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Deputado Federal Inocêncio Oliveira é condenado por trabalho escravo

O Ministério Público do Trabalho, com apoio da Polícia Federal, em operação realizada em março de 2002 na fazenda Caraíba, de propriedade do Deputado Federal e líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira, encontrou 53 trabalhadores em condições subumanas. Na fazenda, de cerca de 4.200 hectares, localizada no município de Gonçalves Dias na divisa entre Piauí e Maranhão, o deputado criava por volta de 3.000 cabeças de gado.

Os trabalhadores libertados encontravam-se sem alojamento adequado, sem alimentação suficiente, sem água potável, sem quaisquer cuidados em relação às condições de higiene e saúde no trabalho e, sobretudo, sem direito de ir e vir resguardado, vez que só poderiam sair da fazenda se quitassem a suposta “dívida” que “contraíam” para adquirir alimentos, ferramentas de trabalho, equipamentos de proteção individual e bens de uso pessoal.

Inicialmente, a assessoria de Inocêncio Oliveira afirmou que o deputado não ia à fazenda há meses, entretanto, na versão dos trabalhadores, ele aparecia pelo menos uma vez por mês para acertar o pagamento com os recrutadores de mão-de-obra. Posteriormente, o parlamentar negou as acusações de trabalho escravo mas reconheceu que “como em toda a fazenda da região e do Brasil os serviços temporários são gerenciados por um „gato‟, que contrata mão-de-obra avulsa”, concluindo que: “Não tenho relação com esse processo”. Perguntado, em entrevista, se mesmo sendo “praxe” não considerava também uma monstruosidade o aliciamento e a redução de pessoas à condição de escravos, Inocêncio admite que: “É, e acho que deveríamos nos sentar para resolver o problema da informalidade

do trabalho tanto no meio rural quanto nas áreas urbanas”. Entretanto, somente após a repercussão do escândalo, determinou ao seu administrador que não mais aceitasse trabalhadores empreitados sem carteira.

Em primeira instância, o juiz Manoel Lopes Veloso Sobrinho, da Vara do Trabalho de Barra do Corda, que julgou as duas ações ajuizadas pelo MPT, definiu a situação como “um espetáculo perverso e condenável, revoltante até, pela conseqüência maior de degradação da própria dignidade humana”. Ao definir o valor da condenação, R$ 10 mil por trabalhador, totalizando R$ 530 mil a serem revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, o juiz enfatizou que “a circunstância de o réu ser um homem público, parlamentar de vários mandatos, exercendo atualmente mandato de deputado federal, ocupando a primeira Vice-Presidência da Mesa da Câmara dos Deputados e, por essa razão maior, devendo ser-lhe cobrada uma conduta exemplar no trato com seus subordinados”. O deputado foi condenado, ainda, no cumprimento de uma série de obrigações trabalhistas entre as quais o registro da carteira de trabalho, o pagamento de salários até o quinto dia útil de cada mês, o recolhimento de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o fornecimento de materiais de primeiros socorros, equipamentos de proteção individual, ferramentas de trabalho, água potável, alojamentos e instalações sanitárias adequadas e condições de conforto e higiene para refeições adequadas. Além disso, deve abster-se da prática de diversos atos, sob pena de reincidência, tais como o cerceamento da liberdade de ir e vir dos trabalhadores, a exigência de trabalho forçado, realizado sob ameaças, o aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional, a contratação com intermediação de terceiros (“gatos”) e a contratação de menores de 16 anos.

Em 2006, o Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão, confirmou a condenação do parlamentar, em segunda instância, por reduzir trabalhadores à condição análoga à de escravo. Por 4 a 3, os desembargadores decidiram manter a decisão de obrigar o deputado a pagar uma indenização que pode chegar a R$ 300 mil.

Inocêncio Oliveira, além do processo trabalhista, também foi denunciado, através do inquérito nº 2054, ao Supremo Tribunal Federal pelo então procurador-geral da República Cláudio Fonteles pelo crime de aliciamento de trabalhadores e redução destes à condição de escravos, em razão do foro privilegiado. Durante o julgamento, o ministro Joaquim Barbosa pede vistas dos autos e interrompe uma seqüência de votos favoráveis ao parlamentar. Os votos pelo “engavetamento” da denúncia foram proferidos pelos ministros Eros Grau e o da relatora Ellen Gracie. Segundo a ministra relatora, não havia novas provas para a reabertura de investigações contra Inocêncio uma vez que um procedimento administrativo anterior fora

arquivado pelo então procurador-geral da República Geraldo Brindeiro e que o deputado não teria agido com dolo. Em suma, a ministra não aceitou a denuncia porque, no seu entendimento, não houve a intenção de reduzir os trabalhadores à condição de escravos vez que eles não estariam "algemados".

