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4.2.2 Análise das representações dos professores e orientadores sociais da

4.2.2.3 Projeto de Formação Continuada e sua relação com o SCFV e a melhoria no

Em relação à Capacitação, os professores revelaram que não existe nenhum projeto de capacitação voltado a Educação do campo município e muito menos nenhum específico aos docentes que ensinam em zonas rurais. Em relação à capacitação, um professor apontou a falta de incentivo e ausência de momentos formativos.

É nós não temos nenhum projeto de capacitação no município; é importante a gente parar um pouco para refletir sobre nossa prática e estudar esses temas transversais, principalmente nesse mundo globalizado aonde as mudanças vêm ocorrendo e o profissional precisa entender e mudar certos conceitos tem que acompanhar e buscar se reciclar sempre. (Professor I).

Como os professores podem trabalhar conteúdos relacionados a temas transversais em sala de aula ou preparar crianças e adolescentes para o desenvolvimento do seu protagonismo, se não existe no município um Projeto de Capacitação Continuada no município para os professores ou um Projeto Político Pedagógico, construído com a participação de todos(as) que fazem parte da escola.

Em relação ao Projeto Político Pedagógico da escola, o professor expressou o conceito bem objetivo, mas ressaltou que não fez leitura ainda do documento por falta de tempo, mas que presenciou algumas discussões pontuais, afirmando que ele vem sendo construído com base em outros modelos e adaptado à realidade da escola, mas sem participação de todos os segmentos. Quanto a uma outra professora, esta revelou que tem conhecimento deste documento no âmbito da escola, mas que não participou da sua construção e que o documento é apenas mais um relatório, estando, inclusive, ultrapassado, necessitando de apoio para uma nova elaboração.

Em relação ao currículo, de acordo com os entrevistados, as disciplinas oferecidas pela escola não contemplam conteúdos voltados para a realidade da população que vive no campo, e os livros adotados na escola, segundo depoimento de um professor, "não permitem aos estudantes reconhecerem a importância da terra como condição inalienável de vida humana. Aqui é até permitido, de vez em quando escolhermos um que mais se aproxima da realidade do campo".

Em uma análise do Projeto Político Pedagógico da Escola Arnaldo Bonifácio, (elaborado pelos professores para os anos de 2010 e 2011) constatou que os conteúdos das disciplinas apresentam-se em uma perspectiva formal, que não mobiliza a capacidade reflexiva e crítica do aluno, assim como sua competência criadora. Observa-se que esses conteúdos estão propostos dentro de uma lógica formal abstrata e tecnicista, que não se relacionam diretamente com a realidade da vida cotidiana dos alunos no meio rural; eles não têm relação entre si e nem realizam um movimento de intersetorialidade e interdisciplinaridade, capaz de tomar a vida dos segmentos sociais do campo na integralidade das suas relações e dos aspectos que conformam as experiências, as necessidades e as formas de respostas a essas necessidades e direitos; Foi percebido também que não há um trabalho efetivo voltado para a comunidade escolar, ainda que haja um reconhecimento dos professores de que a comunidade na qual a escola esta inserida, ainda não desenvolveu uma conscientização política, que os mobilize na

luta por seus direitos enquanto cidadãos, apresentando reivindicações as autoridades competentes. Não existem manifestações artísticas culturais, eruditas ou folclóricas, no distrito, salvo as que são desenvolvidas na escola nos trabalhos pedagógicos. (ESTRELA; FORMIGA, 2013)

Ainda de acordo com a análise do documento, o Projeto da escola denota uma fragilidade do seu corpo docente, na apresentação de um processo de ensino, que se caracteriza mais pelo empirismo, sem objetivos claramente definidos, métodos e princípios, que leve em consideração a cidadania e o direito por uma educação pautada em parâmetros de qualidade. Essa fragilidade constitui um desafio na tarefa de estabelecer uma relação positiva entre trabalho, escola, cidadania e direitos humanos, já que a proposta curricular da escola não responde as reais necessidades dos alunos e não apresenta ações educativas integradas, nessa área.

