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Desastres de massa: A contextualização

PARTE II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3. Desastres de massa

3.1 Desastres de massa: A contextualização

Um desastre de massa é comummente interpretado como um evento que resulta num grande número de vítimas que precisam de ser identificadas e sujeitas a investigação médico-legal. Nestas situações de "desastres" a identificação das vítimas é geralmente conseguida através de protocolos de identificação de vítimas de desastres (DVI).

Podem ser locais, nacionais ou, mais comummente nos dias de hoje, internacionais, com base na localização do incidente e do país/ países de origem das vítimas (Brough, et.al., 2015b).

Este tipo de desastres podem ser classificados como ambientais (por exemplo, terremotos, tsunamis, furacões), médicos (por exemplo, fome, doença, assim como o surto de Ébola em 2014), meios de transporte (por exemplo, aviões, carros, comboios e navios), industriais (por exemplo, explosões e incêndios) ou terroristas (por exemplo, ataques radiológicos, nucleares, químicos ou explosivos) (Brough et. al., 2015b).

23 Identificação Humana do pé e tornozelo: Uma proposta de checklist

Os desastres de massa pode ser considerados como um sistema "fechado" ou "aberto" (fig.8). O primeiro caso é um sistema no qual um determinado número de indivíduos conhecidos estão envolvidos, por exemplo, num desastre aéreo com uma lista de passageiros. Neste caso, o trabalho consiste principalmente em corresponder dados ante mortem dos indivíduos da lista de passageiros com dados post mortem das vítimas (Cattaneo et. al., 2006).

Fig.7 Classificação dos desastres baseada na literatura

O sistema aberto, por outro lado, é mais complexo. Os ataques às torres gémeas em Nova Iorque em 2001, e o Tsunami asiático em 2004, representam dois dos mais complexos 'open' MFI até à data, com o número de vítimas ainda desconhecido (Brough et.al., 2015b).

A identificação de indivíduos envolvidos em incidente de fatalidade em massa nem sempre é possível ou fiável, dependendo da disponibilidade e qualidade das informações ante mortem para cada vítima. A Interpol categoriza essas informações em circunstâncias e evidências físicas. As evidências circunstanciais referem-se a bens pessoais, tais como vestuário, joalharia, relógios de bolso, e nunca devem ser usados isoladamente para prova de identificação.

Disaster Classification Earthquake Tsunami Terrorist attack etc. Aircraft Accident Shipwreck etc. Open disaster Closed disaster

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As evidências físicas são adquiridas através do exame do ato externo ou interno do corpo, sendo consideradas como provas admissíveis. O exame externo pode revelar características individuais, tais como tatuagens, cicatrizes, e impressões digitais, que podem ser extremamente úteis na confirmação da identidade (Brough et.al., 2015b).

Da mesma forma, o exame do ato interno pode expor evidências de procedimentos cirúrgicos, incluindo doenças naturais, próteses, ou evidências de traumas anteriores.

A credibilidade da informação, aumenta à medida que o especialista em identificação humana passa de provas circunstanciais a evidências físicas (Brough et.al.,2015b).

Em qualquer incidente de fatalidade em massa, independentemente da causa ou do número de vítimas, a identificação é de primordial importância. Toda a equipa forense tem uma responsabilidade humanitária e jurídica, com o objetivo de identificar cada indivíduo, sempre que possível, para que eles possam ser devolvidos às suas famílias (Cattaneo et. al., 2006).

A complexidade da identificação de vítimas na sequência de um MFI pode variar muito, dependendo do contexto, número de mortes, extensão da fragmentação dos cadáveres e da disponibilidade de material de referência ante mortem relacionados com a falta de indivíduos. Para assegurar uma identificação rápida e eficiente, dentro do possível, é importante haver um trabalho multidisciplinar, envolvendo profissionais qualificados que vão para o terreno trabalhar simultaneamente para aumentar a produtividade do processo de identificação. Esta equipa integra patologistas, odontólogos, antropólogos, com a recente tendência da TC-PM o radiologista tornou-se uma parte integrante da equipa de identificação (Brough et.al., 2015b).

Cattaneo et. al., (2006) afirmam que o patologista, odontólogo e os restantes especialistas envolvidos em desastres de massa devem alcançar a máxima de que, de acordo com as variáveis que se podem encontrar, é necessário ser capaz de lidar adequadamente com a situação que se apresenta. Neste caso, o profundo conhecimento dos procedimentos de identificação fiáveis é fulcral para todo o processo.

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Somente profissionais especializados serão capazes de procurar com precisão variações anatómicas através dos ossos e dentes danificados. Para estes profissionais, é crucial a sua presença no local antes da remoção das vítimas, a fim de proteger as partes frágeis que são fundamentais para a identificação, por exemplo, em casos de vítimas gravemente queimadas (Cattaneo et. al., 2006).

Dependendo do continente, inúmeros protocolos e procedimentos estão disponíveis. No âmbito internacional, MFI (incidente de fatalidade em massa), bem como a identificação de vítimas de desastre a nível nacional (DVI) é necessário proceder a um determinado tipo de normas. A Interpol recomenda que todos os países devem adotar um procedimento comum para a identificação de vítimas de qualquer tipo de desastre, independentemente da sua causa ou escala (Brough et.al., 2015b).

Em 1984, a Interpol publicou o primeiro manual DVI. O objetivo foi fornecer informações sobre os desastres em massa, em geral, e o processo de identificação em particular para aumentar a eficácia de DVI, a fim de alcançar, manter e melhorar os padrões, e facilitar a ligação internacional. A Interpol recomenda que cada país membro estabeleça uma ou varias equipas permanentes para a identificação de vítimas em caso de desastre. Estas esquipas devem ter uma responsabilidade não só para dar resposta aos desastres, mas também para as funções vitais do pré-planeamento e preparação pessoal (Brough et.al., 2015b).

A fim de assegurar uma investigação exaustiva para a recuperação e identificação das vítimas, é necessário adquirir um mapa fotográfico e documentado sobre o local do desastre.