Retomado o julgamento, o Supremo Tribunal Federal decidiu pelo arquivamento do inquérito nº 2054 pela suposta prática de trabalho escravo, sem nem examinar o mérito do caso. Apenas o ministro Joaquim Barbosa se convenceu de que a denúncia Ministério Público contra o parlamentar deveria ser recebida.

Diante do resultado do julgamento perante o STF, não há de estranhar que até hoje ninguém foi para a cadeia pelo crime de trabalho escravo por infringir o art. 149 do Código Penal.

Alguns meses após a divulgação das arbitrariedades cometidas em sua propriedade o deputado a vendeu. Entretanto, isso não o livrou de constar na primeira “lista suja” do trabalho escravo, sendo impedido de receber créditos rurais dos fundos constitucionais do governo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal lição que se tira de qualquer estudo envolvendo a questão do trabalho escravo é que a mesma é muito mais séria do que, em geral, se pensa. Este costume pérfido de submeter seres humanos a condições degradantes de trabalho, privando-os de sua dignidade como pessoa, atravessou séculos, mudou sua face diversas vezes e nega-se a sumir completamente da realidade nacional e mundial. Não há mais a aceitação, por parte do Estado, da escravidão como meio de trabalho válido. Entretanto, ainda há o medo, o silêncio cúmplice dos que sofrem os abusos e a força daqueles que lucram com a exploração de pessoas.

Talvez seja uma versão cruel e extrema do famoso “jeitinho brasileiro” ou uma das marcas do complexo de nobreza enraizado em muitos dos poderosos, levando-os a achar que são superiores às demais pessoas e, em virtude disso, acreditarem que possuem mais direitos. O fato é que os casos fervilham pelas mais diversas partes do país, clamando por soluções.

O combate emerge de várias frentes diferentes. O Ministério do Trabalho e Emprego fiscaliza e liberta muitos trabalhadores ano a ano, a Comissão Pastoral da Terra, espalhada em várias regiões do país, está sempre atenta às denúncias de trabalho escravo. A OIT também toma inúmeras providências e participa de grupos de combate à prática. Não podemos olvidar a ação do Ministério Público, em especial o do Trabalho e de diversos magistrados que se engajam nas ações que envolvem o combate aos escravizadores.

No entanto, os casos não param, levando ao questionamento acerca do motivo pelo qual isto se dá. A constatação que se chega é a de que a principal culpada é a impunidade. Muitos insistem em explorar a mão de obra de pessoas carentes em virtude da dificuldade na aplicação das punições, uma vez que os processos se arrastam até a prescrição na justiça, afogados em recursos infindáveis. Tal impunidade é causada também pela existência de casos de trabalho forçado envolvendo políticos importantes e empresários politicamente influentes. Isso dificulta o andamento de iniciativas legislativas que tornariam mais severas as punições aos exploradores, a exemplo da PEC 438, que propõe a expropriação de terras onde comprovadamente for flagrada a existência de mão-de-obra escrava.

Em virtude dos dados e argumentos levantados, é preciso reconhecer os avanços que o Brasil realizou no combate à escravidão. A “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego, a ação conjunta de empresas, entidades governamentais e ONGs em prol do combate à escravidão contemporânea, dentre outras iniciativas, são louváveis. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido, com o fito de alcançar uma maior repressão ao

trabalho escravo, não só identificando os casos, como punindo severamente os infratores, desmotivando ações futuras.

