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DESAFIOS DO SUAS À LUZ DA INTERSETORIALIDADE

Nas últimas décadas muitos avanços foram alcançados pela área de assistência social no Brasil, sendo a sua incorporação à seguridade social pela Constituição Federal de 1988 considerada um marco histórico em sua trajetória, que possibilitou posteriormente, a criação da Lei Orgânica da Assistência Social, a Política Nacional de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social; este último sendo anexado mais tarde ao texto da LOAS.

O Sistema Único de Assistência Social, lançado em 2005 pelo CNAS e MDS/SNAS destaca como um dos seus princípios organizativos a gestão transversal, integrada e intersetorial dos serviços, programas e projetos de assistência social com os demais setores e políticas sociais desenvolvidas no país. A intersetorialidade passa a ganhar centralidade no escopo desse sistema como uma direção a ser seguida em todos os seus objetivos.

Além do mais, a assistência social enquanto política pública que compõe o tripé da seguridade social e, considerando as características da população por ela atendida, deve fundamentalmente inserir-se na articulação intersetorial com outras políticas sociais, particularmente, as políticas de saúde, educação, cultura, esporte, emprego, habitação entre outras, para que suas ações não sejam fragmentadas; considerando então o usuário em sua integralidade (PNAS, 2004).

A seguridade social ao aglutinar políticas sociais específicas em sua composição já sinalizava a ideia de intersetorialidade em sua gestão, que viria através de uma articulação mais afinada entre as três políticas que a integram. Dessa forma entre as políticas de assistência, saúde e previdência social a interlocução e parceria deveriam ser bem desenvolvidas, garantindo a efetivação de um sistema de seguridade no país e, portanto, uma proteção social integral.

Frente a essa perspectiva a realidade que se mostrou foi bem diferente. Houve uma forte concorrência entre essas políticas onde cada uma trilhou por um caminho diferente, sobretudo, na busca por financiamentos específicos e individuais para cada política, não concretizando a formação de um sistema de proteção social integrado, com um ministério e orçamento único, como propunha a constituição (MONERAT & SOUZA, 2011).

Essa postura que marcou o fracasso do sistema de seguridade social num contexto de assimilação das ideias neoliberais impediu a formação de uma identidade única para o campo social, que poderia ser construído a partir da junção de forças dessas políticas, reforçando inclusive, o debate em torno da integração entre as políticas sociais e a política econômica.

De fato, esse abandono da perspectiva de integração da política social e o simultâneo reforço da competitividade entre setores sociais reiteraram a fragilidade no enfrentamento da fragmentação dos programas e ações nessa área, trazendo um forte desafio para esse campo.

No contexto atual em que presenciamos profundas transformações societárias, novos estilos de vida; novas formas de convivência social; necessidades complexas e agravamento da questão social; a gestão intersetorial e transversal de políticas sociais tem adquirido importância significativa e passa a ser discutida e referenciada nos variados espaços de política social.

Vista como estratégia de superação da desarticulação existente entre as políticas sociais no Brasil e possibilidade de atender as demandas existentes, a lógica da intersetorialidade e transversalidade, entendidas aqui como sinônimas, passam a ser defendidas como uma diretriz a ser perseguida pelas políticas sociais. A relevância desta proposta se justifica quando se observa a configuração fragmentada e desarticulada da política pública brasileira, a qual obstaculiza o atendimento das necessidades da população em sua integralidade.

A Política de Saúde, por exemplo, incorpora a integralidade como uma de suas diretrizes, no sentido de garantir um atendimento integral aos seus usuários reconhecendo a ampliação da concepção do que seja saúde. A Política de Assistência Social adotou a intersetorialidade como um dos seus pressupostos ao perceber que as vulnerabilidades

sociais as quais tem de atender, estão vinculadas a diversos fatores que não podem ser apreendidos isoladamente. Além dessas, outras políticas tem vislumbrado a possibilidade de uma gestão intersetorial.

Nessa perspectiva o SUAS é posto como elemento fundamental da Política de Assistência Social na direção de construir uma relação integrada entre seus serviços e com as demais políticas públicas. Sendo assim, a operacionalização desse sistema busca combinar e sintonizar as ações de assistência com as ações de outras políticas.

Para Simões (2009), o paradigma desse sistema tem a intencionalidade de articular a descentralização com a intersetorialidade, uma vez que, o objetivo visado é promover a inclusão social e melhorar a qualidade de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre a população de um dado território.

A descentralização reconhece a instância local como esfera fundamental para o desenvolvimento da Política de Assistência Social. É no território que as demandas são mais visíveis, onde existem as instituições e onde as articulações devem ser moldadas.

Por ser destinada a população em situação de vulnerabilidade social, e sendo esta, uma problemática que envolve fatores variados como desigualdade de renda, de educação, de acesso a serviços etc., a política de assistência tem a primazia de atravessar as demais políticas setoriais do estado. Isso quer dizer que existe um ponto de conexão entre a assistência e as outras políticas, dado a perspectiva de atendimento integral ao usuário.

Porém, o desafio é enxergar essa particularidade e colocar no centro do debate que o enfrentamento a pobreza, vulnerabilidades e riscos sociais a que são acometidas grandes parcelas da população, jamais se dará por uma via única de políticas isoladas e setoriais, mas sim, através de um conjunto de políticas públicas consistentes, ao lado dos demais atores da sociedade civil organizada. Não se trata aqui de afirmar que a superação da pobreza será por meio das políticas públicas, mas, de destacar que as mesmas representam estratégias capazes de amenizar seus efeitos na sociedade.

Sendo o objeto de intervenção da assistência social, marcado por demandas multifacetadas, exige respostas que extrapolam a repartição setorial, nesse sentido mais do que um modismo ou prática secundária, a ações intersetoriais são fundamentais para se

atingir o objetivo dessa política. Dessa forma, a discursão sobre a implementação de práticas intersetoriais e seus desafios constituem certamente um elemento central para o avanço dessa política.

Ainda que essa seja uma diretriz e objeto de consenso e conte com a adesão retórica de um conjunto expressivo de atores, são muitos os desafios que são postos para o desenvolvimento de uma prática intersetorial e transversal no âmbito do SUAS e das políticas sociais como um todo. No decorrer desse capítulo abordaremos alguns dos desafios encontrados no âmbito da implantação de ações intersetoriais.