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4.2.2 Análise das representações dos professores e orientadores sociais da

4.2.2.4 Desafios para o Trabalho Intersetorial

Para os professores da escola, ainda existe muita fragilidade do sistema de gestão do município e principalmente entre os setores responsáveis pela proteção dos direitos das crianças e adolescentes, faltando um trabalho mais articulado entre as políticas. Para eles, mesmo com ampliação da rede de proteção social, ainda “há uma fragilidade dos programas sociais e falta de um trabalho intersetorial entre as secretarias do município e da comunidade, de modo a fortalecer o SCFV e contribuir para a permanência dos alunos na escola” (Professor I).

A escola, na sua missão de formação para o exercício a cidadania, não tem como prescindir do conjunto de recursos sociais disponíveis na comunidade em que se localiza, ou mesmo, da mobilização para conquistá-los quando inexistentes. Para tanto, faz-se necessário à integração com a comunidade local, num movimento de fortalecimento e redes, em especial, as redes interinstitucionais. A mesma criança é atendida pela escola, pelos postos de saúde, ações sociais governamentais e não governamentais, a unidade policial, dentre outros serviços; contudo, esses serviços, que representam a presença do Estado na comunidade, quase nunca planejam e /ou atuam de forma articulada, dispersando esforços e os parcos recursos existentes. (NASCIMENTO, 2013, p. 129).

Dos entrevistados, 03 (três) afirmaram que não existe trabalho intersetorial entre os programas e serviços no município de Santa Rita. Entretanto, 01(uma) orientadora revelou que a articulação com a rede local existe, mas não se dá de forma efetiva e nem formalizada. Como, por exemplo, das empresas de água que ajudam de forma pontual, sem uma parceria formal. Já com outras instituições, como a de educação e saúde, a parceria se dá através de palestras, caminhadas e eventos de apresentações folclóricas. A orientadora ainda revelou que no ano 2012 houve uma articulação com o SENAI, onde alguns adolescentes foram selecionados para fazer um curso de iniciação profissional, mas que não houve continuidade por falta de transporte. Com relação à escola não há uma aproximação, mas elas reconhecem a necessidade de mais aproximação e parceria.

Quanto às orientadoras sociais, estas revelaram que não existe trabalho articulado com as outras políticas:

Aqui cada um faz o seu trabalho individual. O pessoal da saúde faz de conta que não existe o serviço e acham que as crianças só fazem

brincar, não sabem do trabalho pedagógico que a gente desenvolve; o conselho tutelar, só vi uma vez, em uma na apresentação do trabalho do CREAS de Santa Rita (..) aqui na zona rural tudo é difícil, as famílias são muito carentes, não tem curso profissional para os adolescentes e nem aquele programa o jovem aprendiz; entretanto temos duas empresas de água mineral vizinhas, que podiam muito bem estar absorvendo esses jovens; se a gente tivesse mais autonomia, a gente já tinha falado com os donos das empresas para formalizar parceria, articulação e de certa forma isso seria bom para elas, mas dependemos da coordenadora geral dos programas, que não é do município e desconhece nossa realidade ou mesmo do pessoal do CRAS, que não sei se é função delas (Orientadora social I).

Um dos objetivos da proteção social básica é disponibilizar serviço próximo do local de moradia das famílias e entre as ações está à articulação da rede socioassistencial, fato que não está claro para os educadores e gestores e desta forma o trabalho intersetorial com outras políticas não existe.

A articulação é o processo pelo qual se cria e mantém conexões entre diferentes organizações, a partir da compreensão do seu funcionamento, dinâmicas e papel desempenhado, de modo a coordenar interesses distintos e fortalecer os que são comuns. A articulação da rede de proteção social básica, que esta referenciada ao CRAS, consiste no estabelecimento de contatos, alianças, fluxos de informações e encaminhamentos entre o CRAS, os SCFV, e as demais unidades de proteção social básica do território (...) viabilizando o acesso efetivo da população aos serviços, benefícios e projetos de assistência social locais. (...) O CRAS ficará responsável pela articulação da rede de serviços de proteção básica local, deve organizar, segundo orientações do gestor municipal de assistência social, reuniões periódicas com as instituições que compõem a rede, a fim de instituir a rotina de atendimento e acolhimento dos usuários; organizar os encaminhamentos, fluxos de informações, procedimentos, estratégias de resposta às demandas; e traçar estratégias de fortalecimento das potencialidades do território. Deverá ainda avaliar tais procedimentos, de modo a ajustá-los e aprimorá-los continuamente (BRASIL, MDS, 2009, p. 22).

Percebemos, então, que a falta de diálogo e trabalho conjunto entre as várias áreas e os diversos níveis do Estado é um dos principais entraves para a implementação de políticas públicas efetivas de enfrentamento do complexo fenômeno da exclusão escolar. Muitas iniciativas têm sido empreendidas para mudar este quadro, mas ainda estão longe de constituir as tão necessárias e desejadas intersetorialidade e integração das políticas. Com o reordenamento dos serviços, a gestão do PETI, de acordo com o MDS, passa assumir um papel de "articulação e

monitoramento de todas as ações e serviços que possuem interface com a prevenção e a erradicação do trabalho infantil no âmbito do SUAS e das políticas setoriais, mobilizando a política de assistência social como ponto focal da rede intersetorial de prevenção e de erradicação do trabalho infantil".

Acreditamos que a participação da população nos movimentos sociais, na conquista de seus direitos sociais básicos, e ainda dos operadores das políticas públicas, seja fundamental para qualificar os instrumentos normativos e o funcionamento dos mecanismos de promoção e defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, como determinam a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases e o ECA.

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