A atuação de todas as entidades envolvidas no combate a essa chaga social deve ser intensificada, em especial aquelas sob controle do poder público, sem esquecer-se da ação da sociedade, imprescindível para denunciar e repudiar os autores de tal atentado contra a Constituição Nacional e a dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIAS

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CONVENÇÃO (29)

SOBRE O TRABALHO FORÇADO OU OBRIGATÓRIO*

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, Convocada em Genebra pelo Conselho da Administração da Repartição Internacional do Trabalho e aí se tendo reunido em 10 de junho de 1930 em sua décima quarta sessão, Depois de haver decidido adotar diversas proposições relativas ao trabalho forçado ou obrigatório, questão compreendida no primeiro ponto da ordem do dia da sessão, e Depois de haver decidido que essas proposições tomariam a forma de convenção internacional, adota, neste vigésimo oitavo dia de junho de mil Novecentos e trinta, a convenção presente, que será denominada Convenção sobre o Trabalho Forçado, de 1930, a ser ratificada pelos Membros da Organização Internacional do Trabalho conforme as disposições da Constituição da Organização Internacional do Trabalho:

Artigo 1º

1. Todos os membros da Organização Internacional do Trabalho que ratificam a presente Convenção se obrigam a suprimir o emprego do trabalhado forçado ou obrigatório sob todas as suas formas no mais curto prazo possível.

2. Com o fim de alcançar essa supressão total, o trabalho forçado ou obrigatório poderá ser empregado, durante o período transitório, unicamente para fins públicos e a título excepcional, nas condições e com as garantias estipuladas nos artigos que se seguem.

3. À expiração de um prazo de cinco anos, a partir da entrada em vigor da presente Convenção e por ocasião do relatório previsto no artigo 31 abaixo, o Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho examinará a possibilidade de suprimir sem nova delonga o trabalho forçado ou obrigatório sob todas as formas e decidirá da oportunidade de inscrever essa questão na ordem do dia da Conferência.

Artigo 2º

1. Para os fins da presente Convenção, a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" designará todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade.

2. Entretanto, a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" não compreenderá, para os fins da presente Convenção:

a) qualquer trabalho ou serviço exigido em virtude das leis sobre o serviço militar obrigatório e que só compreenda trabalhos de caráter puramente militar;

b) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais dos cidadãos de um país plenamente autônomo;

c) qualquer trabalho serviço exigido de um indivíduo como conseqüência de condenação pronunciada por decisão judiciária, contanto que esse trabalho ou serviço seja executado sob a fiscalização e o controle das autoridades públicas e que o dito indivíduo não seja posto à disposição de particulares, companhias ou pessoas morais privadas;

d) qualquer trabalho ou serviço exigido nos casos de força maior, quer dizer, em caso de guerra, de sinistro ou ameaças de sinistro, tais como incêndios, inundações, fome, tremores de terra, epidemias e epizootias, invasões, de insetos ou de parasita vegetais daninhos, e em geral todas as circunstâncias que ponham em perigo a vida ou condições normais de existência, de toda ou de parte da população;

e) pequenos trabalhos de uma comunidade, isto é, trabalhos executados no interesse da coletividade pelos membros desta, trabalhos que, como tais, podem ser considerados obrigações cívicas normais dos membros da coletividade, contanto que a própria população ou seus representantes diretos tenham o direito de se pronunciar sobre a necessidade desse trabalho.

Artigo 3°

Para os fins da presente Convenção, o termo "autoridades competentes" designará as autoridades metropolitanas ou as autoridades centrais do território interessado.

Artigo 4°

1. As autoridades competentes não deverão impor ou deixar impor o trabalho forçado ou obrigatório em proveito de particulares de companhias, ou de pessoas jurídicas de direito privado.

2. Se tal forma de trabalho forçado ou obrigatório em proveito de particulares, de companhias ou de pessoas jurídicas de direito privado, existir na data em que a ratificação da presente Convenção por um membro for registrada pelo Diretor Geral da Repartição Internacional do

Trabalho, este Membro deverá suprimir completamente o dito trabalho forçado ou obrigatório, na data da entrada em vigor da presente Convenção para esse membro.

Artigo 5°

1. Nenhuma concessão feita a particulares, companhias ou pessoas jurídicas de direito privado deverá ter como conseqüência a imposição de qualquer forma de trabalho forçado ou obrigatório com o fim de produzir ou recolher os produtos que esses particulares, companhias ou pessoas jurídicas de direito privado utilizam ou negociam.

2. Se concessões existentes contêm disposições que tenham como consequência a imposição de trabalho forçado ou obrigatório, essas disposições deverão ser canceladas logo que possível, a fim de satisfazer as prescrições do artigo primeiro da presente Convenção.