As avaliações mais constantes nos debates realizados na área da educação têm destacado a necessidade de que, o currículo nas escolas, sobretudo, do campo seja planejado e desenvolvido de modo que os alunos possam sentir prazer na leitura e em outras atividades voltadas a sua realidade, estabelecendo, conexões entre a realidade cotidiana e os conteúdos curriculares, de modo à tornar as atividades escolares mais interessantes para os alunos, entretanto observou-se nos depoimentos anteriormente citados, que ainda não é uma prática das escolas. Quanto à Lei nº 11.525/2007 que trata da inclusão do ECA no currículo os professores revelaram que desconhecem a lei, mas quanto ao conhecimento sobre o ECA, a professora revelou que já teve formação sobre este tema em 2004, com o Projeto Catavento, o qual trouxe muito aprendizado para a escola; e um outro projeto a qual não participou, oferecido pela secretaria de educação do município em parceria com a UFPB, que foi o Projeto “Escola que Protege”, uma formação que permite aos profissionais uma atuação qualificada em situações de violência identificadas ou vivenciadas no ambiente escolar. Esta ainda declarou não ter tempo para participar dos seminários, fóruns e debates que acontecem sobre essa temática e ainda revelou: “esses documentos tratam mais dos direitos do que dos deveres das crianças e dos adolescentes”; Outro entrevistado revelou que não tem conhecimento do ECA e se este é aplicado e trabalhado na escola.

Deste modo, ao discorrer sobre o que entendem sobre direitos humanos, demonstraram concepções difusas e contraditórias, declarando em relação à

temática Direitos Humanos, que se fala muito em direitos dos homens, mas não se define obrigações, demonstrando, portanto que não possui uma maior compreensão do sentido social do referido Estatuto, bem como dos princípios dos Direitos Humanos; o outro professor entrevistado assume sua fragilidade nas temáticas:

Eu compreendo, mas reconheço que tenho dificuldade de trabalhar a questão dos direitos humanos aqui na escola; sei que os direitos de qualquer pessoa precisam ser valorizados, respeitados e a escola precisa trabalhar essas questões cotidianamente com todos os funcionários e alunos; é todo um processo de sensibilização, de conhecimento, pois as pessoas tem uma visão distorcida desses conceitos; a gente aconselha, orienta, mas a violência acontece em todos os espaços, inclusive aqui; hoje os adolescentes estão mais agressivos e muitos vêm para escola sem interesse. (Professor II). A discussão dos direitos humanos pode ocorrer em diversos campos de formação e convivência e principalmente nas escolas, e mesmo não sendo sua função exclusiva, acredita-se que seja possível os professores e educadores trabalharem o tema em sala de aula, pois, “no âmbito da educação formal identificam-se um conjunto de oportunidades para a disseminação dos conteúdos relacionados aos direitos humanos, assim como para a socialização dos valores” (TAVARES, 2007, p. 495).

Em relação a trabalho infantil, os dois entrevistados revelaram que é uma realidade da comunidade rural; para eles houve uma diminuição no número de crianças que trabalham e melhoraram suas notas na escola, mas ainda tem muitos adolescentes que evadem da escola em busca de trabalho e são influenciados pelos amigos, devido os pais não terem condições financeiras para comprar seus pertences pessoais. Os mesmos revelaram conhecimento e preocupação com o tema e acreditam que o trabalho prejudica o aprendizado dos alunos. Quanto às temáticas referidas, os depoimentos dos dois professores constataram a falta de embasamento teórico sobre a temática para inseri-las nos conteúdos programáticos das disciplinas, de modo a torná-los conhecidos pelos alunos. Ainda que reconheça a importância do estudo e a existência de fóruns que tratam do debate dessas, apenas uma professora demonstrou conhecer, ainda que superficialmente o assunto.

Quanto as Orientadoras sociais do SCFV, estas revelaram que as Capacitações são bem pontuais e sem continuidade, destacando a necessidade de

um projeto permanente de capacitação sobre as políticas da Assistência Social e temas transversais como ECA, drogas, adolescência, bullying e sexualidade.

