à economia solidária, os pronunciamentos na Assembléia durante todo esses quatro ano de mandato, o Projeto de Lei de economia solidária que ela encaminhou. [...]. E é claro que numa... na hora de uma campanha essa discussão vem também pra mesa e essa visão também se projeta muito claramente, né? Tanto é que hoje tamo entregando um documento pro Cid Gomes [...] e a proposta é cem... trezentos bancos comunitários para o Ceará. [...]. A grande... a grande força hoje, a centralidade, é colocar isso enquanto uma política pública. [...] (Entrevista com Joaquim de Melo, Coordenador do Banco Palmas, gravada durante a pesquisa de campo, no dia 26/07/2006, quando candidatos vinculados ao PT, PSB e PC do B, inscritos no pleito eleitoral daquele ano, visitaram a ASMOCONP e o Banco Palmas).

[...] até bem pouco tempo atrás, por exemplo, a gente não conseguia nem unificar num candidato numa determinada eleição. Então a gente sempre respeitou muito as opções de todo mundo aqui, né? Tem pessoas aqui que têm uma... uma relação maior com um partido, né? A maioria das pessoas não tem uma relação partidária, embora tenham pessoas, né, tenham propostas que a gente vem apoiando e que a gente se identifica. Mas assim, com a vida partidária mesmo, nós não temos. [...]. Veja bem, por exemplo, pra pegar um exemplo bem concreto, né? Quando a gente apóia a Raquel pra Deputada Estadual, né, tinha toda uma discussão por dentro da... com ela, com o pessoal todo, que era, por exemplo, a necessidade da gente ter um... pro... uma lei que favorecesse e que promovesse a economia solidária no Estado, né? E... e assim... e isso era uma coisa, porque nós temos uma... uma relação com... com a Raquel e com essa história toda, né, desde a criação do Banco Palmas. Então [...] essa... essa relação mais... mais política, ela se dá com base nessas propostas, né? [...]. E aí, inclusive, nesse momento a gente tá até... discutindo exatamente esse projeto. Um projeto de... de apoio e fomento a políticas públicas de economia solidária. Eles fizeram lá no gabinete uma primeira versão e agora a gente vai colocar na rede pra poder fazer isso. [...] (Entrevista com Sandra Magalhães, Coordenadora de Projetos do Sistema ASMOCONP/Banco Palmas, gravada durante a pesquisa de campo, em 06/11/2007).

Os fios que se tecem entre o espaço da organização comunitária e a esfera da política