Artigo 6°

Os funcionários da Administração, mesmo quando tenham que incentivar as populações sob seus cuidados a ser ocupar com qualquer forma de trabalho, não deverão exercer sobre essas populações pressão coletiva ou individual, visando a fazê-los trabalhar para particulares, companhias ou pessoas jurídicas de direito privado.

Artigo 7°

1. Os chefes que não exercem funções administrativas não deverão recorrer a trabalhos forçados ou obrigatórios.

2. Os chefes que exercem funções administrativas poderão, com a autorização expressa das autoridades competentes, recorrer ao trabalho forçado ou obrigatório nas condições expressas no artigo 10 da presente Convenção.

3. Os chefes legalmente reconhecidos, que não recebem remuneração adequada sob outras formas, poderão beneficiar-se dos serviços pessoais devidamente regulamentados, devendo ser tomadas todas as medidas necessárias para prevenir abusos.

1. A responsabilidade de qualquer decisão de recorrer ao trabalho forçado ou obrigatório caberá às autoridades civis superiores do território interessado.

2. Entretanto, essas autoridades poderão delegar às autoridades locais superiores, o poder de impor trabalho forçado ou obrigatório nos casos em que esse trabalho não tenha por efeito afastar o trabalhador de sua residência habitual. Essas autoridades poderão igualmente delegar às autoridades locais superiores, pelo período e nas condições que serão estipuladas pelas regulamentação prevista no artigo 23 da presente Convenção, o poder de impor trabalho forçado ou obrigatório para cuja execução os trabalhadores deverão afastar-se de sua residência habitual, quando se tratar de facilitar o deslocamento de funcionário da administração no exercício de suas funções e o transporte do material da administração.

Artigo 9°

Salvo disposições contrárias estipuladas no artigo 10 da presente Convenção, toda autoridade que tiver o direito de impor o trabalho forçado ou obrigatório não deverá permitir recurso a essa forma de trabalho, a não ser que tenha sido assegurado o seguinte:

a) que o serviço ou trabalho a executar é de interesse direto e importante para a coletividade chamada a executá-la;

b) que esse serviço ou trabalho é de necessidade atual e premente;

c) que foi impossível encontrar mão de obra voluntária para a execução desse serviço ou trabalho, apesar do oferecimento de salários e condições de trabalho ao menos iguais ao que são usuais no território interessado para trabalhos ou serviços análogos, e

d) que não resultará do trabalho ou serviço ônus muito grande para a população atual, considerando-se a mão-de-obra, disponível e sua aptidão para o desempenho do trabalho.

Artigo 10

1. O trabalho forçado ou obrigatório exigido a título de imposto e o trabalho forçado ou obrigatório exigido, para os trabalhos de interesse público, por chefes que exercem funções administrativas, deverão ser progressivamente abolidos.

2. Enquanto não o forem quando o trabalho forçado ou obrigatório for a título de imposto ou exigido por chefes que exercem funções administrativas, para a execução de trabalhos de interesse público, as autoridades interessadas deverão primeiro assegurar:

a)que o serviço ou trabalho a executar é de interesse direto e importante para a coletividade chamada a executá-los;

b) que este serviço ou trabalho é de necessidade atual ou premente;

c) que não resultará do trabalho ou serviço ônus muito grande para a população atual, considerando-se a mão de obra disponível e sua aptidão para o desempenho do trabalho. d) que a execução desse trabalho ou serviço não obrigará os trabalhadores a se afastarem do lugar de sua residência habitual;

e) que a execução desse trabalho ou serviço será orientado conforme as exigências da religião, da vida social ou da agricultura.

Artigo 11

1. Somente os adultos validos do sexo masculino, cuja idade presumível não seja inferior a 18 anos nem superior a 45, poderão estar sujeitos a trabalhos forçados ou obrigatórios. Salvo para as categorias de trabalho estabelecidas no artigo 10 da presente Convenção , os limites e condições seguintes deverão ser observados:

a) conhecimento prévio, em todos os casos em que for possível, por médico designado pela administração, da ausência de qualquer moléstia contagiosa e da aptidão física dos interessados para suportar o trabalho imposto e as condições em que será executado;

b) isenção do pessoal das escolas, alunos e professores, assim como do pessoal administrativo em geral;

c) manutenção, em cada coletividade, de um número de homens adultos e válidos

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