Em relação às dificuldades para realizar ou participar de capacitações, uma destas destacou ainda a falta de material pedagógico e informativo como folder, cartilhas para melhor divulgação dos serviços na comunidade, além de livros, jogos, materiais esportivos e didáticos para trabalhar com as crianças, adolescentes e família, o que compromete a qualidade, o resultado do esforço e do trabalho empreendido. Quanto ao conhecimento sobre o ECA, direitos humanos e trabalho infantil, uma das orientadoras destaca que os resultados do ECA na prática não são mais significativos devido a ênfase que são dados aos direitos. Segundo esta, para que se tenham melhores resultados, na prática, é necessário dar mais ênfase aos deveres, conscientizando os jovens e os pais dos seus compromissos com a escola e com a educação. O ECA é trabalhado com os alunos, segunda a entrevistada, em forma de debate, onde são sondados inicialmente o nível de conhecimento deles oriundo, inclusive, da escola sobre o ECA. Geralmente, esse nível de conhecimento é muito precário, o que dificulta bastante o trabalho na hora de exigir alguma tarefa.

Eu passei por capacitação, participando de Conferências sobre, criança e adolescente, assistência, idoso, mas específica sobre outros temas, não. Quando quero trabalhar esses temas transversais, busco recurso pela internet. Hoje a informática é tudo e a gente pesquisa em casa, pois no SCFV não dispomos desse equipamento para o trabalho diário. O ruim é não ter material didático para repassar para os alunos nas oficinas (Orientadora social II). Enquanto isso, outra orientadora revelou que faz mais de dois anos que não participa de capacitação. Recebeu material didático sobre saúde, sexualidade e adolescência, o qual ela avalia como sendo muito bom, por ter participado de um seminário por conta própria. A educadora revelou que não teve nenhuma capacitação sobre o ECA. Em relação ao conhecimento em DH a educadora sentiu dificuldade em expressar o conceito.

O que eu vejo do ECA, é que nem sempre o que está no estatuto é colocado em prática. A gente sabe que as crianças têm direitos e deveres, mas o ECA mostra muito os direitos; se a gente só fala em direito, direito, a criança não vai querer ver os deveres, é preciso falar de deveres; e o compromisso que elas têm que ter? Por que só se fala em direito? Vamos mostrar os deveres. O ECA é bom, não vou dizer que é ruim não, para mostrar, mas colocar em prática, cadê

os deveres? Vamos mostrar os deveres e as obrigações (...) com relação a direitos humanos é muito complicado falar, definir direitos humanos, porque nem sempre o que os direitos humanos defendem é realmente defendido ou praticado. Eu penso dessa forma, pois só tem discurso, como dizem os programas de TV, agora quando é para defender bandido o discurso muda e os alunos percebem. Tem que ter um jeito de desconstruir esses conceitos, agora vai explicar isso para os adolescentes, eles e a famílias, também precisam serem sensibilizados dessas questões e nós mais teoria para argumentar os conceitos com mais segurança e propriedade.(Orientadora social II). Nos seus discursos os profissionais entrevistados afirmam que o ECA mais afirma direitos do que deveres, acreditamos que: “talvez porque não se tenha noção da falta de assistência a essa idade da vida, pois nunca foi efetivada ou levada em conta em sua plenitude [...] uma perspectiva histórica sobre o tratamento dado á infância em outras épocas” (MENEZES, 2012, p. 28). Os depoimentos evidenciam a importância de uma formação continuada, principalmente para os educadores, no sentido de desconstruir a visão de censo comum sobre os temas transversais, a exemplo do conceito de direitos humanos, para que de fato esses assumam uma nova perspectiva de que os direitos humanos “têm que ver com a afirmação da dignidade de todas as pessoas, com a defesa do Estado de Direito e a construção de estratégias de diálogo e negociação para a resolução pacífica dos conflitos inerentes a dinâmica social”. (PIMENTA, 2013, p. 75). Assim como os profissionais da educação, as orientadoras sociais também veem o ECA como algo que veio diminuir sua autoridade e ambos os segmentos parecem comungar de uma mesma opinião, da falta de conhecimento e informação sobre a lei, do conceito de direitos humanos e das atribuições dos órgãos de defesa.

O processo de democratização do acesso à escola, nas últimas duas décadas, [...] tem levado para as salas de aulas um público excluído de inúmeros direitos fundamentais, exigindo da escola a ampliação do seu papel socializador, para o qual não estava preparada. Aumentam-se os conflitos na escola envolvendo situações de violência. Nesse mesmo período, acirra-se a política neoliberal de sucateamento dos serviços públicos e da lógica do controle social pelo sentimento de insegurança, tendo como efeito à criminalização da pobreza e a associação dos direitos humanos a proteção da marginalidade (NASCIMENTO, 2013, p. 124).

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