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3. A TUTELA DA PROPRIEDADE NO DIREITO BRASILEIRO ATUAL

3.8 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL

3.8.5 Desapropriação

A Constituição pátria reconhece a desapropriação como exceção ao direito de propriedade ao estabelecer, em seu artigo 153, § 22, que “é assegurado o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social [...]” (BRASIL, 1988).

Ocorre a desapropriação quando o imóvel é retirado da esfera particular, mediante ato de impositivo do Poder Público, sendo incorporado ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos municípios, ou da coletividade quando necessário para atender a interesses de cunho social. É uma modalidade especial de perda da propriedade, porque não é regulada pelo direito civil, mas sim pelo direito administrativo. Tem como fundamento principal a supremacia do interesse público sobre o interesse particular, princípio que rege a administração pública.

O fundamento da desapropriação, segundo Rizzardo é o atendimento, pelo Estado, “de prioridades públicas e sociais, cuja importância sobrepuja o direito do particular” (2004, p. 393).

A Carta Magna reconhece as modalidades de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, mas não conceitua o que seja cada uma delas.

Venosa diferencia cada uma destas modalidades:

A necessidade pública denota urgência em obras ou atividade do Estado que determinam a pronta transferência do bem privado à Administração; A

utilidade pública demonstra a conveniência de apropriação do bem, sem que

seja urgente ou imprescindível. O interesse social é aquele que efetivamente permite ao Estado buscar o sentido social da propriedade. decorre de circunstâncias para melhorar a distribuição e fruição da propriedade privada. Os bens desapropriados por interesse social não se destinam propriamente a órgãos da Administração, mas à coletividade (2005, grifo do autor).

A Constituição prevê a desapropriação do imóvel urbano que não esteja cumprindo sua função social no artigo 182, §§ 3 e 44.

Em seu artigo 1845, estabelece a possibilidade de desapropriação do imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social para fins de reforma agrária. Estabelece a Constituição Federal: “Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva”. (BRASIL, 1988). Dessa forma garante-se a propriedade que esteja cumprindo sua função social.

Recepcionado pela Constituição Federal de 1988, o decreto 3.395/41 prevê as modalidades de desapropriação por utilidade pública elencando as hipóteses que a configuram. Da mesma forma, a lei 4.132/62 define os casos de desapropriação por interesse social.

Embora a lei tenha distinguido utilidade pública e interesse social, Venosa acredita que todas as modalidades existentes “podem ser resumidas no conceito de utilidade pública” (2005, p. 279).

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Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. [...] § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento sob pena, sucessivamente, de: [...] III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

5 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel

rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

Poderão promover a desapropriação:

a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e os Territórios (Dec.- lei n. 3.365, de 21 de junho de 1941, art. 2o), bem como os concessionários do serviço público ou outros estabelecimentos que exerçam funções delegadas do Poder Público. Nestes dois últimos casos, mister se faz autorização expressa, constante de lei ou contrato (art.3o) (RODRIGUES, p. 179).

Verificando ser o imóvel ser suscetível de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, o poder expropriante irá declarar essa circunstância através de decreto. Este decreto é requisito indispensável para promover a desapropriação, gerando como efeito a possibilidade de iniciar o processo expropriatório. A partir da abertura do processo expropriatório, o expropriante é autorizado a adentrar no imóvel compreendido na declaração. Publicado o decreto, o expropriante pode ainda depositar a quantia dita adequada para obter imissão na posse, se alegar urgência. Além disso, com o decreto começa a contar o prazo de cinco anos que tem a desapropriação para se efetuar amigavelmente, o que ocorre quando as partes entram em acordo sobre o valor da indenização. Caso não ocorra desapropriação amigável, o expropriante deverá intentar ação judicial (RODRIGUES, 2006, p. 180-182).

Por se tratar de ato compulsório, não cabe ao proprietário reivindicar o bem, assim a desapropriação resolve-se sempre em perdas em danos. A indenização é, portanto, imprescindível, sem a qual a desapropriação não se configura. A indenização deverá compreender, em qualquer caso:

o valor efetivo do bem expropriado, tendo em vista, além de outras circunstâncias, o preço de aquisição e interesse auferido pelo proprietário; situação do imóvel e seu estado de conservação e segurança; valor venal dos da mesma espécie no últimos cinco anos; valorização ou depreciação da área remanescente (Decreto-Lei no 3.365, de 1941, art. 27) (PEREIRA, 2009, p. 205).

Na inicial da ação intentada caso não haja acordo com relação à indenização, o expropriante oferecerá o valor que propõe a pagar. O expropriado pode aceitou ou contestar o valor, e ainda alegar vício de processo, limitando-se a isso. Se o réu contestar, o juiz fixará a indenização levando em consideração os critérios que a indenização deverá compreender em qualquer caso, além de outros que entender necessários. (RODRIGUES, p. 183-184).

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